O aguardadíssimo Balanço Financeiro de 2014 foi publicado no final da primeira quinzena de abril de 2015. Como as prévias do mercado financeiro já indicavam, os resultados eram muito bons, indicando queda de endividamento, aumento expressivo de receitas e resultado opracional positivo. Pela primeira vez em muitos e muitos anos, em muitas décadas, o Clube de Regatas do Flamengo fechou um ano com um Resultado Operacional Superavitário, pela primeira vez as contas fechavam no azul. A principal pedra de sustentação da Gestão Azul estava de fato entregue à Nação.
Para se ter uma idéia do tamanho de tal feito, buscando-se todos os Demonstrativos de Resultados do clube entre 2006 e 2013, o melhor que se tinha obtido havia sido um déficit de R$ 3,3 milhões em 2008, o segundo melhor tinha sido um déficit de R$ 13,8 milhões em 2006. Em 2014 houve um superávit de R$ 64,3 milhões. As finanças finalmente estavam no azul.
1) Quadro de Endividamento
A melhora na comparação entre os resultados de 2012, 2013 e 2014 é notável. No primeiro ano de gestão, houve uma redução de 12%, equivalente a menos R$ 89,3 milhões; no segundo ano de gestão uma queda de mais 8%, equivalente à redução de R$ 48,5 milhões. Na soma dos dois primeiros anos de gestão, a dívida foi reduzida em 19%, ou R$ 137,8 milhões.
A representatividade da melhora da situação financeira pode ser vista num dos principais indicadores de saúde financeira analizados pelo mercado, a razão entre a dívida e a receita operacional anual, ou seja, quantos anos de receita seriam necessários para se pagar toda a dívida. Em 2012 a dívida era 3,6 vezes a receita anual, em 2013 a razão caiu para 2,4 e ao fim de 2014 ficou em 1,7. Um enorme salto de qualidade.
Tudo muito eficiente, mas falta abordar a parte polêmica, pois nem todos os indicadores melhoraram. Para que a dívida caísse, foi preciso aumentar a quantidade de empréstimos junto a instituições financeiras. Como? Através do que a oposição alardeou como "troca de dívida pública por dívida privada". As fontes de financiamento para pagar os impostos devidos ao governo foram aumento de receitas e aumento de empréstimos. Primeiro ponto a ser considerado na "troca de dívidas": sonegação fiscal é crime. Portanto, pagar impostos devidos é obrigação moral e ética. A argumentação de que a redução da dívida é fantasiosa (argumentam que os números da gestão anterior teriam sido inflados pela Gestão Azul) se fragiliza diante de dois fatos: todos os resultados passaram por Auditoria (ok, muitas fraudes já escaparam em auditorias similares) e é facilmente perceptível por quem acompanha os fatos publicados nos meios de comunicação, como antes havia filas de credores acionando o clube, e ultimamente não há mais, sinal de que de fato estão sendo feitos pagamentos.
Mas vamos aos indicadores que pioraram, o aumento na "dívida privada". O total de empréstimos subiu 32% em 2013 frente ao ano anterior (R$ 27,1 milhões a mais), e subiu 25% em 2014 (R$ 28,4 milhões a mais).
E o que mostra como a situação, ainda que tendo melhorado bastante, está longe de ser tranquila é que cresceram nestes dois anos tanto os Empréstimos com vencimento de curto prazo (eram R$ 70,9 milhões no fechamento de dezembro de 2014), quanto o volume de Contas a Pagar de curto prazo (eram R$ 51,8 milhões no fechamento de dezembro de 2014). Estas duas rúbricas precisam ser atentamente acompanhadas nos exercícios de 2015 e 2016.
2) Aumento Expressivo nas Receitas
A Receita Operacional líquida havia crescido 30% em 2013, equivalente a mais R$ 60,5 milhões/ano, e voltou a ter crescimento similar, 29%, em 2014, mais R$ 75,1 milhões no ano. No total dos dois primeiros anos da Gestão Azul, o crescimento acumulado foi de R$ 135,6 milhões (68% maior que a de 2012).
Analisando os números brutos de receita do futebol e do resto do clube, houve expressivos aumentos em ambos. A receita do futebol cresceu R$ 62,0 milhões em 2013 e R$ 62,9 milhões em 2014, um crescimento acumulado de 70% nos dois anos de gestão. As receitas do resto do clube não-futebol haviam caído R$ 0,9 milhões em 2013, e cresceram R$ 11,1 milhões em 2014. Um crescimento de 30% no acumulado dos dois anos de gestão.
