JÚLIO CÉSAR: o Salvador das Catástrofes
Carreira: 1997-2004 Flamengo; 2005 Internazionale (Itália); 2005 Chievo Verona (Itália); 2006-2012 Internazionale (Itália); 2012-2013 Queens Park Rangers (Inglaterra); 2014 Toronto (Canadá); 2014-2017 Benfica (Portugal); 2018 Flamengo
Suas defesas milagrosas impediram dias ainda piores nos "Anos de Martírio" vividos pelo Flamengo entre 2002 e 2004. Fora que sua atuação foi determinante na vitória de 3 x 1 sobre o Vasco que determinou o Tri-campeonato Carioca em 2001, ano em que ele assumiu a camisa 1 rubro-negra como titular.
Como jogador do Flamengo, ele fez 287 jogos.
Abaixo, a combinação com trechos de dois textos sobre a carreira do jogador escritos por Guilherme Abrahão para o jornal "Lance!", e por Nélson Oliveira para o site "Calciopedia":
Júlio César Soares de Espíndola nasceu no dia 3 de setembro de 1979 em Duque de Caxias, município da Baixada Fluminense, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, mas passou sua infância no bairro da Penha. Aos 9 anos, Júlio César começou a jogar futsal no Grajaú Country Club, no bairro de mesmo nome na Zona Norte do Rio, onde atuou junto ao zagueiro Juan, que viria a ser seu companheiro durante toda sua trajetória na base, no profissional do Flamengo, e na Seleção Brasileira. Quando Júlio César tinha 12 anos foi levado para as categorias de base do Flamengo, em 1992.
A estreia no profissional foi prematura. E desde o primeiro momento, via-se um jovem com uma personalidade diferenciada, e uma maturidade que não condizia com seus tão só 17 anos. A primeira partida no gol do Flamengo foi no jogo de volta da semi-final da Copa do Brasil de 1997 contra o Palmeiras no Parque Antárctica, no dia 13 de maio de 1997. O time rubro-negro havia vencido o jogo de ida no Rio, e ia vencendo novamente na casa do adversário, quando aos 33 minutos do 2º tempo Júlio César foi chamado para substituir ao veterano Zé Carlos, que havia se lesionado. Ele garantiu o 1 x 0 até o fim, e a classificação para fazer a final diante do Grêmio.
Quatro dias depois ele começou como titular num Fla-Flu, no Maracanã, válido pelo 3º turno do Carioca de 1997. O garoto não impediu a derrota por 2 a 0, mas defendeu uma penalidade. Começava para valer a história de um dos maiores goleiros de todos os tempos do futebol brasileiro. Na inter-temporada, foi titular e teve atuações seguras contra o Atlético Mineiro pelo Torneio Quadrangular de Brasília, contra Santos, São Paulo e Grêmio pela Copa dos Campeões Mundiais, e contra Vitória e Palmeiras pelo Torneio Maria Quitéria, em Salvador. Passada a pré-temporada de preparação para o Brasileirão 2017, o clube contratou ao goleiro Clemer junto à Portuguesa de Desportos, e Júlio voltou à reserva.
No ano seguinte, em 1998, ele participou de algumas partidas amistosas e de um jogo contra o Cruzeiro pelo Campeonato Brasileiro. Nestes poucos jogos, o potencial do garoto já era visto como quem daria frutos muito em breve. Em 1999 participou da campanha do título da Copa Mercosul, além do título Carioca daquela temporada, mas não entrou em campo nenhuma vez em todo o ano. Mas já havia uma quase certeza de que seria questão de tempo para ele ser o dono da camisa titular do gol rubro-negro.
No ano de 2000, o goleiro iniciou sua trajetória de titular em maio. Em uma partida contra o Bahia, pelo Brasileirão, foi titular pela primeira vez e dali em diante se firmou. Naquela altura, já era bi-campeão carioca. No Brasileiro começou a ganhar destaque e se tornar uma das principais revelações do gol no futebol brasileiro.
