quinta-feira, 19 de dezembro de 2024

Os Caminhos de uma Nova Revolução Rubro-Negra

Ricardo Lomba obteve uma vitória arrasadora (dos 1.120 votos totais, recebeu 943, 84,2%, enquanto o adversário teve apenas 171, 15,8%), tendo sido eleito Presidente do Conselho Deliberativo do Flamengo. Junto à gestão eleita para a presidência do clube, ele se torna uma peça chave daquilo que se propõe a ser uma Nova Revolução Rubro-Negra.

Para entender os pilares de mudança por ele propostos, segue uma excelente entrevista publicada pelo site Mundo Bola Flamengo, que deu o título à matéria de "Retomada do Flamengo com visão de futuro". Eis a seguir a íntegra do que foi publicado:

O Flamengo é muito mais do que um clube. É uma instituição que move milhões de corações e paixões ao redor do mundo.

Você já deve ter lido ou ouvido isto em muitos lugares, certo?

Foi com esta plataforma que a dita Chapa Azul, um movimento constituído por centenas de sócios insatisfeitos com a velha política rubro-negra que afundava este gigante do futebol brasileiro em dívidas e vitimava seus torcedores nas chacotas dos adversários, conseguiu ascender ao poder com a eleição de Bandeira de Mello em 2012.

Nesta entrevista, conversamos com um dos mais notórios insatisfeitos com os rumos recentes do Flamengo. Ricardo Lomba, ex-vice-presidente de Futebol e agora Presidente do Conselho Deliberativo do Flamengo.

Vamos entender suas novas motivações, ideias e propostas para um dos papéis mais importantes na governança do clube, e que nos últimos anos da gestão de Rodolfo Landim, foi se desviando do caminho prescrito pelos ditames da Chapa Azul.

Motivado pela paixão que vive intensamente e transmite à sua família, ele afirma: “O Flamengo tem que seguir avançando, com governança reforçada, com poderes independentes e bem definidos, e, principalmente, com um clube democrático tocado de forma profissional, não só como opção, mas como obrigação estatutária”.

Lomba destacou a importância do Conselho Deliberativo, que funciona como o “Poder Legislativo” do clube: “Nele são aprovados os grandes contratos do Flamengo, como os de patrocínio, estádio e televisão. É também o responsável por zelar pelo nosso Manto Sagrado, aprovar as contas e acompanhar o orçamento".

Sua candidatura foi lançada antes mesmo da eleição do Conselho Diretor, uma postura atípica na política rubro-negra, mas que ele justifica com convicção: “O Conselho Deliberativo não é um Conselho pouco importante que deva esperar a eleição do Conselho Diretor para, de forma improvisada e na correria, se descobrir quem tem certidões em dia e montar um projeto às pressas".

O candidato também ressaltou os desafios que o Flamengo enfrentará no próximo triênio, como o Mundial de 2025, o sonho do estádio próprio e a competitividade crescente do mercado brasileiro: “O Deliberativo precisará ser outro diante de tantos grandes desafios. Precisamos de estruturas de controle à altura dos investimentos do clube”.

Com um olhar para o futuro, ele defende uma reforma significativa no Estatuto Social do Flamengo, sem esquecer a importância de uma governança moderna: “O clube precisa caminhar para o profissionalismo. Precisamos reformar as regras eleitorais e a maneira como são conduzidas questões disciplinares”.

Ao final do seu mandato, ele espera deixar como legado um modelo profissional como pilar do clube, a evolução da governança com regras eleitorais claras e a modernização dos processos internos do Conselho Deliberativo: “Isso aqui é Flamengo. Precisamos fazer jus à nossa grandeza em todos os aspectos”.


A eleição para a presidência do Conselho Deliberativo do Flamengo, o CoDe, ocorreu numa segunda-feira, 16 de dezembro de 2024, na Gávea. Lomba disputou com o candidato Álvaro Ferreira, apoiado por Rodrigo Dunshee. Eis a entrevista:


- O que te motivou a tentar ser presidente do Conselho Deliberativo do Flamengo?

