Para entender o que o Flamengo se tornou para o futebol brasileiro, é preciso entender algumas coisas relacionadas à história do Brasil e a história do futebol carioca e brasileiro:
- o Rio de Janeiro foi a capital do Brasil de 1763 a 1960, e foi a capital do Império Português de 1808 a 1822;
- o Brasil se tornou independente em 1822, mas permaneceu vinculado à Família Real de Portugal até 1889, quando só então houve a Proclamação da República, com o país efetivamente assumindo o comando político de seu rumo desvencilhado dos portugueses;
- o Flamengo foi fundado em 1895 como um clube de remo (de regatas) na Praia do Flamengo, bairro de elite próximos aos limites geográficos até onde chegava a cidade na época; o remo era o esporte mais popular da cidade;
- o Clube de Regatas do Flamengo funcionava numa república estudantil de jovens, denominada República Paz e Amor;
- o futebol do Flamengo é formado em 1912 a partir de uma rebelião dos jogadores do Fluminense contra os dirigentes do clube; o time tricolor era campeão carioca de 1911, e os jovens campeões vão buscar abrigo no Flamengo; a recém formada equipe de futebol não tinha campo de treinamento próprio, como Fluminense, Botafogo, América e Paissandu tinham, os jogadores rubro-negros passaram a treinar no campo de terra que havia no meio da Praça do Russell;
Como disse uma vez Nélson Rodrigues: "em 1911, ninguém bebia um copo d’água sem paixão".
- o Rio de Janeiro era o epicentro de um país em formação, onde todas as elites nacionais se encontravam para definir os rumos políticos do país; uma nação de certa nascente e em busca de construir a sua própria identidade;
- o futebol, que vinha com popularidade ascendente desde sei início e já havia desbancado o remo em capacidade de atrair público, ganhou dimensão especial no país a partir da participação da Seleção Brasileira na 1ª Copa do Mundo, em 1930, a prática foi profissionalizada a partir de 1933;
- nos Anos 1930 surge o primeiro jornal especializado no ramo, o Jornal dos Sports, comandado por Mário Filho, o primogênito de um dos maiores e mais influentes donos de jornal do Rio de Janeiro daqueles tempos, Mário Rodrigues, cujo outro filho, o dramaturgo Nélson Rodrigues vem a se tornar renomado cronista; o Jornal dos Sports é um sucesso, e se torna o principal incentivador e financiador de atividades esportivas da capital;
- nos Anos 1930, uma nova tecnologia espalha as notícias por todo o país, o rádio, que leva as notícias da capital para todos os rincões do país.
A soma dos fatores contados nesta introdução é o que é necessário se saber para começar a entender a toda a história deste "Como e Por que".
Na introdução de seu livro "Histórias do Flamengo", o jornalista Mário Filho escreveu, ainda em fins dos anos 1940, que:
“Ninguém discute que o Flamengo seja o clube mais popular do Brasil. Quem é Flamengo prefere dizer o mais querido. Está certo: escolhe-se um clube como se escolhe uma mulher. Para toda a vida ou até que Deus separe. É mais difícil deixar de amar a um clube do que a uma mulher. Qualquer um de nós conhece mais bígamos ou polígamos do que torcedores que mudaram de clube. Ou que o traíram, mesmo que em pensamento. Talvez porque um clube nunca se entrega a um torcedor. O torcedor é que se entrega ao clube ou ao amor por ele. Também pode ser porque o sex appeal do clube não se desgasta com os anos. Daí que exista um amor como de lua de mel: violento, absorvente, exaustivo”
Mais uma genial de Nélson Rodrigues: "o Fla-Flu parece que foi e sempre será eterno. O Fla-Flu foi criado 40 minutos antes do nada. Deus antes de criar o mundo já havia decidido que existiria o Fla-Flu".