Iniciou a temporada 2001 como intocável e foi peça-chave na conquista do Tri-campeonato Carioca sobre o arquirrival Vasco, com uma partida inquestionável na decisão do título, além de boas atuações na conquista da Copa dos Campeões, que renderam ao Flamengo uma vaga na Copa Libertadores do ano seguinte. Se em 2001 o herói rubro-negra seria o camisa 10 sérvio Dejan Petkovic, que fez o gol do título aos 43 minutos do 2º tempo, a conquista só foi possível porque o camisa 1 rubro-negro operou alguns milagres para impedir o gol vascaíno que teria arruinado à conquista: titular e decisivo, e Campeão Carioca de 2001! Ainda naquela temporada, foi decisivo também para ajudar o Flamengo a se manter na elite do futebol brasileiro, quando o clube passou muito perto do rebaixamento à Série B.
Júlio César precisou de apenas uma temporada inteira como titular para chamar atenção do técnico da Seleção Brasileira, Luiz Felipe Scolari. Em 2002, mesmo com o Flamengo não vivendo um grande momento, o goleiro foi lembrado e chegou pela primeira vez ao maior patamar que um jogador pode alcançar no Brasil. Ele já acumulava participações com a Seleção Brasileira no Mundial Sub-17 de 1995 e no Mundial Sub-20 de 1999. Apesar das convocações já a partir de 2002, sua estreia no gol verde e amarelo aconteceu no jogo contra o Chile pela estreia na Copa América de 2004.
No fim da temporada 2004, Júlio César trocou o Flamengo pela Internazionale de Milão, da Itália, e lá não foi um imperador, tal qual Adriano, mas foi "L'Acchiappasogni" (literalmente "o apanhador de sonhos"). Porém, antes de conquistar tanto prestígio em Milão, o goleiro precisou passar alguns meses no Chievo, já que a Inter não tinha espaço para extracomunitários em janeiro de 2005. Neste curto estágio em Verona, foi relacionado apenas para três partidas, não jogou em nenhuma, e aproveitou para conhecer mais da língua e da cultura italianas.
O primeiro desafio do brasileiro na Inter foi tomar o lugar de Francesco Toldo, goleiro titular da Seleção da Itália, com quem tanto aprendeu e cresceu durante os treinamentos. As oportunidades chegaram com uma excelente preparação de pré-temporada para 2005/06, aliada à confiança do técnico Roberto Mancini e aos excelentes resultados obtidos em campo. Em pouquíssimo tempo, o homem que havia barrado ao experiente Clemer no Flamengo, deixava para trás outro goleiro gabaritado – e bem superior a seu concorrente anterior, já que desta vez a disputa de posição era contra um que era considerado um dos melhores do mundo. Logo em seu primeiro ano, Júlio conquistou três troféus com a Internazionale (incluindo a Serie A do Calcio) e foi convocado para a Copa do Mundo de 2006, mas não entrou em campo naquele Mundial.
As primeiras temporadas na Internazionale foram com a camisa 12, Júlio César só utilizou a camisa 1 nas temporadas 2010/11 e 2011/12, após a aposentadoria de Toldo. Em sete temporadas, conquistou 15 títulos: foi Penta-campeão Italiano. Não é exagero dizer que o brasileiro fez história num clube de tantos goleiros marcantes: disputou 300 partidas com a camisa nerazzurra e sofreu 273 gols – retrospecto inferior apenas ao de Walter Zenga, maior arqueiro da história da Internazionale.
Mesmo concorrendo com uma lenda como Gianluigi Buffon, goleiro da Juventus, o interista não se intimidou e ficou com o posto de goleiro menos vazado da Itália por cinco vezes seguidas – além de ter sido eleito como melhor goleiro da Serie A em 2009 e 2010. Embora tenha brilhado em cada uma das campanhas, foi em 2009/10 com a conquista da Tríplice Coroa - Campeão Italiano, Campeão da Copa da Itália e Campeão da Liga dos Campeões da Europa - que o brasileiro alcançou maior destaque – a ponto de ser considerado o "Melhor Goleiro do Mundo" naquela temporada.
Na Liga dos Campeões 2009/10, o goleiro foi um dos líderes do time de José Mourinho e foi essencial para a conquista européia. Uma de suas defesas na partida de volta das semi-finais contra o Barcelona, em chute de fora da área efetuado por Lionel Messi, tornou-se a mais emblemática de sua carreira. Não à toa, Júlio foi eleito o melhor goleiro da Europa naquela temporada e chegou à Copa do Mundo de 2010 no auge de sua forma.
