sábado, 22 de setembro de 2012

O maior adversário do basquete do Flamengo


Adversários sempre houve muitos, e a massa rubro-negra já está mais do que acostumada ao peso de ser a maior torcida do Brasil, o que implica num clube que é o mais amado e o mais odiado. Enquanto tudo se mantenha dentro da esfera esportiva, nenhum problema. Mas, no Brasil, viver o basquete é completamente diferente de viver o futebol. No contexto esportivo brasileiro, o maior inimigo do basquete do Flamengo é o risco de isolamento.
 
O Flamengo precisa de um basquete nacional forte e descentralizado para se sustentar, pois isto é essencial para atrair financiamento. Um basquete concentrando suas forças exclusivamente no estado de São Paulo é uma séria e constante ameaça à continuidade do time da Gávea. Muitos poderão argumentar que na maior parte da história do basquete brasileiro as coisas foram assim, e o basquete do Flamengo está aí desde 1919 presente, ainda que com algumas interrupções. Mas agora a necessidade de uma estrutura financeira forte é maior, se houvesse um novo distanciamento, certamente seria em escala ainda mais intensa do que no passado, e muito provavelmente de uma forma fatal. Até porque na Gávea não existe a conjugação verbal "ser coadjuvante", logo ou se está brigando no páreo, ou o caldeirão arrebenta.
 
É interessante ver que isto sempre foi uma preocupação no próprio processo de desenvolvimento da atividade no país, eis dois exemplos desta preocupação:
 
"Rio Grande do Sul e Minas Gerais, mesmo estando ainda muito abaixo de cariocas e paulistas, estão melhorando. Mais ainda: o basquete nasceu na Bahia e nasceu no Pará. Dentro de alguns anos vai ser muito mais fácil achar grandes jogadores" - Kanela, em entrevista à revista PLACAR (Edição 82, de 08/10/1971) após a vitória da Seleção Paulista sobre a Seleção Carioca (dirigida por ele) na final do Campeonato Brasileiro de Seleções. O resultado deu o Octacampeonato do torneio para o estado de São Paulo.
 
"É muito ruim (só dar São Paulo) porque a Seleção Brasileira acabou tornando-se, na  verdade, um selecionado paulista, completamente divorciado do resto do Brasil em termos de apelo popular nacional" - Marquinhos Abdalla, então jogador do Corinthians, em entrevista dada à revista PLACAR (Edição 715, de 03/02/1984) durante a disputa da Taça Brasil.
 
Por aí se vê que o problema não é nada novo. Muito se conseguiu evoluir nisso nas últimas duas décadas, mas esta ameaça ainda está aí, vívida!
 
Ultimamente, os estrangeiros até parecem ter uma visão mais clara do que os próprios brasileiros da importância desta descentralização para o desenvolvimento do basquete nacional. O espanhol Moncho Monsalve, que treinou a seleção maculina em 2009 deu a seguinte declaração em 15/07/2009, publicada no site da LNB: "Este país é tão grande que encontramos problemas logísticos, quantos valores não perdemos por ano na imensidão do país? Então penso que temos que difundir e melhorar a estrutura do basquete em todo Brasil, criarmos pelo menos um centro de excelência de formação em cada Estado". O argentino Ruben Magnano, que sucedeu Moncho como treinador da seleção, dedicou boa parte de seu tempo a visitar de perto o trabalho em centros menos ricos, foi ao Acre, a Manaus, ao Espírito Santo e decidiu morar em São Sebastião do Paraíso, interior de Minas, para acompanhar mais de perto o trabalho nas seleções brasileiras de base.
 
É muito importante para o Flamengo que haja um basquete forte fora de São Paulo, capaz de enfrentar as eqipes paulistas de igual para igual. Mas a força do capitalismo financeiro vai sempre tentar induzir a concentração. É necessário uma estratégia ativa contra estas forças centralizadoras.
 
Para o desenvolvimento do basquete brasileiro, o NBB foi um largo passo, o calendário é um problema, a popularização um desafio e o maior de todos, e o ponto chave para a sustentação de todos os pontos anteriores, na minha opinião, é: como sustentar estruturas fora do Estado de São Paulo?
 
