quarta-feira, 30 de março de 2016

FLAMENGO: Análise dos Resultados Financeiros de 2015

O aguardado Balanço Financeiro de 2015 do Clube de Regatas do Flamengo foi publicado em 28 de março de 2016. Como as prévias do mercado financeiro já indicavam, os resultados foram muito bons, indicando queda de endividamento, aumento expressivo de receitas e resultado operacional extremamente positivo. Pelo segundo ano consecutivo, após muitos e muitos anos, muitas décadas, o Flamengo fechou um ano com um Resultado Operacional Superavitário, pela segunda vez as contas fechavam no azul. A principal pedra de sustentação da Gestão Azul estava de fato entregue à Nação.

Para se ter uma idéia do tamanho de tal feito, buscando-se todos os Demonstrativos de Resultados do clube entre 2006 e 2013, o melhor que se tinha obtido havia sido um déficit de R$ 3,3 milhões em 2008, o segundo melhor tinha sido um déficit de R$ 13,8 milhões em 2006. Em 2014 houve um superávit de R$ 64,3 milhões, e em 2015 o resultado foi mais do que o dobro destes. As finanças rubro-negras se mantem saudáveis.
  
1) Quadro de Endividamento

A melhora na comparação entre os resultados de 2012, 2013, 2014 e 2015 é notável. No primeiro ano de gestão, houve uma redução de 12%, equivalente a menos R$ 89,3 milhões; no segundo ano de gestão uma queda de mais 8%, equivalente à redução de R$ 48,5 milhões. No terceiro ano, a dívida caiu R$ 96 milhões, redução de 17%. Na soma dos três primeiros anos de gestão, a dívida foi reduzida em 27%, ou R$ 233,6 milhões!


A representatividade da melhora da situação financeira pode ser vista num dos principais indicadores de saúde financeira analisados pelo mercado, a razão entre a dívida e a receita operacional anual, ou seja, quantos anos de receita seriam necessários para se pagar toda a dívida. Em 2012 a dívida era 3,6 vezes a receita anual, em 2013 a razão caiu para 2,4, ao fim de 2014 ficou em 1,7 e fechou 2015 em 1,42x. Um enorme salto de qualidade!


Como parte do processo de equacionamento da dívida, não são todos os indicadores que melhoraram. Para a dívida cair, foi preciso aumentar a quantidade de empréstimos junto a instituições financeiras. Como? Através do que a oposição alardeou como "troca de dívida pública por dívida privada". As fontes de financiamento para pagar os impostos devidos ao governo foram aumento de receitas e aumento de empréstimos. Primeiro ponto a ser considerado na "troca de dívidas": sonegação fiscal é crime. Portanto, pagar impostos devidos é obrigação moral e ética. Mas esta rubrica merce atenção especial daqui para frente, principalmente porque o volume de empréstimos de curto prazo está crescendo bastante. O total de empréstimos subiu 32% em 2013 frente ao ano anterior (R$ 27,1 milhões a mais), subiu 25% em 2014 (R$ 28,4 milhões a mais) e subiu mais 15% em 2015 (incremento de R$ 21,4 milhões). No acumulado dos três anos de gestão, o crescimento foi de 90%!


Os volumes de curto prazo provam que a situação financeira do Flamengo ainda não é tranquila. Em parte, é positivo que as contas a pagar de curto prazo tenham se estabilizado num patamar relativamente baixo, por hora não haverá pressão de credores. Por outro lado, o volume de empréstimos de curto prazo é muito alto, e precisa ser controlado, para garantir uma boa saúde financeira de médio a longo prazo. Estas duas rubricas precisam ser atentamente acompanhadas nos próximos exercícios.




