Artigo publicado pelo ex-presidente do Flamengo, Márcio Braga, no jornal O GLOBO de 3 de março de 2016
O FBI já enquadrou a FIFA. Quanto tempo levará para que o japonês da PF abra os olhos, e esse sistema anacrônico do esporte brasileiro também seja enquadrado?
A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e a Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (Ferj) podem tomar decisões que prejudicam clubes e torcedores? Com que direito nos roubam o sonho de um futebol melhor com uma gestão mesquinha e desastrosa?
Como explicar que os jogos da Primeira Liga, que CBF e Ferj tentaram impedir a qualquer custo, tenham público 400% maior que o Campeonato Carioca? Qual a razão de causarem prejuízo de R$ 10 milhões ao Flamengo proibindo que jogue em Brasília neste período em que o Maracanã está fechado?
Como explicar que a Ferj retenha dinheiro da televisão e confisque placas de publicidade do Campeonato Carioca, em contratos a que os clubes não têm sequer acesso? Qual a justificativa para que a Ferj lucre mais que os clubes com a bilheteria do Campeonato Carioca?
Em 2014, 90% dos jogos organizados pela Ferj causaram prejuízos aos times. Apenas quatro partidas levaram mais de 15 mil pessoas aos estádios, e mais da metade dos jogos teve menos de 500 torcedores. Em 2015, nos 126 jogos do Estadual, a Ferj tungou dos clubes R$ 2,5 milhões, extorquindo, como de hábito, 10% da renda bruta de cada partida.
Esse roubinho inclusive contraria o Regulamento Geral de Competições da CBF, que limita a taxa das federações em 5% da renda bruta das partidas. E a Ferj não para por aí, também quer tungar 10% nos jogos dos clubes do Rio em outros estados, onde já pagam os 5% da federação local. Até nos impostos se evita a bitributação mas na CBF se faz vista grossa. Afinal de contas, é cosa nostra, não é mesmo?
O FBI já enquadrou a Fifa. Quanto tempo ainda levará para que o japonês da PF abra os olhos, e esse sistema anacrônico do esporte brasileiro também seja enquadrado?
Há muito tempo que CBF e Ferj não passam de entidades parasitas, que oprimem e se aproveitam dos clubes para dividirem entre si as riquezas do futebol brasileiro, empregando seus políticos, amigos e parentes. Já não é hora de aplicar essa lei que recentemente definiu gestão temerária no esporte brasileiro?
O governo e o Congresso criaram e têm alimentado esse sistema autoritário. É natural que se esperem do poder público soluções para os problemas que criou.
Só que os clubes e suas torcidas não aguentam mais. Se não houver uma reforma urgente do esporte nacional, é preciso coragem para romper com o atual status quo.
O artigo 20 da Lei Pelé é claro ao garantir o direito dos clubes de criarem ligas e determina que a CBF as reconheça. O artigo 21 já prevê a possibilidade de os clubes serem filiados apenas à CBF, desfiliando-se das federações estaduais, que os obrigam a jogar competições deficitárias e lhes extorquem em tudo o que fazem.
A Primeira Liga é prova de que os clubes podem se libertar dessa ditadura CBF/federações, tomando as rédeas das suas competições e contribuindo decisivamente para o desenvolvimento do esporte nacional.
Detalhe, CBF e Ferj consideram os jogos da Primeira Liga como amistosos. Até têm certa razão, considerando que os jogos que a Ferj organiza são hostis.
Chega de roubinho!
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