sábado, 16 de fevereiro de 2013

Rumos dos Esportes Olímpicos do Flamengo


Duas entrevistas muito elucidativas dadas pelo Vice-presidente de Esportes Olímpicos, Alexandre Póvoa. A primeira, respondendo a três perguntas de Arthur Muhlenberg, e a segunda em entrevista de 10 perguntas dada a André Amaral do Blog Ninho da Nação:

Pergunta 1: O Basquete do Flamengo está voando, quebrando recorde atrás de recorde, quanto desse sucesso tem a ver com o trabalho feito pela nova administração?

No dia 4 de dezembro, no dia seguinte à eleição, liguei para o Neto (técnico) que estava na Argentina disputando o Sul-Americano para prestar todo o meu apoio. Infelizmente, durante a campanha, alguns boatos maldosos foram lançados dizendo que a Chapa Azul iria acabar com todos esportes olímpicos, inclusive o basquete. Temia que o anúncio de nossa vitória pudesse, por conta dessas mentiras, desestabilizar o time. Logo nesse primeiro contato, minha excelente impressão se confirmou.

Até por ser ex-atleta do esporte, já vinha acompanhando como torcedor o trabalho do basquete rubro-negro nos últimos anos. A insistência no trabalho do técnico anterior (o argentino Gonzalo Garcia) foi um erro e a chegada do Neto foi um grande acerto da diretoria anterior. A NBB estava começando e para mim era evidente que o trabalho tinha tudo para dar certo.

Quando o Neto voltou ao Brasil (perdemos o sul-americano por conta de 3 minutos infelizes contra Brasília, que fazem parte do esporte), tivemos uma reunião onde trocamos várias ideias e eu coloquei a filosofia da nova diretoria, reforçando o apoio. Com a perda do Marcelinho, foi pedido um reforço e, apesar das dificuldades financeiras, encaminhei o pedido é diretoria e foi aceito. O paraguaio Bruno Zanotti estreia nessa quinta contra o Paulistano, é um jogador de muita raça, acho que vai fazer sucesso com a torcida.

O trabalho da nova diretoria foi trabalhar junto ao comando do basquete para dar tranquilidade ao time, Havia salários atrasados de alguns jogadores (até de junho/2012), que foram colocados em dia. A falta de organização e de dinheiro colocava até em risco o pagamento de algumas despesas simples (federação, aluguel de ginásio, etc….) que poderia colocar o Flamengo em situações constrangedoras (até de WO). E a quantidade de jogos – 14 – era enorme em janeiro (por conta dos adiamentos, dado que jogamos o Sul-Americano), o que multiplicava o risco de problemas. Conseguimos equacionar os problemas e as demandas do comando do basquete.

Acho que a montagem do time (realizado pela diretoria anterior) foi muito bem feita. É lógico que nenhum time é perfeito, depois da contratação do Bruno Zanotti, se tivéssemos o Marcelinho em quadra e mais um pivô da posição 5 como suplente, do estilo do Caio, o time estaria próximo do ideal. Infelizmente, ainda perdemos o Shilton temporariamente por contusão. Mas nem tudo é possível na vida.

Portanto, o mérito da diretoria atual – juntamente com o comando do basquete que permaneceu da gestão anterior – foi dar tranquilidade ao grupo poder pensar só em treinar e jogar basquete. O trabalho dentro da quadra está sendo muito bem feito e os atletas individualmente está bem. Dirigente não ganha jogo, até porque a minha bola de três pontos já deixou de entrar há muito tempo (rs). Quem sabe somos um pouco “pé-quentes” também ?

