Mais uma grande história contada pelo blog Flamengo Alternativo e cuja integra é reproduzida abaixo:
Os tempos eram difíceis para o torcedor rubro-negro naqueles fins de anos 60 e começo dos 70. O clube amargava um incômodo jejum de títulos cariocas e frequentemente cumpria campanhas medíocres recorrendo a elencos geralmente fracos. Havia porém alguns poucos motivos de orgulho para a massa admirar em campo. Um deles, provavelmente o maior, era o futebol de técnica exuberante e valentia incansável daquele paraguaio com cara e cabelo de índio. Símbolo maior de raça e categoria no meio-campo e depois, especialmente, na quarta-zaga do Flamengo em tempos pra lá de bicudos, Reyes viraria saudade no coração da torcida rubro-negra ao falecer em Assunção, capital paraguaia, vitimado por uma leucemia.
Nascido na mesma Assunção em 24 de julho de 1941, o garoto Francisco Santiago Reyes Villalba, ou apenas Reyes, começou a jogar no meio-campo do pequeno clube Presidente Hayes, de onde veio para o poderoso Olimpia em 1962. Pelo Decano, conquistou dois títulos paraguaios, entremeados com uma passagem pelo River Plate argentino, por empréstimo. Chegou também à seleção do Paraguai, pela qual disputou inclusive partidas das Eliminatórias das Copas do Mundo de 1962 e 1966.
Em 1965 cruzou o Atlântico, negociado com o Atlético de Madrid. Na Espanha, porém, não teve muita chance, pois o clube já contava com número excessivo de jogadores estrangeiros, o que limitava sua presença a alguns amistosos. Até aparecer em seu caminho o Flamengo – que sempre manteve fortes laços com o futebol guarani, por meio de jogadores e treinadores que marcaram época (Fleitas Solich, Modesto Bria, Sinforiano García, Jorge Benítez, posteriormente Gamarra).
Naquela metade de 1967, o Flamengo excursionava pela Europa e tentava se reformular depois de fazer campanha bastante fraca no Torneio Roberto Gomes Pedrosa: o técnico argentino Armando Renganeschi, campeão carioca dois anos antes, já manifestara desejo de deixar o comando do time, e os dirigentes pretendiam trazer Oto Glória, então no Atlético de Madrid, para seu lugar, além de repatriar o atacante Silva, ídolo na conquista daquele título, que não vinha tendo muita chance de jogar no Barcelona. No entanto, nenhum dos dois veio para a Gávea. O que os cartolas rubro-negros conseguiram, porém, foi o empréstimo do meia-armador paraguaio Francisco Reyes junto ao clube madrilenho para os jogos finais da excursão. Com ele, o time disputou o Troféu Ibérico, na cidade espanhola de Badajoz, perdendo para o Sporting Lisboa (1 a 2) e vencendo o Barcelona (1 a 0).
Mesmo sem ritmo de jogo, o gringo agradou e foi contratado em definitivo pelo alto valor de NCz$ 100 mil. Chegou ao clube em agosto, mas demorou mais de um mês para estrear, por problemas de documentação e uma gripe insistente que pegou logo ao chegar. Enquanto isso, aparecia muito bem nos treinos, como dizia a nota do Jornal do Brasil do dia 10 daquele mês: “O jogador paraguaio tem demonstrado excelentes qualidades nos coletivos e, sobretudo, noção para os lançamentos em profundidade. Reyes bate na bola com muita facilidade e tem boa colocação dentro do campo. Embora ainda não esteja em forma, Reyes já demonstrou que tem qualidades para resolver o problema de meio-campo do Flamengo”.
Infelizmente, os problemas do time rubro-negro não se resumiam ao meio-campo. A temporada de 1967 foi uma das piores da história do Flamengo desde a adoção do profissionalismo, em 1933. Basta dizer que pela primeira vez desde aquele ano o time encerrou com mais derrotas (31) que vitórias (22). Nem mesmo a chegada em outubro do experiente Aymoré Moreira, treinador campeão do mundo com a Seleção Brasileira no Chile em 1962, ajudou a melhorar a pífia campanha do time no Campeonato Carioca. Enquanto isso, Reyes sofria em sua adaptação com uma série de problemas físicos, a saudade da esposa e do filho recém-nascido, além do preocupante estado de saúde de seu pai, recém-infartado. Houve, porém, uma grande exibição do paraguaio no primeiro Fla-Flu do campeonato, vencido pelo Rubro-Negro por 3 a 1: Reyes marcou, deu passes, lançou em profundidade, fez o segundo gol do time pouco depois do empate tricolor e, sobretudo, demonstrou toda a elegância e o dinamismo em campo que a ele atribuíam.
