domingo, 3 de abril de 2016

Vice de Futebol projeta os planos para o Flamengo

Entrevista do Vice-presidente de Futebol do Flamengo dada ao GloboEsporte.com.

Um dos primeiros nomes da Chapa Azul, Flavio Godinho está há três meses à frente da vice-presidência de futebol do Flamengo e garante que não se abala com nada. Jogadores contestados, invasão ao Ninho, cinco jogos sem vitória, eliminação na Primeira Liga, estreia decepcionante na Copa do Brasil, sexto lugar do Carioca, jejum de oito partidas sem vencer o Vasco... Nada disso mexe com o homem-forte do futebol do Flamengo. Tal qual um Ministro da Defesa da Gávea, o dirigente lança mão de argumentos, reforça a confiança no elenco e no trabalho e também faz promessas. Muitas. A curto prazo, segundo ele, o Fla vai se colocar também lá em cima no ranking que mais interessa ao torcedor: a da tabela dos campeonatos disputados. A médio prazo, a garantia de que, talvez até na Gávea, o flamenguista vai ter estádio alternativo para chamar de seu ao fim do segundo mandato de Bandeira. A longo prazo, a expectativa de que a potência financeira não saia do “topo da montanha” do futebol brasileiro. No dia seguinte ao empate com o Vasco, em Brasília, Godinho recebeu o GloboEsporte.com em seu escritório em Copacabana e deu entrevista com duração de uma hora e 30 minutos. Defendeu Sheik, Guerrero - embora ressalte que não há jogador inegociável -, Wallace, Muricy, Rodrigo Caetano... No fundo da mesa de reunião, com quadros de Muhammad Ali do lado esquerdo e direito, o dirigente matou no peito qualquer resquício de crise e pediu: "Vamos esperar o final do campeonato e os resultados. Da forma que esse trabalho vem sendo implementado, é impossível que a gente não venha a colher frutos".

GloboEsporte.com: O Flamengo divulgou esta semana um balanço patrimonial com superávit de R$ 130 milhões. O que falta para esses números, digamos assim, entrarem em campo? Por que a torcida tem que acreditar que os resultados este ano serão diferentes no Brasileiro do que nos últimos anos, quando ficava na parte de baixo da tabela?
Flavio Godinho: O superávit que temos, que é admirável e denota boa administração financeira, faz com que não nos esqueçamos que temos dívidas a pagar. Na hora que falam que o Flamengo gastou em contratações, na verdade criamos grande engenharia financeira para agilizar isso. O que as pessoas não se dão conta é que o Flamengo fez contratações com carnê Casas Bahia. Ou seja, com parcelas a perder de vista. Vamos pagando em 2017 e 2018, e o jogador está aqui hoje. Se tivéssemos que pagar logo, não teríamos condição. Mas para responder diretamente: não tenho a menor dúvida que o calcanhar de Aquiles da gestão Bandeira de Mello é o futebol. Porque é consenso o Flamengo nas folhas internacionais como modelo de gestão. No futebol, podemos dizer que nos primeiros três anos não tivemos sucesso, porque a prioridade, digamos assim, seria sanear as finanças. Mas agora, no segundo triênio, tem que melhorar a qualidade no futebol. A gente confia na qualidade do elenco que estamos montando, confiamos na comissão técnica, por isso fizemos contratos a longo prazo. No futebol, quando uma peça não está funcionando, você mexe aí. Com elenco equilibrado, você mexe pouco. Mais fácil de acertar o avião voando. A gente tem esperança que consiga melhorar esse ano, que ano que vem continue fazendo progresso e assim por diante. Estamos trabalhando para isso, estamos focados nisso.

O Corinthians hoje é o time mais vitorioso no cenário nacional. O Flamengo tem maior torcida e a receita está crescendo cada vez mais. Wallim uma vez disse que era inevitável o Flamengo ser maior que o Corinthians. Com receitas dessa ordem, tão maior que a dos outros clubes, é inevitável que o Flamengo chegue a um protagonismo desse nível no futebol brasileiro?
Eu prefiro não entrar nesse mérito. Porque se tamanho contasse alguma coisa o elefante seria o dono do circo. Você tem que usar seus recursos com inteligência. Você vê clubes de menor investimento fazendo melhor uso de seus recursos que outros. Agora é inegável que o Flamengo, com 40 milhões de torcedores, como trem pagador, tem que ficar sempre no topo da montanha. É por isso que quando perde para adversários de menor investimento têm esses protestos. Mas temos muita confiança de que o trabalho está sendo bem feito, que é correto e que tem planejamento. Não é porque perdeu jogos que você tem que mudar. Vamos colher os frutos.