Para completar, estamos implementando a passos largos a prometida estrutura profissional prometida. Contratamos o Marcelo Vido para o cargo de Diretor Executivo de Esportes Olímpicos, ex-atleta de alto nível também do basquete, que disputou duas Olimpíadas, três Mundiais e dois Sul-Americanos. Mais importante, quando parou de jogar, estudou no exterior a administração do esporte e está há mais de dez anos como dirigente esportivo, tendo passado os últimos sete anos em um dos nossos modelos a serem perseguidos, o Minas Tênis. O Flamengo não pode ser início nem final de carreira para ninguém. Tem que ser o auge.

Portanto, o nosso papo com o grupo ficou mais fácil, é de “basqueteiro para basqueteiro”. Agora, é muito legal essa invencibilidade para a nossa autoestima rubro-negra. É o Flamengo que dá certo, como nos velhos tempos. Mas não podemos nos iludir. A NBB é um campeonato muito difícil e obviamente vamos perder alguns jogos e isso deve ser encarado com naturalidade. O importante é chegarmos ao auge nos playoffs, quem sabe no Maracanãzinho ou no HSBC Arena lotados, esse é o nosso sonho, vamos trabalhar para isso. Mas antes temos a Liga das Américas, que queremos ganhar também.

Por enquanto, um recado final. A diretoria e sobretudo o time estão fazendo a sua parte. Está na hora da torcida comparecer em peso, até para ajudar com a receita de bilheteria, enquanto conversamos com patrocinadores. Jogo com o Paulistano na quinta, às 20 hs, e com o Pinheiros, no sábado, às 16 hs, sempre no ginásio do Tijuca. Dois jogos dificílimos, precisamos da nação para empurrar !

Pergunta 2: O basquete do Flamengo se sustenta ou ainda depende do futebol?

Infelizmente, a situação dos esportes olímpicos não é diferente do resto do clube. Assumimos com as receitas (escolinhas + patrocínios + Lei de Incentivo ao Esporte) não atingindo nem 20% das despesas. Apesar do futebol também não ser autossustentável, as receitas esmagadoramente vêm dele. Determinamos 3 regras que devem ser cumpridas para que um esporte olímpico permaneça no Flamengo em alto nível (veja bem, não estou falando de base nem escolinhas, que sempre existirão, estamos nos referindo a atletas de ponta):

1 – O Flamengo tem que entrar nas competições com plenas chances de ganhar. Para fazermos times sem chances, só para dizer que estamos disputando, preferimos não participar.

2 – Os atletas de ponta têm que servir de exemplo para as categorias de base, não somente em conduta como também treinando no clube para ser espelho para os mais jovens.

3 – Todo o esporte deve ser, a médio prazo, autossustentável.

O item 2 foi determinante para termos decidido não renovar com os atletas de natação de ponta. A degradação da piscina do Flamengo nos trouxe a constrangedora situação de não permitir que os atletas treinassem no clube. Portanto, demos prioridade para privilegiar a base e tentar reformar a piscina. Isso é muito mais importante para o Flamengo no médio-longo prazo do que ter uma equipe de natação.

Nosso trabalho será fazer com que os esportes olímpicos gradativamente se sustentem e deixem de depender do sucesso do futebol para sobreviverem (item 3). Com isso, teremos um grande trabalho pela frente na reconstrução das escolinhas, na captação de recursos da Lei de Incentivo e na busca de patrocínios.

Pergunta 3: Em quais esportes olímpicos o Flamengo pode ter desempenho semelhante ao do basquete ainda em 2013?

Temos 8 esportes olímpicos sob o nosso comando – basquete, , ginástica olímpica, judô, nado sincronizado e pólo aquático, tênis, natação vôlei. Os cinco primeiros têm atletas e técnicos olímpicos no Flamengo e esperamos que natação e vôlei se juntem a esse rol até 2016. Nossas prioridades:

1 – Construir, em cada esporte, projetos que consigam ser um sucesso em termos esportivos e que consigam auto-financiamento até o final de 2013. Vamos criar projetos que tenham ligação entre si, onde os profissionais interajam desde a escolinha até o esporte de ponta.

