sábado, 6 de maio de 2023

Interpretações sobre Estádios de Futebol no Brasil a partir da pesquisa "O Maior Raio-X do Torcedor"


Artigo publicado em 24 de abril de 2023 por Marcelo Paciello da Silveira no Blog "Além das 4 Linhas - Brasil" (https://alemdas4linhasbr.blogspot.com/)


Eis a íntegra:

Na semana passada a CNN/Itatiaia/Quaest divulgaram a pesquisa "O Maior Raio-X do Torcedor" com vários dados interessantes sobre as preferências e opiniões dos torcedores brasileiros.  De acordo com o publicado, foram 6.507 entrevistas com torcedores de 16 anos ou mais em 325 cidades brasileiras.

A pesquisa abordou diferentes temas como tamanho das torcidas, futebol feminino, seleção brasileira entre outros.

Como minha especialidade é avaliar o comportamento do torcedor em termos de consumo, o objetivo deste post é focar nesta parte específica dos resultados da pesquisa: a presença de público nos estádios.

De acordo com os dados, apenas um em cada cinco torcedores costumam frequentar os estádios e o preço dos ingressos é o fator determinante. Quando se faz um recorte de faixas de renda, quem ganha acima de cinco salários mínimos costuma ter maior frequência (30%) , enquanto quem ganha entre dois a cinco salários mínimos cais para 22% e abaixo de 2 salários cai para 15%.

Muito se questiona que as novas arenas aumentaram os preços e afastaram uma grande parte das classes sociais mais pobres dos estádios mas, por outro lado, a média de público do Brasileirão dos últimos anos são as maiores da história, apenas abaixo de 1983. Considerando o Brasileirão em suas diversas fórmulas de disputa, as maiores médias se concentram nos anos 80, período considerado como a década perdida em termos sócio econômicos. 

Portanto, a questão do preço dos ingressos pode ser questionada, pois em jogos de maior apelo como decisões de títulos, jogos das fases finais da Copa Libertadores da América e Copa do Brasil demostram que, mesmo com preços mais caros do que a média dos campeonatos, praticamente todos os ingressos são vendidos.

Esses fatos levam a um outro questionamento que a pesquisa traz. De acordo com os dados 50% dos torcedores preferem competições por mata-mata, como a Copa Libertadores da América, Copa do Brasil e as finais dos Regionais e Estaduais.  O formato dos pontos corridos, como é disputado o Brasileirão, é preferido por 38% dos torcedores. A Copa do Brasil agrada mais ao torcedor do que o Brasileirão, mesmo na região Sudeste, onde 12 dos 20 clubes da Série A disputam o Brasileirão.

Outra questão que a pesquisa mostra é que a falta de segurança é o principal motivo que o torcedor não vai aos estádios (26%), seguido pela preferência de ficar em casa/bar (19%). Para quem frequenta estádios, quase um terço também não se sente seguro. A pesquisa também demonstrou que 58% acham que as Torcidas Organizadas mais atrapalham do que ajudam o futebol.

O preço do ingresso cai para o terceiro lugar neste ranking, o que contradiz o que foi dito em outra pergunta da pesquisa e reforça o meu questionamento sobre quanto verdadeiramente o preço do ingresso é o principal impeditivo para o torcedor ir ao estádio.  

Como explicar que 80% dos torcedores pretendem acompanhar o Brasileirão, 62% dos torcedores que não se consideram fanáticos têm a camisa do seu time de coração e apenas 7% vão acompanhar no estádio?

Esses dados demonstram que o torcedor brasileiro é um ávido consumidor de futebol, mas referente à frequência aos estádios, ainda há um caminho a ser percorrido, pois a taxa de ocupação do Brasileirão é de 50%

Quais realmente são os fatores mais significativos para que haja um incremente de público nos estádios, principalmente no Brasileirão?

Isolar a hipótese do preço dos ingressos e a sensação de insegurança provavelmente não se sustenta, pois em jogos de mata-mata, principalmente nas finais e nas fases decisivas das Copas demonstram o contrário, já que os estádios ficam lotados, mesmo com preços mais elevados. Tudo isso somado ao horário das partidas e a acessibilidade.

Rever a fórmula de disputa do Brasileirão, premiando o mérito como no modelo atual, mas tendo uma final ou algumas decisões em mata-mata, podem aumentar a presença de público? Não estou sugerindo uma volta ao passado anterior a 2002, mas um ajuste onde a percepção de valor de cada partida seja melhor avaliada.

Uma melhoria na percepção de insegurança podem impactar positivamente na presença de público?

Implementar a Estratégia da Ampulheta visando atrair um novo perfil de torcedor poderia mudar o atual cenário?

O debate está posto.

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