quarta-feira, 25 de novembro de 2015

O Corinthians nunca será o Flamengo!

Em 3 de fevereiro de 2012, eu publiquei: Por que o Corinthians não consegue ser o Flamengo?

Em 24 de novembro de 2015, foi a vez do Blog Teoria dos Jogos perguntar: Por que o Flamengo não é um Corinthians?. O Blog Teoria dos Jogos usa inclusive a mesma capa da Placar que eu usei no meu texto. 

Eu respondo ao Teoria dos Jogos:
O Flamengo não é um Corinthians, porque o Corinthians nunca será o Flamengo! Nem no dia em que numericamente a quantidade de torcedores que o Corinthians tem em São Paulo, Paraná e Mato Grosso do Sul, superar a quantidade de torcedores que o Flamengo tem espalhados pelo Brasil inteiro, o Corinthians será o Flamengo. Nunca serão!


Releia o meu post Por que o Corinthians não consegue ser o Flamengo? e veja no detalhe quais são meus argumentos. Flamengo: A Maior Torcida do Brasil.

Eis abaixo a integra do texto do blog Teoria dos Jogos:

Em fevereiro de 1982 – mês e ano de nascimento deste blogueiro – a revista Placar se saiu com uma de suas capas mais marcantes e polêmicas. Dirigida à época pelo corintianíssimo Juca Kfouri, a publicação questionou o porquê do clube tido e havido como “Flamengo paulista” se encontrar tão abaixo do original. Desestruturado, endividado e com provincianismos de um clube de colônia, o Corinthians chafurdava na Taça de Prata do Brasileirão (equivalente à atual Série B), enquanto o Mais Querido colhia os frutos de sua geração mais vitoriosa – incluindo os títulos da Libertadores e do Mundial, meses antes.

Só que nossa pergunta difere do “por que o Corinthians não é um Flamengo”, de três décadas atrás. A indagação é contrária.

Seria para tanto?

Decerto já houve momentos mais propícios para denotar a reversão de papéis entre os dois gigantes. Um período marcante, por exemplo, foi a temporada de 2005. À época, os do Parque São Jorge, fazendo valer a força de sua marca, atraíram investidores internacionais que culminaram na montagem de um verdadeiro esquadrão. Tal qual há uma semana, atletas de exceção como Tevez e Mascherano deram ao Timão o título Brasileiro daquele ano. Enquanto um Rubro Negro jogado às traças vivia da falta de credibilidade até mesmo para assinar um cheque. Os meses com mais de 90 dias geravam debandadas que fragilizavam o elenco, a ponto de o Flamengo terminar o Carioca na inacreditável oitava colocação. Não só: o time caiu nas oitavas da Copa do Brasil frente ao Ceará, lutando contra o rebaixamento no Brasileiro até as últimas rodadas.

Se hoje as coisas aparentam melhores – ao menos no tocante à catástrofe rubro-negra – por que então a indagação?

A resposta tem origem num panorama novo. Bem administrado após anos de falcatruas, o Flamengo vem fazendo valer seu peso no campo dos negócios. A partir de 2014, o Mengão assumiu a liderança do ranking de receitas e faturamento de marketing, mantendo-se no topo das audiências e das vendas de pay per view. Tais parâmetros, contudo, eclipsam uma intransponibilidade que impede a conversão de cifras em títulos.

Enquanto o Corinthians entra como favorito na maioria das competições, o Flamengo segue na condição de mero figurante em muitas delas – que o diga as duas últimas eliminações na primeira fase da Libertadores. Ao passo que o novo hexacampeão recheia sua sala de troféus, rubro-negros completarão dois anos sem nenhuma conquista.

Novamente: por quê?

Primeiramente, temos a questão da dívida: não basta ter a maior receita se o endividamento também for brutal. Embora a situação do Flamengo tenha melhorado – de inacreditáveis R$ 750 milhões para algo próximo a R$ 450 milhões – não restam dúvidas que a amortização teria apenas tirado o rubro-negro do leito de uma UTI. Longe de ter a “doença” curada, o Fla destina mais de R$ 10 milhões mensais ao pagamento de impostos e passivos diversos. Grosso modo, é como se o Corinthians arcasse com somente metade deste valor. Dinheiro que sobra limpo para investir no que mais importa ao torcedor: a montagem do elenco.

Em segundo lugar, uma questão abstrata chamada “cultura vencedora”, inerente aos que historicamente levaram a sério toda a ciranda do futebol, desde a revelação, passando pelas condições de trabalho e culminando na seriedade da busca pelos objetivos. A cultura vencedora está presente não apenas no Corinthians, mas na maioria dos paulistas – o que explica um São Paulo destroçado pelo maior rival e ainda assim dentro do G4. É ela que justifica os gaúchos sempre tão fortes, raramente vistos lutando por algo diferente do título. Em desenvolvimento também nos de Belo Horizonte, esta é a cultura que há décadas falta não só ao Flamengo, mas a todo o futebol carioca. Se neste período beliscaram conquistas, o fizeram pela grandeza das instituições, à revelia da seriedade com que Flamengos patricistas ou Vascos euriquistas trataram a coisa.

Por fim, e é lógico, existe um sem número de outros “detalhes”: infra estrutura (CTs de ponta e estádios próprios, escassos no Rio); credibilidade institucional (que resulta em mais negócios e maiores somas), etc.

Mas o fato é que nem dívida, nem cultura vencedora, nem infra estrutura ou credibilidade, nada se resgata do dia para a noite. Pelo contrário. São conquistas que levam anos, que dependem da implementação de um novo pensamento e da solidificação do profissionalismo. Algo impossível quando diretorias sérias não se sucedem.

Enquanto não germinarem as sementes plantadas pela atual gestão – seja com os atuais ou seus bons concorrentes – os flamenguistas seguirão desprovidos da satisfação de se verem à frente daqueles que, um dia, neles se espelharam. Já que no Corinthians, mesmo aos trancos e barrancos, o processo de resgate se iniciou ainda na década de 90.

O lado bom é que o Flamengo está, sim, no caminho certo. E mesmo diante do caos vivido há tão pouco tempo, em uma coisa ninguém será um Flamengo: na grandeza de sua torcida. Não é pouco, visto que o resgate passará de maneira indelével pelas mãos da Nação.

Um grande abraço e saudações!
Vinícius Paiva

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