domingo, 18 de agosto de 2013

Os Retornos e Riscos por trás do V3 Investimentos. O que o Flamengo pode ganhar e pode perder...

De novo falando do V3 Investimentos, o fundo que está sendo criado pelo Flamengo junto a investidores externos para financiar a aquisição de jogadores.

Vamos primeiro ao retorno econômico potencial para o Flamengo com a criação do fundo:

1. Capacidade de gerar investimentos adicionais em jogadores jovens sem precisar desembolsar recursos de seu próprio caixa. Investir em jogadores com menos de 24 anos á sempre arriscado, afinal o jogador pode não responder à altura do que era esperado dele. Dada a caótica situação financeira do Flamengo, poder continuar realizando investimentos sem ter o risco de ver o capital se esfarelar com apostar que não deram o retorno esperado é uma vantagem, inquestionavelmente.

Mas "não existe almoço grátis". Alguém pode cobrar que os 25% líquidos a serem recebidos pela venda de um investimento que o clube não fez é uma vantagem. Na minha opinião, não é! O valor só remunera os gastos que o clube terá com salários, luvas, direitos de imagem e encargos trabalhistas. Com um adicional, a relação não é 1 para 1. Certamente são custos com vários jogadores para cada um que consiga ser revendido. E mais, sendo 25% a parte rubro-negra, se a relação for pior do que 1 caso de sucesso para cada 4 jogadores recebidos, nem a fatia de custo do Flamengo com a operação é coberta.

Em resumo, isto não chega a ser uma desvantagem, pois afinal há uma fatia anual do orçamento do clube que, com ou sem V3, é destinada a estas "apostas" em contratação de jogadores. Mas tampouco é uma vantagem também, é só uma remuneração natural à fatia de custos do Flamengo na operação.

Em termos de risco, há alguns bastante relevantes que precisam ser considerados, basicamente relacionados a potenciais conflitos de interesse:

1. Como todo fundo de investimento, há uma expectativa de retorno em cima do capital investido. Supondo um cenário no qual nenhum dos jogadores adquiridos renderam o esperado após 2 anos no clube. O V3 precisa vender alguém para obter o retorno inicialmente esperado sobre o investimento. Mas ele só vai vender se o jogador estiver jogando, e se nenhum dos "investimentos" estiver rendendo dentro de campo, provavelmente não serão a opção para jogo do treinador. Não haverá pressão destes investidores para que os jogadores do V3 joguem? O primeiro risco, portanto, é de ingerência externa sobre o trabalho do treinador.

2. O fundo só pretende investir em jogadores com menos de 24 anos. No elenco profissional, há um leque de jogadores com menos de 24 formados nas divisões de base do Flamengo. Se vender um destes jogadores, o Flamengo ganha 100% da venda. Se vender um dos jogadores do V3, ganha 25% da venda. Estes dois universos - jogadores da base e jogadores V3 - disputarão espaço no elenco e como titulares sob este cenário de retorno financeiro. Até que ponto os interesses de retorno financeiro do Flamengo e do V3 Investimentos não colidirão nesta disputa por retorno? O segundo risco é o conflito entre a política interna e os interesses dos investidores, e as pressões deste "cabo de guerra" sobre o Gerente de Futebol.

3. Em teoria, o fundo só investirá em jogadores profissionais, ou seja com idade superior a 20 anos. Mas há muitas possibilidades de que a prática fuje desta teoria e o investimento "vaze" da faixa entre 20 e 24 anos. Na hora da pressão por obter retorno financeiro, o V3 não investirá também em garotos de 18 ou 19 anos que lhe ofereçam grande possibilidade de retorno? Há grandes chances de que venha a acontecer! E nesta hora, há o grave risco das divisões de base do Flamengo começarem a ser tomadas por "jogadores V3". O terceiro risco é a deterioração das regras iniciais, podendo a vir a repreasentar uma "terceirização" das divisões de base, que diminuiriam a capacidade do Flamengo obter retorno com a venda de jogadores formados no clube.

Estas relações entre a gestão da carreira de jovens, pressões plantadas na mídia esportiva e conflito de interesse entre investidores e clubes não é nem será exclusividade do Flamengo, com ou sem V3 Investimentos já ocorrem. Dois exemplos simples de forçadas de barra, com ajuda da mídia, envolvendo interesses de empresários de jogadores e "novos gênios do futebol": em 2009 um garoto das divisões de base do Flamengo chamado Bruno Paulo fez quatro jogos no profissional, nenhuma das suas atuações foram "fora de série" a ponto de justificar todo o alarde feito no fim do ano quando o contrato do garoto se encerrava. A mídia imediatamente começou a alardear, numa estratégia certamente semeada pelos que detinham os direitos econômicos do garoto, que o Flamengo estava a ponto de perder um gênio da bola. Havia uma tremenda pressão externa para que se assinasse um contrato de elevados valores para "reter" aquele menino, que repito, não tinha tido nenhuma atuação excepcional nos quatro jogos que fez. O Flamengo não cedeu, e Bruno Paulo foi para o Palmeiras, passando a ser vinculado ao Desportivo Brasil, clube de base pertencente à Traffic, a mesma que fará parte do V3. Bruno Paulo mal jogou no Palmeiras e sob nova onda de alarde na mídia, foi adquirido por um contrato curto, de seis meses, pelo Vasco, onde também mal jogou. As passagens por Palmeiras e Vasco não dá nem os quatro jogos feitos pelo Flamengo. Do Vasco, ele seguiu para o Bahia. O fato é que chegamos ao fim de 2013, e até hoje este gênio da bola não despontou.

Um outro caso que também envolve o Flamengo é Jean Chera, que chegava ao Flamengo em 2012 aos 17 anos. Ele havia sido adquirido pelo Genoa, da Itália, junto ao Santos, quando tinha 15 anos, seria um novo gênio. Jogou no sub-15 do Santos, jogos que certamente nenhum jornalista viu, treinou na Itália, certamente ser ser visto também, e virou manchete sua chegada ao Flamengo. Ele não se firmou como titular no Sub-17 da Gávea, o que gerou enorme insatisfação nos detentores de seus direitos econômicos. Jean Chera rompeu com o Flamengo e está no Atlético Paranaense, onde o gênio ainda não despontou; ainda tem idade para despontar, mas certamente nunca fez nada que justificasse todo o destaque que já teve da mídia esportiva. São dois casos que exemplificam como, na prática, estes três riscos alertados acima irão se manifestar.

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