No confronto financeiro entre as duas maiores torcidas do futebol brasileiro, o Flamengo bateu o Corinthians em 2014. O clube carioca apresentou um crescimento de 27% na receita bruta, somando R$ 347 milhões, segundo relatório obtido pelo Valor. Já o time paulista, ao contrário, teve queda de 12% na receita total, em relação ao ano anterior, atingindo a marca de R$ 258 milhões, de acordo com o balanço divulgado em fevereiro pela diretoria de finanças.
Os clubes têm até o fim de abril para apresentar os balanços do ano passado. Consultorias esportivas ouvidas pelo Valor dizem que o Flamengo será o clube que terá feito a maior amortização da dívida em 2014. Até o ano passado, o clube carioca era o mais endividado do país. Segundo a agência BDO, a dívida líquida era de quase R$ 760 milhões, entre débitos trabalhistas e fiscais.
De acordo com o balanço financeiro do Flamengo, o clube conseguiu reduzir o principal da dívida em R$ 138 milhões desde 2013. “Nós sabíamos que tínhamos que aumentar a receita, sem aumentar a despesa proporcionalmente, não cair no chavão do futebol que é repassar todo ganho de receita unilateralmente para o futebol”, disse o vice-presidente de finanças, Rodrigo Tostes. “Esse dinheiro vai para pagar a dívida”, disse. Em 2014, o clube teve uma despesa de R$ 230 milhões, uma redução de 1% na comparação com 2013.
Na avaliação de Pedro Daniel, da consultoria BDO, o clube acertou ao atacar primeiro os débitos com o governo. Para o especialista em mercado esportivo, o Flamengo está em posição confortável com a nova medida provisória, assinada pela presidente Dilma Rousseff em março, que trata da renegociação das dívidas dos clubes de futebol com a União. “Como o Flamengo já está pagando a sua dívida, ele ficará em pé de igualdade com os outros clubes, que também terão que pagar o que devem”, disse Daniel. A dívida dos clubes é estimada em torno de R$ 4 bilhões.
A atual gestão do Flamengo, liderada pelo presidente Eduardo Bandeira de Mello, conseguiu ampliar a receita obtida com marketing. “A gente passa a ter um equilíbrio nas receitas em termos de operação mais saudável do clube”, disse Tostes. Segundo o balanço, a rubrica de marketing responde por 35% da receita anual do clube. A renda obtida com a transmissão de jogos pela TV equivale a 33%.
O Corinthians, em contrapartida, aumentou a dependência financeira da TV para 43% no ano passado – em 2013, essa fatia era de 32%.
O balanço do time paulista mostra que desde 2012 os ganhos com patrocínio estão estáveis em cerca de R$ 60 milhões. Para Daniel, o Corinthians tem feito uma aposta errada, aumentando os gastos com o futebol acima da taxa de expansão das receitas. “A diretoria está muito mais preocupada com o resultado dentro do campo, do que fora”, avaliou.
O Flamengo trilhou o caminho inverso, “cortou custo e começou a trabalhar o relacionamento com as empresas, com uma imagem de clube mais transparente e com governança”, afirmou o analista.
Tostes gosta de dizer que o foco da atual gestão é “sanear as finanças: clube forte, time forte”. Neste ano, o Flamengo pode atingir a respeitável marca de arrecadar valor próximo a R$ 100 milhões em publicidade e patrocínio, segundo fontes do mercado.
A recuperação financeira do Flamengo já faz com que a diretoria sonhe com novos projetos. Um deles é arrematar a concessão do Maracanã. Hoje o estádio está nas mãos de um consórcio liderado pela construtora Odebrecht, que reclama de prejuízos na gestão da arena. O governo do Rio de Janeiro avalia um pedido de reequilíbrio econômico-financeiro feito pela concessionária e, oficialmente, rejeita uma nova licitação.
Embora a empresa negue a intenção de encerrar o contrato e de já ter um acordo para que o Flamengo jogue no estádio, o clube carioca garante que tem capacidade operacional para administrar o Maracanã “e fazer dele um sucesso financeiro”. “Se o consórcio abandonar o contrato, estamos preparados para pegar o estádio no dia seguinte”, afirmou Tostes.
O Flamengo prevê novos investimentos de olho, principalmente, na possibilidade de atrair novos parceiros. Com a redução em quase 60% da relação dívida e receita e a obtenção de certificados de pagamentos em dia, o clube quer equilibrar as receitas até 2016.
Na contramão de outros clubes brasileiros e federações de futebol, criticadas pela gestão ineficiente e pouco transparente, o mercado considera o time carioca um exemplo: “Há marcas querendo investir no Flamengo por causa da transparência e governança e isso atrai patrocinadores”, afirma Daniel, da BDO. Na semana passada o conselho Flamengo aprovou a lei de responsabilidade fiscal do clube. É um passo para institucionalizar a nova visão administrativa do clube de maior torcida do futebol brasileiro.
Fonte: Jornal Valor Econômico, 13 de abril de 2015
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