segunda-feira, 25 de abril de 2016

Gestão Azul: Capítulo 13 - O fantasma da cruz de malta

A gestão do futebol continuava assombrando os sonhos rubro-negros. O objetivo para 2016 era não repetir os erros cometidos entre 2013 e 2015. Sonhava-se alto: título nacional, maior da América do Sul, título sul-americano. Mas os resultados em campo ainda pareciam estar muito distantes de algo que viabilizasse estes sonhos.

Primeiro fantasma a ser exorcizado, um futebol comandado não por quem entendesse de negócios, mas que entendesse de futebol. O diretor de futebol Rodrigo Caetano foi mantido no cargo, e o novo técnico contratado, com a promessa de que em nenhum momento se cederia a pressões e seria mantido no cargo pelos dois anos de contrato, era o multi-campeão Muricy Ramalho, um especialista na disputa por pontos corridos, que após muitos anos ganhando muitos títulos por São Paulo, Fluminense e Santos, com um trabalho fracassado no Palmeiras no meio deste período, e que vinha de um grande insucesso no seu retorno ao São Paulo. Ele tirara um período sabático para repensar o futebol, recusou uma proposta financeiramente mais sedutora do Atlético Mineiro, e chegou para comandar o futebol do Flamengo. Na supervisão geral deste trabalho da dupla Rodrigo Caetano-Muricy Ramalho, o novo vice-presidente de futebol era Flávio Godinho.

Para a temporada 2016, o Flamengo não perdeu nenhum jogador que não desejasse perder. Manteve todos os nomes do elenco que desejou manter. Emprestou Luiz Antônio (para o Sport Recife), Paulinho (para o Santos) e Jonas (para a Ponte Preta), dispensou Ayrton, Armero e Almir, por propostas financeiramente muito rentáveis, vendeu o zagueiro Samir para a Udinese, da Itália, e o centroavante Kayke para o futebol japonês.

Saíram oito e entraram nove. Se 2015 foi marcado pelas grandes contratações de atacantes, com as chegadas de Marcelo Cirino, Emerson Sheik e Paolo Guerrero, o foco agora era do meio para trás. Foram contratados o goleiro Alex Muralha, do Figueirense, e o lateral-direito Rodinei, da Ponte Preta, duas revelações do Brasileiro 2015. Para dar experiência à defesa, voltou à Gávea o veterano zagueiro Juan, e para fortalecer elenco, para a lateral-esquerda, para fazer sombra ao jovem Jorge, chegou Chiquinho, do Santos.

As principais contratações chegaram para o meio de campo. O volante colombiano Gustavo Cuéllar, o meia de ligação Willian Arão, tirado do Botafogo, e o principal reforço da temporada, o meia argentino Federico Mancuello, contratado ao Independiente de Avellaneda. Para fechar duas jovens apostas, o zagueiro Antônio Carlos, do Avaí, e o lateral-esquerdo Arthur Henrique, do América de Natal.

Mais do que time, um elenco forte. Os onze titulares de Muricy: Paulo Victor, Rodinei, Juan, Wallace e Jorge; Cuéllar, Willian Arão e Mancuello; Marcelo Cirino, Emerson Sheik e Paolo Guerrero. E um time reserva no mesmo nível técnico de muitos times titulares do Flamengo nas temporadas anteriores: Alex Muralha, Pará, César Martins, Antônio Carlos e Chiquinho; Márcio Araújo, Héctor Canteros, Alan Patrick e Everton (Ederson); Gabriel e Felipe Vizeu.

O começo de ano, no entanto, foi de mais destaque para o campo político do que futebolístico. Na guerra de criação da Primeira Liga e em guerra contra a FERJ, com direito a intervenções da CBF, Bandeira de Mello prometia jogar o Carioca com um time reserva. O embate se arrastou por semanas, e ao final, por interferência da Rede Globo, detentora dos direitos de transmissão do Estadual, o Flamengo cedeu e colocou seus titulares. A duras penas a edição da Primeira Liga, ou Copa Sul-Minas-Rio, saiu do papel. Sucesso de público e audiência, mas com apenas cinco datas no calendário. O Flamengo passou por Atlético Mineiro, América Mineiro e Figueirense, caiu para o Atlético Paranaense na semi-final (1 x 0) e viu o Fluminense ser o campeão do torneio, que reunia dois gaúchos, três catarinenses, dois paranaenses, três mineiros e dois cariocas.

