Lutar contra o status quo nunca é missão simples. O imbróglio de mais de 30 anos que cercam as lutas judiciais em torno da Copa União de 1987 é prova inquestionável disto. No futebol brasileiro, as Federações Estaduais elegem o presidente da CBF - Confederação Brasileira de Futebol - que por sua vez dita as regras sobre os interesses econômicos da televisão em torno da transmissão das partidas do Campeonato Brasileiro e da Seleção Brasileira, direitos de transmissão que desde o início dos Anos 1990 estão sob uma hegemonia de monopólio da Rede Globo. Este é o status quo que dá as ordens no futebol do Brasil. Mudá-lo não é tarefa simples, exige no mínimo união, coisa que os grandes clubes do país não tem. Quando tiveram, através do Clube dos 13, criaram a Copa União, que em sua segunda edição já havia sido capturada pelos interesses do status quo. A Primeira Liga foi o mais próximo que se chegou de uma nova revolução depois disto, reunindo forças de Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre e Curitiba, mas não atraindo nem Vasco e Botafogo, presos ao status quo da Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro - FERJ, nem Corinthians, Palmeiras, São Paulo e Santos, presos ao status quo que levaram Marco Polo Del Nero, ex-presidente da Federação Paulista de Futebol à presidência da CBF. O status quo quando é ameaçado, reage, nunca é diferente. A estratégia deste status quo para a temporada 2017 foi clara: ocupar todas as datas disponíveis possíveis, forçando os clubes a jogarem duas vezes por semana durante o ano inteiro, num calendário propositalmente irracional. Quem poderia questionar seriam os jogadores, expostos a uma maratona altamente ameaçadora a suas integridades físicas. Contudo, desde que o Movimento Bom Senso FC foi silenciado por este status quo vigente, a voz dos jogadores voltou a perder direito a protesto, já que sindicatos de jogadores e árbitros são reféns do clientelismo de trocas de favores e de oferta de empregos oferecidos por este status quo. O calendário "sem sossego" da temporada 2017 obrigou o Flamengo a entrar em campo 84 vezes, enquanto de 2005 a 2016 o time sempre fez entre 62 a 69 partidas por temporada (fez 62 em 2007 e 63 em 2005, em todos os outros anos fez entre 66 e 69).
A gestão do Flamengo também não podia se descuidar e cair no conto de uma eventual hegemonia absoluta de conquistas em função dos resultados fora de campo. Por muitas vezes a imprensa brasileira semeou esta fantasia. No início dos Anos 2000 versava-se que Santos e Cruzeiro dominariam o futebol brasileiro e dividiriam uma bipolaridade do cenário futebolístico nacional, porque seriam as gestões mais modernas: o Santos bi-campeão brasileiro em 2002 e 2004 e vice-campeão da Libertadores 2003, e o Cruzeiro campeão da tríplice coroa em 2003 (campão mineiro, campeão brasileiro e campeão da Copa do Brasil). Depois versou-se que a bipolaridade para sempre seria regida por São Paulo e Internacional, os únicos clubes superavitários no futebol brasileiro: o São Paulo tri-campeão brasileiro em 2006-2007-2008 e campeão da Libertadores e Mundial em 2005; e o Internacional bi-campeão da Libertadores em 2006 e 2010, campeão mundial em 2006, e campeão da Copa Sul-Americana em 2008. Dez anos depois, o São Paulo ganhou um único título entre 2009 e 2017, campeão da Copa Sul-Americana 2012, nem campeão paulista foi, e o Internacional disputou a Série B do Campeonato Brasileiro em 2017. Ao final do conto de fadas, a carruagem pode virar abóbora. Conto de fadas ao avesso do que viveu o Corinthians, que disputou e venceu a Série B em 2009, mas saltou para maior potência financeira do Brasil, sendo campeão brasileiro em 2011, e campeão da Libertadores e do Mundial em 2012. Também regozijava-se financeiramente o Fluminense, sustentado pela parceria com a Unimed, bi-campeão brasileiro em 2010 e 2012, e vice-campeão da Libertadores em 2008. No início de 2017, a imprensa versava sobre uma bipolaridade por "muito tempo" de Palmeiras e Flamengo, maiores arrecadações de receita no futebol brasileiro em 2015 e 2016. O Palmeiras contabilizou em conquistas, campeão da Copa do Brasil 2015 e campeão brasileiro 2016. Já o Flamengo, só brigou com o status quo. Precisava ser campeão, e sendo, não poderia se acomodar, precisava trabalhar intensamente para ter um futebol cada vez melhor, ano após ano.
