No anúncio do elenco para temporada 2020/2021, a comunicação do Flamengo adotou a campanha "A Retomada das Américas". Não era segredo para ninguém que o principal objetivo rubro-negro era conquistar a Basketball Champions League Americas. Com o título da BCLA, o Flamengo garantiu vaga para a Copa Intercontinental, tendo a oportunidade de repetir o feito histórico de 2014 quando, depois de ter sido o Campeão da Liga das Américas, venceu ao Maccabi Tel Aviv, de Israel, e levantou a taça do Campeonato Mundial Interclubes. Será a terceira participação rubro-negra no torneio, já que em 2019, quando o Rio de Janeiro foi sede da competição, o Flamengo foi derrotado na final pelo AEK Atenas, da Grécia.
Seis meses depois de ter perdido a final da edição anterior do torneio para o Quimsa, da Argentina, o Flamengo teve sua revanche e se sagrou campeão na segunda edição da BCL Américas, vencendo ao Real Esteli, da Nicarágua, por 84 x 80, no Centro Esportivo Alexis Argüello de Manágua, na Nicarágua. A BCLA que é o novo formato da Liga das Américas, torneio do qual o Flamengo havia se sagrado campeão em 2014.
O Flamengo encerrou a competição com 100% de aproveitamento. Na primeira fase, venceu os cinco jogos que realizou contra Minas Tênis Clube (três) e os argentinos do Instituto de Córdoba (dois). Por conta da pandemia do coronavírus, a sexta partida contra o Instituto não foi realizada, dado que Flamengo e Minas já haviam assegurado matematicamente suas classificações à Fase Final, e os argentinos já estavam eliminados. Também por conta da pandemia, a Fase Final teve um formato especial, com os oito classificados se reunindo em sede única, em Manágua, na Nicarágua, e fazendo eliminatórias em jogo único a partir das quartas de final.
Foi uma conquista de superação: o time teve uma perda maior do que qualquer derrota na fase de grupos da Champions, quando Franco Balbi sofreu uma lesão ligamentar no joelho na segunda partida contra o Minas, necessitando passar por cirurgia e ficando de fora do restante da temporada. O argentino Diego Figueredo foi contratado para o lugar de seu compatriota na armação. Além de Balbi, Olivinha e o também argentino Chuzito González desfalcaram o time na reta decisiva. O "Deus da Raça" Olivinha por causa de uma lesão na panturrilha. Ele chegou a viajar para a Nicarágua com a equipe, mas não entrou em quadra. Já o ala-armador, fraturou o dedo da mão direita no jogo de quartas de final contra o Caballos de Coclé, e não pôde disputar os dois jogos mais importantes do torneio. As ausências destas peças extremamente importantes foram superadas com um jogo coletivo e intenso nos dois lados da quadra. Tanto nas quartas quanto na semi-final, o Flamengo imprimiu seu ritmo e disparou no placar logo no começo das partidas, sabendo administrar a vantagem para garantir as vitórias.
A equipe comandada por Gustavo De Conti iniciou o primeiro jogo decisivo, nas quartas de final, contra o Caballos de Coclé, do Panamá, fazendo uma parcial de 16 a 4 no 1º quarto. A diferença foi mantida durante o segundo e terceiro quarto, até que a marca registrada do Flamengo apareceu no último período: o mexicano Luke Martinez, o "Monstrinho" Yago Mateus e Rafa Mineiro proporcionaram uma sequência de cinco bolas de 3 seguidas, encaminhando a vitória rubro-negra, por 74 a 59. Marquinhos e Luke Martinez foram os cestinhas da partida, com 14 pontos cada. Na semi-final, o Flamengo enfrentou o São Paulo e fez bonito. O time foi avassalador no primeiro tempo, chegando a abrir uma diferença superior a 20 pontos. Já no segundo tempo, a equipe liderada por Marquinhos, cestinha rubro-negro com 14 pontos, soube administrar uma reação do tricolor paulista para fechar a partida pelo placar de 75 x 66.
O adversário do Flamengo na grande final da Champions foi o Real Esteli, equipe responsável por eliminar Franca e Minas nas fases anteriores. Na Final, o Flamengo abriu o placar da partida numa cesta de três de Luke Martinez logo com cinco segundos corridos no relógio. Depois, Yago Mateus fez bela jogada individual e deixou Hettsheimeir na boa para fazer mais dois pontos. Mas o Real Esteli virou quando se haviam corrido dois minutos no relógio. De Jesus pontuou e sofreu falta e fez 6 x 5. Os donos da casa contavam com grande apoio de sua torcida, que apesar da pandemia, lotava o ginásio. A estrela do começo de jogo foi o armador Jezreel De Jesús, que marcou 16 pontos no 1º quarto. Do lado rubro-negro, Rafael Hettsheimeir comandou um chuva de bolas de 3 do Flamengo: dos treze arremessos de longe convertidos no jogo pela equipe, seis foram no primeiro período.