Outro grande dilema político, por causa das Olimpíadas, grande parte do ano seria sem Maracanã ou Engenhão. O Flamengo então gastou milhas: jogou em Manaus, Brasília, Juiz de Fora, no Espírito Santo e até no Pacaembu, onde disputou um dos Fla-Flus do Campeonato Carioca. Sucesso de público e renda, mas o time ficou visivelmente mais cansado do que o normal.

Já no Carioca, pelo segundo ano seguido Flamengo e Fluminense estavam rompidos com a Federação do Rio. E pelo segundo ano consecutivo a final foi entre Vasco e Botafogo, aliados políticos da FERJ e excluídos da Primeira Liga, à qual tentaram boicotar de todas as maneiras que foi possível. Por fim, pelo segundo ano seguido, o time rubro-negro caiu diante do Vasco na semi-final.

Mas pior que isto, amargou o pior jejum diante do rival desde o período de 1945 a 1951, quando o Vasco, que tinha um dos maiores times de sua história, o Expressinho da Vitória, ficou 20 jogos sem perder para o Flamengo (15 vitórias e 5 empates). Desta vez o jejum foi além de um ano, e bateria próximo aos dois, já que em 2016 o Vasco jogaria mais uma vez a Segunda Divisão do Brasileiro, com os rivais só voltando a se enfrentar em 2017.

Em 2015, na Taça Guanabara, em 22 de março, o Fla venceu por 2 x 1. Na semi-final do Carioca, um empate sem gols no primeiro jogo, e uma vitória vascaína por 1 x 0, gol de pênalti convertido pelo centroavante Gilberto (pênalti inventado pelo árbitro) num jogo cujo empate colocaria o Flamengo na final. No Turno do Brasileiro, o Vasco voltou a vencer por 1 x 0, em junho, na Arena Pantanal, gol do centroavante colombiano Riascos logo no início da partida. Em agosto, duelo válido pelas oitavas de final da Copa do Brasil. O Vasco venceu o primeiro confronto por 1 x 0, gol de Jorge Henrique no início do 2º tempo, e no jogo de volta, empate por 1 x 1, com os rubro-negros abrindo o marcador no início do jogo, mas um gol de Rafael Silva, aos 36 minutos do 2º tempo, colocando tudo igual no placar, e classificando o Vasco. No returno do Brasileiro, o Flamengo de novo saiu na frente, mas, logo após abrir o marcador, levou dois gols seguidos, marcados pelo zagueiro Rodrigo e por Nenê, e aos 15 do 1º tempo o placar já tinha os números definitivos: Vasco 2 x 1.

Incômodo jejum, que em 2016 cresceu. Na 1ª fase do Carioca, com um gol do zagueiro Rafael Vaz, aos 46 minutos do 2º tempo, o Vasco fez 1 x 0. Na Taça Guanabara, o Flamengo abriu o marcador já na reta final do jogo, mas levou o gol de empate, marcado por Riascos, logo no reinício da partida. A pior derrota veio na semi-final do Carioca, em 24 de abril, vitória vascaína por 2 x 0 na Arena Amazônia, gols de Andrézinho e Riascos. O fantasma da cruz de malta rondava a Gestão Azul, 9 jogos sem superar o Vasco, com 3 empates e 6 derrotas.

O fantasma da cruz de malta ainda tinha um outro simbolismo a mais para atormentar a capacidade de gestão do futebol de Eduardo Bandeira de Mello e sua diretoria: o Vasco da Gama que se impunha sobre o Flamengo naquele início de 2016 era comandado pelo técnico Jorginho, um dos treinadores rapidamente descartados pela Gestão Azul naquilo que havia sido o seu principal Calcanhar de Aquiles no triênio 2013-2015, a má gestão e as más escolhas na condução do trabalho dos treinadores que passaram pela Gávea neste período.

O Flamengo continuava com um resultado primoroso no campo das finanças, mas lamentável dentro das quatro linhas, por mais que viesse claramente evoluindo, com um elenco cada vez mais encorpado, temporada após temporada, e uma infra-estrutura cada vez mais moderna no seu Centro de Treinamento, mas sem resultados expressivos em campo, o que só fazia com que a pressão aumentasse cada vez mais por boas campanhas.

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