Uma pergunta direta então: o Flamengo vai disputar o título brasileiro?
Não tenho bola de cristal. Se tivesse estava rico, jogava na loteria. Mas uma questão: o elenco do Flamengo, um pouco mais robustecido, com a comissão técnica, está entre os principais do país? Sim, né? Então ele vai brigar. Se vai pela Libertadores ou pelo título... Bom, nosso compromisso é fazer campanha muito melhor que a dos anos anteriores. Agora, resultado final não dá para antever. Mas o Flamengo tem obrigação de disputar as competições almejando o título.

Há muitos dirigentes antigos no futebol que tratam os mais novos pejorativamente, dizendo que não entendem da área. Como encara isso e o que viu de diferente no futebol? O que imaginava dele?
Confesso que, quando assumi o futebol, eu me surpreendi positivamente. Mais positivamente do que negativamente. E uma das condições que cheguei a discutir na vice-presidência de futebol foi justamente a contratação do Muricy, porque eu identificava nele potencial para ser técnico vencedor no Flamengo. E calhou de ele estar voltando da recuperação da doença. Quando acertei a contratação dele foi tudo no fio do bigode. Ou seja não tinha papel, não tinha nada. A gente simplesmente combinou que estava tudo sujeito à eleição. Ele também foi um gentleman. Esperou, e a gente pôde acertar. Quando eu era vice de planejamento, já tínhamos algumas contratações engatilhadas, e, mesmo nessas condições, nós tivemos a oportunidade de contar com o aval do Muricy. Ou seja, não fizemos nenhuma contratação sem a aprovação dele. Acho que até agora tivemos índice bom de sucesso nessas contratações. Contratamos nove jogadores, e eles estão correspondendo à expectativa.

O Alex Muralha não foi um jogador barato. Foi correto trazê-lo sabendo que o Paulo Victor dificilmente perderia a vaga? A intenção era abrir concorrência?
Acho que o Alex foi um excelente investimento, porque os números que são divulgados na imprensa não correspondem à verdade. Foram R$ 2 milhões. O Alex Muralha é um goleiro em condição de disputar a posição com o Paulo Victor. Na hora que o Paulo Victor ratifica a posição dele de titular é um problema bom, aquele que todo técnico quer ter. Quando você contrata um atleta, e ele acaba no banco, não quer dizer que a contratação foi um insucesso. Às vezes a outra opção está numa fase maravilhosa, e a verdade é que o Paulo Victor não está dando chance para ele. Mas isso não quer dizer que no futuro ele não venha assumir (a titularidade). É novo e muito disciplinado. Além disso, os dois goleiros estão nas pontas dos cascos no treinamento. É uma posição que quem tem dois, tem um. Você tem que ter uma turma boa, isso sem falar do Thiago, formado na nossa base, que é um outro goleiraço. Se tivesse que repetir as contratações, faríamos as mesmas.

Vocês afirmam que entrevistaram treinadores e escolheram Muricy. Com quem falaram e o que queriam?
O meu sonho de consumo sempre foi o Muricy, mas a gente trabalha em grupo. Na época, chegamos a considerar o Sampaoli e a procurá-lo, mas a multa rescisória não permitia o investimento. Chegamos a conversar com o Bauza, que hoje está no São Paulo. Conversamos com o Bielsa, cogitamos o técnico da seleção argentina na última Copa (Alejandro Sabella). Mas o meu voto no Muricy acabou prevalecendo. Eu não o conhecia, foi meio que amor à primeira vista no sentido de você pensar da mesma forma. É interessante que o Muricy tem muito tempo de carreira, e as pessoas formam estereótipos ou preconceitos de achar que é um técnico à moda antiga ou falam do "Muricybol". E ele é o sujeito mais adepto à tecnologia de ponta, respeita todos os profissionais, seja de fisiologia, parte física e etc. É um técnico muito preocupado em promover jogadores da base, sujeito que trabalha em grupo e que sabe ouvir. Minha grande preocupação na ocasião da contratação dele foi justamente explicar que o nosso CT precisava de investimento. Foi alertá-lo sobre qual tipo de instalação que iria encontrar à época, porque o combinado não é caro. Quando você vê que a gente concluiu a reforma preliminar, é possível reparar que mudou da água para o vinho comparado com o que era. Essa possibilidade de buscar técnicos estrangeiros foi um protocolo, quase que um checklist para esse processo de contratação, mas nossa preferência sempre foi o Muricy.