Júlio César só perdeu espaço em Milão em 2012, quando a Inter passou por um processo de renovação e contratou Samir Handanovic. No final de agosto daquele ano, Júlio e o clube rescindiram o contrato de maneira amigável e o goleiro ganhou uma despedida pública no Estádio Giuseppe Meazza, com direito a muitas lágrimas e ovação da torcida. Entre os nascidos no Brasil, só Jair da Costa e Ronaldo tinham sido alvo de tanta idolatria por parte da “tifoseria” da Inter. Se no Flamengo tinham sido 284 jogos até então, na Internazionale o arqueiro participou de 300 partidas, tendo sido o clube em que mais jogou na carreira.
Depois de deixar Milão, Júlio César teve uma experiência de dois anos na Premier League, pelo Queens Park Rangers, mas embora tenha feito algumas boas atuações (disputou 27 jogos) o time acabou rebaixado à Segunda Divisão. Em seu segundo ano no clube, jogando a 2ª divisão inglesa, ele acabou relegado à reserva de Robert Green pelo técnico Harry Redknapp.
Como queria manter seu posto de titular da Seleção Brasileira – reconquistado em 2013, após ter perdido espaço no ano anterior – visando a Copa do Mundo do ano seguinte, que seria no Brasil, Júlio César acabou aceitando um contrato com o Toronto FC, da principal liga reunindo clubes dos Estados Unidos e do Canadá - Major League Soccer (MLS) -. Pelo clube canadense atuou o necessário, tendo sido apenas 7 jogos.
Com a camisa canarinho, Júlio disputou 87 jogos. Participou da disputa das Copas do Mundo de 2006, 2010 e 2014, sendo titular nas duas últimas. Pela Seleção Brasileira, Júlio César foi Campeão da Copa América de 2004 (tendo sido herói na decisão por pênaltis contra a Argentina: defendeu as duas primeiras cobranças albi-celestes e tirou a pressão dos batedores brasileiros, sendo responsável direto pela conquista), e foi Bi-Campeão da Copa das Confederações em 2009 e 2013. Mas foi vilão também. Na Copa da África do Sul, em 2010, foi considerado um dos culpados pela eliminação do Brasil diante da Holanda nas quartas de final, após se atrapalhar com Felipe Melo num dos gols do rival.
Em 2014, foi titular na campanha da Copa do Mundo disputada no Brasil, que culminou com o fatídico 7 a 1 aplicado pela Alemanha sobre a Seleção Brasileira nas semi-finais. Nas oitavas de final, havia sido o herói na disputa de pênaltis diante do Chile que classificou o Brasil para as quartas de final. Sua última partida com a camisa verde e amarela acabou sendo a derrota contra a Holanda, na decisão pelo terceiro lugar da Copa 2014.
O bom desempenho na Copa do Mundo como titular da Seleção levou o goleiro de volta ao Velho Continente e em um grande clube: o Benfica, de Portugal. No clube português chegou e virou titular, ganhando destaque novamente. O goleiro foi titular dos encarnados por dois anos e se tornou extremamente respeitado pela torcida. Em seu último ano e meio em Lisboa, apenas compôs elenco. Jogou 83 partidas entre 2014 e 2016, perdendo a vaga de titular para outro brasileiro, Éderson, que posteriormente viria a ser titular do Manchester City, na Inglaterra. Mas Júlio César foi 3 vezes Campeão Português, 2 vezes Campeão da Taça da Liga e 1 vez da Taça de Portugal.
Em 2018 regressou ao Flamengo para uma despedida. O titular da camisa 1 era Diego Alves. Júlio César atuou numa vitória por 3 a 0 sobre o Boavista no Estádio Raulino de Oliveira, em Volta Redonda, pelo 2º turno do Campeonato Carioca. Depois atuou num amistoso contra o Atlético Goianiense vencido por 3 x 1. E o Flamengo deu-lhe uma despedida no Maracanã, e num jogo oficial. Em 21 de abril de 2018, diante do América Mineiro, pela 2ª rodada do Campeonato Brasileiro, Júlio César entrou em campo pela última vez como goleiro, num Maracanã lotado, para que a torcida rubro-negra lhe desse uma sonhada despedida no seu clube do coração.
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