O principal objetivo de 2017 havia naufragado, apesar de todo o investimento na qualificação do elenco: o Flamengo foi eliminado na 1ª fase da Libertadores 2017. Ter sido campeão carioca invicto era pouco perto das aspirações que todos dentro do Flamengo tinham. Ser campeão brasileiro era o sonho, dado que em 2016 o time do Flamengo fez a maior campanha, superando pela primeira vez a barreira de 70 pontos conquistado, desde que o Campeonato Brasileiro passou a ser por pontos corridos (a partir de 2003), mas terminou em 3º lugar, apesar de ter feito mais pontos do que em 2009, quando foi campeão. Mas o novo calendário colocava o Flamengo disputando três competições importantes no 2º semestre: Brasileirão, Copa do Brasil e Copa Sul-Americana, fora a disputa da Primeira Liga.
No Brasileirão 2017 o time conseguiu uma arrancada boa nas 15 primeiras rodadas, daí para frente desandou e saiu da luta pelo título, embora sempre tenha se mantido da Zona de Classificação para a Libertadores 2018. Iniciou a campanha com um empate em 1 x 1 com o Atlético Mineiro no Maracanã, depois venceu o Atlético Goianiense em Goiânia e empatou com o Atlético Paranaense em Curitiba, empatou com o Botafogo e foi derrotado pelo Sport por 2 x 0 em Recife, jogo no qual Alex Muralha falhou, custando-lhe a titularidade, que por opção do técnico Zé Ricardo passou a ser do jovem goleiro Thiago. Enquanto o time fez sua estreia já nas oitavas de final da Copa do Brasil, eliminando o Atlético Goianiense com um empate em casa, no qual usou o time reserva, e vencendo em Goiânia. No começo de campeonato, o clube fez suas apostas em reforços, visando claramente estar em condições de conquistar o título, reforçou-se com o zagueiro Rhodolfo, o meia-atacante Everton Ribeiro e o meia-atacante Geuvânio, descartando o zagueiro argentino Alejandro Donatti, o meia Adryan e o atacante Marcelo Cirino. Na sequência do Brasileiro, empate com o Avaí em Florianópolis, vitória em casa sobre a Ponte Preta, empate com o Fluminense, goleada por 5 x 1 em casa sobre a Chapecoense, e vitórias sobre o Bahia em Salvador, sobre o São Paulo no Rio de Janeiro e sobre o Vasco no Estádio de São Januário. Em grande momento, o time de Zé Ricardo ainda venceu o Santos por 2 x 0 na Ilha do Governador (Ilha do Urubu) pelo jogo de ida das quartas de final da Copa do Brasil. No Brasileirão, naquele momento, em 12 rodadas, o time tinha 23 pontos, estava em 2º lugar, porém 9 pontos atrás do líder Corinthians, que fez 32 pontos em 36 possíveis até ali. O Flamengo fazia sua 3ª melhor campanha em doze primeiras rodadas na história do Campeonato Brasileiro por pontos corridos (desde 2003) tendo um ponto a mais do que tinha na campanha de 2016 e sete pontos a mais do que tinha em 2009, quando sagrou-se campeão, mas abaixo, porém bem próximo, dos desempenhos em 2008 (26 pontos) e 2011 (24 pontos).
Ao mesmo tempo, o Flamengo fazia sua estreia na Copa Sul-Americana, pela fase dezesseis-avos de final, o adversário era o Palestino, do Chile, clube que eliminou o Flamengo na edição do ano anterior. Foi usado um time reserva, reforçado pelos jogadores contratados no início do Brasileiro que pelo regulamento não podiam atuar na Copa do Brasil. Não houve dificuldade, duas goleadas rubro-negras: 5 x 2 no chile e 5 x 0 no Rio. Já nas rodadas seguintes do Brasileirão, o time sofreu uma derrota em casa para o Grêmio, adversário direto pela ponta da tabela. Depois dois empates contra outros dois adversários diretos, contra o Cruzeiro em Belo Horizonte e contra o Palmeiras no Rio de Janeiro. O time de Zé Ricardo mantinha a mesma dificuldade de 2016: não conseguia vencer confrontos diretos contra equipes do topo da tabela. O desempenho seguiu titubeante: vitória sobre o Coritiba em casa e empate contra o líder Corinthians na capital paulista, mas com uma sequência de resultados horrorosos em sequência.