Em entrevista à ESPN, o Muricy disse que a única coisa para a qual não tinha se atentado era a ausência do Maracanã, de casa para jogar. Isso realmente não foi conversado?
A gente realmente não tocou nesse assunto, porque de uma certa forma conversamos muito de CT e estrutura de trabalho. No dia em que assumi a vice-presidência de futebol, a ideia era que o o Flamengo disputaria a Primeira Liga com o time principal e o Carioca com uma equipe alternativa. Esse elenco foi formado para trabalhar assim. A preocupação do Muricy era assim: "Mas, espera aí, eu vou formar o time titular jogando só cinco jogos da Primeira Liga? São poucos jogos". Até que surgiu o entendimento com a Globo, que fez a gente disputar o Carioca com o time principal. Quando assumi, lembro que tinha a perspectiva de o Maracanã ser entregue para o Comitê Olímpico só em abril ou maio, a mesma coisa o Engenhão. Iríamos ter um começo com Maracanã, e ele ficaria indisponível até outubro. Sei que a gestão atual fez de tudo para viabilizar um estádio alternativo. Você, para montar um estádio na Ilha do Governador, custaria R$ 25 milhões, mas não se achou um investidor, porque os jogos na Ilha não dariam viabilidade (de retorno financeiro). No Rio, você só tem três alternativas: Macaé, Volta Redonda ou São Januário. Então vamos combinar o seguinte: "Nós não vamos viajar, vamos jogar todos os jogos no Rio de Janeiro". Significa ir para Volta Redonda e gastar duas horas e meia um dia antes do jogo para voltar logo depois da partida. Qual o problema dessas viagens? Mesmo voltando no dia do jogo, você não consegue treinar quando há jogos de quarta e domingo. Exemplo: o time voltou de Brasília, com voo fretado, os jogadores chegaram em suas casas às cinco da manhã e amanhã já têm que viajar para jogar em Juiz de Fora. Então qual treino que você faz? E o Muricy acredita muito em repetição. Se o jogador não pode praticar, então não fica bem treinado. A semana que vem é uma que está todo mundo comemorando porque vai poder trabalhar.

O Muricy já chegou dizendo que colocaria o 4-3-3 que está usando. Ele já foi campeão com três zagueiros no São Paulo, mas esse novo estilo foi, de certa forma, adaptação ao estilo do Flamengo, que é de vocação ofensiva?
Essa já era a ideia na cabeça dele. Uma das razões que o motivou a vir para o Flamengo foi que ele queria um grande desafio e deixar um legado para o Flamengo. Ele sempre ficou impressionado com a torcida do Flamengo quando vinha jogar aqui no Maracanã. Ele sempre teve um desejo encubado de se transformar técnico do Flamengo. Tanto que o contrato dele é de dois anos para você efetivamente deixar um legado. Ele tinha acabado de voltar de um estágio intensivo no Barcelona, onde foi recepcionado pelo Neymar. Mas a gente não chegou a discutir efetivamente o esquema, se seria o 4-3-3 ou outra alternativa. O que lembro é que a gente conversou muito é que o Flamengo não pode jogar contra a sua natureza e seu DNA. O Flamengo é ofensivo por natureza. Não houve desacordo, houve uma comunhão de conceitos e é isso que estamos tentando implementar agora. O Muricy, até por ser admirador do Flamengo, se identifica com as raízes rubro-negras. Ele sempre diz: "Meu, ganhar no Maracanã deve ser demais". Ele escolheu o Flamengo. 