O ano seguinte não começou melhor para o jogador. Logo no início do ano, uma briga com Aymoré durante um treino, por uma suprema ironia: o técnico queria que Reyes atuasse como quarto-zagueiro. O jogador protestou, jogou a camisa no chão com raiva e acabou fora do time titular, até a saída do comandante, em março. Ex-médio do clube nos anos 40, Válter Miraglia assumiu o time e utilizou o paraguaio com frequência um pouco maior (inclusive como titular), mas ainda era pouco: durante todo o ano de 1968, disputou 24 partidas, mas apenas dez desde o início.
Como curiosidade, também naquele ano atuaria pela primeira vez na posição que o consagraria tempos depois, num amistoso contra o Guará, em Brasília, no dia 18 de junho. Formou uma zaga “estrangeira” ao lado do central uruguaio Manicera. O Flamengo venceu por 2 a 0. Mas, sem ser tão aproveitado, Reyes esteve perto de rumar para Moça Bonita: em setembro o Fla chegou a propor ao Bangu a troca simples do paraguaio pelo atacante alvirrubro Mário “Tilico”, mas as negociações não avançaram.
Em 1969, suas chances de atuar ficaram ainda mais reduzidas, já que o clube contratou mais dois estrangeiros – o veterano goleiro Rogelio Domínguez (ex-Racing e Real Madrid) e o atacante Narciso Horácio Doval (ex-San Lorenzo), ambos argentinos – ficando com quatro no elenco, e podendo utilizar apenas dois por vez, conforme a legislação. Assim, Reyes entrou em campo apenas sete vezes, seis delas em amistosos, e apenas duas vezes como titular. No primeiro jogo, substituiu Garrincha durante a vitória rubro-negra por 3 a 1 sobre o Robin Hood, do Suriname, em excursão ao país vizinho. Seu último jogo pelo Flamengo no ano veio no dia 6 de abril, entrando na etapa final de uma vitória por 2 a 0 sobre o Bangu, pelo Campeonato Carioca.
Vivendo o ostracismo na Gávea, treinava entre os reservas na posição que sobrasse (ora lateral, ora ponta). Quase se transferiu para o futebol mexicano. Quase foi trocado com o Vasco. Mas acabou mesmo emprestado ao Campo Grande no fim de setembro, numa leva com outros rubro-negros menos cotados. No clube da Zona Oeste, atuou ao lado de veteranos como Jair Marinho e Hélio Cruz sob o comando do técnico Gradim, e conquistou o Torneio Otávio Pinto Guimarães, disputado entre equipes menores da Guanabara e as do antigo estado do Rio de Janeiro, pré-fusão.
Findado o empréstimo, o apoiador retornou ao Flamengo, mas era peça quase descartada no elenco rubro-negro para a temporada de 1970. Caso não houvesse nenhum clube interessado em sua contratação, seria devolvido ao Atlético de Madrid, sem honra nem glória, como mais um estrangeiro que fracassara no clube e no futebol brasileiro – ainda que, como tantos outros, subaproveitado. Sua cotação na Gávea estava tão baixa que ele acabou incluído num time misto, formado por juvenis e reservas, que excursionaria pela Ásia fazendo amistosos no Japão e na Coreia do Sul, comandado pelo preparador físico José Roberto Francalacci.
Foi sua salvação. Ainda que os resultados obtidos pelo time misto não fossem bons, a atuação de Reyes improvisado como quarto-zagueiro recebeu muitos elogios no relatório preparado por Francalacci e pelo chefe da delegação, o ex-presidente rubro-negro Hilton Santos, que chegou às mãos do técnico do time principal, Yustrich. Bem recomendado, Reyes então acabou escalado na posição contra o Olaria, pela Taça Guanabara, no lugar de Tinho, que se recuperava de lesão. De início, fez boas atuações (apesar do lance que se tornou folclórico no jogo contra o Bangu, em que o atacante alvirrubro Dé, o Aranha, atirou uma pedra de gelo na bola para toma-la do controle do paraguaio e marcar o gol). Mas com a recuperação do antigo titular, ficou alguns jogos de fora. Até retornar, na reta final da Taça (conquistada pelo Fla), para não sair mais. No jogo do título, empate em 1 a 1 com o Fluminense, lá estava ele cumprindo grande atuação.