Sem segurança no desempenho de seus goleiros, tanto Thiago quanto Alex Muralha falharam muito na temporada, o clube foi mais uma vez ousado, contratando o goleiro Diego Alves, que na temporada 2016-17 do futebol europeu, assim como nas anteriores, defendia o Valencia, da Espanha, tendo se tornado o goleiro que mais defendeu pênaltis na história do Campeonato Espanhol. Mais uma porém que chegava sem poder atuar na Copa do Brasil.
No jogo de volta contra o Santos pelas quartas de final da Copa do Brasil, o time, que tinha uma vantagem de 2 x 0 construída no Rio, esteve a frente do placar por duas vezes, uma no início de cada tempo, mas tomou um sufoco enorme na Vila Belmiro, perdendo por 4 x 2 e só avançando por ter feito mais gols fora de casa. No Brasileiro, uma sequência de três derrotas: Santos fora, Vitória em casa e Atlético Mineiro fora. O mal momento levou à demissão do técnico Zé Ricardo.
Para o seu lugar o Flamengo foi se reforçar no mercado externo, atendendo a pedidos da torcida, foi contratado o técnico colombiano Reinaldo Rueda, que em 2016 com o Atlético Nacional de Medellin foi campeão da Copa Libertadores e vice-campeão da Copa Sul-Americana (perdeu o título sem jogar, pelo fatídico acidente aéreo que matou o time da Chapecoense, que acabou declarada campeã). No meio da panela de pressão, o primeiro desafio era o confronto contra o Botafogo pela semi-final da Copa do Brasil, com um empate e uma vitória, o time conseguiu avançar para a disputa do título. Pelo Campeonato Brasileiro, duas vitórias em casa sobre Atlético Goianiense e Atlético Paranaense esfriaram a pressão.
Com um time reserva, o Flamengo caiu nos pênaltis para o Paraná Clube, pelas quartas de final da Primeira Liga. Na Copa Sul-Americana, sem sustos, pelas oitavas de final o time eliminou a Chapecoense e avançou para jogar as quartas contra o Fluminense. Pela Copa do Brasil, no primeiro jogo da final, um empate por 1 x 1 com o Cruzeiro no Maracanã, com Thiago falhando feio no fim e cedendo o empate. Pelo Brasileiro, o time oscilava entre a 4ª e a 6ª posição, mantendo-se sempre dentro da zona de classificação à Libertadores, mas vendo o risco crescer cada vez mais. O time perdeu para o Botafogo, venceu o Sport em casa, empatou com o Avaí também no Rio, perdeu para a Ponte Preta em Campinas, e empatou com o Fluminense. O foco total era a decisão da Copa do Brasil, que asseguraria a vaga na Libertadores e aliviaria assim a pressão definitivamente. O Flamengo foi a Belo Horizonte e novamente empatou com o Cruzeiro, mas acabou perdendo o título nos pênaltis. Terceira decisão por pênaltis na temporada, todas com Alex Muralha no gol, e terceira vez que dava em derrota rubro-negra. Sem os reforços contratados durante a temporada, teria bastado Diego Alves na gol e o quarto título desta competição na história do clube teria ido para a Gávea. Mas em história não existe "se", o fato consumado era que o Cruzeiro era o campeão.
Seguindo a maratona de jogos, nas quartas de final da Copa Sul-Americana, o Flamengo venceu ao Fluminense por 1 x 0 no primeiro jogo. Na volta, esteve perdendo por 3 x 1, mas conseguiu uma recuperação heroica no 2º tempo e garantindo o avanço para enfrentar o Atlético Júnior de Barranquilla pela semi-final. No Brasileiro: vitórias sobre a Chapecoense fora e sobre o Bahia em casa, derrota para o São Paulo fora, empate com o Vasco, derrota para o Grêmio fora e vitória sobre o Cruzeiro em casa. O Flamengo atingia 50 pontos na 33ª rodada. E surgiu um problema a mais, Paolo Guerrero deu resultado positivo no teste antidoping após o jogo Argentina x Peru pelas Eliminatórias, e foi suspenso provisoriamente, até ser julgado em definitivo, por 30 dias. O clube ainda perdeu o colombiano Berrio, que necessitou passar por cirurgia no joelho que o levaria a um longo período de inatividade.