O problema do estádio não é um assunto novo. Mas as viagens para Brasília e outros lugares desgastam bastante e sobrecarregam. Como minimizar esse problema?
Dá a entender que a diretoria do Flamengo está privilegiando a questão econômica. O Flamengo jogou com o Volta Redonda, e o público foi de dois mil e poucos pagantes. O Vasco jogou com o Botafogo, e foram cinco mil pagantes. Ontem (quarta), fomos jogar em Brasília, e Flamengo e Vasco tinham cota líquida de R$ 850 mil. Então é uma diferença gritante e que não pode ser desprezada. Você tem de privilegiar o lado esportivo, mas também não pode esquecer o pecuniário, porque há contas para pagar. É provável que no Campeonato Brasileiro, em que temos nove mandos no primeiro turno, o Flamengo mande seis jogos no Rio e outros três em Brasília. No próprio Carioca que estamos jogando, a expectativa do presidente da Ferj era que a final fosse no Maracanã, aí passou para o Engenhão, e o Engenhão parece que não vai mais. Imagine quando chegarem semifinais e finais? O estádio do Volta Redonda tem limitação, cabe 20 mil. É pequeno. Em Brasília se pode colocar 60, 70 mil. Uma coisa que o Muricy está correto é que historicamente as equipes que disputaram o Brasileiro sem uma casa sofreram. O jogador mais importante do Flamengo é a torcida. Com todo respeito às torcidas de outros centros, mas elas não têm aquela força, aquele "punch" que a torcida daqui do Rio de Janeiro tem.

Que pode ser também em forma de cobrança, um pouco diferente de torcida de fora do Rio.
Torcida do Flamengo é sempre para o bem, cobrança faz parte. O Flamengo se alimenta de vitórias, ele é Flamengo porque ganha mais do que os outros. Se for compará-lo aos co-irmãos daqui do Rio, é o que mais ganha Cariocas, Brasileiros. Não importa que o trabalho que a gente está desenvolvendo com a comissão técnica esteja correto, todo planejado e feito com muito otimismo de colher frutos, porque na hora que você perde para Confiança, Atlético-PR e Volta Redonda a chapa esquenta mesmo. Às vezes os jogadores e comissão ficam mais chateados do que quem está fora. Quem está do lado de fora, tem a falsa impressão de que o grupo não está comprometido. Os caras sofrem muito, às vezes não saem nem à noite com a família, mas é cobrança de Flamengo mesmo. Quanto mais alto você está, maior a cobrança. Tem que entender isso.

O grande erro dessa diretoria foi não ter planejado o estádio para 2016? Porque isso gera a desculpa quase que automática do cansaço, repetida à exaustão desde Muricy ao time.
Discordo totalmente do que você está falando. Eu não estava ainda na gestão, mas sei que a diretoria fez de tudo para viabilizar um estádio. Disse que eram necessários R$ 25 milhões para o estádio da Ilha, mas a alternativa não era viável economicamente. Esse ano estava sem Maracanã. Dizer que não se pensou e que não se buscou uma alternativa é mentira. Todo mundo trabalhou, mas simplesmente a solução não foi encontrada. Quando o Muricy fala que há viagens, há viagens mesmo, é muito desgaste. Como o Flamengo fez alto investimento em tecnologia, hoje em dia você consegue identificar quais atletas estão com elevada fadiga e quais estão mais propensos a lesões. Faz-se exames e você decide quem vai poupar de acordo com exames. Você deve se lembrar que o Flamengo entrou com time misto contra o Atlético-PR, imagine que era uma competição importantíssima do ponto de vista político.

E era tida como prioritária, certo?
Prioritária, e o nosso presidente Bandeira lutou muito por ela. E ele foi profissional de ter que engolir o nosso departamento de fisiologia, que disse que era preciso poupar seis jogadores. Então, como a gente não quer comprometer a saúde dos atletas, entramos com o time misto. Depois, contra o Volta Redonda, teve que repetir time misto mas com outros jogadores que não apresentaram fadiga. Então não quer dizer que poupou. Ontem (contra o Vasco), por exemplo, já foi possível escalar o lote inteiro. No sábado, novos exames serão feitos, e, se todo mundo estiver apto para jogar, serão escalados. Se tiver jogador com a saúde em risco, vai ser poupado. Não é desculpa, é realidade. Agora eu quero dizer o seguinte: vamos esperar o final do campeonato e os resultados. Não é porque tropeçou em três jogos que o trabalho está sendo mal feito. O trabalho está sendo super bem feito, muito planejado, e o elenco é absolutamente comprometido. Não tem nenhum caso de indisciplina e não dá nenhum trabalho. Da forma que esse trabalho vem sendo implementado, é impossível que a gente não venha a colher frutos. Não é uma derrota aqui e outra lá que vai mudar. Claro que, como o Flamengo é muito grande, não é comum perder um jogo para o Confiança, e a chapa esquenta. E tem que esquentar mesmo. O Flamengo tem que ficar indignado com derrota, está no seu DNA, e a torcida tem todo direito de botar a boca no mundo.