Cabe ressaltar que Nélson Rodrigues era torcedor fanático do Fluminense, mas sua inteligência fora da curva lhe permitia ver o que era óbvio. Com um click na imagem acima, há várias outras histórias contadas no livro A NAÇÃO. Foi Nélson quem falou, em uma de suas crônicas:
"Poucas instituições serão tão abrangentemente nacionais quanto o Flamengo - a Igreja Católica, sem dúvida, é uma delas, e, talvez o jogo do bicho. E olha que o Flamengo não promete a vida eterna e nem o enriquecimento fácil. Ao contrário, às vezes mata de enfarte e, quase sempre, só dá despesa. Mas uma coisa ele tem em comum com a religião e o bicho: a Fé! Por onde vai, o Rubro-Negro arrasta multidões fanatizadas. Há quem morra com o seu nome gravado no coração, a ponta de canivete. O Flamengo tornou-se uma força da natureza e, repito, no Flamengo venta, chove, troveja, relampeja. Cada brasileiro, vivo ou morto já foi Flamengo por um instante ou por um dia".
O artigo de Nélson Rodrigues escrito para a edição de 26 de novembro de 1955, cuja íntegra pode ser lida ao se dar um click na imagem acima, foi uma das mais belas definições já poetizadas na história sobre o Clube de Regatas do Flamengo. Isto que escrito, como já dito, por um torcedor do Fluminense. Nélson termina seu texto afirmando:
"Para qualquer um, a camisa vale tanto quanto uma gravata. Não para o Flamengo. Para o Flamengo, a camisa é tudo. Já tem acontecido várias vezes o seguinte: quando o time não dá nada, a camisa é içada, desfraldada, por invisíveis mãos. Adversários, juízes, bandeirinhas tremem então, intimidados, acovardados, batidos. Há de chegar talvez o dia em que o Flamengo não precisará de jogadores, nem de técnicos, nem de nada. Bastará a camisa, aberta no arco. E, diante do furor impotente do adversário, a camisa rubro-negra será uma bastilha inexpugnável".
Para explorar mais sobre as fantásticas histórias que envolvem este clube arrebatador de multidões, dê um click na imagem abaixo e visite o contexto de diversos livros já escritos para tentar descrever o que é o Flamengo. Entre os quais está "A NAÇÃO", cujo título pensado originalmente, em alusão à aproximação que então existia para o centenário do futebol rubro-negro era "Cem Anos de Multidão", uma inspiração em termos de título nos "Cem Anos de Solidão", de Gabriel Garcia Márquez. Mas os editores não aprovaram, e o nome mudou para "A Nação".
A TORCIDA RUBRO-NEGRA, DIFERENTE DE TUDO:
Por Nélson Rodrigues sobre o Flamengo, escrito na Revista Manchete Esportiva em artigo de 1955:
"Time e torcida completam-se numa integração definitiva. O adepto de qualquer outro clube recebe um gol, uma derrota, com uma tristeza maior ou menor, que não afeta as raízes do ser. O torcedor rubro-negro, não. Se entra um gol adversário, ele se crispa, ele arqueja, ele vidra os olhos, ele agoniza, ele sangra como um césar apunhalado".
O Flamengo já era diferente, sempre foi. Começou a ficar ainda mais após a Fundação da Charanga Rubro-Negra, por Jaime de Carvalho, que revolucionou os estádios de futebol a partir dos Anos 1940.
Revolução transformada em palavras, com a melhor descrição daquele espírito vermelho e preto nascente influenciado pela Charanga Rubro-Negra tendo ficado registrada na edição de outubro de 1945 da Revista Esporte Ilustrado, num comentário extraído da coluna de Alberto Mendes sobre a vitória de 6 a 1 do Flamengo sobre o São Cristóvão:
"Prosseguem os rubro-negros na sua campanha do tetra e com fundadas razões. Apenas julgamos que a sua torcida organizada deve adaptar melhor as suas iniciativas ao espetáculo futebolístico. Domingo, por exemplo, tivemos uma música, misto de fanfarra e batucada, de todo inoportuna, pois não se calou um único momento durante os noventa minutos, enfadando todos. Por outro lado, achamos excelente a demonstração dessa torcida, que após o prélio desfilou pelo gramado, comemorando carnavalescamente a vitória retumbante. Para o futuro, sempre música após o jogo e nunca durante o mesmo".
A frente daquela chamada inoportuna música, como mistura de batucada e fanfarra, estava Jaime de Carvalho e sua turma. Com um click em cada uma das imagens abaixo, mais destas fantásticas histórias.
