Para começar a relatar as experiências rubro-negras jogando em ar rarefeito, vale a pena uma breve descrição geográfica para servir de parâmetro: o Cristo Redentor, no Corcovado, está a 710 metros acima do nível do mar, e os pontos mais altos da cidade do Rio de Janeiro estão na Floresta da Tijuca, sendo eles o Pico da Tijuca, a 1.022 m de altitude, e o Bico do Papagaio, a 975 m (um está ao lado do outro); no estado do Rio de Janeiro, o ponto mais alto é o Pico das Agulhas Negras, no Parque Nacional de Itatiaia, em Resende, que está a 2.792 metros acima do nível do mar, o quinto cume mais alto do Brasil; o ponto mais alto do país é o Pico da Neblina, no norte do Amazonas, que está a 2.994m de altitude. Dada a aula de geografia, vamos passar ao futebol.
Antes, porém, vale reforçar que os maiores efeitos do ar rarefeito sobre o corpo começam a ser observados acima dos 2.000 metros de altitude. A oxigenação do sangue é afetada, aumentando a frequência cardíaca, acelerando o coração e exigindo um aumento do esforço para respirar. Estes são os efeitos da biologia... Complementada a aula de geografia, com um resumo da biologia, tudo pronto para se falar de futebol.
Um exemplo inquestionável do quanto é difícil enfrentar a altitude pode ser constatado observando o histórico de confrontos da Seleção Brasileira contra a Bolívia. Na primeira década do Século XXI, o Brasil sofreu duas derrotas nas três partidas que jogou em La Paz, sofrendo mais uma vez com os efeitos da altitude. O histórico na altitude era impressionante: considerando apenas partidas da seleção principal, sem considerar equipes sub-23, o Brasil jogou a 3.650 metros de altitude seis vezes até 2009, só venceu uma única vez (2 x 1 em 1981); perdeu por 2 x 1 em 1979, por 2 x 0 em 1993, por 3 x 1 em 2001, empatou em 1 x 1 em 2005, e perdeu por 2 x 1 em 2009. A comparação de desempenho frente ao histórico de confrontos é impressionante. Até 2009, Brasil e Bolívia se enfrentaram 26 vezes, com 18 vitórias do Brasil, 3 empates, e 5 vitórias da Bolívia (a seleção olímpica jogou mais oito jogos, com 7 vitórias do Brasil e 1 empate). Ou seja, excluindo os jogos em La Paz, o confronto mostra 18 vitórias do Brasil, 2 empates e 1 vitória da Bolívia (num jogo no qual a Seleção Brasileira estava completamente desconfigurada, em 1963). É a prova do quão a altitude é um diferencial num jogo de futebol.
A história de jogos do Flamengo na altitude começou em 7 de junho de 1952, com uma goleada por 7 x 4 sobre o Combinado de Arequipa, no Peru, cidade que está a 2.335m de altitude. Foi um jogo amistoso, numa altitude relativamente baixa frente aos pontos mais altos onde se pratica futebol na América do Sul, mas pela quantidade de gols sofridos para um adversário que seguramente era tecnicamente muito inferior, pode-se imaginar que os jogadores sentiram os efeitos. A confirmação do quanto sentiram, veio cinco dias depois, quando jogando em Bogotá, a 2.640m acima do nível do mar, o time rubro-negro tomou de 4 a 1 para o time colombiano Millonarios, em novo jogo amistoso.
Em 11 de fevereiro de 1962 houve um empate na Cidade do México, a 2.250 metros, por 2 x 2 contra a Seleção do México, em mais um jogo amistoso. O Flamengo voltaria ao Estádio Azteca em junho de 1985 para dois jogos, com derrotas por 2 a 1 para o Tecos de Guadalajara e por 2 a 0 para o Cruz Azul. Em agosto de 1987, mais dois amistosos, com novamente duas derrotas: 1 a 0 para o Cruz Azul e 3 a 0 para o América do México. Jogando na Cidade do México, entre 1962 e 1987, o Flamengo disputou 5 jogos: 1 empate e 4 derrotas.
Mas coltando à América do Sul e à ordem cronológica, em 10 de abril de 1966, em mais um amistoso, o Flamengo foi ainda mais alto, jogando em Quito, no Equador, a 2.800m de altitude, e vencendo ao Emelec por 2 x 1.