2 – Reconstruir a Gávea aproveitando os recursos que chegarão para a Olimpíada de 2016. Mais importante do que o evento no Rio, é deixarmos nossa infraestrutura pronta para voltarmos a fabricar grandes atletas para 2020, 2024, e assim por diante. Nossos modelos são o Minas e o Pinheiros. O primeiro, tem 14 mil alunos nas escolinhas (nós temos 2 mil). O Minas tem o dobro de orçamento do Flamengo para esportes olímpicos (100% autossustentável). O Pinheiros tem R$ 160 milhões de orçamento anual, sendo que R$ 100 milhões vêm de receitas 100% produzidas dentro do clube (sócios, escolinhas, etc…). O orçamento total do Flamengo é de cerca de R$ 250 milhões e nem 5% das receitas vêm de dentro do clube. Por isso que todos nós rubro-negros ficamos tão focados em patrocínios masters e afins. Temos que criar receita própria (clube, escolinhas, sócio-torcedor, licenciamentos, etc…).

Muita gente comenta que Minas e São Paulo não tem praia, por isso os clubes são fortes. Não aceito esse argumento, até porque em Minas e São Paulo não têm Leblon nem Lagoa, com o nosso clube encravado em um dos lugares mais belos do planeta. Precisamos transformar a Gávea. Conclamo os rubro-negros a se associarem o quanto antes, precisamos de todos !

Enfim, muito trabalho pela frente, mas estramos confiante que vamos conseguir, com trabalho profissional, fechar ao longo do tempo todos essas lacunas de atraso para que voltemos a ser um clube forte tanto na formação de atletas como também na conquista de títulos de ponta nos esportes olímpicos.


1) Como foi a recepção com sua chegada e da nova filosofia à frente dos esportes olímpicos por parte dos atletas do Clube?

Acabamos de chegar. O processo de adaptação às filosofias diferentes naturalmente demora. Seria mais fácil e mais confortável para todos continuar com o modelo amador que impera nos clubes brasileiros desde sempre.  Como agravante, os esportes olímpicos foram muito maltratados nos dez anos pré-gestão da Patrícia Amorim, que pegou esse mote e se elegeu em grande parte por conta desse segmento. Então, criou-se a falsa impressão (que muitas pessoas pouco éticas fizeram questão de alimentar) que, com o potencial saída do grupo anterior, os esportes olímpicos seriam extintos no Flamengo. Na verdade, boatos muito feios e mentiras circularam no clube e na Internet durante a campanha, que fizemos questão de combater até com uma “Carta Aberta aos Esportes Olímpicos”, distribuída antes das eleições dentro do clube (nos mesmos moldes da “Carta ao Povo Brasileiro” escrita pelo então candidato à presidência da República Lula em 2002). Aliás, uma das coisas que o nosso grupo irá combater até o final desse mandato é a forma atrasada de se fazer política no nosso clube.

Mas a eleição acabou. Temos realmente uma visão muito diferente da gestão anterior (caso contrário, não seríamos oposição) não só na gestão de esportes olímpicos como no clube como um todo. Vamos profissionalizar o Flamengo de A a Z e os vice-presidentes terão um papel puramente de planejamento e avaliação. Os diretores executivos são responsáveis pela execução do plano no dia-a-dia e nos estruturaremos para voltarmos a sermos muito grandes nos esportes olímpicos. Não acreditamos na tola dicotomia pregada entre futebol e esportes olímpicos, vamos correr atrás de recursos para dar fim a essa dependência que hoje existe. Não acreditamos na infantil aparente contradição entre clube social e esportes olímpicos, vamos trabalhar na grandeza do Flamengo e na construção de um Plano Diretor inteligente para a Gávea, onde há espaço para todos. O Flamengo sempre teve a tradição olímpica e vai mantê-la, mas de uma forma muito mais profissional, que é o único caminho para viabilizar esses esportes nos dias atuais.