No segundo semestre, manteria o alto nível mesmo no desempenho irregular do Flamengo no Campeonato Carioca. E no Torneio Roberto Gomes Pedrosa, no qual o time faria grande campanha, seu talento apareceria para o país inteiro. Levando toda a categoria de jogador de meio-campo no passe e no trato com a bola para a zaga, e aliando-as às recém-descobertas qualidades talhadas para a nova função, Reyes teve atuações exuberantes com a camisa 6, número reservado na época para a posição. Apresentava um perfeito senso de antecipação e cobertura. Saía jogando da defesa para o meio com classe e tranquilidade, sem nunca recorrer ao chutão. Iniciava jogadas de ataque com lançamentos perfeitos. E ainda era bom no jogo aéreo. O meia-armador habilidoso virara de fato um zagueiro completo.
O reconhecimento não tardou a chegar. Naquele ano, a recém-lançada revista Placar instituiu seu famoso troféu Bola de Prata, para premiar os melhores do Robertão em cada posição – exceto Pelé, considerado hors concours. A cada partida, os jogadores eram avaliados pela equipe da publicação e recebiam notas. O dono da melhor média final em cada uma das 11 posições era premiado. Na quarta-zaga, Reyes tinha entre seus concorrentes nomes como Luís Carlos (Corinthians), Vantuir (Atlético-MG), Leônidas (Botafogo), Roberto Dias (São Paulo), Djalma Dias (Santos), além de defensores que viviam bom momento, como o palmeirense Nélson, o tricolor Assis e o gremista Beto.
Nenhum desses, no entanto, chegou a representar sequer ameaça de tirar a Bola de Prata do paraguaio: Reyes triunfou por larga margem, com média 8,13, mais de um ponto superior ao segundo colocado (Luís Carlos, com 6,70). Para se ter uma ideia do nível de excelência do desempenho do zagueiro rubro-negro, basta dizer que apenas três jogadores, entre todos os avaliados de todos os times, superaram a nota 8 na média: Tostão (8,06), Paulo César Caju (8,12) e Reyes, o maior de todos. Infelizmente, apenas em 1973 a revista instituiria também a Bola de Ouro, troféu dado ao primeiro colocado geral. Caso ela já existisse três anos antes, a primeira teria ido parar nas mãos do paraguaio. Nas palavras da publicação: “Francisco Santiago Reyes Villalba, cara de índio, cabelos de índio, às vezes desconfiado como um índio, é o dono da área do Flamengo. Na hora do aperto êle sai com a bola dominada, começa a armar o time. Reyes é um zagueiro que não dá balão, que soma a classe de Leônidas, a valentia de Assis e o amor à camisa de Luís Carlos. Tem mais ainda, porque Reyes é um ex-volante, que sabe como atacar sempre que tem espaço à sua frente”.
E não era só Placar que tinha Reyes em alta conta: o Correio da Manhã, do Rio de Janeiro, incluiu o zagueiro entre seus destaques do Torneio Roberto Gomes Pedrosa. Uma votação feita entre jornalistas esportivos gaúchos também apontou o paraguaio como o melhor de sua posição na competição. Até mesmo Armando Nogueira, colunista do Jornal do Brasil, deixou de lado sua maldisfarçada antipatia em relação ao Flamengo para se render em elogios sempre que se referia ao jogador. Em 14 de junho de 1971, por exemplo, quando a Seleção Brasileira voltou a ser convocada após o título mundial no México, o jornalista lamentava em sua coluna a suposta escassez de merecedores de convocação para a quarta-zaga e, após apontar o corintiano Luís Carlos como talvez o mais indicado, fazia a seguinte ressalva: “Além dêle, jogando futebol em nível de scratch (seleção), naquela posição, só existe, no duro, o paraguaio Reyes, do Flamengo”. Naquele começo dos anos 70, em meio a toda a euforia pós-tricampeonato mundial do Brasil, Reyes era, sem favor algum, o melhor beque pelo lado esquerdo em atividade no país.
Dentro do próprio Flamengo o jogador já tinha seu talento plenamente reconhecido até pela velha guarda rubro-negra. Em 15 de novembro de 1971, no aniversário do clube, o Jornal do Brasil publicou uma escalação histórica ideal chamada “O Super Flamengo”, formada segundo a opinião de antigos técnicos, dirigentes e jogadores do clube. Em meio a nomes lendários como Domingos da Guia, Leônidas da Silva e Zizinho, o único a ter atuado pelo Flamengo da década de 1950 em diante presente nesse “time de todos os tempos” era Reyes.
