terça-feira, 15 de maio de 2018

Quanto custa para o Flamengo não ter seu Estádio Próprio


Complementando o assunto "Flamengo e Maracanã", compartilho a análise de Bruno De Laurentis publicada no site Mundo Rubro-Negro, que foi divulgada em 6 partes sob o título "O Preço do Maracanã", todas estas partes estão agregadas abaixo:

Nada sai barato no "New Maracanan" e É PÚBLICO E NOTÓRIO PARA TODO RUBRO-NEGRO QUE O FLAMENGO PRECISA DEFINIR SEU ESTÁDIO!!!

Dentre as opções possíveis, a que seria mais fácil: o Maracanã, o templo rubro-negro, preferido de 9 em cada 10 torcedores. No mundo ideal, nada ficaria entre o clube e “seu” estádio, pois é óbvio quem ocupou o estádio por 68 anos e tem como direito o usucapião que lhe foi usurpado pela gangue do ex-governador vascaíno em edital de cartas marcadas com os partícipes todos presos, desde os empreiteiros, passando por membros do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro, até o próprio ex-Governador.

Alguns alegam que o Maracanã atual, o New Maracanan, tem custos altos demais para ficar na mão de um só clube. E é verdade se for da maneira atual. A reforma do estádio para a Copa de 2014, na verdade uma reconstrução, foi feita para uma Copa do Mundo e para atender seleções, torcidas mistas, com acabamentos caros e custo operacional gigantesco. Por exemplo, dizem os especialistas que o quadro de energia é mal setorizado, tal qual o ar-condicionado, que dificulta operar apenas uma parte do estádio em jogos de baixa demanda. Fora que um estádio tão grande, no mundo de hoje, demanda um número de seguranças privados gigantescos por partida, fora bilheteiros, organizadores e limpeza.

Outro problema é a falta de divisão física para 90%/10% de público, que representa 97% de todos os jogos da Série A do Campeonato Brasileiro (considerando que todos os clássicos cariocas sejam no estádio), muitos lugares acabam perdidos devido à demanda do GEPE (Grupamento Especial de Policiamento em Estádios), em média 8 mil lugares que não podem ser vendidos.

Para piorar, a Lei de Gratuidade do Rio de Janeiro obriga que 10% do total de ingressos emitidos para a partida sejam oferecidos para, principalmente, menores de idade e idosos (recentemente a lei foi revista e baixaram a idade mínima para idosos de 65 para 60 anos). Mas ao mesmo tempo que o clube não pode vender esses milhares de ingressos, precisa arcar com os custos por assento de todas as gratuidades, que incluem luz, água, segurança, emissão de tíquete de gratuidade, bilheteiro, limpeza e organizadores.

Ainda por cima há as cativas do estádio, aproximadamente 5 mil lugares, que não pagam ingresso e também demandam custo de operação por assento.

Vejamos:
– Maracanã tem hoje capacidade total de 78 mil lugares
– 10% são gratuidades, ou 7.800 lugares
– 10% são visitantes: mais 7.800 lugares que não necessariamente são vendidos
– 5 mil lugares são cativas, não há arrecadação
– GEPE isola até 8 mil lugares para separar visitantes no Setor Sul

Temos então um número de assentos de 28.600 lugares que não são vendidos aos seus torcedores na maioria das vezes, variando para mais ou menos dependendo do número de visitantes e tamanho do cordão de isolamento do GEPE. E isso representa em média 35% da capacidade total do estádio.

Então, num jogo de casa cheia, o Flamengo tem à sua disposição aproximadamente 50 mil lugares (dependendo do GEPE) para vender, mas paga o custo operacional de 78 mil assentos. E no modelo atual do estádio, não fica com lucro de consumos, como bares e estacionamento.

Uma conta dificílima de fechar, e não estamos nem considerando aqui o ALUGUEL do estádio, assunto que abordaremos ainda.

Um adendo interessante: as cadeiras usadas no estádio, da empresa Giroflex, com alto custo por unidade e aprovada em também estranha licitação, não existem mais para adquirir. Toda vez que uma cadeira quebra no estádio, um buraco surge no lugar, uma vez que a empresa italiana decretou falência há 3 anos. Nada sai barato no New Maracanan.

