Ao longo de minha vida, tive a felicidade de poder participar de algumas experiências inesquecíveis nas quais, depois de muito planejamento, trabalho árduo e conhecimento aplicado, o objetivo foi alcançado.
Porém, apesar de nem sempre tão visíveis, é importante destacar que outros fatores críticos de sucesso sempre estiveram presentes e provavelmente tenham sido os mais determinantes: a clara visão inicial de onde e como se queria chegar ao objetivo, a atuação harmônica em equipe e a conquista mais do que da razão, do coração dos envolvidos. E tudo em um ambiente de gestão profissional e com mecanismos de incentivo corretos.
O que os jornais anunciaram no início desta semana foi exatamente o coroamento da primeira etapa de uma história de sucesso que se desenha, baseada nos mesmos princípios, mostrando também o quão mobilizadora pode ser a busca de um ideal coletivo.
Em junho, após mais um dissabor de fim de semana, alguns poucos flamenguistas fanáticos, todos desde sempre assíduos frequentadores das arquibancadas dos estádios de futebol e profissionalmente bem-sucedidos em suas carreiras empresariais, resolveram se encontrar em uma pizzaria no Jardim Botânico, no Rio de Janeiro.
O tema da conversa era a indignação geral de ver o clube querido, paixão que unia todos os presentes, em situação totalmente incompatível com o que seria de esperar de uma agremiação amada por 40 milhões de brasileiros. E, pior, sem haver à vista nenhuma expectativa de melhoria para o quadro tanto no curto como no longo prazo.
O baixo aproveitamento do potencial gerador de riqueza e por consequência de bons resultados para o clube parecia evidente, principalmente levando em conta que os torcedores são um público absolutamente fiel à marca.
Além disso, via-se na mídia quase tantas notícias sobre personalidades ligadas ao Flamengo nas páginas das "colunas sociais" e até mesmo policiais quanto nas dedicadas ao esporte, explicando, pelo menos em parte, a razão desse quadro geral.
O diagnóstico era claro. Precisava haver o resgate da credibilidade e da imagem do clube, a começar pela reformulação do seu processo de gestão. Era necessário profissionalizar os quadros administrativos, criar planos de ação emergenciais, estabelecer metas e modificar as expectativas quanto aos resultados futuros sob o risco de perder o bonde da história e ver o seu maior patrimônio, a fanática e devotada torcida, definhar com o tempo. Mas como fazer as mudanças?
A princípio, pareciam existir barreiras intransponíveis, já que nenhum dos envolvidos sequer conhecia o estatuto ou tinha qualquer envolvimento político no clube. Mas mesmo assim o projeto foi lançado e rapidamente começou a obter inúmeras e importantes adesões, inclusive do ídolo máximo do clube, Zico. A ideia espalhou-se como uma verdadeira epidemia do bem em que os contaminados multiplicaram esforços conectados por uma rede de esperança e fé que não poderia ter outro fim que uma vitória majoritária consagradora.
Passados apenas alguns dias das eleições do Flamengo, o clube já é outro. É certo que os problemas que existiam continuam por lá. Porém hoje há uma grande equipe de profissionais de sucesso comprometidos e dispostos a doar seu tempo e experiência para solucioná-los, uma enorme equipe de voluntários querendo contribuir para reerguer o clube e a certeza de todos de que o gigante que se mostrava adormecido acordou.
A responsabilidade que recai sobre esse grupo de profissionais é ainda maior pela natural visibilidade que o Flamengo tem como clube de maior torcida no país e o natural efeito multiplicador que o sucesso da adoção de um modelo de gestão como o que se vislumbra poderá trazer para a melhoria do futebol como negócio no Brasil.
Será também uma boa oportunidade para provar aos incrédulos que gestão profissional e futebol são miscíveis, aliás, como já vem sendo praticado há quase duas décadas em outros países do mundo.
Quem viver, verá...
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