Numa rápida pesquisa na internet, o Mapa do basquete masculino no Brasil hoje tem 16 times no Campeonato Paulista, 5 no Mineiro (incluindo dois do Minas Tênis), 4 no Carioca, e Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná oscilando entre 4 e 5 nos Estaduais. A pergunta é: dá para fazer a sonhada Segunda Divisão do NBB com isso? O fato é que nestes estaduais com 4 ou 5 times, temos 3, 4 ou até 5 equipes de qualidade sofrível. Como entre os 16 paulistas, a metade tem qualidade muito baixa.
 
O que houve mais próximo de uma Segunda Divisão foi a Copa Sudeste de 2011, que reuniu 7 times de SP, RJ e MG jogando em turno e returno. Para 2012, ao invés de progresso, houve regresso, e a Copa Sudeste foi um Quadrangular Paulista.
 
No Sul, fora o auto-sustentável (até quando?) projeto de Joinville, há "sopros de basquete" em Londrina, Maringá e Campo Mourão (no PR), Videira, Brusque e Blumenau (em SC) e Caxias do Sul, no Corinthians de Santa Cruz e no Bira de Lajeado (no RS). No Sudeste, fora os 10 paulistas, 2 cariocas e 2 mineiros no NBB, há Metodista/São Bernardo, América de Rio Preto, Jacareí, Rio Claro e Internacional de Santos (além do XV de Piracicaba também ativo) jogando basquete no estado de SP. Em Minas, o Estadual terá Ginástco e Mackenzie (São Sebastião do Paraíso depois de um sopro de time profissional em 2011 sumiu, por que? difícil entender). No Rio, Botafogo e Riachuelo (o Fluminense não consegue ir além dos times de base, e Macaé parece ter sucumbido). Quantos destes outros projetos teriam condições de bancar financeiramente a participação numa 2ª divisão nacional?
 
Por último, mas não esquecendo dele, no Sudeste tem o Espírito Santo, onde Vila Velha, apesar da presença confirmada no NBB respira por aparelhos. E o Vitória (ou Saldanha da Gama)? Está tentando ressucitar, mas as esperanças são poucas. Lamentável. Era um lugar que com um pouco de apoio externo, o basquete teria florescido... na terra de Anderson Varejão, não devemos esquecer.
 
Fora do Eixo Sudeste-Sul, tem o solitário e multi-campeão projeto de Brasília, o jovem projeto em Fortaleza, o tradicional basquete do Sport Recife. O São José do Amapá, grande surpresa da SuperCopa 2011, ao obter um 4º lugar, também sumiu (outro projeto que com um pouco de auxílio externo, poderia germinar frutos). O fato é que o desafio para atingir o eixo Norte-Nordeste é superar os custos de transporte, e aí falando de 2ª Divisão, o problema é ainda maior.
 
É difícil, portanto, que uma Segunda Divisão do NBB não consiga passar de um Mini-Campeonato Paulista, e isto será meio caminho para o projeto agonizar, pois ninguém precisa disso uma vez que já há o Campeonato Paulista.
 
Este é o grande ponto a ser superado, manter o basquete além das fronteiras do Estado de SP. Para mim, é condição crucial para popularizar e manter o crescimento do basquete no Brasil. Seria fundamental também um torneio paralelo ao Paulista entre os times dos outros estados, talvez fosse o primeiro grande passo para viabilizar uma Segunda Divisão. Daria para fazer um torneio com pelo menos 12 times, reunindo Brasília, Flamengo, Uberlândia, Minas Tênis, Joinville, Vila Velha, Tijuca Tênis e Basquete Cearense, e dentre os que poderiam se somar a eles: Sport Recife, Bira Lajeado, Campo Mourão, Londrina, Corinthians Gaúcho, Vitória, São Sebastião do Paraíso ... deveria ser aos moldes da Liga das Américas, com Quadrangulares concentrados em determinadas cidades-sedes (barateando transporte e buscando centros que dessem retorno em presença de público). De preferência um "torneio batizado", levando o nome de alguma empresa em troca do financiamento dos deslocamentos das equipes de menor capacidade de financiamento...

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