É natural que haja um sentimento de fracasso em relação aos resultados da temporada 2017. Tem que haver mesmo, porque foi feito um grande investimento, tem muita gente recebendo salário muito alto e trazendo resultado não compatível à desproporção salarial que recebe, seja dentro de campo, seja fora dele. Então há que se cobrar mesmo.
Cobrança no Brasil, no entanto, muitas vezes gera sentimentos confusos, porque quase sempre é feita sobre imediatismo, sem análises mais profundas, e sem embasamento analítico quase sempre é feita em cima da emoção e não da razão, e quase sempre com radicalismos não condizentes a uma eficiência em prol do desenvolvimento e do crescimento. Não é só no futebol que é assim.
A atitude sensacionalista da imprensa esportiva, que colhe resultados econômicos para si própria assim, estimula ainda mais uma roda de desserviço a se progredir. Que o resultado de 2017 tenha sido fraco, não quer dizer que tudo que foi feito foi errado. Olhando o desempenho e o elenco no Campeonato Brasileiro 2016 e comparando com desempenho e elenco no Brasileiro 2017, há lições.
O perfil de investimento no elenco de futebol do Flamengo em 2015 havia sido claramente de ampliar a força ofensiva. Em 2016 se tentou equilibrar o investimento na defesa. Em 2017 o objetivo era dar o retoque final no equilíbrio entre defesa e ataque. Por isto esperava-se resultados grandes. As duas maiores metas naufragaram: Libertadores e Brasileiro. O título de Campeão Carioca era pouco. Ter sido campeão da Copa do Brasil minimizaria, mas nos pênaltis o Flamengo foi vice. O título da Copa Sul-Americana significava um resultado médio. Ficar fora da Libertadores 2018 seria a catástrofe.
Buscando tirar conclusões fazendo uma análise comparativa entre os desempenhos e os elencos nos dois últimos Campeonatos Brasileiros, a seguir uma análise posição a posição, ponderando resultados, custo e não se furtando a dar sugestões.
No gol rubro-negro em 2016 estavam Alex Muralha e Paulo Victor, lembrando que o primeiro vinha então aparecendo entre os convocados para a Seleção Brasileira. Em 2017, Paulo Victor saiu, em busca de mais espaço, e foi substituído pelo garoto Thiago. As falhas individuais tanto de Alex Muralha quanto de Thiago, levaram o Flamengo a investir na contratação de Diego Alves, e o seu desempenho até aqui justifica o investimento. Com ele no gol, o Flamengo teria sido campeão da Copa do Brasil. Com os jovens César e Thiago no elenco para lhe fazer sombra, para 2018 não há razão para manter Alex Muralha no elenco.
Na lateral-direira, as opções em 2016 e em 2017 foram as mesmas: Pará e Rodinei. Não estão entre os melhores da posição no Brasil, mas estão longe de representar um ponto fraco. Por uma questão de prioridade de investimento, creio que a preocupação deva ser investir mais em outros setores, por isto não creio que deva haver ousadia aqui, nesta posição. Ambos deveriam ser mantidos para 2018.
Entre os zagueiros, só uma peça mudou dos elencos de 2016 para 2017, saiu o argentino Alejandro Donatti e entrou Rhodolfo. Troca bem feita, o desempenho do sistema defensivo melhorou, ainda mais com o aumento de produção do veterano Juan. Com Réver, Rhodolfo, Juan, Rafael Vaz e Léo Duarte, o elenco está bem servido de zagueiros. Não dispensaria sequer o contestado Rafael Vaz. Certamente daria mais oportunidades a Léo Duarte durante a temporada 2018.
Na lateral-esquerda houve uma clara perda de qualidade de 2016 para 2017. O Flamengo tinha Jorge e Chiquinho, e trocou por Miguel Trauco e Renê. Não tinha como impedir a vultuosa transferência de seu lateral titular para o Monaco, da França, vendeu bem. As opções de substituto não podem ser consideradas um erro, mas houve uma inevitável queda de produção. O peruano Trauco foi uma boa aposta, é eficiente ofensivamente, mas extremamente fraco defensivamente, e quando foi colocado a prova contra adversários mais fortes durante o Brasileiro, isto ficou ainda mais evidente. Renê é um bom reserva, e só. É preciso que o mercado apresente possibilidades de compra de Trauco. Surgindo, é correr atrás de um substituto. O gaúcho Alex Telles, hoje no Porto, em Portugal, seria meu nome favorito. Márcio Azevedo, ex-Botafogo, e hoje no Shakhtar Donetsk, outra boa opção. Manteria Renê como sombra ao lateral que chegasse.
Na cabeça de área, as três opções que haviam em 2016 foram mantidas em 2017: Cuéllar, Márcio Araújo e Willian Arão. Para reforçar o setor, foi contratado Rômulo. Foi uma aposta correta, mas que não deu certo. Trazer Ronaldo de volta do empréstimo ao Atlético Goianiense é uma boa aposta para 2018. A ventilada volta de Elias, hoje mal no Atlético Mineiro, pode ser uma aposta bastante interessante. Tentar uma aposta mais ousada, tentando contratar Renato Augusto, da Seleção Brasileira e do Beijing Guoan, da China, também seria uma boa aposta. Duas peças devem ser liberadas para viabilizar estes movimentos: Márcio Araújo e Rômulo. Cuéllar e Ronaldo na contenção, com Elias e Willian Arão nas opções de dar fluidez e chegada-surpresa, e Renato Augusto mais a frente ajudando na criação. Um meio de campo mais consistente.