2) Quando você parou e disse: "vamos encerrar a natação adulta do Flamengo" porque falta estrutura básica para a modalidade?

Durante o período de transição, nos foi informado o tamanho do relevante buraco do orçamento dos esportes olímpicos. Do total de despesas do nosso segmento para 2012, nem 20% haviam sido cobertas por receitas oriundas diretamente dos esportes olímpicos. 

Dentro desse quadro, com exceção do basquete adulto, praticamente todos os contratos estavam vencendo e tínhamos que tomar decisões. Para completar, recebemos o clube com três meses de salários atrasados nos esportes olímpicos, além de diversas dívidas passadas com federações /confederações e atrasos de pagamentos de fornecedores e aluguéis que poderiam levar o Flamengo à situações constrangedoras (perder jogos por W.O. ou ter atletas despejados ou morando sem água e luz, por exemplo).

Governar é fazer escolhas a partir de critérios claros. Determinamos as três regras a serem perseguidas para que um esporte olímpico permaneça no Flamengo em alto nível (veja bem, não estou falando nem da base nem escolinhas, que a princípio deverão sempre existir, estamos nos referindo a atletas de ponta):

1 - O Flamengo tem que entrar nas competições com plenas chances de ganhar. Para fazermos times para disputar competições sem chances de vitória, só para dizer que estamos disputando, preferimos não participar para não colocar a marca Flamengo em risco.

2 - Os atletas de ponta têm que servir de exemplo para as categorias de base, não somente em conduta como também treinando no clube para ser espelho para os mais jovens.

3 - Todo o esporte deve ser, a médio prazo, autossustentável.

O item 3 não é coberto por nenhum esporte do clube, nem o futebol. O orçamento do clube social também não é equilibrado. Por isso, precisamos, em todos os âmbitos, ajustar o orçamento, buscando cortar despesas e ir atrás de mais receitas. É assim na nossa casa, na nossa empresa. Por que não seria assim no Flamengo? Seria por que o dinheiro não sai do nosso bolso? A partir da filosofia anterior equivocada de empurrar os problemas para sempre é que historicamente pessoas que não conseguiam sucesso em suas profissões fora dos muros da Gávea, vieram buscar esse status no Flamengo, isso sem falar de questões éticas. Sucessões de erros nos levaram ao caos administrativo e financeiro. Estamos interrompendo esse círculo vicioso e implementando uma forma profissional de gerir o clube.

Infelizmente, por culpa exclusiva do histórico do Flamengo (os nadadores nada têm a ver com isso), o parque aquático do Flamengo foi se deteriorando pela falta de manutenção (vazamentos, rachaduras, etc...) e hoje não apresenta condições técnicas para treinamento em alto nível. Pior do que isso, estamos fazendo estudos técnicos que já mostram que a piscina oferece até alguns riscos adicionais gerando, inclusive, uma despesa de conta de água simplesmente astronômica (por conta de vazamentos). Devemos divulgar detalhes nos próximos dias. Acho que algumas pessoas que foram contra a nossa posição em relação à natação adulta vão reformular seus conceitos em breve.

Sou do tempo que a própria nadadora de sucesso Patrícia Amorim, o vice-campeão olímpico Ricardo Prado entre outros grandes como Rômulo Arantes, Jorge Fernandes entre outras feras eram criadas naquela piscina, a partir de técnicos míticos como Rômulo Arantes pai e o Daltely Guimarães. Até a grande Maria Lenk, no fim da vida, nadou e morreu ali..

Portanto, o item 2 das exigências – treinar no Flamengo e servir de exemplo para os mais jovens - também estava prejudicado. Enfim, é muito mais importante para o Flamengo, até por uma questão de dignidade, nesse momento darmos um passo atrás para andar dois ou três mais adiante. É muito mais relevante tentarmos concentrar esforços na base e para reconstruir o nosso parque aquático do que ter um time de ponta de natação (com patrocínio que não cobria nem 20% dos custos em 2012). É uma análise lógica de relação custo-benefício que foi feita, com uma dose grande de respeito ao Flamengo enquanto instituição.  

