Excelente material desenvolvido por Marcelo Paciello da Silveira, aqui abaixo na integra de seu texto publicado nos sites "Sportinsider" e "Além das 4 linhas":
O site Convocados divulgou o relatório com a análise das finanças dos clubes brasileiros de 2022. Entre uma série de dados e análises relevantes, me chamou a atenção a inversão da relação que vinha sendo construída entre receitas com bilheteria e sócio torcedor. Em 2022, diferente da tendência desde 2016, as receitas com bilheteria corresponderam a 59% do total e as receitas com sócio torcedor foram responsáveis por 41%.
Para comprovar este fato, fiz uma análise dos jogos das dez primeiras rodadas do Brasileirão 2023 para verificar se este fenômeno está se mantendo na atual temporada. Utilizei como metodologia a soma de todos as descrições onde haviam os planos de sócio torcedor nos borderôs disponíveis no site da CBF.
Os dados gerais demonstram que nas dez primeiras rodadas cerca de 53% do público pagante foi proveniente dos sócios torcedores e 47% das receitas vieram das bilheterias. Esses dados demonstram que há uma divisão muito próxima entre receitas com ingressos comprados na bilheteria (física ou online) e dos sócios torcedores que vão aos jogos.
O gráfico traz uma visão mais clara da relação entre média de público pagante e porcentagem de sócio torcedor:
Com base na figura acima é possível classificar os clubes em quatro grupos:
1. Altamente dependentes dos sócios torcedores: Corinthians, Atlético Mineiro, Coritiba e Athletico.
Neste grupo vale destacar o Coritiba, onde 91% do público pagante é proveniente de sócios torcedores, seguido do seu rival Athlético, com 79%. Atlético Mineiro e Corinthians também são muito dependentes dos sócios torcedores, com 75% cada.
2. Dependentes dos sócios torcedores: Fortaleza, Bahia, Fluminense, Vasco, Cruzeiro, Internacional e Grêmio.
Esses clubes estão na faixa onde no mínimo metade do público pagante é de sócios torcedores. Dentro deste grupo Bahia (64%), Fluminense (61%), Fortaleza (59%) , Vasco e Cruzeiro (58%) são os clubes mais dependentes. Internacional (56%) e Grêmio (53%) estão levemente abaixo mas também possuem uma dependência dos sócios torcedores.
3. Moderadamente dependente dos sócios torcedores: Flamengo, Palmeiras e Botafogo.
Chama a atenção que dois dos quatro clubes com maiores médias de público pagante tenham a presença de 45% de sócios torcedores e 55% de ingressos de outras origens. Esse fenômeno demonstra que para os dois clubes os resultados podem estar atraindo para as arenas mais torcedores que não fazem parte da base de sócios.
O Maracanã é um estádio de alta capacidade e faz sentido que haja maior diversificação, já o Palmeiras, que tem sua arena gerida pela W Torre, além dos 45% de sócios torcedores, tem cerca de 23% de torcedores que pagam o plano da W Torre, que são assinaturas anuais de cadeiras. Portanto, para o Palmeiras são 32% de ingressos de outras origens e 68% entre sócios torcedores e cadeiras da W Torre.
4. Baixa dependência dos sócios torcedores: São Paulo, América Mineiro, Red Bull Bragantino, Santos, Cuiabá e Goiás.
O São Paulo tem a segunda maior média de público pagante e apenas 17% de sócios torcedores. Como o Maracanã, o Morumbi é um estádio de alta capacidade mas, diferente do Flamengo, a base de sócios torcedores é menos que da metade do Mengão. Isso significa que, para o torcedor são paulino, ser sócio torcedor não é um valor percebido como para outros clubes.
Provavelmente não é coincidência que todos os clubes dessa categoria são os que possuem menos sócios torcedores que os demais clubes da série A.
Este breve estudo visa demonstrar que de uma forma geral não é possível afirmar que a elevada média de público no Brasileirão é devido aos planos de sócio torcedor. Essa afirmação é verdadeira para 11 clubes mas, ao se analisar os clubes com as maiores médias, a realidade é mais ampla do que apenas o impacto dos planos de sócio torcedor.
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