Levando em conta tudo que permeou o processo de “fechamento” do Engenhão, onde o Flamengo jogava desde outubro de 2010 e tinha assinado contrato até dezembro do mesmo ano. Todo um tempo em que jogando num estádio que não é seu, o clube viu-se impedido de jogar, total ou parcialmente, prejudicando o ritmo de público crescente que tinha desde a temporada 2006, que houvera passado de 40 mil pessoas por jogo consistentemente.

Mas tratando apenas do Maracanã:
– Em julho de 2013 o Flamengo assinou um contrato de 6 meses com o Maracanã
– Em janeiro de 2014 renovou o contrato por 3 temporadas, encerrando em 2016

“Este acordo foi feito de maneira muito bem pensada, levando-se em conta a força do Flamengo e seu enorme potencial de geração de receitas. Até o final do ano, vamos avaliar os resultados financeiros e técnicos obtidos com os jogos no Maracanã para decidir sobre um possível futuro contrato. Tenho certeza que a torcida está feliz” – disse Eduardo Bandeira de Mello.

Vale ressaltar que Fluminense, primeiro clube a acertar com o Consórcio Maracanã em 2013, assinou por 35 anos, que render-lhe-iam segurança a longo prazo. Mas isso não significou muita coisa, uma vez que o Consórcio ingressou em 2016 contra o Flu na justiça e conseguiu passar ao clube parte dos custos de operação e um valor mínimo de aluguel, pois o clube tricolor nada pagava e ficava apenas com a arrecadação dos setores atrás de cada gol. Como não tem muita assiduidade de público, os torcedores passaram a frequentar preferencialmente atrás dos gols, o que causava muito desconforto ao Consórcio.

Posteriormente, o Botafogo também assinou com o Consórcio por 2 anos, 2013 e 2014, e renovou por outros 33 anos a partir de 2015 tal qual o Fluminense. Isso representou para o Consórcio a segurança de ter os dois clubes exigidos por licitação sob contrato e o risco de ter sua licitação cassada anulado. O Flamengo deixou de ser um problema para a Odebrecht com a assinatura alvi-negra. E assim como os outros clubes, o Botafogo pegou pelo negócio um gordo dinheiro que até hoje, ao que se sabe, não devolveu. E enquanto era aliado do Consórcio proibindo o Flamengo de jogar no Engenhão – e asfixiando o Flamengo para jogar no Maracanã – sequer foi cobrado pelo empréstimo vencido. Vale aqui dizer que Flamengo pegou também valiosa quantia com o Consórcio, porém devolveu o empréstimo e à vista, com desconto de 5 milhões de reais.

É notório que o Flamengo precisa de um estádio para jogar. E não tê-lo sempre tornou o Rubro-Negro figurinha carimbada na mão de FERJ, Governo do Estado, Consórcio e suas empreiteiras, empresários do grupo de Cabral e outros asseclas. Estão atualmente enjaulados: Eike, Cabral, Membros do TCU, Marcelo Odebrecht e companhia. Mas o Flamengo também teve suas decisões que causaram os imbróglios que que vivemos recentemente, que nos deixaram nômades e que certamente impactaram na performance do clube no período.

Em 2013, assinado com o Maracanã, o clube viu a glória. Salvou-se do rebaixamento no estádio e terminou em 11º lugar, conquistando a sua terceira Copa do Brasil com casa cheia. De posse de 8 milhões de renda só com a partida final da Copa do Brasil no estádio (mas perdendo mais de 1 milhão com custos), o clube acreditou que o modelo de negócio estava aprovado e assinou por mais 3 temporadas, até 2016.

O problema é que em 2014 o estádio fechou em março e só voltou a receber jogos de clubes após a Copa. Ainda assim, recebeu finais de turno e a grande final do Estadual – que o Flamengo levou sobre o Vasco – e mais partidas de Brasileirão, Copa do Brasil e Libertadores. Na Libertadores, nos 3 jogos em casa, o clube teve renda média de 2,3 milhões de reais por partida. No total, em 26 partidas, a bilheteria bruta foi de 33 milhões de reais.