Voltando à questão do estádio, muitos torcedores perguntam se existe a possibilidade da Gávea voltar a receber jogos, passar por obras. Isso está descartado?
Não, não está. Eu ousaria dizer que o Bandeira vai terminar o segundo mandato dele com estádio. É evidente que estou me referindo ao estádio alternativo, talvez a um de 20 mil pessoas. A questão de licitação do Maracanã, por exemplo: vivemos um processo de decisão, e o governo do estado vai ter que decidir qual a solução. A solução pela viabilidade do Maracanã passa necessariamente pelo Flamengo, e o Flamengo quer ser protagonista da gestão do Maracanã. Se isso não for viável, vamos considerar um estádio alternativo, grande. Em paralelo podemos ter um estádio-boutique. Então eu ousaria dizer que ao final do mandato do Bandeira vamos ter uma solução de pé.

Na Gávea?
Quem sabe? Não dá para descartar. Tem gente cuidando disso, gente inteligente e bem preparada. Estamos trabalhando para isso. 

Promessa é dívida, hein?
Na hora que você busca qualificar o elenco, tenta contratar uma comissão técnica de ponta é porque está almejando ser campeão. Se vai ganhar ou não o tempo vai dizer, mas na hora que você faz bom trabalho e contratações, suas chances aumentam. Isso vale para o estádio também. Se você está focado, se você aprendeu... O Flamengo, por exemplo, sabe administrar um estádio hoje. Aprendeu com a co-gestão do Maracanã. O Flamengo vendeu esse último jogo para Brasília excepcionalmente. No Brasileiro, é possível que o Flamengo vá comandar os jogos, ou seja vai comercializá-los. A gente tem estrutura que maneja muito bem essas situações, por isso estou muito otimista em viabilizar um estádio alternativo.

Em outros anos, o Flamengo mandou muitos jogos em São Januário. Por que não seria viável agora?
Talvez o Vasco não tenha interesse que a gente jogue lá.

O Eurico disse que se o Muricy pedisse, ele deixava...
Ou seja, então pouco importa o interlocutor. A questão definitivamente é que você só vai para uma casa quando é bem recebido. Com o Vasco disputando a Segunda Divisão, talvez fizesse sentido pensando pecuniariamente, já que o futebol é profissional, mas não adianta ficar dando murro em ponta de faca. Não quero me meter nesse seara, porque o futebol já dá muito trabalho no dia a dia.

Por falar em Vasco, existe relação com a diretoria do Vasco. O jornal Extra publicou que havia intenção de o Flamengo fretar um voo em conjunto com o Vasco para que Martín Silva e Guerrero viessem juntos do Uruguai. Mas o Vasco teria se negado.
As administrações de Flamengo e Vasco têm DNA diferente, isso é inegável. Mas, por outro lado, o futebol é profissional. Uma hora que você está tratando de melhorar suas finanças ou minimizar custos, é preciso conversar. Ouve-se muito uma história de que "eu não preciso ser amigo do meu colega, tenho que me entender dentro de campo". Isso vale um pouquinho também para o dirigente de futebol. Acho que o Vasco rejeitou a proposta de dividir o custo do jatinho porque talvez tenha sido proposta na véspera. O jogo em Brasília foi o principal exemplo. Fez sentido para os dois (financeiramente), e os dois foram lá. Você concorda que para se tomar essa decisão alguém tem que falar com alguém, certo? A porta de comunicação ou a válvula de comunicação tem que estar aberta.

O Sheik é um jogador que era adorado na primeira passagem, mas tem sido criticado e até vaiado nos estádios. Ele é jogador de confiança do Muricy, mas não parece que ele está rendendo abaixo e não tem a vaga ameaçada apesar disso?
Essas questões são relativas. Se ele fizer um gol por jogo em três jogos, já fica ídolo inconteste. O Sheik é um jogador que tem personalidade, de decisão, que chama a responsabilidade nos jogos e que puxa a fila no treinamento. Tem uma série de qualidades que talvez faça o Muricy escalá-lo. A nossa função não é se meter em escalação e etc. É, sim, dar os ovos para o Muricy fazer o melhor omelete possível. No jogo de ontem, o Muricy substituiu o Sheik. Esse negócio de que o Sheik é intocável não existe. O Sheik é um dos grandes jogadores do Flamengo. Essas críticas da rede social vêm de uma rede que é a do "dedo na tomada". Ninguém pode ficar administrando futebol pautado em rede social. Vamos esperar a performance do Sheik nos próximos jogos, mas ele conta com nossa confiança incondicional e acredito que com a da comissão técnica também.