A resposta é muito simples: minha paixão pelo Flamengo, a paixão que transmiti para minhas filhas, a paixão que vivo intensamente e a paixão que me move a buscar que as transformações que o clube vivencia desde 2013 se tornem cada vez mais perenes.

O Flamengo tem que seguir avançando, com governança reforçada, com poderes independentes, com pesos e contrapesos bem definidos e principalmente com um clube democrático tocado de forma profissional, não só como opção, mas como obrigação estatutária.

- Para quem não conhece tanto a política do Flamengo, qual é a importância do Conselho Deliberativo?

O Deliberativo é um Conselho muito importante no Flamengo, nele são aprovados os grandes contratos do clube (como patrocínio, estádio e Televisão), é o responsável por zelar pelo nosso Manto Sagrado, aprovar as contas, acompanhar o orçamento do clube e, principalmente, exerce um papel de Poder Legislativo dentro do Flamengo. Nele é aprovada o equivalente a nossa Constituição Federal, que é o Estatuto Social do Flamengo.

- Você lançou a candidatura antes da eleição para o Conselho Diretor, o que não é muito comum na política do Flamengo. Por que você fez isso?

O Conselho Deliberativo não é um Conselho pouco importante que deva esperar a eleição do Conselho Diretor para, de forma improvisada e na correria, se descobrir quem tem certidões em dia e mesmo sem projeto ou uma equipe já estabelecida para se preparar para essa responsabilidade tão grande.

De fato, subvertemos um pouco a lógica das eleições para esse conselho visto nas últimas eleições e com isso pude começar os contatos com uma rede ampla de apoio não somente a mim, mas às minhas propostas de reforma e a maneira como pretendo conduzir o Conselho com apoio dos conselheiros.

- Como você acha que deva ser pautada a relação entre o Conselho Diretor e o Conselho Deliberativo?

Independência, diálogo e respeito. Todos os sócios querem e trabalham pelo bem do Flamengo, e para que isso possa ser feito da melhor maneira, sempre que possível, os assuntos devem ser avaliados com a devida calma e profundidade, sem atropelos e isso se conquista com boa relação entre os poderes, cada um exercendo seu papel e se esforçando para que sempre se eleve o nome e a grandeza do Flamengo.

O próximo triênio se apresenta com desafios gigantescos para o clube: um novo mundial, em 2025, uma obra gigantesca para a realização do sonho da nossa torcida de um estádio próprio, os compromissos assumidos com o Maracanã e um ambiente mais competitivo com a presença das SAF no mercado brasileiro.

O Deliberativo precisará ser outro diante de tantos grandes desafios novos, para exemplificar, a obra do estádio justifica estruturas de controles novas à altura do Investimento do Clube.

Controles novos, parceria, independência e diálogo entre os poderes levarão o clube mais longe.

- Você foi capaz de unir forças que, na eleição para o Conselho Diretor, estavam espalhadas pelas três candidaturas. É possível mover tanta gente junta numa mesma direção?

Fico muito feliz em conseguir liderar um movimento capaz de agregar apoios numa frente tão ampla e isso para mim reflete uma vontade de mudança, de modernização e de pacificação, que não pode ser confundida com descontrole ou falta de punição para excessos. 

Sobre ser possível mover tanta gente junta, há dois aspectos: em primeiro lugar, o que nos une é o Flamengo e isso não mudará nunca; além disso, o Deliberativo já é um conselho de muitas pessoas, mais de 2.500 integrantes.

- Qual é o tamanho da reforma de Estatuto que o Flamengo precisa? Quais são os principais tópicos dessa reforma?

O Estatuto do Flamengo foi elaborado em 1992 e já passou por diversas emendas desde, então. Substituir por um novo não é tarefa simples, nem imediata, então existem mudanças urgentes que podem antecipar alterações, antes de outras.