Naquele ano, como era habitual no período, o time vivia outra fase de vacas magérrimas. Todo o bom momento vivido pela equipe no ano anterior sobre o comando rigoroso de Yustrich se esvaiu em meio às brigas do intratável treinador com astros do time, como Doval – emprestado para o Huracán argentino por ordem do técnico – e o próprio Reyes, com quem, na temporada passada, tinha vivido uma relação de cumplicidade mútua. Sabe-se lá como, Yustrich resistiu no comando do time até o fim de maio de 1971, antes de os interinos Modesto Bria (paraguaio como Reyes) e Newton Canegal prepararem o terreno para o retorno do veterano Fleitas Solich. Mas o Fla, naquele ano, era terra arrasada, com elenco esfacelado, e física e mentalmente destroçado.
Exceto Reyes, o corpo e a alma do Flamengo. Com sua raça inesgotável e seu talento exuberante, jogava pela defesa, pelo meio, pelo time. Num dia, corria para salvar gols em cima da linha e evitar derrotas depois de o adversário ter driblado goleiro e tudo, como fez nos 0 a 0 contra o Olaria e o Fluminense no Campeonato Carioca. No outro, desarmava o atacante rival em sua área, atravessava o meio-campo, driblava e lançava para um companheiro marcar um sofrido gol da vitória, como fez com Arílson na partida diante do Ceará em Fortaleza pelo Campeonato Brasileiro. Além das qualidades dentro de campo, fora dele também se destacava: um dos líderes do elenco, era bom companheiro, articulado nas entrevistas, sempre sorridente e brincalhão com todos (ganhou o apelido de “paraguaio pura simpatia”). Em meados daquele ano, o Botafogo chegou a ambicionar sua contratação. Mas nada o tiraria da Gávea naquele momento. Agora era ídolo.
Em 1972, o Flamengo se aprumaria, montando um grande elenco para enfim sair da fila no Campeonato Carioca. Com Doval de volta da Argentina, Zanata retornando após fraturar a perna, os reforços do extraclasse Paulo César Caju, do volante Zé Mário e do goleiro Renato, além da recuperação técnica de jogadores como Arílson, Caio e Rodrigues Neto, o time agora treinado por Zagallo largou muito bem na temporada, conquistando logo de saída o Torneio Internacional de Verão, contra Benfica (no qual Fio marcou o gol que o tornou o Maravilha) e Vasco; e o Torneio do Povo, no qual o rubro-negro superou Bahia, Corinthians, Atlético-MG e Internacional para arrebatar o título – com Reyes ostentando a braçadeira de capitão.
Para o paraguaio, no entanto, foi o primeiro ano marcado por problemas físicos frequentes, embora demonstrasse a velha categoria habitual. Reyes esteve sempre soberbo nos jogos de ambas as competições – na vitória sobre o Corinthians no Pacaembu por 2 a 1 pelo Torneio do Povo, o Jornal do Brasil descreveu assim sua atuação: “Excelente. Dominou todas as jogadas de ataque pelo seu lado e apoiou com muita categoria”.
Mas na metade do primeiro turno do Campeonato Carioca, durante a partida contra o Botafogo, sofreu um pisão de Roberto Miranda num lance casual que provocou uma inflamação no tendão de Aquiles do pé direito, tirando-o de ação por cerca de três meses. Assim, não participou da goleada de 5 a 2 aplicada sobre o Fluminense que deu ao Fla mais um título da Taça Guanabara – disputada pela primeira vez como uma etapa do campeonato do Rio de Janeiro. Reyes voltaria ao time apenas na reta final da competição, ajudando o Rubro-Negro a superar o Vasco de Tostão, Silva e Roberto Dinamite e o Fluminense de Gerson no triangular decisivo e levantar seu primeiro título estadual desde 1965.
Na decisão do Carioca, porém, mais problemas: Reyes teve de deixar o gramado ainda durante a partida, sofrendo um princípio de estiramento na coxa esquerda, que o deixaria de fora por pouco mais de um mês. A rotina de lesões e o calendário massacrante o permitiram disputar apenas oito das 28 partidas do Flamengo no Campeonato Brasileiro. Após a derrota para o América-MG no Mineirão, em 11 de novembro, as dores no tendão do pé direito voltaram a incomodá-lo, e ele desfalcaria o time não só pelo resto do torneio como também por todo o Carioca do ano seguinte.