A decisão foi tomada pela vice-presidência de Esportes Olímpicos e, como qualquer proposta importante que possa afetar a imagem do Flamengo, deve ser discutida em colegiado. Então, debatemos o tema no Conselho Gestor e chegamos à aprovação da proposta de não renovação dos contratos que se encerrariam no dia 31/12 (ressalto que na verdade ninguém foi mandado embora, nenhum contrato foi rompido, que fique claro). Mas em relação à base da natação do Flamengo, deveremos inclusive reforçá-la e manter o bom trabalho técnico que tem sido realizado nessa faixa, apesar das enormes dificuldades de infraestrutura enfrentadas pelo clube.


3) A nova diretoria prova que não tem medo da repercussão negativa de cortes profundos, como César Cielo e o Vagner Love. Agora, com a intenção de reformar parque aquático, não seria mais fácil arrumar parcerias tendo um César Cielo como garoto propaganda?

Desde que o nosso maior ídolo Zico parou de jogar futebol e o Flamengo mesmo assim não acabou, com todo o respeito, não dá para ter medo de saída de ninguém. Nos caso citados e em qualquer outra ocasião, o importante é sermos 100% transparentes na comunicação. A verdadeira torcida e os sócios do Flamengo não são burros, muito pelo contrário, estão com o clube para o que der e vier. É claro que a passionalidade excessiva pode cegar no curto prazo, mas o verdadeiro torcedor, que paga seus ingressos sem privilégio algum e ama “sem exigir contrapartidas” vai compreender cinco minutos depois, após uma análise um pouco mais profunda, a análise de custo-benefício dos casos citados.  Os fatos vão nos dando razão, e no caso de um dos citados, isso fica mais evidente ainda.

O bom gestor não é aquele que acerta sempre, até porque estamos longe da perfeição. Tem mérito aquele que acerta mais do que erra e sabe reconhecer e corrigir os rumos quando necessário. Aceitamos e queremos a participação de todos. A vantagem do nosso grupo é que absolutamente ninguém tem ambições políticas nem projetos de poder dentro ou fora do Flamengo. O grupo, em geral, tem sucesso profissional fora dos muros da Gávea. Vamos fazer o que julgamos certo fazer, não há nenhum interesse do grupo além de colocar o Flamengo em primeiro, segundo e terceiro lugares. Depois vem o presidente, os vice-presidentes, diretores, os atletas e funcionários, os técnicos, com o respeito que todos merecem. Podemos até errar nas decisões, mas sempre buscaremos ser transparentes e nos comprometemos a não deixar vazar nenhuma informação antes de estar 100% confirmado e decidido o que, aliás, era uma péssima prática histórica no Flamengo, que só afetava a nossa imagem.

Quanto ao Cesar Cielo, um ídolo nacional, nunca individualizei a análise por conta da equipe toda, que merece o profundo respeito e gratidão do Flamengo. O projeto que você sugere na pergunta (“primeiro contrata o ídolo com a conta, depois tenta trazer o patrocínio”), em tese, é um caminho. Foi exatamente a lógica da direção anterior durante dois anos. Não deu certo, sem entrar no mérito do porquê. O Flamengo gastou um montante relevante, não conseguiu reformar a piscina que está em péssimas condições e apenas angariou um patrocínio (Gatorade), um ótimo parceiro que nos ajudava bastante, mas que estava longe de cobrir os custos. O calendário da natação também não ajuda, como apenas o Troféu José Finkel e Maria Lenk de relevância. Enfim, com três meses de salários atrasados e várias outras dívidas pendentes, acho que estava na hora de darmos um passo atrás pensando no futuro do Flamengo, enfim, sermos minimamente responsáveis não só com o clube, mas com os próprios atletas.


