terça-feira, 11 de março de 2014

Entrevista de Alexandre Póvoa, vice-presidente de Esportes Olímpicos

Excelente entrevista de Alexandre Póvoa ao Blog Ninho da Nação, de autoria de André Amaral. Republico a íntegra abaixo:

1) Ao contrário do ano passado, quando o Flamengo chegou ao ápice ali pela metade do NBB, neste ano o Flamengo vai crescendo justamente no tempo certo, a curva está na crescente? Washam mais em forma e mais entrosado, Marquinhos e Marcelinho recuperados, time aprendendo a jogar sem o Benite. É por aí?

Essa temporada foi completamente diferente da anterior por diversos fatores. Em 2012/2013, o time era recém-formado, primeiro ano do Neto e uma equipe bastante modificada depois de fracassos anteriores com o Gonzalo Garcia. Não houve competições internacionais de seleção brasileira e pelo o que me foi relatado pela Comissão Técnica (ainda estamos falando da gestão anterior) houve tempo para a realização pré-temporada fortíssima. Enquanto os outros times não estavam tão preparados, o time entrou “cantando pneu” na NBB e fez aquela improvável espetacular série invicta, mesmo com o Marcelinho se machucando logo no começo.

Para quem conhece basquete, aquela supremacia toda não era compatível com a (pequena) diferença entre os times. Criamos uma boa gordura, mas aí o time começou a cair muito no meio do campeonato, mostrar inconstância e perder feio na Liga das Américas. No último jogo da primeira fase ganhamos na terceira prorrogação do Tijuca, que disputou rebaixamento. Atribuo isso a dois fatos: Primeiro, pela oscilação natural na competição e segundo pelo fato de o elenco ter alguns desequilíbrios na formação que dificultavam manter o padrão (desequilíbrios que buscamos corrigir para a atual temporada).

Porém, com a vantagem garantida nos playoffs (que foi fundamental), conseguimos voltar a crescer na reta final da competição e, apesar de todas as dificuldades, vencemos a NBB naquele memorável dia 01/06.

Na atual temporada, começamos por buscar corrigir os dois desequilíbrios que identificamos na equipe em 2012/13. Só quem nunca fez esporte repete a tola frase de que “em time que se está ganhando não se mexe”. É claro que se mexe, se for para melhor. Primeiro, identificamos a necessidade de uma consistência maior na armação. Um time de basquete não pode jogar do mesmo jeito ganhando ou perdendo de 30 pontos. Tem que ter o controle do jogo e essa é a função do armador, é ele quem dita o ritmo. Esse era um defeito do time do ano passado. Talvez eu seja velho, mas cresci vendo Hélio Rubens, Fausto, Nilo, Maury e mesmo aqui no nível local um Bigu, Bira, entre outros que considero armadores de verdade. O esforço para trazer o Nicolas foi nessa direção. Vários outros jogadores nos foram oferecidos. O desempenho dele só pode ser surpresa para quem não o acompanhava no ano passado, sempre foi a nossa primeira opção.

O outro desafio era conseguirmos uma rotação mais qualificada e menos instável de pivôs, já que éramos muito dependentes do Caio. Não conseguimos mantê-lo e optamos por trazer o Jerome e o Cristiano. Acreditamos que o time hoje consegue manter um bom padrão quando há rodízio entre os jogadores que jogam dentro do garrafão.

Posso dizer que em ambas as intervenções, estamos muito satisfeitos. O time esse ano é mais equilibrado que o do ano passado. No nosso planejamento, propositalmente, deixamos a vaga de um estrangeiro em aberto no começo do ano para reforçar mais à frente ou para suprir potenciais emergências (alguma contusão ou a observação em relação ao Marcelinho que voltava de séria contusão).

