O Consórcio Maracanã, que ganhou o "processo" de privatização do Maracanã, é formado em 90% pela Odebrecht, que na prática é a nova dona do estádio. A mesma Odebrecht foi a empresa responsável pela construção do Engenhão. Quase ninguém percebeu isto pela simples presença, em apenas 5% do capital do Maracanã, do Grupo EBX, do milionário Eike Batista. Enquanto a estupidez geral coletiva perde tempo com gritos infrutíferos de "Fora Eike", a rainha desta privatização, a Odebrecht, passa quase maestralmente isenta de críticas por todo o turbilhão. Adicione-se a isto a tradicional falta de ética, moral e princípios do sistema político brasileiro, e com conivência do Governo do Estado e da Prefeitura do Rio de Janeiro, tem-se um quadro translúcido de assalto aos cofres do Flamengo e dos demais clubes do futebol carioca (o Vasco, com seu estádio próprio de São Januário, sofre menos neste aspecto, mas também deixa de ter ganhos futuros maiores).
Eis que faltava a artimanha teatral. Às vésperas da entrega do Maracanã, marco de início do processo de negociação entre clubes e o Consórcio, eis que na obra feita pela Odebrecht no Engenhão (um estádio novíssimo, inaugurado em 2007) é constatada em laudo uma falha estrutural no teto do estádio, obrigando a interdição do mesmo. Ninguém foi processado pelas perdas financeiras graves sofridas pelos clubes cariocas (em especial o Botafogo, mas com inquestionáveis perdas para Fla-Flu também). Ninguém investiga nada, tudo fica por isto mesmo. E quando se dá início ao processo de negociações entre clubes e Consórcio, não há concorrência: os clubes não têm outra opção na cidade para utilizar. Quem ganha com isto? A nova dona, a mesma responsável pela falha estrutural no teto, que agora impõe contratos de longo prazo, com 35 anos de duração, sob uma conjuntura de faca no pescoço daqueles que no curto prazo não têm outras alternativas de campo.
Ao mesmo tempo, numa estratégia "engana trouxa", acena-se com um estádio próprio para o Flamengo na Gávea. O contrato é tão lucrativo para o Consórcio Maracanã, que até construindo um estádio novo a mais, ele ainda há margem de lucro significativa.
Mas esqueçam! Não há e nem haverá estádio nenhum na Gávea, nem hoje, nem amanhã, nem nunca! Há 15 anos atrás o Flamengo queria um estádio ali. Associação de Moradores, Prefeitura, Governo do Estado, todos alegavam os efeitos o trânsito, os efeitos ambientais sobre a Lagoa Rodrigo de Freitas, os efeitos urbanísticos na paisagem. Mas depois disto foi levantado o Shopping Leblon a uma quadra dali, e não teve trânsito, meio-ambiente, Lagoa Rodrigo de Freitas, nem efeito urbanístico horrendo sobre a paisagem que impedissem a obra. O fato de entendimento do por que é simples: os moradores do Leblon não querem a torcida do Flamengo por ali, porque incentivará o comércio informal, aumentará o risco de roubos e assaltos, etc. O que nenhum morador da Gávea, Leblon ou Lagoa quer são as Torcidas Organizadas por ali em dia de jogos. Isto é irreversível. Não há margem de mudança deste status quo, não há laudo técnico que resolva. Esqueçam estádio para 5, 10, 20, 30 ou 40 mil na Gávea, não é uma questão de número, nem de disponibilidade de estacionamento!
Isto posto, a pergunta é: quais alternativas o Flamengo tem? Não há Engenhão. São Januário é fora de cogitação. Volta Redonda e Macaé dariam retorno financeiro muito baixo. Brasília é uma alternativa que tem prazo de validade, até pelo desgaste físico que impõe ao elenco. E um estádio próprio? Levaria dois anos para ficar pronto (desconsiderando o tempo de todas as indefinições e embates políticos decorrentes da escolha do local). Ou seja, não há alternativas. O Flamengo está de quatro e de calças arriadas. O choramingo na reunião com o governador Sérgio Cabral nesta semana é a prova definitiva de que esta ficha está caindo para a diretoria rubro-negra.