2) Aumento Expressivo nas Receitas

A Receita Operacional líquida havia crescido 30% em 2013, equivalente a mais R$ 60,5 milhões/ano, cresceu 29% em 2014, mais R$ 75,1 milhões no ano. E em 2015 cresceu 1,6%, mais R$ 5,2 milhões/ano. Um excelente resultado, mas que dada a situação econômica grave do Brasil, será difícil repetir em 2016; ainda assim é esperado crescimento, pois o aumento das receitas de TV deverá compensar a queda dos números obtidos com patrocínio. No total dos três primeiros anos da Gestão Azul, o crescimento acumulado foi de R$ 140,9 milhões (71% acima de 2012). Excepcional desempenho!


Analisando os números brutos de receita do futebol e do resto do clube, verifica-se o expressivo crescimento de ambos. A receita do futebol cresceu R$ 62,0 milhões em 2013, R$ 62,9 milhões em 2014, e R$ 6,0 milhões em 2015, um crescimento acumulado de 74% nos três anos de gestão. As receitas do resto do clube não-futebol caíram R$ 0,9 milhões em 2013, cresceram R$ 11,1 milhões em 2014, e se mantiveram estáveis em 2015, R$ 200 mil acima do ano anterior. Um crescimento de 30% no acumulado dos três anos de gestão.



Abrindo este resultado, para entendê-lo melhor e buscar as principais fontes de financiamento, temos os resultados a seguir. Antes, porém, é preciso registrar o crescimento da receita não só em quantidade, mas em qualidade, pois as fontes foram bastante diversificadas. Uma das metas no início da gestão era ter três fatias iguais como fonte de financiamento: (1) direitos de televisionamento, (2) renda gerada pela torcida, e (3) patrocínios e material esportivo. A meta era que cada fatia representasse 33% do todo. Evoluiu-se muito nesta direção, ainda que 2015 tenha representado uma reversão da tendência, com as receitas de TV voltando a ter maior participação no bolo, tendência que deverá se repetir em 2016.

Os recursos de televisão eram 64% da receita em 2012, caíram para 46% em 2013 e para 38% em 2014. Em 2015 voltaram a subir, sendo agora 41% do total. O positivo, é que tanto as receitas com patrocínio, quanto as receitas com torcida (Bilheteria + Sócio-Torcedor) também aumentaram sua participação frente a 2014, por conta da redução de outras receitas. As receitas geradas pela camisa (material esportivo + patrocínios) eram meros 19% em 2012, passaram a 22% em 2013, a 26% em 2014 e terminaram 2015 sendo 28%, uma melhora constante! As receitas geradas pela torcida  eram só 5% em 2012, cresceram espantosamente para 27% em 2013, foram 23% em 2014, e terminaram 2015 sendo 24%. As outras receitas caíram em 2015, por causa da queda da captação de recursos via incentivos fiscais (receitas que é sempre bom relembrar, só são possíveis graças à obtenção das Certidões Negativas de Débito (CNDs)).


As receitas com direito de transmissão tiveram forte crescimento em 2015, após se manterem relativamente estáveis nos anos anteriores. Em função do crescimento nos pagamentos que serão feitos pela Rede Globo, crescerão ainda mais em 2016. Este crescimento é recomendável que seja usado para reduzir a exposição que o clube está tendo nos empréstimos de curto prazo. Parte dele será drenado pela esperada redução de arrecadação com patrocínios, e parte pelo aumento no investimento em jogadores de futebol, para aumentar a competitividade do time, e poder assim gerar mais receitas com a torcida, já que tanto o Programa de Sócio-Torcedor Nação Rubro-Negra quanto a arrecadação com bilheteria dependem diretamente de um time brigando no alto da tabela no Campeonato Brasileiro.


As receitas com bilheteria tiveram um desempenho impressionante de melhora ao longo dos três primeiros anos de Gestão Azul. O valor arrecadado foi de módicos R$ 9,5 milhões no total de 2012. Subiu para R$ 48,9 milhões em 2013 no embalo da campanha que levou ao título da Copa do Brasil. Em 2014, foi a única receita que caiu em relação ao ano anterior, sendo de R$ 40,1 milhões. Em 2015, ela voltou a subir, fechando o ano em R$ 43,7 milhões. Uma boa campanha em Campeonato Brasileiro, brigando na ponta, pode levar esta receita para cima de R$ 60 milhões.