Aí começaram os problemas: Não pudemos fazer uma pré-temporada tão qualificada por conta da seleção no pré-Mundial; o Marquinhos teve complicações sérias na recuperação de uma cirurgia de joelho, que inicialmente era classificada como simples; o Benite teve aquela terrível contusão; e o Marcelinho naturalmente foi se readaptando aos poucos e não podia ser foçado. Enfim, diferente da temporada anterior, as coisas foram bastante complicadas no começo, por isso o time não largou tão bem. Mas o grupo foi bravo e muito raçudo e ficou rodeando as primeiras posições mesmo com todas as dificuldades.

Como havíamos reservado uma vaga para estrangeiro, a reposição do Benite (que esperamos que volte antes do final da NBB) ficou facilitada e o escolhido foi o Washam. É um jogador experiente, forte, duro na marcação, complementar à característica dos outros jogadores e que vai nos ajudar bastante. Aos poucos, com a volta do Marquinhos, recuperação total do Marcelinho e a progressiva entrada em forma do Washam e, na minha opinião, com uma rotação de banco melhor que a do ano passado (pena que não temos o Benite, mas o Gegê foi chamado à responsabilidade e tem respondido muito bem), estamos crescendo mais fortemente agora. Por ser um time mais equilibrado, acho que menor a chance de uma oscilação mais brusca adiante.  Se vamos ganhar a NBB e a LDA é outra história, quem já jogou sabe que há muitas variáveis que influenciam. Mas acho que montamos um ótimo time para ganhar as duas competições. Além disso, o grupo é extremamente profissional e unido, o que em esportes coletivos, junto com a qualidade técnica, faz uma enorme diferença.

Fico feliz em termos ganhado também a LDB e pelo fato de cinco atletas daquele time estarem regularmente participando do grupo da NBB. Esse é o nosso objetivo de médio-longo prazo para todos os esportes do clube. O Flamengo tem que voltar a ser um formador de jogadores e há um plano já estabelecido para 2014 onde o Neto, Rodrigo (assistente dele) e o Chupeta trabalharão juntos em uma grande reformulação das categorias de base do Flamengo. Tudo isso sobre a supervisão do André Guimarães e o comando do Marcelo Vido, que está coordenando brilhantemente o processo de reestruturação do esporte olímpico do Flamengo, das escolinhas (agora Escola de Esportes)  até as categorias adultas.


2) Um jogador que tem vindo do banco e ajudado muito é o Felício. Qual a avaliação desse jovem e excelente jogador?

O Cristiano tem um potencial monstruoso. Com o tamanho, envergadura e agilidade que tem, queremos ajuda-lo a chegar ao topo máximo. Além disso., é um garoto humilde excelente pessoa. Eu vi o Nenê jogar no juvenil e no adulto do Vasco e sinceramente, comparando os dois na mesma idade, o Cristiano não fica nada a dever (o que não quer dizer que vá chegar ao mesmo estágio do Nenê atual).

O Cristiano ficou quase um ano sem jogar nos EUA. Começou tímido, desequilibrou na LDB, está recuperando a confiança agora e vai nos ajudar demais nessa reta final de NBB e LDA. Precisa acreditar que tem uma força física enorme para buscar o contato embaixo do garrafão e não evitá-lo, como se fosse um jogador mais baixo, como fazia antes. No dia em que acreditar plenamente nele, com a orientação do Neto e comissão, acho que no mínimo o Brasil vai ganhar um jogador de seleção por muitos anos. Reparem que ele tem agilidade e velocidade para marcar alas (posição 3) também, podendo ser bastante útil defensivamente nesse quesito para grupo.


3) Final Four no Maracanãzinho. Qual o custo em dólares, estrutura, hospedagem. O que o Flamengo precisa oferecer para ser a sede? Como estão as negociações?

Primeiro, há de se vencer a briga política dentro da FIBA Américas (onde “todos falam espanhol”) para que as finais sejam no Rio. O custo total, contando a cota deles e estrutura/hospedagem é ao redor de R$ 600 mil. É caro, o tempo é curtíssimo, mas estamos correndo atrás de patrocinadores para tentar, junto com a projeção de bilheteria, viabilizar esse sonho (caso vençamos a briga política). O bacana é que, se conseguirmos, será a volta do basquete ao Maracanãzinho.