E o rodo que você falou que ia passar no elenco? Saíram Luiz Antonio e Paulinho, por exemplo, mas outros jogadores ficaram. Você disse que faltava comprometimento dos jogadores, sem citar nomes. Por que o rodo não passou tão forte como você disse que passaria?
O rodo foi passado em gênero, número e grau. O rodo foi passado na falta de comprometimento, na falta de foco, na falta de identificação com a torcida, na falta de objetivo. Então, hoje você tem um elenco equilibrado, disciplinado, que chega uma hora antes do treinamento – 8h30 a turma já está lá. A grande vantagem de ter o Muricy é que quem não estiver comprometido não se cria com ele. Hoje você tem estrutura que mudou da água para o vinho. Esse foi o rodo, o rodo era mais no figurado. O que você quer não é tirar A, B ou C, “ah, tinha uma laranja podre que vai contaminar as outras laranjas”. Todo mundo quer vencer, todo mundo quer subir na carreira, ganhar mais. Então, o rodo era no tipo de trabalho e no comprometimento, e isso foi passado. Agora, outra coisa, quando se fala que jogador A ou B tem menos apoio da torcida, isso é questão de empatia. Quando a comissão técnica identifica valor e acha que determinados atletas, que são importantes para o elenco, você tem que respeitar essa vontade. Jogadores que são importantes para um elenco robusto, para ficar na reserva.

Nesse elenco, há poucos jogadores que os torcedores se identificam e muitos que a torcida pega no pé. Tem o Pará, que sofreu ano passado, o Wallace, o Márcio Araújo... Ele, o Márcio, foi um pedido do Muricy pela renovação?
Não tem um jogador que está no elenco que não tenha aval do Muricy. Agora tem que entender uma coisa: questão de ter mais apoio ou menos apoio, só há uma maneira de modificar isso. Com vitórias e títulos. E as pessoas precisam entender que num elenco nem todos são titulares. Num grupo competitivo é preciso ter jogadores com características diferentes. Por exemplo, ontem (quarta) contra o Vasco, o Márcio roubou certas bolas por causa da explosão tremenda dele. Saía atrás e chegava na frente. Se não goza da simpatia da torcida, a comissão técnica considera útil para o elenco. E a vontade da comissão técnica é soberana.

Vocês manifestaram a todo momento a vontade de contratar um zagueiro e ainda manifestam. Como fica a posição, por exemplo, do Wallace, que é capitão e não tem muito apoio da torcida, e ainda tem a sombra de um jogador que ainda vai chegar – e um zagueiro de ponta, não para compor elenco?
Wallace é um zagueiro que conta com a confiança da comissão técnica. Do final do ano passado para cá teve evolução estrondosa. Esse exemplo de vaias no início do ano ele ainda estava completamente fora de forma. E ele falhou em um ou dois jogos. Aí de novo veio uma pressão, com aquela carga do ano passado, que o Flamengo terminou de forma decepcionante. Por exemplo, ninguém quer saber se Flavio Godinho virou vice de futebol este ano. Tem uma carga genética do ano passado. “Ah, estou vendo vestígio da equipe de 2015”. Não tenho nada a ver com isso. Mas Wallace é um jogador que tem característica de liderança, é o que mais motiva, mais representa o elenco no vestiário. Ele está se esforçando, está voando fisicamente. Vou citar outro exemplo: quando decidimos trazer o Juan, um jogador de 37 anos, as redes sociais também criticaram, desceram o cacete nessa decisão. A gente trouxe o Juan sem custo e em princípio não era para jogar nem todos esses jogos que ele está jogando. Mas ele está voando. Contra o Vasco, ele chegou na frente dos atacantes velozes do Vasco. Ele sabe todos atalhos do campo. E diziam que ele estava bichado, uma série de coisas. Então, futebol é muito dinâmico. Como dizia o Otto Glória, "se você venceu é bestial, se perdeu é uma besta". Agora, quando Muricy quer um zagueiro significa que ele quer contar com mínimo de cinco zagueiros de determinado padrão. E o padrão que ele pretende pode ser do lado direito, do lado esquerdo. Ele não está olhando só para o time, está olhando para o elenco. Quando se fala de erro de planejamento, das viagens, que não conseguimos viabilizar R$ 25 milhões para o estádio da Ilha do Governador. O fato é que temos desgaste exagerados com tantas viagens. Então o que vamos, provavelmente, fazer para o Campeonato Brasileiro é dar uma robustecida no elenco. Vamos contratar outros jogadores para intensificar o rodízio. Esse é o preço que a gente paga. Se tivéssemos Maracanã, não precisaríamos disso. Mas é a melhor forma de enfrentar esse desgaste. E também para parar de dizer que tem desgaste, que está cansado. Ter mais peças de reposição.