Em 2015, o Flamengo jogou regularmente no estádio, mas a fraca temporada impactou nos resultados e não tivemos a mesma expressividade, uma vez que batemos recordes de derrotas no Brasileiro, não chegamos nem à final do Estadual e tivemos campanha pífia nas Copas.

No início de 2016, o Maracanã fechou para ser preparado para as Olimpíadas. Ficou nas mãos do Comitê Rio 2016 que abriu o famoso buraco no meio do campo para a abertura, tão noticiado pela imprensa. O Flamengo ficou sem casa e precisou rodar o país, jogando fora de casa sem o mando e também fora de casa com mando de campo. E aí o Flamengo se superou, mesmo com um interino efetivado no cargo, redescobrindo que não importa onde jogue, carrega consigo uma massa rubro-negra nacional. E acabou definindo como sua “casa” o Estádio de Cariacica, que tão bem o recebeu ao longo do ano. Acabou perdendo o campeonato por um desequilíbrio de elenco no jogo mais importante, e na reta final foi superado até pelo vice-campeão quando retornou ao Maracanã para as quatro partidas finais com desempenho abaixo da média.

Vale ressaltar que diante da inércia do Comitê Rio 2016, que não finalizara a recomposição do estádio para devolvê-lo ao Consórcio Maracanã, que por sua vez não aceitava recebê-lo no estado em que estava, o Flamengo comprometeu-se a fazer a reforma do gramado e até acelerou a instalação de cadeiras, retirada de lixo e remanejamento de materiais. O clube gastou 2 milhões de reais aproximadamente para deixar o estádio apto para jogar a reta final do Campeonato Brasileiro que disputava cabeça-a-cabeça, pagando até mesmo a conta de luz atrasada – o estádio estava sem fornecimento.

Outro ponto importante aqui, é que o Flamengo tinha o Engenhão como carta na manga. Como jogou lá entre outubro de 2010 e março de 2013 com algum sucesso, o Flamengo contava com o estádio de 45 mil lugares no caso do Maracanã endurecer negociações como um trunfo. Mas o ex-presidente alvi-negro Carlos Eduardo Pereira, o CEP, endureceu com o Flamengo dizendo ser por causa do "caso Arão", do "caso Porta dos Fundos" e por causa da morte de um torcedor de organizada botafoguense no entorno do Engenhão. Mas no plano de fundo, recebeu as luvas já citadas no texto pelo contrato de 35 anos e durante o período em que endureceu com o Flamengo, curiosamente nunca foi cobrado pela empreiteira.

Esta sucessão de agentes contra o Flamengo deixou o clube sem saída. Mais uma vez, Flamengo era o trem pagador do Estado, reformando patrimônio público e privado alheio com altos custos, nunca ressarcidos. E é por isso que é tão difícil que permitam-nos ter nosso estádio.

Em 2017, o Flamengo ficou sem contrato com o Maracanã, e passou a fechar seus jogos individualmente. A partir daí o calvário do clube, já penoso, passou a ser insuportável. Fechou um pacote de 3 jogos para a primeira fase da Libertadores, onde recolheu com sucesso três boas vitórias em casa, renda bruta de 8 milhões de reais, porém deixou entre 40 e 50% do total para trás com perdas significativas.

Dessa vez, além dos altos custos operacionais e de infra-estrutura do estádio, o clube tinha altíssimo aluguel a pagar. Esse altíssimo novo preço tornou inviável que clube jogasse no Maracanã suas partidas de Campeonato Estadual e jogos iniciais de Copas.

O Consórcio, asfixiado pelo descumprimento do contrato com o Estado do Rio em que constava na operação a construção de edifícios garagens, torre comercial e outros empreendimentos no Complexo Esportivo, viu que sua conta não fecharia e sinalizou que desejava encerrar o contrato devolvendo o Complexo.

O Governo do Estado do Rio, que quebrado não consegue sequer pagar seus servidores e acionara até o Governo Federal para salvar suas contas, não quer receber o Complexo Esportivo de volta que demanda 55 milhões de reais anuais de manutenção.

