O Flamengo tem o dom de transformar algumas de suas derrotas em verdadeiros Épicos, numa Epopéia, em drama inesquecível, inacreditável e sensacional. A história rubro-negra na Taça Libertadores de 2012 foi assim. O clube repetiu o vexame de 2002, e foi novamente eliminado na primeira fase. Verdade que com uma campanha menos ruim do que aquela: em 2002 foram 4 derrotas, 1 empate e só 1 vitória, ficando com o 4º e último lugar do grupo. Desta vez, em 2012, foram 2 vitórias, 2 empates e 2 derrotas, e o 3º lugar.
Este épico teve dois capítulos. O primeiro contra o Olimpia no Engenhão, quando vencia por 3 a 0 até os 31 min. do 2º tempo e permitiu o empate. O segundo na última rodada, quando fez 3 a 0 no Lanus no Engenhão e precisava que Olimpia e Emelec, que jogavam em Assunção, empatassem, pois só assim conseguiria a vaga. O Olimpia fez 1 a 0 no primeiro tempo, tomou o gol de empate aos 21 minutos do 2º tempo, para uma explosão de alegria nas arquibancadas do Engenhão. Só que aos 41 minutos veio o gol da virada do Emelec, que classificava os equatorianos. Triste fim? Ainda havia muitas emoções por vir. Aos 46 minutos do segundo tempo, Zeballos empatou para o Olimpia. A classificação improvável do Flamengo se desenhava. Não só o Engenhão, mas o Rio de Janeiro inteiro explodia de emoção. Só que dada a saída, o zagueiro Jose Luiz Quiñonez aproveitou um escanteio, aos 47 minutos, para cabecear para as redes. Emelec 3 a 2 e Flamengo fora!
O Flamengo tem conseguido marcar presença na Libertadores. Nas 10 últimas edições (2003 a 2012), os brasileiros que mais participaram foram: São Paulo e Santos 7 vezes cada, Internacional, Cruzeiro e Corinthians 5 vezes cada, e Flamengo e Grêmio 4 vezes cada. Mas nas 5 últimas vezes que jogou a Libertadores, só 1 vez o Flamengo chegou às quartas de final. É muito pouco!
Eliminações de brasileiros até a Fase de Grupos nos últimos 20 anos aconteceram com o Internacional em 1993 e 2007, Flamengo em 2002 e 2012, Juventude em 2000, Atlético Paranaense em 2002, Coritiba em 2004, Santo André em 2005, Paulista em 2006, e com o Corinthians, na Pré-Libertadores, em 2011. Para quem tem tanta história, é um desempenho muito fraco, colocando o clube num bolo no qual jamais deveria estar.
A Campanha:
1ª fase
25/01/12 - 1 x 2 Real Potosi, no Mario Mercado, em Potosi, Bolívia
01/02/12 - 2 x 0 Real Potosi, no Engenhão
Fase de Grupos
15/02/12 - 1 x 1 Lanus, em Ciudad de Lanus, Argentina
08/03/12 - 1 x 0 Emelec, no Engenhão
15/03/12 - 3 x 3 Olimpia, no Engenhão
28/03/12 - 2 x 3 Olimpia, no Estádio Defensores del Chaco, em Assunção, no Paraguai
04/04/12 - 2 x 3 Emelec, em Guayaquil, no Equador
12/04/12 - 3 x 0 Lanus, no Engenhão
PRÉ-LIBERTADORES
O Flamengo obteve sua classificação para a Libertadores 2012 como 4º colocado no Campeonato Brasileiro de 2011. Mas só os três primeiros e o campeão da Copa do Brasil entravam diretamente na Fase de Grupos. Primeiro, o time rubro-negro teve que jogar a fase batizada no Brasil como "Pré-Libertadores, um mata-mata para definir os últimos participantes dos oito grupos.
O maior desafio rubro-negro era voltar à altitude de Potosi, na Bolívia. Já tendo jogado lá antes, o clube conhecia o poder do ar rarefeito. Foi feita mais uma vez uma preparação especial no condicionamento biológico dos jogadores antes da viagem.
Na primeira partida, vitória do Real Potosi por 2 x 1 (gol rubro-negro marcado por Luiz Antônio). O gol fora de casa, dava ao Flamengo a possibilidade de classificação com uma vitória simples por 1 x 0. O time não teve uma grande atuação no Engenhão (o Maracanã estava fechado para as obras para a Copa do Mundo de 2014) mas o time fez o suficiente. Com gols de Leonardo Moura e Ronaldinho Gaúcho, a vitória por 2 x 0 colocou o time rubro-negro no Grupo 2.
1ª FASE
O Grupo 2, além do Flamengo, reunia o campeão paraguaio, Olimpia, o argentino Lanus, que teve a maior pontuação acumulada na soma dos dois campeonatos anuais realizados na Argentina, e o Emelec, vice-campeão equatoriano. Os dois melhores avançavam aos play-offs. Com a estrela de Ronaldinho Gaúcho no meio de campo, e com Vágner Love no ataque, o clube sonhava em voltar ao topo do continente.
Na 1ª rodada, o time foi à Argentina, de onde voltou com um empate em 1 x 1 contra o Lanus (gol rubro-negro marcado pelo lateral-direito Leonardo Moura). No outro jogo da rodada, o Emelec venceu ao Olimpia por 1 x 0 em Guayaquil.