Na armação das jogadas, as opções em 2016 eram Diego, Alan Patrick, Mancuello, Adryan e Éderson. Para 2017, Alan Patrick foi trocado por Éverton Ribeiro, e Adryan foi trocado por Dario Conca. Duas trocas que em teoria seriam um enorme ganho qualitativo, mas que na prática não foram. Éverton Ribeiro rendeu menos que Alan Patrick, e Dario Conca não conseguiu ficar em condições físicas após a grave reconstrução do joelho que precisou fazer. Ainda houve a promoção de Matheus Sávio da base. Mancuello não consegue convencer, e Éderson nunca justificou sua contratação. Manteria Diego e Éverton Ribeiro apenas, com Matheus Sávio dando suporte. Já os ciclos de Dario Conca, Éderson e Mancuello devem ser encerrados no Ninho do Urubu. A saída dos três viabilizaria uma grande contratação como a de Renato Augusto. Alternativas: recuar Diego para fazer esta função e contratar um meia mais avançado, para isto minhas sugestões seriam: ou o colombiano Téo Gutiérrez, hoje no Junior de Barranquinlla, que em 2014 foi o destaque do River Plate na conquista da Libertadores e eleito Melhor Jogador da América do Sul em 2014, ou o uruguaio Carlos Sáchez, hoje no Monterrey, do México, mas que também com a camisa do River Plate foi eleito Melhor Jogador da América do Sul em 2015.
Na ligação entre meio e ataque, o sempre eficiente Éverton, destaque tanto em 2016 quanto em 2017, é e tem tudo para seguir sendo uma peça fundamental.
Avaliando os números e o desempenho, que se vê é um Flamengo 2017 ligeiramente mais sólida defensivamente do que o Flamengo 2016, e muito mais frágil ofensivamente. E o diagnóstico no ataque é claro, até porque o centroavante é o mesmo, e se Paolo Guerrero fez 18 gols em 2016, superou esta marca em 2017. O problema está nos flancos de ataque. As trocas feitas pioraram ao invés de melhorar o elenco.
As opções pelos lados de campo em 2016 eram Marcelo Cirino, Fernandinho, Emerson Sheik e Gabriel. Em 2017 passaram a ser Orlando Berrio, Geuvânio, Vinícius Júnior e o mesmo Gabriel. De cara, Berrio lesionou o joelho e ficará fora até junho de 2018. Geuvânio teve atuações desastrosas. Vinícius Júnior já está vendido ao Real Madrid. Gabriel é similar a Mancuello, até poderia ser útil como uma boa opção de banco, mas parece que precisa de novos ares para mostrar as qualidades que tem. Talvez mantivesse Geuvânio, apostando que possa melhorar em 2018. Berrio lesionado, seguirá. De resto, faxina total. Agrada a opção que esteve sendo ventilada, o colombiano Yimmi Chará, do Junior Barranquilla. O equatoriano Cazares, do Atlético Mineiro, assim como Vitinho, contratação tentada sem sucesso ao fim de 2016 junto ao CSKA Moscou.
Como centroavante, em 2016 as opções eram Paolo Guerrero, Leandro Damião e Felipe Vizeu. Em 2017, foram Paolo Guerrero, Lucas Paquetá e Felipe Vizeu. A diretoria rubro-negra cometeu um grande erro ao dar ouvido às críticas e à imprensa e liberar Leandro Damião para o Internacional. Guerrero é bom jogador, tem papel tático importante, mas é muito pouco decisivo para o que custa, ele é o jogador mais caro do elenco, um dos mais caros do Brasil. O Flamengo precisa de um centroavante mais decisivo. Já mencionei aqui, que creio que seria a hora, pelo amadurecimento profissional e a nova capacidade de investimento do clube, de apostar num nome do mercado europeu. Fiz esta análise aqui. Meu favorito é o camaronês Vincent Aboubakar, do Porto. Talvez uma contratação assim só possa ser viabilizada no meio do ano. Seria preciso pensar em alguém para o 1º semestre. Se houver viabilidade financeira de fazer tudo que pedi acima e manter Paolo Guerrero (talvez valesse mantê-lo, mas dependerá dos desdobramentos do caso de doping no jogo Peru x Argentina pelas Eliminatórias).
Em resumo, eis a minha visão de elenco do Flamengo para 2018, ousadia sim mas sem loucuras financeiras:
Sairiam: Alex Muralha, Trauco, Márcio Araújo, Rômulo, Mancuello, Éderson, Dario Conca, Gabriel e Vinícius Júnior
Entrariam: Alex Telles, Elias, Renato Augusto, Aboubakar e Yimmi Chará
Alternativas: Márcio Azevedo, Téo Gutiérrez, Carlos Sánchez, Cazares, Vitinho e Bafétimbi Gomis
Elenco com 28 jogadores
Goleiros: Diego Alves, César e Thiago
Laterais: Pará e Rodinei; Alex Telles e Renê
Zagueiros: Réver, Rhodolfo, Juan, Rafael Vaz e Léo Duarte
Volantes: Cuéllar, Ronaldo, Elias e Willian Arão
Meias: Renato Augusto, Diego, Éverton Ribeiro, Éverton, Matheus Sávio e Lucas Paquetá
Atacantes: Guerrero, Aboubakar, Berrio, Yimmi Chará, Geuvânio e Felipe Vizeu
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