domingo, 21 de julho de 2013

Geraldo: a morte prematura de um talento excepcional para o futebol


A história de Geraldo, revelação do Fla nos anos 1970, que morreu aos 22 anos, durante uma operação de amígdalas

No dia 26 de agosto de 1976, o futebol brasileiro perdia precocemente, aos 22 anos, uma de suas maiores revelações, o meia Geraldo Cleofas Dias Alves. Em 2011, a morte do jogador do Flamengo e da Seleção Brasileira completa 35 anos, e o "Esporte Espetacular" conversou com familiares, amigos e companheiros de time e procurou saber mais detalhes sobre o que aconteceu na operação para a retirada das amígdalas, que terminou na morte de Geraldo após uma reação à anestesia.

O assoviador de Barão de Cocais: Dona Nilza Alves, hoje com 88 anos, teve nove filhos na pequena cidade de Barão de Cocais, cerca de 100km da capital Belo Horizonte. Dos nove, cinco tornaram-se jogadores de futebol. Dos cinco, Geraldo era o mais habilidoso, reconhece a própria mãe. E o menino deixou Minas Gerais em direção ao Rio de Janeiro com a ajuda do irmão mais velho. Washington era zagueiro do Flamengo e apresentou o irmão à equipe da Gávea no início da década de 70. Geraldo faria parte da "geração de ouro" rubro-negra, comandada por Zico, maior ídolo da história rubro-negra.

Em campo, não demorou muito para Geraldo conquistar os companheiros e a torcida. Campeão carioca em 1974 e convocado para a Seleção em 1976, era uma das promessas do país para a Copa do Mundo de 78. Ficou marcado pela elegância como jogava, com a cabeça em pé. Mas ficou mesmo identificado pelo apelido curioso: "Geraldo Assoviador".

- Ele vivia assoviando, não só no campo, mas o dia inteiro. Assoviava músicas que gostava, principalmente "Your Song" (do cantor Elton Jhon) - lembrou Zico.

Se a década de 70 ficou marcada pelas roupas estravagantes, cabelos black power e discotecas, jogadores de futebol talentosos e contestadores marcavam posição. Ofensivo, irreverente, polêmico e indisciplinado. Essas são algumas das características que definiram Geraldo dentro e fora das quatro linhas. Paulo César Cajú e Afonsinho faziam parte do elenco rubro-negro na época e fizeram amizade com o mineiro, que também conheceu um vizinho cantor, ainda desconhecido: Raimundo Fagner.

- O Geraldo era muito alegre, cheio de vida. Ele era reserva do Afonso, que era nosso paizão no prédio. Um dia o Geraldo barrou o Afonso e virou titular no Flamengo. Aí o Baianinho, que morava com o Afonso e jogou no Vasco, chegou no nosso apartamento e disse que o Geraldo estava chorando e queria parar de jogar porque barrou o amigo. Fomos todos para lá e injetamos ânimo nele. Isso é para você ver o caráter dele - recordou Fagner.

Uma cirurgia simples que terminou em morte. Em 1976, o departamento médico do Flamengo indicou que Geraldo precisava operar as amígdalas por conta de uma inflamação crônica na garganta, considerada comum naquele tempo. A mãe do jogador revela que ele não estava disposto a fazer a cirurgia:

- Quinze dias antes, o Geraldo falou comigo: 'Ô, mãe. Eles querem que eu opere, mas eu não vou operar. Tenho muito medo' - revelou dona Nilza.

No dia 25 de agosto, o meia foi internado na clínica Rio Cor, em Ipanema, mas a cirurgia não foi realizada. Segundo o jornal O Globo, Hélio Maurício, presidente do Flamengo na época e médico da clínica, não divulgou nenhum comunicado sobre a operação. No dia seguinte, Geraldo foi internado às 7h para ser operado pelo médico otorrinolaringologista Wilson Junqueira, que aplicou a anestesia local.

Vinte minutos após a cirurgia, Geraldo começou a se sentir mal e seu coração parou. A equipe médica tentou reanimá-lo, mas às 10h30m Geraldo morreu vítima de um choque anafilático causado pela anestesia. Ele tinha apenas 22 anos.

- Parei o carro na porta da minha casa e minha mulher estava desesperada. Eu sem saber de nada e minha mulher disse: 'tão falando que o Geraldo morreu'. E aconteceu. Como dizem, em mil aconteceu com um e infelizmente foi conosco - contou Lincon, irmão de Geraldo.

Com a morte do jogador, a suspeita de erro médico foi levantada. O Conselho Regional de Medicina (Cremerj) abriu uma sindicância interna para investigar o caso. Os médicos Wilson Junqueira, hoje já falecido, e Célio Cotéquia (do Flamengo) foram absolvidos. Procurado pela reportagem do "Esporte Espetacular", o Cremerj informou não possuir mais os registros da sindicância.

O velório do jogador foi realizado na sede do Flamengo e mobilizou jogadores, amigos e familiares. Craque do rival Fluminense e integrante da "Máquina Tricolor" da década de 70, Carlos Alberto Pintinho era o melhor amigo de Geraldo fora de campo. Depois de 35 anos, Pintinho revelou que a perda do amigo o fez deixar o Brasil:

- O relacionamento que nós tínhamos era muito forte. Então, com a perda dele, eu quis ir embora - disse o ex-jogador, antes de interromper a entrevista emocionado. Hoje, Pintinho mora na Espanha.

Em homenagem ao jogador, um amistoso foi organizado no Maracanã: Flamengo contra a Seleção Brasileira. De um lado, Zico. Do outro, Pelé e Rivelino. Na tribuna de honra, o presidente Ernesto Geisel. O Rubro-Negro venceu a partida por 2 a 0, e a renda foi doada à família de Geraldo.

Trinta e cinco anos mais tarde, os amigos Paulo César Cajú, Afonsinho, Zico, Pintinho e Fagner, a mãe dona Nilza e o irmão Lincon ainda se emocionam ao lembrar do menino assoviador.

Fonte: www.ex-vermelho2.blogspot.com/

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