4) Existe a possibilidade de quando se fechar algum patrocínio para o futebol se estender pelo menos para um esporte olímpico? Como por exemplo a Peugeot, que também vai patrocinar o futsal?

Teoricamente sim. Existem duas cotas na camisa a serem vendidas no futebol e pode ser uma “venda casada” de acordo com os interesses das empresas.

O importante é que não tem nenhuma vinculação obrigatória ou a idéia de um “patrocínio único” para todos os esportes, com caixa único, que foi raiz de problemas no passado para esportes olímpicos.

Mas precisamos lembrar que as possibilidades de financiamento dos esportes olímpicos não podem ficar limitados apenas à patrocínios na camisa. Temos, por exemplo, a possibilidade de venda de placas para os jogos da NBB, além da bilheteria. Além disso, temos que incrementar as escolinhas e as receitas com sócios. Nossos modelos são o Minas Tênis e o Pinheiros. O primeiro, tem 14 mil alunos nas escolinhas (nós temos 2 mil). O Minas tem o dobro de orçamento do Flamengo para esportes olímpicos (sendo que os projetos deles são 100% autossustentáveis e os nossos têm apenas 20% dos custos cobertos). O Pinheiros apresenta R$ 160 milhões de orçamento anual, sendo que R$ 100 milhões vêm de receitas integralmente produzidas dentro do clube (sócios, escolinhas, etc...). O orçamento total do Flamengo (clube inteiro) é de cerca de R$ 250 milhões e nem 5% das receitas vêm de dentro do clube. Por isso que todos nós rubro-negros ficamos tão focados em patrocínios masters e afins. Temos que criar receita própria (clube, escolinhas, sócio-torcedor, licenciamentos, etc...). Pode ter a certeza que o marketing do clube está com o foco total no assunto e em breve teremos novidades.

Nos esportes olímpicos, contratamos o Marcelo Vido como nosso Diretor de Esportes Olímpicos, que ocupou nos últimos anos a gerência de marketing e novos negócios do Minas Tênis. Ele já está montando sua equipe exclusiva de marketing para os esportes olímpicos, que terá um link direto com o marketing do clube, mas será independente. Chegamos à conclusão que esse é o melhor modelo, já que as questões do marketing do futebol, por razões óbvias de importância relativa, tendem a se sobrepujar a qualquer outra.

Além disso, temos que buscar recursos nas leis de incentivo federal, estadual e municipal, além da possibilidade de conseguirmos convênios com os Governos. Já tivemos uma ótima reunião com o COB para estudarmos parcerias. Precisamos saber explorar todas as possibilidades existentes para trazer recursos.


5) Como estão as questões dos recursos do Comitê Olímpico Americano e os investimentos na Gávea? O que foi feito e quais os próximos passos?

Esse assunto está ainda sob a análise das Vice-Presidências de Esportes Olímpicos e Jurídica. Dado o acordo que temos, só vamos nos manifestar quando encerrarmos nossa análise e conversarmos com o Comitê Olímpico Norte-Americano, outra parte interessada. Como tudo que fazemos nessa diretoria, só vamos nos pronunciar quando tivermos uma posição fechada.


6) Como está sendo feito a reunião do Conselho Gestor. Cada um expõe os avanços e dificuldades da sua pasta e todos discutem o assunto? Existe deliberação e diretrizes para os executivos traçadas pelos vice-presidentes?

Nesse início, o número de problemas e desafios são tantos que os vice-presidentes ainda tendem, até pelo histórico que têm em suas empresas, a entrar também um pouco do lado executivo. Estamos em um processo de arrumação da casa, lidando todo dia com emergências práticas de curto prazo e demandas de planejamento de médio e longo prazo. Como falta dinheiro para os compromissos assumidos, é como construir um projeto grandioso (onde o foco no médio-longo prazo é fundamental) apagando incêndios diariamente e consertando buracos de um transatlântico em plena navegação.