Foi um fim de temporada agonizante. Seguiram-se dois jogos fora de casa com duas derrotas, para Palmeiras e Coritiba. O time se mantinha em 7º lugar, posição limite para obter a classificação à Libertadores, mas via todo o pelotão de trás grudar na sua traseira. Na sequência, uma série de jogos decisivos no Rio de Janeiro. Faltando três rodadas, um duelo em casa contra o já campeão Corinthians, foi a oportunidade de aproveitar o fato do alvi-negro paulista ter festejado a sacramentação do título poucos dias antes. Mas o Flamengo entrou em campo na Ilha do Governador sob os gritos de sua torcida: "time sem-vergonha". Mas soube aproveitar as circunstâncias e bastou o 1º tempo para fazer o 3 x 0 que acabou definitivo no placar. O jogo seguinte era a partida de ida da semi-final da Sul-Americana, contra o Junior de Barranquilla no Maracanã. O ano inteiro estava em jogo... Logo aos 5 minutos, um choque com um adversário causou uma fratura na clavícula do goleiro Diego Alves. Alex Muralha entrou e logo após sua entrada, o Atlético Júnior conseguiu um gol. Apesar de jogar muito mal a partida inteira, nos 15 minutos finais o Flamengo conseguiu uma virada, vencendo por 2 x 1 e levando a vantagem do empate para o jogo da volta na Colômbia. No fim de semana seguinte, uma vitória sobre o Santos na Ilha do Governador praticamente teria confirmado matematicamente o Flamengo na Libertadores 2018 (ao menos no play-off Pré-Libertadores). O time saiu na frente logo no começo do jogo, mas logo após o gol uma falha inacreditável do goleiro Alex Muralha, que perdeu a bola ao tentar driblar o atacante santista Ricardo Oliveira deu o empate ao adversário. O Flamengo dominava totalmente o jogo, mas não conseguia marcar. No 2º tempo, uma nova falha bizarra do goleiro rubro-negro cedeu a virada ao adversário, em seu único lance de algum perigo de gol desde que havia empatado a partida. A vaga na Libertadores, pela via do Brasileiro, teria que ser disputada contra os rivais Vasco e Botafogo na última rodada.
Na Colômbia bastava um empate. Mas no 1º semestre o Flamengo venceu todos os seus jogos como mandante e perdeu todos seus jogos como visitante na 1ª fase da Copa Libertadores. Teria bastado um único empate fora de casa para evitar a eliminação precoce. De certa forma, o filme voltava a se repetir na Copa Sul-Americana. Diego Alves fraturou a clavícula, Thiago vinha se recuperando de uma fratura no pé sofrida semanas antes num treinamento. Alex Muralha vivia uma séria dificuldade emocional, após seguidas falhas, para encarar um jogo decisivo como aquele. A outra opção para o gol, César, estava havia quase dois anos sem atuar numa partida oficial. A guarda da meta era um dilema. O time rubro-negro entrou em campo na Colômbia com César no gol, seu quarto goleiro na temporada. Um sufoco tremendo no 1º tempo, sem gols. No início do 2º tempo, Felipe Vizeu marcou, colocando o Flamengo em vantagem. O sufoco continuava. Aos 43 minutos do 2º tempo, pênalti para o Atlético Júnior. César heroicamente defendeu e salvou o time. Nos acréscimos, ainda houve tempo para Felipe Vizeu ampliar, sacramentar a vitória, e colocar o Flamengo em mais uma final na temporada, desta vez contra o Independiente, da Argentina. O Grêmio sagrou-se campeão da Libertadores, e com o título gremista, o time rubro-negro precisava de três pontos para avançar diretamente à fase de grupos da Libertadores 2018. Já teria garantido a classificação se houvesse vencido o Santos em casa. Na última rodada, duelo contra o Vitória, em Salvador, equipe que lutava contra o rebaixamento, enquanto o Vasco, um ponto atrás, enfrentava a já rebaixada Ponte Preta em casa. Uma derrota do Flamengo poderia implicar até mesmo em estar fora da Libertadores.