Não te parece contraditório que o time que mais viaja no Brasil tem o menor número de substituições feitas pelo Muricy?
A estatística às vezes é burra. Pega um time que tem muita posse de bola. Mas que adianta ter muita posse de bola se troca passes no campo defensivo? “Ah, ele pouco”. Mexe pouco como, cara pálida? Vamos pegar o jogo contra o Volta Redonda. Ele olhando para o banco de reservas, só havia dois jogadores à disposição para a frente: o Alan Patrick e o Lucas Paquetá. Ele colocou o Alan Patrick. Ontem (quarta) ele fez duas. Tirou os dois jogadores de beirada, tirou Emerson e Gabriel, colocou Patrick e Cirino. Então você não é obrigado a fazer três substituições. Até porque o time estava bem. Quando o time estava caindo um pouquinho de produção, o time voltou a crescer e assumir o controle do jogo justamente quando ele mexeu. Necessariamente ele não tem que mexer.

Vocês renovaram com Rodrigo Caetano com mais três anos. Ele tem currículo e é um dos profissionais mais valorizados do mercado, mas não conseguiu boas campanhas nos últimos anos. Caiu com o Fluminense em 2013, subiu em terceiro na Série B com o Vasco em 2014 e teve ano ruim com o Flamengo em 2015. Qual avaliação que vocês fizeram para essa manutenção do trabalho do Caetano?
A questão é a seguinte. São duas coisas distintas. Eu posso contratar profissional por 10 anos e encerrar um contrato em seis meses. Ou o profissional pode pedir demissão em seis meses. Então a gente não deve confundir prazo de contrato com multa rescisória. Esse é o primeiro ponto. Segundo ponto, não quero saber o que o Rodrigo Caetano fez, o que deixou de fazer. Tenho que fazer a minha avaliação desde quando assumi. No meu conceito tanto a comissão técnica, capitaneada por Muricy, quanto o diretor de futebol deveriam ter contrato de longo prazo. Porque na medida que a gente escolheu esses profissionais quero poder trabalhar com eles por longo prazo. Não sou adepto que em sequência de derrotas a gente deve ver terra arrasada e começar tudo do zero. Evidente que no futebol às vezes as coisas não acontecem como planejado. Mas a opção pela permanência do Rodrigo Caetano por longo prazo e Muricy em longo prazo é para podermos implementar esse trabalho na gestão inteira do Bandeira. E o fato do Muricy ter contrato de dois anos, eu não me surpreenderia que este contrato fosse estendido por três no curso do contrato mesmo. Acertamos prazo mínimo, era casa nova, talvez hoje esteja já animado em acertar novo contrato. É o mesmo conceito do jogador em que depositamos esperança. Você não quer fazer contrato longo, de cinco, de quatro anos? Com a comissão e o Rodrigo é a mesma coisa.

Quando você fala em robustecer o elenco, o que estão pensando? Qual nível? Você havia comentado em outra entrevista sobre realizar troca com outros clubes brasileiros. Está em pauta?
Não é impossível de ser implementado. Às vezes acontece com a seguinte característica: você pode estar precisando de uma peça e o clube rival tem outra que te interessa. Até porque a maré não está para peixe. E quando falo em robustecer o elenco, não estou falando em necessariamente fazer investimento pesado. Pode trazer jogador mais novo, nem que seja promessa. Estamos pensando em dar ênfase em contratar jogadores fortes, porque é uma temporada muito desgastante. E eu digo fortes fisicamente, que aguentem o tranco. Então essas trocas não estão descartadas.