O clube precisa caminhar para o profissionalismo, ao Deliberativo precisa ser encaminhada proposta para adequar a estrutura e papéis do Conselho de Diretor ao tipo de governança proposta do Plano de Governo do Presidente BAP, recém-eleito.

Também precisamos de uma reforma eleitoral e da maneira como são conduzidas questões disciplinares, portanto o tamanho de reforma que o Estatuto requer é grande, mas isso não demanda necessariamente uma virada única de chave.

- Durante a campanha para o Conselho Diretor, formou-se uma espécie de consenso em torno da questão da extensão do profissionalismo ao conjunto da gestão do Clube, sobretudo ao Futebol. Em que medida isso facilita o trabalho de reforma?

Se o Flamengo cansou dos desmandos e desorganização e esse movimento fez a Chapa Azul vencer, em 2012, a falta de condução profissional, com governança bem estabelecida, foi o mote de unidade em discursos dos 3 candidatos a presidente do clube. Dada a existência desse consenso, entendo que essa medida facilita, sim o início do trabalho de reforma, mas tudo vai depender de existir esta mesma vontade entre os conselheiros do clube, veja bem, não comandarei o Conselho sozinho, mas junto dos demais conselheiros levaremos nossa governança a outro patamar.

- E, na governança do próprio Conselho Deliberativo, o que precisa mudar?

Temos visto tentativas de melhorar a dinâmica das reuniões, com votações eletrônicas sendo conduzidas, mas ainda temos um conselho em que poucos conselheiros conseguem ter acesso com antecedência aos documentos avaliados nas reuniões. Isso por termos documentos somente disponíveis de forma presencial. Isso não combina com um mundo digital, em que reuniões híbridas, já testadas até no clube durante a pandemia, são a realidade das relações de trabalho e de governança de empresas de faturamento do porte do nosso.

Também temos que discutir como se dá o processo eleitoral, melhor sinal de que algo em nossa governança interna e regras não estão claras e seguras o suficiente é a sucessão de casos de judicialização de eleições no clube. Aqui não faço uma crítica a um cidadão ou grupo de cidadãos buscarem a Justiça, mas um indicativo de regra antiga é todo momento haver disputa na Justiça, isso aqui é Flamengo, meus caros. 

- Ao final do seu mandato cite as três principais mudanças que você quer deixar como marca?

Modelo Profissional como Lei no Clube, precisamos escrever em pedra o que José Bastos Padilha iniciou, o que a transformação das finanças e gestão do clube iniciou, mas ainda ficaram para trás isso não ser mais uma escolha, mas um pilar do clube.

A segunda mudança seria uma evolução da governança do clube, especialmente no que se refere às regras eleitorais.

Finalmente, a terceira principal mudança passaria pela melhoria dos processos do próprio Conselho, que precisa se modernizar para fazer frente aos desafios do Clube.



AS 5 PROMESSAS DE CAMPANHA:

1. Reforma do Estatuto
O principal ponto na candidatura de Lomba é a reforma do Estatuto do Flamengo, em plano que casa com o que Bap planeja para a gestão do clube. A ideia do presidente é reduzir o número de vice-presidências e esvaziar cargos amadores, tornando o clube profissional no maior número possível de áreas.

Para isso, Bap precisa submeter uma proposta ao Conselho Deliberativo, que aprecia e vota as mudanças. Com Lomba no comando, a aprovação do projeto fica mais próxima, algo já confirmado por Luiz Eduardo Baptista nos dias anteriores ao pleito do CoDe.

"O Estatuto do Flamengo foi elaborado em 1992 e já passou por diversas emendas. Substituir por um novo não é tarefa simples, nem imediata. Então, existem mudanças urgentes que podem antecipar alterações. O clube precisa caminhar para o profissionalismo. Ao CoDe, precisa ser encaminhada uma proposta para adequar estrutura e papéis do Conselho Diretor ao tipo de governança proposta do Plano de Governo do presidente Bap, recém-eleito", explicou Lomba de forma exclusiva ao MundoBola.