Abrindo este resultado, para entendê-lo melhor e buscar as principais fontes de financiamento, temos os resultados a seguir. Antes, porém, é preciso registrar o crescimento da receita não só em quantidade, mas em qualidade, pois as fontes foram bastante diversificadas. Uma das metas no início da gestão era ter três fatias iguais como fonte de financiamento: (1) direitos de televisionamento, (2) renda gerada pela torcida, e (3) patrocínios e material esportivo. A meta era que cada fatia representasse 33% do todo. Evoluiu-se muito nesta direção. Os recursos de televisão eram 64% da receita em 2012, caíram para 46% em 2013 e finalizaram 2014 sendo 38%. As receitas geradas pela camisa (material esportivo + patrocínios) eram meros 19% em 2012, passaram a 22% em 2013 e terminaram sendo 26% em 2014. E as receitas geradas pela torcida (Bilheteria + Sócio-Torcedor) eram só 5% em 2012, cresceram espantosamente para 27% em 2013, e agora são 23%. As outras receitas também cresceram em 2014 (são 12%) por causa de uma fonte nova, os incentivos fiscais, só possíveis graças à obtenção das Certidões Negativas de Débito (CNDs).
As receitas com direito de transmissão estão relativamente estáveis, em função dos pagamentos da Rede Globo, mas crescerão novamente a partir de 2016. Deverão crescer em pelo menos R$ 40 milhões/ano a mais.
As receitas com bilheteria eram módicos R$ 9,5 milhões no total do ano 2012. Subiram para R$ 48,9 milhões em 2013 no embalo da campanha que levou ao título da Copa do Brasil. Em 2014, foi a única receita que caiu em relação ao ano anterior. Fechou em R$ 40,1 milhões (a diferença entre 2013 e 2014 foi a arrancada que levou ao título da Copa do Brasil). Uma boa campanha em Campeonato Brasileiro, brigando na ponta, pode levar esta receita para cima dos R$ 60 milhões.
As receitas com patrocínio cresceram espantosamente. Um aumento de 55% em 2013 e de 50% em 2014. No acumulado dos dois primeiros anos de gestão, representou um aumento de R$ 45,5 milhões ao ano, o que equivale a um aumento de 132% frente ao resultado obtido em 2012.
Por si só, já eram grandes feitos. Mas a Gestão Azul foi além, trazendo duas novas fontes de receita que o clube não tinha antes. A primeira delas é o Programa de Sócio-Torcedor Nação-Rubro-Negra, que gerou R$ 16,5 milhões a mais de receita em 2013 e R$ 30,4 milhões a mais em 2014. é uma arrecadação superior à que Vasco, Botafogo e Fluminense, somados, têm com seus respectivos programas.
E se as CNDs viabilizaram um aumento nas receitas de patrocínio, geraram uma receita nova em 2014 que nunca existiu antes na história do clube. O Flamengo captou R$ 21,9 milhões em Incentivos Fiscais em 2014, entre investimentos direcionados à infraestrutura do futebol de base e recursos direcionados aos Esportes Olímpicos. Foram R$ 4,2 milhões para o futebol, e 17,7 milhões para os Esportes Olímpicos (já é a maior fonte de receita Não-Futebol).
(3) Superávit
O Resultado Operacional do Clube de Regatas do Flamengo ém 2012 apresentava um déficit de R$ 10,7 milhões. Em 2013 converteu-se num superávit de R$ 26,9 milhões, ampliado para um superávit de R$ 104,6 milhões em 2014.
O resultado final, excluindo-se as Despesas Financeiras (juros de dívidas), foi superavitário pela primeira vez na história do clube! Em 2012 houve um déficit de R$ 62,4 milhões. Em 2013 um déficit de R$ 19,5 milhões. Em 2014 o resultado líquido indicou um superávit de R$ 64,3 milhões. Neste resultado, vê-se também a redução das Despesas Financeiras nos últimos anos, mais um indício de que não há nada falso no quadro de redução da dívida, ela de fato está acontecendo. As despesas com juros foram de R$ 51,8 milhões em 2012, de R$ 46,4 milhões em 2013, e de R$ 40,3 milhões em 2014.
Complementarmente aos números e análises feitos aqui, vale também a leitura da avaliação de Emerson Gonçalves, do blog Olhar Crônico Esportivo. A visão isenta de um especialista no assunto (que, a propósito, nem flamenguista é, é sãopaulino): Balanço do Flamengo enche os olhos.
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