Só resta a mesa de negociação com o Consórcio Maracanã.
O acordo provisório que o Flamengo fez com o Consórcio até o fim de 2013 fracassou. Ainda bem que foi tão só um acordo-tampão para avaliar a situação, e não um contrato de prazo maior. Há tempo para corrigir os erros.
O primeiro erro foi infantil: aceitar dividir custos como contrapartida por ter participação nas áreas mais nobres do estádio, sem ter a capacidade de fiscalizar estes custos, foi erro primário. Foi passado para trás como a criança que perde o doce para o menino mais velho. Fizeram o óbvio (e descaradamente desleal): inflaram os custos e reduziam as margens de lucro do Flamengo. Que a lição tenha sido aprendida, o caminho não é este. Mas como conseguir ampliar margem nos setores mais nobres? Será muito difícil fechar esta equação. Seremos entubados, como Fluminense e Botafogo foram.
Quais são as opções então? Se eu fosse o responsável por decidir a estratégia, eis quais seriam meus termos:
1. sobre 2013 não há o que fazer, é preciso relevar alguma perda financeira e priorizar o fator técnico - menos viagem e mais jogos no Maracanã -. É a Estratégia "Perdeu playboy". Agora já era, engole os ganhos bem abaixo do potencial, e torce para se manter na Primeira Divisão.
2. assinaria contrato de 5 anos com o Consórcio Maracanã contemplando apenas jogos do Brasileiro, da Copa do Brasil e eventualmente da Libertadores, o contrato englobaria um número determinado de jogos por ano. Como no Brasileiro são 19 como mandante, mais no máximo 7 de Copa do Brasil e uns 5 a 7 mais de Libertadores, firmaria 18 a 20 jogos por ano, o resto mandava em Brasília ou outras praças.
3. para Campeonato Carioca, mandaria todos os jogos em Volta Redonda e/ou Macaé, incluindo os clássicos e as Finais! Vamos impor um pouquinho de perdas aos caras também, já que estamos tendo que entubar várias...
4. início imediato do "Projeto Estádio Próprio", com ampla discussão envolvendo todos os conselhos do clube, e desde já abortando a possibilidade infrutífera de Estádio da Gávea.
CONTRATO DE 35 ANOS COM O CONSÓRCIO MARACANÃ !?!? PELO AMOR DE DEUS !!!
EM HIPÓTESE NENHUMA !!!
Marcel, muito bom artigo. Eu só chamo atenção para o fato de que hoje em dia a dinâmica de "estádio próprio" é muito semelhante ao Maracanã: uma empreiteira que ergue e administra a instalação, um clube que provê conteúdo. Abs e obrigado por ter lido nosso artigo. Walter Monteiro
ResponderExcluirWalter,
ResponderExcluirQualquer construtora vai querer obter retorno e margem de lucro em cima de uma obra desta proporção. É caro ter um estádio próprio sim (um pouco menos quando você ganha de presente do governo como uns aí).
A questão é que no caso do Maracanã, como a privatização foi feita, deixou os clubes reféns da margem de lucro que o Consórcio quiser distribuir (não uma relação de sociedade). Eu entro com a torcida lotando o estádio e você me remunera por isto. Até aí, OK, relação norma de mercado. Mas uma vez que não tenho outra opção de lugar para jogar, fico com a faca no pescoço e tenho que aceitar a margem (ou a migalha) que sobrar).
Com estádio próprio, a relaçã é parecida, mas eu participo de todo o processo, conheço e familiariz com toda a operação, e participoda tomada de decisão.
O Flamengo vai aumentar a arrecadação de bilheteria em relação aos tempos do "Maracanã Público", mas vai faturar bem menos que o seu potencial de arrecadação.
Enquanto isto, Corinthians, São Paulo, Palmeiras, Santos, Grêmio, Internacional e Vasco conseguirão uma arrecadação de bilheteria mais próxima do potencial de cada um, pq tem (terão) seus próprios estádios e não ficarão reféns de quem terá controle total de todo a operação e arrecadação do estádio.