2. Profissionalismo como Lei
Tornar o clube profissional nos próximos anos é uma meta de Lomba e Bap, mas não apenas isso. A intenção de Ricardo é fazer do profissionalismo uma Lei do Flamengo para o futuro, norteando também as gestões que ainda virão. Para isso, o próprio regimento interno do clube precisa prever o profissionalismo como algo obrigatório.

"O Flamengo tem que seguir avançando, com governança reforçada, com poderes independentes, com pesos e contrapesos bem definidos e principalmente com um clube democrático tocado de forma profissional, não só como opção, mas como obrigação estatutária. Precisamos escrever em pedra o que José Bastos Padilha iniciou, o que a transformação das finanças e a gestão do clube iniciou, mas ainda ficou para trás. Isso não pode mais ser uma escolha, mas um pilar do clube", explicou.

3. Modernização do CoDe
Dentro do próprio Conselho Deliberativo, Lomba também planeja executar algumas mudanças. As principais passam pela modernização da estrutura, que já contou com reuniões híbridas e realiza votações eletrônicas. A disponibilização de documentos, porém, só acontece de forma presencial — e representa um dos tópicos que Ricardo pretende mudar.

"Temos visto tentativas de melhorar a dinâmica das reuniões, com votações eletrônicas sendo conduzidas, mas ainda temos um conselho em que poucos conselheiros conseguem ter acesso com antecedência aos documentos avaliados nas reuniões. Isso por termos documentos somente disponíveis de forma presencial. Isso não combina com um mundo digital, em que reuniões híbridas, já testadas até no clube durante a pandemia, são a realidade das relações de trabalho e de governança de empresas de faturamento do porte do nosso", disse Lomba.

4. Mudanças no processo eleitoral
As recentes judicializações durante as eleições também incomodam Lomba. Segundo ele, é um sinal de que os processos não são "claros e seguros o suficiente". O novo presidente do CoDe, inclusive, citou a evolução das regras eleitorais como um dos três principais itens que deseja mudar no Flamengo.

"Também temos que discutir como se dá o processo eleitoral, melhor sinal de que algo em nossa governança interna e regras não estão claras e seguras o suficiente é a sucessão de casos de judicialização de eleições no clube. Aqui não faço uma crítica a um cidadão ou grupo de cidadãos buscarem a Justiça, mas um indicativo de regra antiga é todo momento haver disputa na Justiça, isso aqui é Flamengo, meus caros", analisou.

5. Estádio
O estádio do Flamengo também foi um tema debatido por Lomba recentemente. Para ele, há a necessidade de obter mais informações sobre o projeto, principalmente em relação ao terreno comprado pelo clube no Gasômetro. Ricardo afirmou que a aprovação aconteceu "na empolgação", mas também crê na importância da arena para o futuro rubro-negro.

"A compra do terreno pode ser analisada por duas óticas. Primeiro, a do torcedor apaixonado. É espetacular. Era tudo que a gente queria. Como vai votar contra isso? Mas o dirigente tem que ter um pouco mais de cuidado na análise. Houve uma precipitação. Havia um momento político do governo do Estado do Rio e uma campanha para presidente do Flamengo. Essas duas coisas se uniram. Aí, aprova de qualquer maneira, porque isso é voto certo. Mas você atropela uma série de questões que foram ignoradas", destacou.

"A gente não sabe o que tem pela frente. É claro que a gente quer o estádio, o terreno, mas o que estamos comprando? O que precisa fazer para construir? Essa história de descontaminação: o que é isso? Como é o projeto? É uma série de detalhes que a gente não sabe. Não estou julgando a gestão que se encerra no dia 31. Mas nós, conselheiros, ninguém sabe nada. Sem medo de errar: aprovamos na empolgação. Acho que valia o risco. Porém, vamos ver o tamanho do risco a partir do dia 2 de janeiro", afirmou.

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