Com três minutos passados e sete para o fim do primeiro período, Rafael Hettsheimeir acertou uma bola de três e empatou em 10 x 10. O Real Esteli, porém, conseguiu voltar a escapar no marcador, abrindo 16 x 10, e assim obrigando Gustavo De Conti a parar o jogo pela primeira vez. Mas a partida se reiniciou com De Jesus chutando para três e ampliando a vantagem do Real Esteli para 19 x 10. Inspirado e reinando absoluto no 1º quarto, o camisa 0 chegou a 14 pontos na partida quando levou a vantagem a 21 x 13, após uma infiltração pelo meio da defesa rubro-negra.
Luke Martinez novamente converteu para três, seguido por Hettsheimeir e Yago, que também anotaram de fora do perímetro, deixando o jogo bem equilibrado, diminuindo a diferença para 21 x 18. Foi liderado por Hettsheimeir (oito pontos e quatro rebotes) e pelas assistências de Yago (três), que o Flamengo conseguiu diminuir o prejuízo, com os donos da casa terminando o período com um ponto na frente: 25 x 24. Faltando 46 segundos para o fim do quarto, Hettsheimeir havia voltado a deixar o Flamengo na frente: 24 x 23, mas Jared Ruiz pontuou na sequência, definindo o placar a favor dos anfitriões com, ao final dos dez primeiros minutos, o Real Esteli vencendo pelos já citados 25 a 24.
No segundo quarto, o time voltou com Diego Figueredo e Rafael Mineiro em quadra. O Flamengo conseguiu encaixar uma boa defesa no período, permitindo que o adversário marcasse apenas 12 pontos em 10 minutos, o que lhe permitiu ir para o intervalo em vantagem. Mas o jogo continuava bastante movimentado no segundo quarto. Léo Demetrio recebeu linda assistência de Figueredo, e fez os dois primeiros pontos do período, mas o pivô nigeriano Jeleel Akindele respondeu na mesma moeda para o Real Esteli. Marcando muito melhor, o Flamrengo forçou muitos turnovers do adversário, calando o ginásio.
Com três minutos corridos do 2º quarto, Luke Martinez acertou bola de três, marcando 29 x 27 para o Flamengo. Com quatro minutos corridos, foi a vez de Marquinhos arriscar o chute de longe e ampliar para 32 x 27. O adversário sentiu o golpe e passou a errar bastante. Jhonatan e Rafa Mineiro pontuaram na sequência, deixando o placar em 39 x 30. Dominado, o time da casa só foi esboçar reação nos segundos finais do quarto, quando De Jesus pontuou e sofreu falta, decretando números finais à primeira etapa: 44 x 37. A marcação acertou em De Jesus, que fez apenas estes três pontos no quarto. Após vinte minutos jogados, a vantagem era de sete pontos, e poderia ter ficado ainda maior, não estivesse Marquinhos numa noite tão pouco inspirada e errando muitas bolas que normalmente ele não costumava errar. O aproveitamento de lance-livre da equipe rubro-negra também estava horroroso. Não fosse isso, a vantagem no intervalo teria estado em quinze pontos ou mais.
No começo do terceiro período, Renaldo Balkman abriu o placar numa infiltração; os primeiros pontos do Flamengo saíram das mãos do mexicano Lucas Martinez. O Real Esteli reagiu e o ginásio voltou a incendiar: com dois minutos corridos, De Jesus diminuiu para 46 x 43. O Flamengo respondeu com cinco pontos seguidos de Marquinhos, primeiro em bela jogada de infiltração para anotar mais dois, e na sequência convertendo para três, voltando a ampliar a vantagem: 51 x 43. O Flamengo fazia um ótimo quarto, trocava pontos com o adversário e trabalhava bem as bolas no ataque. Com quatro minutos corridos no relógio, Jhonatan puxou contra-ataque e fez 55 x 46. Motivado, Jhonatan acertou bola de três pouco depois, aumentando para 60 x 46. Com 14 pontos de vantagem quando faltavam cinco minutos para o fim do terceiro período, o título parecia bem encaminhado. Ledo engano.