Em pouco tempo, porém, à medida que nos estruturarmos (os executivos de cada área estão sendo contratados), os vice-presidentes progressivamente irão assumindo o seu papel institucional e de planejamento e avaliação (estratégia), ficando para os executivos o papel de executá-la, com liberdade de ação na parte tática.


7) A questão da falta de Certidão Negativa de Débito está sendo levantada, para o Flamengo enfim pode usar os benefícios da Lei de Incentivo ao esporte?

O Flamengo não tem a CND porque está inadimplente em impostos com nos últimos anos, como foi divulgado oficialmente pelo clube recentemente. A empresa Ernst Young está fazendo um vasto trabalho de auditoria dos números do clube, que mostrará o verdadeiro retrato financeiro do Flamengo, que obviamente não é nada bom.

Desde que assumimos, a mensagem do nosso presidente é que o Flamengo quer voltar a pagar os seus impostos e ser um clube cidadão. Queremos recuperar o quanto antes as certidões negativas, primeiro por uma questão de dignidade e decência, depois por inteligência econômica (reabertura da possibilidade de captação de recursos públicos oriundos de leis de incentivo). Já pagamos uma quantia relevante de impostos correntes e atrasados no começo de 2013 e essa passou a ser uma prioridade no Flamengo. Estamos trabalhando em todos os campos para tentar, ao longo desse ano, recuperar a condição de contribuinte adimplente com as diversas esferas de Governo para termos a CND novamente.

Hoje em dia, o Instituto do Atleta Rubro Negro tem ajudado na captação desses recursos para o clube, mas obviamente queremos o quanto antes recuperar a CND de realizar essa captação diretamente pelo Flamengo, que é uma marca muito mais forte. A partir daí, queremos voltar a ter uma relação aberta com todas as esferas de Governo e federações/confederações em que o Flamengo volte a ter um papel de protagonista e que seja escutado na mesma dimensão de seu tamanho.


8) Quais as chances do Flamengo voltar a ter uma equipe de vôlei masculino e feminino já para a próxima Superliga que começa no final desse ano?

O vôlei é o segundo esporte em popularidade do Brasil hoje e obviamente temos grande interesse em que o Flamengo volte a se fazer representar na Superliga. Mas isso exige, dentro da filosofia nova do nosso clube, que arrumemos um parceiro que possa viabilizar o projeto.

Não queremos criar falsas ilusões, apenas afirmo que estamos com conversas ainda muito preliminares sobre o assunto. Seria um sonho termos uma grande equipe de basquete e de vôlei, quem sabe jogando em um ginásio próprio, na Gávea, que é outro projeto em fase inicial.


9) O trabalho é a médio e longo prazo, mas a expectativa é sempre grande por resultados imediatos, patrocínios. Nesse primeiro ano quais as prioridades? E como o mercado tem reagido a essa novidade toda no Flamengo?

São duas prioridades nos Esportes Olímpicos (no mesmo nível de importância, até porque uma é consequência da outra, são objetivos que se retroalimentam):

1 – Profissionalização total dos esportes olímpicos, com o objetivo de voltar a criar atletas na Gávea: A vinda do Marcelo Vido foi o primeiro espaço nessa direção, já que é ele que vai coordenar todo o processo. Teremos oito esportes – basquete, vôlei, ginástica artística, judô, tênis, natação, nado sincronizado e pólo aquático – com uma integração técnica total desde a formação nas escolinhas até a categoria adulta. Queremos criar um centro de ciência do esporte, que concentre os melhores recursos humanos em campos de preparação física, medicina, fisioterapia, fisiologia entre outros, para que o nosso atleta seja preparado atender a evolução do esporte. Os profissionais não serão mais reconhecidos simplesmente porque foram campeões nos torneios mirim, infantil ou juvenil. A cobrança será, primeiro, na formação do ser humano e, depois, na produção de atletas de alto nível. A idéia é implementar mais à frente planos de remuneração variável com metas claras de desempenho nesses campos.