O perfil de investimento no elenco de futebol do Flamengo em 2015 havia sido claramente de ampliar a força ofensiva. Em 2016 se tentou equilibrar o investimento na defesa. Em 2017 o objetivo era dar o retoque final no equilíbrio entre defesa e ataque. Por isto esperava-se resultados grandes. As duas maiores metas naufragaram: Libertadores e Brasileiro. O título de Campeão Carioca era pouco. Ter sido campeão da Copa do Brasil minimizaria, mas nos pênaltis o Flamengo foi vice. O título da Copa Sul-Americana significaria um resultado médio. Ficar fora da Libertadores 2018 teria sido a catástrofe absoluta.
O Flamengo terminou o 1º tempo atrás no marcador: Vitória 1 x 0. Em São Januário o Vasco vencia. Botafogo, Chapecoense e Atlético Mineiro empatavam, e se dois deles vencessem, o Flamengo estava fora da Libertadores. Aos 30 do 2º tempo, Rafael Vaz fez um heroico gol de empate. O risco de ficar fora ainda existia. Até que aos 49 minutos do 2º tempo, Diego cobrou falta e o zagueiro do Vitória levantou a mão na barreira. Pênalti! Aos 50 minutos, Diego cobrou e fez 2 x 1. Também nos acréscimos, Chapecoense e Atlético Mineiro marcaram, se tivesse perdido, nem para a Libertadores o Flamengo teria se classificado. Já a vitória, garantia o Flamengo direto na fase de grupos da Libertadores, sem depender de ser campeão da Copa Sul-Americana para garantir a vaga. Agora disputava o título um pouco menos pressionado. E um título, colocaria o Vasco, 7º colocado, direto na fase de grupos e classificaria o Atlético Mineiro, 9º colocado no Brasileiro, para a competição continental. O Flamengo terminou o Brasileiro em 6º lugar. Um fim de temporada repleto de emoções fortes. Restava um último capítulo: primeiro jogo em Avellaneda e segundo jogo no Maracanã.
Na Argentina, o time rubro-negro saiu na frente, mas não aguentou manter o resultado e tomou a virada, perdendo por 2 x 1. No Rio, uma vitória por um gol levava à prorrogação. Para ser campeão direto, a diferença necessária era de no mínimo dois gols. Na véspera e no dia do jogo o Rio de Janeiro viveu um clima de guerra. Os "hinchas" do Independiente viajaram em 10 mil à cidade, sendo que só 4 mil com ingressos assegurados. A madrugada anterior ao jogo foi de desordem à porta do hotel onde os argentinos estavam hospedados, e de brigas e trocas de agressões entre torcedores. O clima foi tenso durante toda a quarta-feira decisiva, que marcava a despedida do Flamengo da temporada 2017. Na entrada do estádio, conflitos, bombas, invasão de torcedores organizados sem ingresso, muito gás lacrimogêneo e gás de pimenta. Após o caos, uma linda festa recebeu os times em campo, diante de mais de 60 mil oficialmente presentes, mas que com as invasões não contabilizadas, deveriam ser entre 70 e 75 mil. Estádio incendiado na metade do 1ª tempo, quando Lucas Paquetá fez 1 x 0. Mas antes do intervalo, um pênalti muito duvidoso, confirmado pelo árbitro após este se certificar e consultar os árbitros de vídeo, e o placar apontava 1 x 1. No nervoso 2º tempo, a melhor chance de levar o jogo à prorrogação aconteceu aos 49 minutos, mas não foi convertida. Empate, Independiante, mais uma vez, assim como tinha sido na Supercopa de 1995, campeão sobre o Flamengo dentro do Maracanã. Vice-campeão da Copa do Brasil 2017. Vice-campeão da Copa Sul-Americana 2017. O ano do "quase-quase".
Campeão Carioca Invicto, o Flamengo teve um ano de 2017 de dominância sobre seus rivais locais do Rio de Janeiro. Foram 19 clássicos contra estes rivais e apenas 1 derrota, tendo sido 8 vitórias e 10 empates, tendo eliminado o Botafogo da Copa do Brasil e o Fluminense da Copa Sul-Americana. Contra o Botafogo foram 6 jogos, dois no Carioca, dois no Brasileiro e dois na Copa do Brasil, com 3 vitórias, 2 empates sem gols e 1 derrota (2 x 0, em setembro, dois gols do centroavante Roger). Contra o Fluminense foram 8 confrontos, quatro no Carioca, sendo dois na final, dois no Brasileiro e dois na Sul-Americana, com 3 vitórias e 5 empates. Contra o Vasco foram 5 duelos, três no Carioca e dois no Brasileiro, com 2 vitórias e 3 empates (dois deles sem gols).