Ao mesmo tempo, diz o Governo que contratou a FGV para criar um novo edital para o Complexo do Maracanã, desta vez permitindo que um clube opere o Consórcio. O Flamengo diz ter acordo com CSM e GL Events para entrar na concorrência totalmente estruturado. Mas o que temos de real é que o Edital nunca veio a público e que o Governo do Estado teme que a devolução imediata do Complexo ao Rio venha acompanhado de uma ação indenizatória de custos milionários cobrando quem rompeu o contrato de licitação primeiro. Quem o fez foi o Governo do Estado do Rio de Janeiro, ao impedir a demolição do Museu do Índio, do Parque Aquático Julio DeLamare, da Escola Pública Friedenreich (escola pública de melhor IDEB municipal) por pressão popular, tornando a operação do Complexo deficitária. Ao mesmo tempo, a Odebrecht teme romper unilateralmente o contrato e ser acionada judicialmente pelo Governo do Estado. E fica o jogo de empurra-empurra entre todos.

Então no meio desta disputa, o Flamengo, sem contrato com o Consórcio, passou a ser o maior prejudicado. Coube a ele custear a precificação da operação do Complexo, chegando a pagar 750 mil reais de aluguel por jogo. Fazendo um cálculo simplista, se nosso clube jogasse 40 partidas no estádio por ano, deixaria no caixa do Consórcio 54% do total anual de manutenção do Complexo. O resto o Consórcio arrecadaria com shows, eventos e jogos dos outros clubes, assim, fechando seu ano fiscal sem prejuízos colossais. O prejuízo agora era único do Flamengo, coagido e sem opções.

E isso não poderia continuar assim, então o clube, que já estudava desde 2016 um estádio pequeno para alugar e chamar de seu provisoriamente, viu o “sucesso” do Botafogo com a Arena Botafogo no Estádio da Ilha do Governador, e em fevereiro de 2017 deu início à construção de seu próprio estádio provisório na Sede da Portuguesa, mas dessa vez com piso pavimentado, transposição de canal pluvial que ameaçava o terreno, Praça de Alimentação com Contêineres, arquibancadas de melhor qualidade e personalização do Estádio.

Inaugurado com atraso, chamado de Ilha do Urubu, o estádio iniciou bem, apesar da precificação alta e com muita reclamação da torcida e do acesso ruim via Linha Vermelha, que é conhecida por eventos diários de violência urbana. Porém em pouco tempo a precificação mostrou-se incorreta, uma vez que todos os fatos acima elencados tornou a Ilha um praça de desportos que tinha dificuldade de lotação, apesar de oferecer apenas 18 mil ingressos aos rubro-negros (fora o setor visitante com 2 mil lugares).

Causou estranheza o custo de operação do estádio mostrando-se semelhante ao do Maracanã, que é quase 4 vezes maior em público total, tamanho, estrutura... e quando o impacto inicial passou, acumularam-se jogos com prejuízo, com públicos entre 5 e 8 mil pessoas. O maior exemplo foi Vinicius Junior, já vendido para a Europa, fazendo seus primeiros gols todos no Setor Sul, com seus tentos viajando pelo mundo com arquibancada fechada, sem torcedores, prejudicando a imagem do clube de maior torcida do mundo.

Ainda assim, o clube teve rendimento técnico ótimo na Ilha, com altíssimo aproveitamento. Proximidade da torcida do gramado pressionou muito os adversários, apesar da acústica ruim por não haver cobertura e ser conhecido por fortes ventos. Foi nele, no Estádio dos Ventos Uivantes, que aconteceu o primeiro gol da história de goleiro com bola rolando, do rubro-negro Ubirajara. Jogamos contra Palestino e Chapecoense lá pela Sul- Americana nas fases 16 avos e oitavas de final, e também contra o Santos nas quartas da Copa do Brasil.

No Brasileiro, ótimo aproveitamento também. A sexta colocação na tabela passou pelo rendimento péssimo fora de casa, ao contrário do excelente rendimento como visitante de 2016. A Ilha foi ótima nesse aspecto técnico.