O jogo seguinte na altitude foi o primeiro oficial e não amistoso, na Libertadores de 1981. O Flamengo foi a Cochabamba, na Bolívia, a 2.570m, e venceu ao Jorge Wilsterman por 2 x 1.
Na Libertadores de 1983, um time rubro-negro jogou pela primeira vez acima dos três mil metros. O time foi até La Paz, na Bolívia, e perdeu para o Bolivar por 3 x 1 a 3.640 metros acima do mar.
Depois disto, uma nova experiência em altitude só veio a acontecer em 2002, em Manizales, na Colômbia, a meros 2.150m. O time perdeu para o Once Caldas por 1 a 0. Nada comparada à experiência seguinte, vivida em 14 de fevereiro de 2007, quando a camisa rubro-negra jogou a 4.100m na cidade de Potosi, na Bolívia, obtendo um heróico empate por 2 x 2, após o time estar por dois tentos atrás no placar. Os jogadores passaram mal durante o jogo e precisaram receber atendimento com cilindros de oxigênio.
Na Libertadores de 2008, dois jogos na altitude e duas vitórias. Primeiro em Cuzco, no Peru, a 3.400m, por 3 a 0 sobre o Cienciano, depois na Cidade do México, a 2.250m, por 4 a 2 sobre o América do México. Esta foi a primeira vez na história que a camisa rubro-negra foi jogar na capital do México e conseguiu obter uma vitória!
Na Libertadores de 2012, o Flamengo voltou a enfrentar um adversário acima dos 4 mil metros de altitude, tendo ido mais uma vez a Potosi. Desta vez saiu com derrota perante o Real Potosi (1 x 2).
Dois anos depois, e mais dois confrontos pela Libertadores bem acima do nível do mar: primeiro em altitude relativamente baixa, em León, no México, que está a 1.800 metros acima do nível do mar (derrota para o time da casa, que tinha o mesmo nome da cidade,por 2 x 1), e depois em La Paz, na Bolívia, acima dos 3.600 metros, onde foi derrotado por 1 x 0 pelo Bolivar.
Na Libertadores 2018, o time rubro-negro foi a Bogotá (2.640m) onde obteve um empate sem gols diante do Independiente Santa Fé.
No ano seguinte, a estreia na principal competição continental foi em Oruro, na Bolívia, a 3.735 metros acima do mar. E o Flamengo venceu, por 1 x 0, obtendo sua segunda vitória na história acima dos 3 mil metros.
O histórico total mostra a dificuldade de se jogar na altitude:
Acima dos 2 mil metros de altitude, o Flamengo jogou 18 vezes, sendo 6 vitórias (duas em amistosos), 3 empates (um em amistoso) e 9 derrotas (cinco em amistosos).
Em partidas pela Libertadores, portanto, foram 10 vezes, com um desempenho relativamente bom perante as condições: 4 vitórias (1981, 2x em 2008 e 2019), 2 empates (2007 e 2018) e 4 derrotas (1983, 2002, 2012 e 2014).
Acima dos 3 mil metros de altitude, foram 6 vezes, com: 2 vitórias (2008 e 2019), 1 empate (2007) e 3 derrotas (1983, 2012 e 2014).
Entre 2 mil e 3 mil, portanto, em jogos válidos pela Libertadores, foram 4 partidas disputadas, tendo obtido: 2 vitórias (1981 e 2008), 1 empate (2018), e 1 derrota (2002).
Acima dos 4 mil metros de altitude, foram 2 vezes, com : 1 empate (2007) e 1 derrota (2012).
Veja também: História do Flamengo na Copa Libertadores da América
Em partidas pela Libertadores, portanto, foram 10 vezes, com um desempenho relativamente bom perante as condições: 4 vitórias (1981, 2x em 2008 e 2019), 2 empates (2007 e 2018) e 4 derrotas (1983, 2002, 2012 e 2014).
Acima dos 3 mil metros de altitude, foram 6 vezes, com: 2 vitórias (2008 e 2019), 1 empate (2007) e 3 derrotas (1983, 2012 e 2014).
Entre 2 mil e 3 mil, portanto, em jogos válidos pela Libertadores, foram 4 partidas disputadas, tendo obtido: 2 vitórias (1981 e 2008), 1 empate (2018), e 1 derrota (2002).
Acima dos 4 mil metros de altitude, foram 2 vezes, com : 1 empate (2007) e 1 derrota (2012).
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Veja também: História do Flamengo na Copa Libertadores da América
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