Nada é fácil em um país onde o futebol está em primeiro, segundo, terceiro e lá para décimo aparece o vôlei. Dura realidade, mas vamos brigar até o final. Agora, mesmo que o Final Four não seja aqui, com o nosso grupo, temos plena confiança nas nossas chances de vitória, onde quer que joguemos.


4) Como anda a captação via pessoa jurídica dos projetos do Ministério do Esporte? 

O projeto de Ginástica Artística e Judô já está sendo executado. Para a nossa enorme alegria, trouxemos a Luisa Parente como gerente de nossa área e ela vai tocar diretamente essa reestruturação.

Já completamos os 20% em um segundo projeto, mas só vamos anunciar quando as duas empresas envolvidas assinarem o contrato conosco. Nos outros dois projetos que faltam, estamos bem encaminhados. Tenho confiança que teremos condições, ainda no primeiro semestre de 2014, de anunciar a plena autossuficiência nos esportes olímpicos. A luta é diária, mas cabe o registro de como o setor privado tem pouco interesse no esporte olímpico, mesmo através de lei de incentivo. Espero que após a Copa do Mundo, quando o esporte olímpico “vai virar moda” até 2016, esse quadro mude.


5) Quais os planos para 2014? A captação da pessoa física será reaberta no segundo semestre para novos projetos? Projeto via ICMS para o parque aquático? 

Certamente, o Anjo da Guarda Rubro-Negro volta no segundo semestre e espero que seja um programa que vigore para sempre no Flamengo que sonhamos, cumpridor de seus deveres como clube cidadão. Tudo é muito novo para as pessoas. Se tivemos 822 que se deram ao trabalho de transferir seu imposto para o Flamengo nesse ano, que em 2014 consigamos manter essas pessoas e trazer mais 822. Nesse ritmo, em alguns anos, teríamos as pessoas físicas autossustentando integralmente as categorias de base dos esportes olímpicos do Flamengo, que é um sonho de todos nós.

O plano é entrar no círculo virtuoso de reapresentar anualmente os projetos de IR, ICMS, SICONV e Lei Pelé, além de continuar correndo atrás de patrocínios privados para que o Flamengo mude completamente de patamar no esporte olímpico. Isso envolve aumento progressivo e autossustentável de receitas para o financiamento operacional de cada esporte, melhora significativa na parte estrutural da Gávea e investimento em ciência do esporte (excelência).

A reforma física da Gávea (também com o dinheiro do Comitê Olímpico Americano) começa em 2014. O projeto do ICMS para a piscina já está aprovado e deve ser divulgado a qualquer momento no Diário Oficial. O mesmo deverá ser complementado por projetos de convênio com o SICONV. 

2013 foi o ano da sobrevivência nos EOs, 2014 será o da reorganização definitiva e que 2015 comecemos a buscar a excelência sobretudo na formação de atletas, característica que infelizmente perdemos ao longo dos anos. Ninguém paga R$ 120 milhões de impostos por ano impunemente, mas vamos conseguir tirar o Flamengo desse atoleiro em que foi metido e teremos um clube caminhando para os nossos sonhos.


6) Dinheiro do CONFAO já foi repartido? 

Não. O Ministério dos Esportes já assinou a última portaria que faltava destinando 20% (!!!!) dos recursos para despesas administrativas da Confederação Brasileira de Clubes. Falta agora a mesma fazer o chamamento público para que os clubes apresentarem os projetos. Acreditamos que esses recursos possam entrar a partir do segundo semestre desse ano e é mais uma fonte de recursos que contamos, apesar de ser uma lei muito mais restrita comparativamente aos projetos de IR e ICMS. Nada é fácil, até aqui tem gente caindo de paraquedas querendo parte dos recursos, mas vamos lutar até o fim para receber de volta cada centavo que o Flamengo tiver direito como um dos maiores formadores de atletas olímpicos do Brasil.

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