Com a troca de presidente do Botafogo e uma nova reaproximação entre os clubes, o Flamengo pensou no início de 2018 que finalmente abandonaria o Maracanã e seus preços exorbitantes, uma vez que teria a Ilha do Urubu para jogar partidas de baixa demanda como as de fases classificatórias de estadual e contra clubes de menor expressão ao longo do Brasileirão e das fases menos agudas das Copas. O Flamengo pensou até mesmo em jogar a Libertadores na Ilha do Urubu. Curiosamente, tudo deu errado. De novo.

Na Libertadores, mudou ESTE ano o regulamento que agora PROÍBE que clubes joguem com arquibancadas provisórias em competições sul-americanas. A proibição inclui Libertadores, Sul-Americana e Recopa. Além disso, o Flamengo pegou dois jogos de punição e multa de 1 milhão de reais pelos eventos da final da Copa Sul-Americana no Maracanã de 2017.

E para piorar, com uma forte chuva, as torres de iluminação do estádio Ilha do Urubu do lado Oeste caíram, uma sobre o gramado ao lado da arquibancada Sul e outra para fora ao lado da Norte. Parte da pavimentação cedeu com o encharcamento do terreno em dois pontos e o clube fechou o estádio para que fossem feitas perícias contratadas com o intuito de repassar todo esse prejuízo para o responsável pelas falhas, seja a empresa projetista, a que executou a obra ou a fornecedora de material.

Com todo o tempo que perícias e ações judiciais demandam, era confortável dizer que a Ilha não voltaria em pouco tempo. Lembro que à época, disse que não seriam menos de 3 meses. E errei, pois o Flamengo estima que será apenas depois da Copa do Mundo. Bem mais que os 3 meses previstos.

Sem dúvida, uma ação rubro-negra pesou na balança de toda essa disputa: o Terreno de Manguinhos. A opção de compra foi uma importante ferramenta para que as outras partes cedessem mais em negociações, uma vez que comprado o Terreno, não haveria como voltar atrás, e seria muito difícil tirar do Flamengo o direito de lá construir seu estádio. O clube teve o dinheiro e a opção de compra, e não se enganem que isso não tenha pesado nessa nova postura dos agentes Estado/RJ e Consórcio Maracanã.

Tenha certeza de que por isso houve a reaproximação com o Consórcio Maracanã. Treino aberto sem cobrança de aluguel, jogos com aluguel de 250 mil reais contra América, Internacional... Jogo da Libertadores contra Emelec no estádio. Curiosamente a reaproximação deu-se após o Consórcio cassar a liminar judicial do Flamengo obtida há pouco tempo que determinou piso e teto para valor do aluguel. Consórcio estava liberado para cobrar os aluguéis exorbitantes, mas curiosamente as partes entenderam-se e estão praticando o valor de 250 mil reais nestes últimos jogos, que afastou a princípio a necessidade de jogar no Engenhão – que tinha aluguel não muito diferente.

Sabemos também que cresce um movimento no clube de fazer acordo com o Consórcio, que agora sinaliza até negociar participação nos bares e retirar parte das cadeiras da arquibancada Norte Superior para aumentar o número de ingressos à venda. Além disso, o pacote seria para 20 jogos e com prazo de 3 ou 4 anos. Como o prazo excederia o mandato do atual presidente, o contrato seria levado à votação no Conselho Deliberativo do clube. Como informou Gaby Moreira, repórter ESPN, há um novo agente no negócio e essa empresa assumiria parte do aluguel e dos gastos operacionais em troca da exclusividade de exploração nos chamados “ativos de marketing” do estádio que são, em resumo, publicidade nas áreas não exploradas pela TV, como corredores, telão e nos túneis que levam o público até as arquibancadas. Mas aí entra a Ilha do Urubu de novo. O que fazer com ela?