É natural que haja um sentimento de fracasso em relação aos resultados da temporada 2017. Tem que haver mesmo, porque foi feito um grande investimento, havia muita gente recebendo salário muito alto e trazendo um resultado não compatível à desproporção salarial recebida. Então era natural haver cobrança. Cobrança no Brasil, no entanto, muitas vezes gera sentimentos confusos, porque quase sempre é feita sobre imediatismo, sem análises mais profundas, e sem embasamento analítico quase sempre é feita em cima da emoção e não da razão, e quase sempre com radicalismos não condizentes a uma eficiência em prol do desenvolvimento e do crescimento. Não só no futebol que é assim. A atitude sensacionalista da imprensa esportiva, que colhe resultados econômicos para si própria assim, estimula ainda mais uma roda de desserviço a se progredir. Que o resultado de 2017 tenha sido fraco, não quer dizer que tudo que foi feito foi errado. Olhando o desempenho e o elenco no Campeonato Brasileiro 2016 e comparando com desempenho e elenco no Brasileiro 2017, havia lições.
Fazendo uma análise comparativa entre os desempenhos e os elencos de 2016 e de 2017 posição a posição: no gol rubro-negro em 2016 estavam Alex Muralha e Paulo Victor, com o primeiro estando entre os convocados para a Seleção Brasileira. Em 2017, Paulo Victor saiu, em busca de mais espaço, e foi substituído pelo garoto Thiago. As falhas individuais de Muralha e Thiago, levaram a se investir na contratação de Diego Alves, e o seu desempenho justificou o investimento. Na lateral-direita, as opções em 2016 e em 2017 foram as mesmas: Pará e Rodinei. Entre os zagueiros, só uma peça mudou dos elencos de 2016 para 2017, saiu o argentino Alejandro Donatti e entrou Rhodolfo, com o elenco ficando com Réver, Rhodolfo, Juan, Rafael Vaz e Léo Duarte. Na lateral-esquerda houve uma clara perda de qualidade de 2016 para 2017, o Flamengo tinha Jorge e Chiquinho, e trocou por Miguel Trauco e Renê. Não tinha como impedir a vultuosa transferência de seu lateral titular para o Monaco, da França, vendeu bem. As opções de substituto não foram um erro, mas houve uma inevitável queda de produção. O peruano Trauco foi uma boa aposta, eficiente ofensivamente, mas extremamente fraco defensivamente. Na cabeça de área, as três opções em 2016 foram mantidas: Cuéllar, Márcio Araújo e Willian Arão. Para reforçar o setor, foi contratado Rômulo. que foi uma aposta correta, mas que não deu certo. Na armação das jogadas, as opções em 2016 eram Diego, Alan Patrick, Mancuello, Adryan e Éderson. Para 2017, Alan Patrick foi trocado por Éverton Ribeiro, e Adryan foi trocado por Dario Conca. Duas trocas que em teoria seriam um enorme ganho qualitativo, mas que na prática não foram. Éverton Ribeiro rendeu menos que Alan Patrick, e Conca não entrou em condições físicas após a grave reconstrução do joelho feita no ano anterior. Na ligação entre meio e ataque, o sempre eficiente Éverton, destaque tanto em 2016 quanto em 2017, foi uma peça fundamental. Avaliando os números e o desempenho: o Flamengo 2017 foi ligeiramente mais sólido defensivamente do que o Flamengo 2016, e muito mais frágil ofensivamente. E o diagnóstico no ataque é claro, até porque o centroavante foi o mesmo, Paolo Guerrero. O problema foram os flancos de ataque. As trocas feitas pioraram ao invés de melhorar o elenco. As opções pelos lados de campo em 2016 eram Marcelo Cirino, Fernandinho, Emerson Sheik e Gabriel. Em 2017 passaram a ser Orlando Berrio, Geuvânio, Vinícius Júnior e o mesmo Gabriel. Berrio não conseguiu ser melhor do que Cirino, Geuvânio teve atuações desastrosas, e Vinícius Júnior tinha só 17 anos. Como centroavante, em 2016 as opções eram Paolo Guerrero, Leandro Damião e Felipe Vizeu. Em 2017, foram Paolo Guerrero, Lucas Paquetá e Felipe Vizeu. O maior erro da diretoria rubro-negra foi dar ouvido às críticas e à imprensa e liberar Leandro Damião para o Internacional, perdeu uma importante peça de reposição.