As receitas com patrocínio também cresceram espantosamente nos três primeiros anos da Gestão Azul. Um aumento de 55% em 2013 e de 50% em 2014. Em 2015, o fechamento ficou pouco acima do ano anterior, mas com uma arrecadação expressiva de R$ 85,5 milhões. No acumulado dos três primeiros anos de gestão, representou um aumento impressionante de R$ 51,1 milhões, portanto, mais do que dobrou frente a 2012, na verdade, quase triplicou!


Por si só, já eram grandes feitos. Mas a Gestão Azul foi além, trazendo duas novas fontes de receita que o clube não tinha antes. A primeira delas é o Programa de Sócio-Torcedor Nação-Rubro-Negra, que gerou R$ 16,5 milhões a mais de receita já em 2013. E hoje proporciona aproximadamente R$ 30 milhões a mais de receita por ano. Isto é um patrocínio master da camisa como se fosse bônus.


A eficiência em geração de receitas fica ainda mais evidenciada quando é mostrada a arrecadação total com a Torcida do Flamengo, ou seja, a soma dos valores arrecadados com Bilheteria e com o Sócio-Torcedor. Os números falam por si só: em 2012 a torcida gerou R$ 9,5 milhões para os cofres do clube. Nos anos seguintes, gerou, respectivamente: R$ 65,4 MM, R$ 70,5 MM e R$ 73,3 MM.É um aumento de 600%. É um show, um espetáculo de eficiência sobre as gestões anteriores!

Sempre se escutou a máxima: "se cada torcedor do Flamengo desse R$ 1,0 de seu bolso, os problemas financeiros do Flamengo estavam resolvidos". Pois bem, em 2012, o resultado com torcida equivalia a R$ 0,25 (vinte e cinco centavos) dados por cada torcedor no ano. O número de 2015 equivale a algo como se cada torcedor estivesse dando R$ 1,85 por ano do seu bolso para o clube. É muita diferença! É a máxima de botequim escutada antes, colocada em prática!


E, por fim, se as CNDs viabilizaram um aumento nas receitas de patrocínio, geraram uma receita nova que nunca havia existido antes na história do clube. O Flamengo captou R$ 21,9 milhões em Incentivos Fiscais em 2014, entre investimentos direcionados à infraestrutura do futebol de base e recursos direcionados aos Esportes Olímpicos. E em 2015 captou R$ 17,0 milhões. Receita nova na veia, viável apenas pela correta gestão das contas do clube, graças à obtenção das CNDs.



(3) Superávit

Como resultado disto tudo, o Resultado Operacional do Clube de Regatas do Flamengo só melhora desde 2012, quando havia um déficit de R$ 10,7 milhões. Em 2013 converteu-se num superávit de R$ 26,9 milhões, ampliado para um superávit de R$ 104,6 milhões em 2014, e agora para um expressivo superávit de R$ 126,8 milhões em 2015. Daqui para frente, chega de crescer! O número já é confortável, para a sustentabilidade e continuidade do crescimento das receitas, o negócio agora é investir cada vez mais num time de futebol bastante competitivo, capaz de levar o Flamengo a ser o Melhor do Brasil e o Melhor da América do Sul.


O resultado final, excluindo-se as Despesas Financeiras (juros de dívidas), foi superavitário pela segunda vez na história do clube! Em 2012 houve um déficit de R$ 62,4 milhões. Em 2013 um déficit de R$ 19,5 milhões. Em 2014 o resultado líquido indicou um superávit de R$ 64,3 milhões. E agora este superávit mais do que dobrou frente ao ano anterior, fechando 2015 em R$ 130,5 milhões.



Complementarmente aos números e análises feitos aqui, vale também a leitura da avaliação da Evolução Trimestral destes números feita no post anterior.

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