Em 2018 já teria os tais 20 jogos. A Ilha do Urubu, lá fechada, demandando custo para reforma de pavimentação, gramado, torres e envelopamento das arquibancadas provisórias, o que fazer? O Flamengo paga um aluguel mensal de 300 mil reais mensais à Portuguesa da Ilha do Governador. Até o fim do ano, seria dinheiro no lixo. Cresce nos bastidores um movimento que, em caso de acordo com Maracanã, adiante-se o encerramento do contrato da Ilha do Governador. Se o clube mandar um jogo na Ilha do Governador em um mês, o custo do aluguel será de 300 mil reais, o que surrealmente seria maior que o aluguel de um jogo no Maracanã. No caso de dois jogos, sairia 150 mil cada jogo, enquanto no Maracanã custaria 250 mil cada jogo e você poderia arrecadar mais no total e ter mais gente no estádio. Além disso, o Maracanã com o time em boa fase permite a melhor precificação, enquanto na Ilha os ingressos baixos não pagam o custo de operação e causam prejuízo maior. No Maracanã o Flamengo perdeu apenas um jogo desde 2015, desempenho técnico quase tão bom quanto o da Ilha do Urubu.

Com todos os pontos elencados, o que você faria? Ainda mais com o furo da repórter da ESPN que talvez o clube nem mesmo precise mais arcar com alguns custos do Maracanã? Bem, como também adiantou o site Mundo Rrubro-Negro, em furo de reportagem, a atualização do Decreto de Cessão da Gávea que resolveu o impasse dos “fins comerciais”, incluiu a assinatura de uma carta de intenções que permitiriam ao clube trabalhar pelo Estádio da Gávea. Ano passado o prefeito Crivella também acenou ser favorável à medida, assinando carta de intenções semelhante. Pela primeira vez desde o meio da década passada, o Flamengo tem os poderes municipal e estadual a seu lado (aparentemente, pois em ano eleitoral nem tudo pode ser levado a ferro e fogo) para levantar seu estádio na Gávea. Acústico, como quer o prefeito, ou boutique, como preferem diretoria e Governo do Estado.

Todos esses movimentos não são em vão. Em 2013, conforme coluna de Renato Maurício Prado, e em 2015, conforme Ancelmo Góes, Odebrecht e Pezão sinalizaram positivamente para a construção de um estádio pequeno para o Flamengo, até mesmo com parceria da empreiteira. Para a empreiteira é a melhor solução, pois um pequeno estádio na Gávea inviabilizaria o clube de mandar jogos de grande apelo fora do Maracanã. Quando o clube acena com a construção de um estádio no terreno de Manguinhos, desenterram projeto de alça de ligação entre Ponte e Avenida Brasil, esquecido há uma década. Tudo sempre será feito para que o Flamengo não tenha um estádio à altura de seu porte, porque ele é o trem pagador do Rio de Janeiro.

Quando o poder público e privado acenam positivamente para o Flamengo na Gávea com estádio de 20 mil pessoas, eles sabem que perderão apenas os jogos de estadual contra pequenos (pouco lucrativos) e talvez no máximo uma dúzia de jogos ao longo da temporada contra equipes que não causam nenhuma comoção na torcida. Os jogos grandes, o grande público continuaria no Maracanã.

Então não estranhem o movimento. Talvez até nessa articulação recente de reaproximação com o Consórcio Maracanã já estejam engatilhando o estádio. São muitos fatos acontecendo concomitantemente entre os mesmos agentes de sempre, que costumam dividir o tabuleiro mas nem sempre em lados opostos.

Circula também que o Flamengo pensa e avalia desmontar a Ilha do Urubu e levar a estrutura provisória para a Gávea, mantendo a mesma estrutura. Nesse caso, deixaria de pagar o aluguel mensal à Portuguesa e teria menor custo por jogo. Um bom histórico em seus primeiros jogos em sua sede desarmaria a vizinhança/Amaleblon e provaria que o clube pode ter seu estádio em sua sede com estrutura definitiva. O metrô está lá para ajudar. O estacionamento do combalido Jockey Club espera ansioso por essa receita.

Todas as partes tem boas cartas. Infelizmente o clube é o que joga com o blefe. Blefa quando pressiona dizendo que não assina com A ou B. Blefa quando diz que vai comprar um terreno. Blefa quando alega poder manter o Maracanã inteiro sozinho como ele é hoje. Apenas jogando com inteligência poderá resolver seu problema histórico de não ter um estádio operacional para chamar de seu. Que não erremos a mão. Nosso futuro depende disso.


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