Restava reconstruir o grupo para ter em 2018 enfim uma temporada vitoriosa. Diferentemente do que boa parte das opiniões pediam, uma barca de dispensa generalizada de jogadores, o que era necessário era ser cirúrgico na troca de determinadas peças. Alguns jogadores, como Alex Muralha, Mancuello, Dario Conca e Éderson pareciam já estar com o ciclo no clube com prazo vencido. Duas apostas de investimento claramente não tinham correspondido: Rômulo e Geuvânio. As peças estavam no tabuleiro e a qualidade das trocas determinariam se a temporada 2018 seria vitoriosa ou não.
O plano de metas do Flamengo era bastante ambicioso. Em seu planejamento estratégico, o clube planejava se tornar um dos 20 maiores do mundo até 2021 e ser o maior e mais vitorioso time de futebol das Américas. O Flamengo dividia suas metas em três ciclos. De 2013 a 2015 o objetivo era “recuperar e credibilidade”; de 2015 a 2017 o objetivo era voltar a ter uma “era de grandes investimentos”, preparando o clube para o objetivo para 2017 a 2021 que era construir um “ciclo virtuoso”: nestes cinco anos, o Flamengo planejava conseguir conquistar 80% (quatro de cinco) dos Cariocas, 50% dos títulos nacionais (cinco Copas do Brasil ou Campeonatos Brasileiros) e até 20% dos títulos continentais (ou uma Copa Libertadores ou uma Copa Sul-Americana). Nas finanças, o objetivo até 2020 era estabilizar as receitas em R$ 760 milhões ao ano, sendo R$ 665 milhões sem considerar o quesito venda de atletas. Superar mais um turbilhão de críticas, similares aos já vividos nos períodos finais com Vanderlei Luxemburgo e Zé Ricardo como treinadores, era o primeiro passo. Tudo passava por um planejamento mais correto e assertivo na formação de elenco para a temporada 2018.
Restava reconstruir o grupo para ter em 2018 enfim uma temporada vitoriosa. Diferentemente do que boa parte das opiniões pediam, uma barca de dispensa generalizada de jogadores, o que era necessário era ser cirúrgico na troca de determinadas peças. Alguns jogadores, como Alex Muralha, Mancuello, Dario Conca e Éderson pareciam já estar com o ciclo no clube com prazo vencido. Duas apostas de investimento claramente não tinham correspondido: Rômulo e Geuvânio. As peças estavam no tabuleiro e a qualidade das trocas determinariam se a temporada 2018 seria vitoriosa ou não.
O plano de metas do Flamengo era bastante ambicioso. Em seu planejamento estratégico, o clube planejava se tornar um dos 20 maiores do mundo até 2021 e ser o maior e mais vitorioso time de futebol das Américas. O Flamengo dividia suas metas em três ciclos. De 2013 a 2015 o objetivo era “recuperar e credibilidade”; de 2015 a 2017 o objetivo era voltar a ter uma “era de grandes investimentos”, preparando o clube para o objetivo para 2017 a 2021 que era construir um “ciclo virtuoso”: nestes cinco anos, o Flamengo planejava conseguir conquistar 80% (quatro de cinco) dos Cariocas, 50% dos títulos nacionais (cinco Copas do Brasil ou Campeonatos Brasileiros) e até 20% dos títulos continentais (ou uma Copa Libertadores ou uma Copa Sul-Americana). Nas finanças, o objetivo até 2020 era estabilizar as receitas em R$ 760 milhões ao ano, sendo R$ 665 milhões sem considerar o quesito venda de atletas. Superar mais um turbilhão de críticas, similares aos já vividos nos períodos finais com Vanderlei Luxemburgo e Zé Ricardo como treinadores, era o primeiro passo. Tudo passava por um planejamento mais correto e assertivo na formação de elenco para a temporada 2018.
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