Com seis minutos corridos do 3º quarto, Franklin diminuiu: 63 x 52. Léo Demétrio fez mais dois, não deixando o rival voltar a encostar: 65 a 55. No minuto final do quarto, Yago, em bela jogada individual, marcou 67 x 58. Ainda deu tempo para Balkman reduzir para 67 a 60 nos segundos derradeiros. Na última bola do quarto, Luke Martínez roubou a posse e partiu em velocidade, literalmente correndo contra o relógio, que se aproximava de zero, e foi para a bandeja, mas errando de forma incrível e não convertendo mais dois pontos. Após um terceiro quarto equilibrado, com a parcial terminando empatada em 23 x 23, Flamengo e Real Esteli protagonizaram um final de jogo emocionante.
Diante do apagão no ataque do bem marcado De Jesus, quem apareceu foi Javier Mojica, que marcou seus 16 pontos no segundo tempo, dando nova vida aos donos da casa. O Esteli começou o quarto período diminuindo para 68 x 63. Com dois minutos corridos no relógio, Mojica cortou a diferença para três pontos: 68 x 65. Pouco depois, Balkman reduziu para 68 x 67. O Flamengo não se abateu, e Yago Mateus, o nome do jogo no último quarto colocou 71 x 67 numa bola de três. Mas o time da casa voltou a se aproximar do empate após uma cesta de Ruiz: 73 x 71. A equipe da América Central puxou uma corrida de 9 x 4 e assumiu a liderança quando o ala-armador Javier Mojica colocou o "Trem do Norte" na frente no placar (76-75) com uma bola de três pontos quando faltavam 3:50 para o final.
Foi então que o Flamengo levou toda a sua experiência para dentro de quadra. Gustavinho parou o jogo para tentar recompor a equipe. O pedido de tempo de Gustavo De Conti foi essencial e fez com que o time voltasse para a quadra com uma defesa sólida, que permitiu apenas quatro pontos do Real Esteli nos quatro minutos finais. Após a parada, foi Yago quem ditou o ritmo, com a conversão de uma bola de três importantíssima, uma infiltração para mais dois pontos, e com quatro lances-livres nos últimos 20 segundos. Foi pelas mãos de Yago Mateus que o Flamengo pulou para 79 x 76 em vantagem no placar. Mas a partida seguiu emocionante até o fim. Com a vantagem no placar novamente, o time rubro-negro soube controlar o jogo até o último segundo. Bem postada, a defesa rubro-negra trabalhava muito bem e conseguia bloquear os ataques do adversário. A 21 segundos do término, Yago sofreu falta e foi para dois lances-livres, acertando ambos, e deixando o Flamengo mais perto da vitória. Mas De Jesus pontuou na sequência, dando as últimas esperanças ao Esteli. Com uma vantagem de 81 x 78 quando no relógio faltavam 10,1 segundos, Yago sofreu falta e converteu novamente seus dois lances-livres. O armador marcou 11 de seus 16 pontos no último quarto e foi uma figura gigante na conquista rubro-negra. Na sequência, o Real Esteli atacou rápido: 83 x 80. Faltavam poucos segundos... O Flamengo repôs a bola nas mãos de seu armador Diego Figueredo, que até então estava zerado em pontos na partida. Ele sofreu falta e foi para a linha de lance-livre. Errou o primeiro, e acertou o segundo. Aquela era a última cesta rubro-negra na edição da Liga dos Campeões das Américas da temporada 2020-21. Final: 84 x 80. Festa rubro-negra na Nicarágua!
Com vinte e um pontos e sete rebotes, Rafael Hettsheimeir dominou o garrafão da decisão e foi eleito o MVP da Final da BCLA. Sem sentir a pressão do ginásio jogando contra, Hett registrou nada menos que 21 pontos, 7 rebotes, 3 assistências e expressivos 28 de eficiência. Tudo isso diante de pivôs grandes e muito fortes fisicamente, como o portorriquenho Renaldo Balkman e o nigeriano Jeleel Akindele. O pivô, além de seus arremessos de longa distância, teve um determinante jogo interno, que ajudou o time a se recuperar da desvantagem no primeiro quarto (10-19). O decisivo Yago foi monstruoso nos momentos decisivos, terminando com 16 pontos e 8 assistências. Marquinhos, com 15 pontos, 3 assistências e 3 rebotes, e Luke Martinez, com 12 pontos, 8 rebotes e 5 roubos de bola, também foram peças fundamentais na decisão e na conquista do título.
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