Você estava no centro de treinamento no dia que os oito torcedores de organizada entraram no Ninho. Há suspeita de cunho político nesta invasão?
Eu prefiro não acreditar que tenha cunho político algum. Mas é o seguinte: eles só entraram porque houve falha de segurança. Não tinha número suficiente para evitar acesso. Se entrassem ali oito freiras, conseguiriam. Nas fotos tinha um segurança acompanhando eles. Se tivessem mais, simples, eles não teriam entrado. No projeto do Ninho está prevista instalação de portões. Hoje só tem as cancelas. Mas tem outra coisa: não houve grito de ordem, não atrapalharam o treino. Mas quando se faz esforço danado para dar condições, quase um retiro, para os atletas terem paz de espírito, a torcida vai lá e faz isso? Olha, a torcida tem que se indignar mesmo quando perde. Mas o fato é o seguinte: tem lugar para protestar. Se protestassem do lado de fora, está tudo certo. No jogo, tudo bem. Sou do tempo que as torcidas colocavam faixa de cabeça para baixo, ficavam de costas para o campo. Mas atrapalhar ambiente de trabalho acho que é protesto que não ajuda. É contraproducente. Não ajuda em nada. Mas quem milita no futebol tem que descascar esses abacaxis. Não é o primeiro protesto nem o primeiro muro pichado.

Por que você não foi falar com os oito torcedores?
Eu fiquei com o Muricy. Eles ligaram para o Rodrigo Caetano, e o Caetano conversou com eles. Eles não estavam querendo falar comigo, queriam falar com o Caetano e pediram para falar com alguns jogadores.

Guerrero foi o maior investimento do Flamengo nesta gestão Bandeira. Até que ponto vocês esperam que ele ainda pode render mais? Sabemos também de sondagens constantes do mercado exterior, da China, por exemplo. E a multa dele cai no meio do ano. Como avaliam futura proposta?
A gente tem esperança que ele fique bastante tempo no Flamengo. Ele é um ídolo do Flamengo. A tendência é a gente explorar melhor a imagem dele. Nossa expectativa é de consolidar essa relação, quem sabe estender o contrato dele. A gente está satisfeito com ele. Agora, se aparecerem esses dólares chineses, como aconteceu no início desta temporada, ele tem multa contratual elevada e às vezes aparecem propostas irrecusáveis. Por exemplo, o Messi no Barcelona, se alguém chegar com caminhão de preço vai levar. Vivemos num regime de profissionalismo.

De quanto é a multa?
Hoje está em US$ 20 milhões, algo assim.

E no meio do ano cai muito, menos da metade. Já tem proposta na mesa?
Não, não.

Você deu o tratamento a ele de ídolo do Flamengo. Ele não é ídolo ainda. Não conquistou nada, fez poucos gols...
Guerrero é jogador de grande destaque no futebol mundial. É sonho de consumo de grandes clubes, foi campeão do mundo pelo Corinthians e tem o DNA para se consolidar como ídolo. Ele foi contratado no meio do ano passado e pegou um ano ruim. Na medida que você começa a conquistar títulos, a idolatria por ele vai crescer exponencialmente. O Flamengo não ganhou nada. Terminou ano passado em crise. Mas agora começamos novo mandato, de três anos. Tem nova comissão técnica e tudo mais. E você nota a responsabilidade de um jogador desses. Numa noite você joga, pega avião às 3h, chega às 11h em Brasília, desmaia na cama de cansado e sai depois com a boca rasgada, mancando. Ou seja, em momento nenhum se furtou. A comissão técnica perguntou para ele o que queria fazer. E em momento nenhum pipocou. A questão de perder gol ou não perder o gol, só perde quem está lá tentando.

Sem o Kayke, hoje só tem Guerrero, que é constantemente convocado para a seleção, e o Felipe Vizeu. O Flamengo não vai tentar um jogador a mais para a posição?
A gente tem por política não comentar hipótese. Estamos focados no Campeonato Carioca. A única coisa que antecipei é que temos decisão de robustecer o elenco para o Campeonato Brasileiro, que é lá na frente. Para o Carioca não pode mais inscrever. E mais na frente vamos trazer reforços para as posições que a gente julgar, dentro do nosso quebra-cabeça do elenco, para as posições que fizerem mais sentido. Mas não queria antecipar posição, pois estamos absolutamente satisfeitos com o elenco. Agora, falo de novo, se pudéssemos contar com Maracanã ou Engenhão a gente não precisaria contar com mais peças de reposição. Isso vai ser simplesmente arma para enfrentar desgaste deste ano.

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