Ficou ao todo nove meses e cinco dias parado, período em que chegou a engessar o pé direito quatro vezes. Era triste ficar encostado, longe da bola: mesmo sem condições, aparecia frequentemente para treinar e precisava ser dissuadido pela comissão técnica. Para piorar, a lesão levou ao aparecimento de outros problemas: em agosto de 1973, chegou a ser relacionado para a partida contra o Bonsucesso, pelo terceiro turno do Carioca, sem importância para o Fla (já classificado para a fase final), mas crucial para o ânimo de Reyes. Mas no dia do jogo apareceu no clube com a mão direita muito inchada e foi vetado. Voltou somente contra o Comercial de Campo Grande, já na rodada de abertura do Campeonato Brasileiro, no dia 26 daquele mês. O Fla venceu por 1 a 0 e Reyes teve grande atuação, compensando com técnica a falta de ritmo de jogo.
Mais uma vez, porém, as lesões impediram participação maior do paraguaio na campanha: Reyes entrou em campo 14 vezes (12 como titular), ou seja, metade das 28 partidas cumpridas pelo Fla naquele Brasileiro, e não conseguiu evitar a decepcionante eliminação precoce do clube – que não conseguiu ficar entre os 20 melhores nos turnos de classificação. Sem ele, a defesa rubro-negra ficava preocupantemente vulnerável. O zagueiro, no entanto, manteve atuações dignas até sua última partida pelo Rubro-Negro, uma vitória de 3 a 2 sobre o America, a derradeira do time na competição, em 15 de dezembro de 1973. Quatro dias depois, teria ainda a honra de atuar como quarto-zagueiro no time de estrangeiros que enfrentou a Seleção Brasileira no jogo que marcaria a despedida definitiva de Garrincha do futebol. Novamente teve atuação segura, apesar da derrota do combinado por 2 a 1.
No começo do ano seguinte, em 14 de janeiro, o Flamengo concedia o passe livre ao jogador, que tinha proposta do Olimpia e pretendia voltar a seu país e encerrar a carreira por lá. Havia a expectativa de voltar à seleção paraguaia, mas acabou não se concretizando. Antes de partir, ganhou um jogo de despedida. No dia 18, o Flamengo fez um amistoso contra o Zeljeznicar, da Iugoslávia, no Maracanã, vencendo por 3 a 1 com dois gols de Zico e um de Arílson. Reyes deu o pontapé inicial e uma volta olímpica pelo gramado, saudado pelos torcedores. Recebeu duas placas de prata e, chorando, afirmou: “Deixar o Brasil é uma coisa que sinto muito, mas saber que não vou mais usar esta camisa, ouvir os gritos desta torcida doerá muito mais ainda”. Ao contrário do que era praxe em jogos assim, quando a renda da partida fica para o homenageado, Reyes abriu mão do dinheiro, deixando-o para o clube “fazer o que quiser”.
Em outubro de 1975, uma notícia causou comoção no meio esportivo carioca: Reyes tinha sido diagnosticado com leucemia, uma espécie de câncer no sangue, e teria apenas mais dois ou três meses de vida. Trazido pelos dirigentes rubro-negros para o Rio, ficou sob tratamento no Hospital dos Servidores do Estado. Quando melhorou, voltou para Assunção, mas lá teve nova recaída, da qual não se recuperou. Faleceu na capital paraguaia na madrugada de 31 de julho de 1976, aos recém-completados 35 anos.
No dia seguinte, no Fla-Flu válido pelo terceiro turno do Campeonato Carioca daquele ano, foi respeitado um emocionante minuto de silêncio em sua memória. A torcida se despediu de quem nunca se esqueceria. Em seu país, é lembrado até hoje não só pelo Olimpia, onde marcou época, como também pelo Presidente Hayes – neste, com a honra de batizar uma das arquibancadas do estádio do pequeno clube de Assunção.
Em 1982, numa eleição promovida pela revista Placar entre jornalistas, ex-jogadores e personalidades rubro-negras, Reyes formou com Domingos da Guia a dupla de zagueiros do maior Flamengo de todos os tempos (a exemplo da mesma enquete realizada pelo Jornal do Brasil 11 anos antes). Muitos que o viram jogar ainda o colocam entre os melhores. E sentem saudade de ver aquele indiozinho sorridente, mas lutador em campo, limpar a jogada na área rubro-negra e sair com a bola colada ao pé, levando o Mengo à frente.
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