Na 2ª rodada, no Engenhão, uma vitória por 1 x 0 no Emelec não empolgou, mas garantiu os três pontos, que naquele momento parecia ser o mais importante. Em Assunção,o Olimpia venceu ao Lanus por 2 x 1. O Flamengo era então o líder do grupo com 4 pontos, Olimpia e Emelec tinham 3, e o Lanus apenas 1.
Na 3ª rodada, mais uma partida no Engenhão, desta vez frente ao Olimpia. Com gols do argentino Dario Bottinelli, de Ronaldinho Gaúcho e de Luiz Antônio, o Flamengo abriu 3 x 0 no placar, vantagem que sustentou até mais da metade do 2º tempo. Detalhe para o fato de que o camisa 18 rubro-negro, que cumpria função tática de um camisa 10, foi o primeiro estrangeiro a marcar com a camisa rubro-negra numa Libertadores da América. A vitória alçaria o time a 7 pontos, o que parecia ser um belo encaminhamento da classificação.
Porém, nos quinze minutos finais, uma atuação desastrosa. O time sofreu três gols, e o empate por 3 x 3 deixava o grupo totalmente embolado. No outro jogo da rodada, o Lanus venceu ao Emelec por 1 x 0. Assim, o Flamengo ainda era o líder, com 5 pontos, Lanus e Olimpia tinham 4 e o Emelec tinha 3 pontos. Para dificultar, no returno o time rubro-negro só faria mais um jogo em casa. Complicou-se o que estava muito perto de ter ficado simples.
Na 4ª rodada, o Flamengo foi a Assunção, e voltou da capital paraguaia com uma derrota por 3 x 2 para o Olimpia (gols rubro-negros marcados por Vágner Love e Dario Bottinelli). Fora de casa, o Lanus venceu ao Emelec por 2 x 0. Agora, Lanus e Olimpia tinham 7 pontos, contra 5 do Flamengo e 3 do Emelec.
O jogo na quinta rodada em Guayaquil diante do Emelec pela 5ª rodada se tornou decisivo. E o time rubro-negro voltou a ser derrotado por 3 x 2 (gols rubro-negros de Leonardo Moura e Deivid) voltando do Equador numa situação dificílima. No outro jogo, na Argentina, o Lanus aplicou uma impiedosa goleada por 6 x 0 sobre o Olimpia.
A situação do grupo era então a seguinte: O Lanus liderava com 10 pontos e já estava com sua classificação garantida. Vinham então o Olimpia, em segundo, com 7 pontos, o Emelec, em terceiro, com 6, e o Flamengo, em último, com 5. Na última rodada, o time rubro-negro receberia o Lanus no Engenhão, no Rio de Janeiro, precisava vencer, mas ainda assim só se classificaria se Olimpia e Emelec empatassem em Assunção. Uma vitória de qualquer um dos dois eliminava o time rubro-negro.
O time do Flamengo resolveu então acordar, mas despertou tarde, pagando o preço por sua acomodação e sua incapacidade de ser decisivo quando era necessário. No Engenhão atropelou ao já classificado e líder do grupo Lanus, vencendo por 3 x 0, gols de Welinton, Deivid e Luiz Antônio.
Enquanto isto, em Assunção, acontecia um dramalhão hispano-americano. Aos 46 minutos do 1º tempo o Olimpia saiu na frente, gol de Castorino. Aos 22 do 2º tempo, o Emelec empatou, gol do argentino Mondaini. O empate, que classificaria o Flamengo, sustentou-se até os 43 minutos do 2º tempo, quando Angel Mena colocou o Emelec a frente. As emoções ainda estavam longe de terminar. Aos 47 minutos, o camisa 10 paraguaio Pablo Zeballos voltou a empatar o jogo. A classificação voltava a ser do Flamengo. No Engenhão, com o jogo já encerrado, os jogadores rubro-negros receberam a notícia do gol de empate ainda dentro de campo, e comemoraram. Mas lá em Assunção, dada a saída e, aos 48 minutos, o camisa 5 equatoriano Jose Luis Quiñonez fez o gol que colocou 3 x 2 a favor do Emelec no marcador. No Rio de Janeiro, o lateral Léo Moura dava entrevista à TV com um fone de ouvido, escutando a narração dos minutos finais na capital paraguaia, e com um sorriso no rosto, que logo virou um semblante fechado ao escutar e receber a confirmação do gol do Emelec.
Fim do sonho rubro-negro com a Libertadores 2012. O Lanus terminou como líder do grupo com 10 pontos, o Emelec ficou em segundo lugar com 9, o Flamengo, em terceiro com 8, e o Olimpia em último com 7. Há como fizeram falta aqueles dois pontos jogados fora diante do Olimpia no Engenhão! Custaram a continuidade do sonho...
Os dois algozes rubro-negros não passaram das oitavas de final. O Lanus acabou eliminado, nos pênaltis, pelo Vasco, depois de um 2 x 1 para cada lado, e o Emelec caiu para o Corinthians após um empate sem gols no Equador e uma vitória corinthiana por 3 x 0 em São Paulo.
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