Gostaria de voltar a circular pelo clube e ver novas criaturas rubro-negras, como Luiza Parente na ginástica, Nalbert, Isabel e Jaqueline no vôlei, Algodão, Pedrinho e Almir no basquete, Frederico Flexa no judô, enfim, um processo que foi interrompido ao longo do tempo e que hoje nos obriga a importar talentos para disputar competições de alto nível.

2 -  Busca de recursos para tornar esse projeto viável – Tentar em 2013, ao menos encaminhar de forma importante o equilíbrio entre despesas e receitas. Acho que a assinatura do contrato da Peugeot, com apenas 15 dias de mandato, mostra como a receptividade do mercado tem sido boa. Infelizmente, a imagem do Flamengo foi muito degradada nos últimos anos, desde problemas com atletas até a fama negativa de caloteiro. O nosso compromisso é limpar essa imagem do Flamengo, mesmo que isso exija enormes sacrifícios em 2013. A partir daí, o que irá restar? Uma grande marca, do maior clube desse país, com a maior torcida do mundo. Mas cabe ressaltar que precisamos tanto nos vender “externamente” para os potenciais patrocinadores, como “internamente” para o nosso público, com um programa de sócio-torcedor que com certeza será um enorme sucesso e um aumento significativo de sócios pagantes no clube. Como diz o Bap, nosso VP de Marketing, a torcida do Flamengo é um verdadeiro “pré-sal rubro negro”, totalmente inexplorado. Vamos certamente explorar essa nossa maior riqueza.


10) Como é a busca da profissionalização da gestão dos esportes olímpicos, tendo um orçamento pequeno, tendo encontrando dívidas. Como e onde buscar receita nova nesse primeiro momento?

É difícil, como falamos no começo, o gestor tem que realizar opções o tempo inteiro. Por exemplo, encontramos nosso grande orgulho hoje, o basquete rubro-negro, também sem um patrocínio capaz de sustentar o projeto, que obviamente será bancado por recursos do clube até junho. Nossa prioridade nesses primeiros dias tem sido buscar formas para tornar sustentável esse grande projeto esportivo com ações de curtíssimo prazo  via bilheteria (única coisa que temos em nossas mãos), viabilização de um ginásio maior para jogarmos, venda de placas e busca de patrocínios.  Aliás, aproveito esse canal para convidar todas as empresas que queiram se associar a uma grande marca que é o Flamengo em um projeto de sucesso absoluto que é o invicto basquete rubro-negro na NBB 2012/2013.

Além disso, estamos montando um projeto para cada esporte que faça sentido do ponto de vista técnico e também financeiro. Teremos que definitivamente apertar muito as despesas em 2013, mas estarmos com projetos prontos para sairmos à rua para buscar parceiros. Além disso, contamos com o projeto do Fla-Gávea para o aumento do número de sócios, para que possamos também melhorar a receita com escolinhas, seja via quantidade ou preço. Enfim, estamos buscando, dentro da situação muito difícil que encontramos, usar ao mesmo tempos os instrumentos de curto prazo e montar soluções de médio e longo prazo.

Para encerrar, quero afirmar que, apesar de todas as dificuldades, não só eu, como todo o grupo de esportes olímpicos - presidente e os vice-presidentes do clube - estamos extremamente confiantes de que, com trabalho árduo e profissional, colocaremos o Flamengo, em todos os níveis, no seu devido lugar de destaque. O Flamengo, podem ter certeza, será exatamente do tamanho dos nossos sonhos, se todo o rubro-negro decidir colaborar e estiver efetivamente participando da nossa maior paixão. Apesar do enorme desafio, não vamos descansar um segundo enquanto o Flamengo não voltar ao topo em todos os campos.

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