Em 2011, foi Ronaldinho Gaúcho quem expressou de forma diferenciada o que representava a Grandeza do Flamengo. Grêmio, Palmeiras e Flamengo faziam a disputa mais acirrada da história do país para tentar contratar a um jogador: Ronaldinho Gaúcho, em litígio com o Milan, da Itália. No dia 6 de janeiro de 2010, em entrevista coletiva no Hotel Copacabana Palace, o jogador declarou:
"Nasci no Grêmio, o Palmeiras tem o Felipão e o Flamengo é o Flamengo"
Para Ronaldinho o laço com o Grêmio era emocional porque foi o clube que o revelou para o futebol em sua Porto Alegre natal. O Palmeiras era a admiração pelo então treinador Luiz Felipe Scolari, com quem tinha sido campeão da Copa do Mundo de 2002. E o Flamengo porque é o que é, e pronto! O Flamengo não precisava de um motivo.
O Flamengo é o único que não precisa de uma explicação. É porque é. É diferenciado. Por quê? Como e por que o Flamengo? Essa é a essência do que se busca aprofundar, investigar e desvendar. Está muito longe de ser uma ode às maravilhas que cercam o clube, mas uma busca de entendimento histórico e sociológico não só das virtudes como das "desvirtudes". Uma explicação do que é, porque é.
FRUTOS DA CONSTRUÇÃO DE UMA MARCA:
Entre clubes fundados por influência do rubro-negro do Rio de Janeiro há vários não só pelo Brasil, como por todo o mundo. Veja tais histórias acessando com um click aos links que estão em cada uma das imagens abaixo.
No Brasil, há que se contar sobre o Flamengo de Pernambuco, o do Piauí, o de Caxias do Sul, o de Alegrete, o de Porto Velho, o de Varginha, o de Guarulhos, o de Arcoverde, o da Paraíba, o de Guanambi, o de Volta Redonda, ou o time amador de São Valentim, no Rio Grande do Sul. Há que falar também daqueles que se inspiraram ou no escudo ou na camisa, como o Athlético Paranaense, o Atlético Goianiense, o Vitória, o Sport Recife, o Campinense, o Moto Clube, o Guarany de Sobral, e os paulistas Oeste e Ituano. E então há que se cruzar as fronteiras, para falar do Flamengo de Latacunga, do Equador, do Flamengo de Sucre, da Bolívia, do Flamengo de Chiclayo, do Peru, do Flamengo Futsal de Comodoro Rivadavia, da Argentina, do Flamengo de Saltillo, do México. Há que ir para a África para falar do União Flamengo-Santos, de Botswana, do Flamengo de Pefine, da Guiné Bissau, e do Flamengo de Ngagara, do Burundi. E há que ir à Europa, para falar de duas equipes na Inglaterra, o Flamengo de Birmingham e o Bromley Flamengo. E camisas rubro-negras mundo afora inspiradas na do rubro-negro carioca, que há muitas, chegando por fim à usada pela Alemanha na Copa do Mundo de 2014. Os links nas imagens abaixo contam todas estas histórias.
Ainda há invejosos que sustentam que a camisa rubro-negra usada pela Seleção da Alemanha na Copa do Mundo de 2014 não tem nada a ver com o Flamengo, que isto é lenda inventada por rubro-negros. Para isto, há que se apresentar a prova. Então, tome a prova, a peça publicitária da Adidas usada para o lançamento, fornecedora de material esportivo tanto do Flamengo quanto da Alemanha em 2014. O material está em alemão, idioma que poucos dominam no Brasil, mas há dois nomes se destacando na peça publicitária que qualquer brasileiro conhece, seja ele um rubro-negro ou não, o de um clube e o de uma cidade, para não ficar nenhum dúvida em relação a um de seus vários homônimos:
Veja mais:
A FORÇA INTERNACIONAL DA MARCA:
Para fechar, uma série de registros de celebridades internacionais devidamente próximas do vermelho e preto, seja com um manto rubro-negro, com o escudo, ou no Maracanã. Veja em cada um dos links nas imagens abaixo.
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