sexta-feira, 12 de abril de 2013

Entrevista de Alexandre Póvoa sobre o futuro dos Esportes Olímpicos do Flamengo

Excelente entrevista dada pelo Vice-Presidente de Esportes Olímpicos, Alexandre Póvoa, dada ao Garrafão Rubro-Negro:

1- Alexandre Povoa primeiramente agradecendo a sua atenção. E para abrir essa entrevista gostaria que você abordasse qual o balanço que você faz desses três primeiros meses na gestão no esporte olímpico do clube? Qual foi a realidade que você encontrou tanto no aspecto de estrutura e a questão de salários atrasados nos esportes olímpicos do clube?

Muito obrigado pelo convite. A situação encontrada era muito pior que a imaginada, tanto em termos financeiros como de organização e falta de visão de futuro. Tivemos que tomar decisões duras, mas proporcionais à situação encontrada no clube na área de esportes olímpicos: R$ 17 milhões de despesas, R$ 2,5 milhões de receitas, com um buraco de R$ 14,5 milhões/ano de déficit. Estrutura para os atletas bastante defasada, três meses de salários atrasados, situações constrangedoras de ameaças de despejo de atletas por conta de aluguéis não pagos, dívidas com fornecedores, enfim, uma situação de verdadeiro caos, um microcosmo da situação financeira do clube.

O ciclo vicioso em que o Flamengo se enterrou nos últimos anos é claro: Tanto os esportes olímpicos, como o clube social, como o futebol operando com déficit. O clube ignora o problema e se financia através de antecipação de receitas do futebol e o calote ao Governo (impostos), a atletas (atrasos de salários) e fornecedores. Penhoras nas dívidas que vão tornando o clube inviável e elevando o chamado “custo-Flamengo” (a cada contrato, todos cobram mais pela total falta de credibilidade do clube e má-fama de caloteiro; há dificuldade de se achar patrocínios (quem quer se associar a um clube com essa fama?). Dívida e déficit aumentam, realimentando o ciclo.

Definitivamente, nossa proposta é interromper esse ciclo. A primeira providência foi voltar a pagar impostos (R$ 40 milhões foram pagos nos primeiros três meses do ano). Pretendíamos recuperar a Certidão Negativa de Débitos até o final do primeiro semestre, e conseguimos alcançar esta meta antes do esperado. No dia 3 de abril conseguimos obter todas as certidões negativas de débito perante todas as esferas dos Governos Federal, Estadual e Municipal.
Mas o Flamengo é um clube poliesportivo, podemos discutir aqui o financiamento de atletas de ponta, nunca a existência da base ou escolinhas, que sempre existirão. Mesmo com os cortes, o déficit efetivo caiu de R$ 14,5 MM em 2012 para R$ 5 milhões em 2013 (número projetado).

2- O basquete do Flamengo faz uma campanha que já entrou pra história nesse Novo Basquete Brasil e no ultimo mês acabou tendo uma queda de rendimento nos jogos, acumulando derrotas seguidas, isso fruto também de um desgaste físico normal de um final de temporada. E citando outro fator que acaba de certo modo interferindo no grupo é a questão salarial. Os salários do time na gestão do Eduardo Bandeira de Mello estão em dia? A gestão passada deixou quantos meses em atraso com a atual equipe?

Começando pelos salários. No caso do basquete, encontramos a equipe com três meses de salários atrasados, alguns com quatro (aqueles atletas remanescentes da temporada passada). Hoje, os salários de nossa gestão (janeiro e fevereiro) já foram pagos e acertamos quase toda a dívida da gestão passada, restando apenas o mês de dezembro em aberto. Pretendemos pagar o mês de março conforme o vencimento (20 de abril).

Em relação ao estágio da equipe, sempre disse que era irreal o fato de estarmos 20 jogos invictos em uma Liga onde se o primeiro ou o segundo colocados jogarem mal, podem perder do terceiro até o sétimo, oitavo, sem que isso seja necessariamente uma grande surpresa. Lembrando ainda que perdemos simplesmente o Marcelinho, um dos maiores nomes do elenco, ainda no primeiro jogo.

Cabe lembrar que o time do Flamengo está em formação – está junto somente nessa temporada – e tem algumas carências no elenco sim.

Em minha opinião, o time fez uma pré-temporada espetacular, passou por cima de todo mundo quando ninguém imaginava, mas atingiu o auge antes do tempo, enquanto a escalada dos adversários foi mais contínua. É claro que, mesmo com essa explicação técnica, não podemos negar o aumento de irregularidade, que era o ponto forte desse time. Acho injusto, porém, as críticas fortes sobre o Neto, dado que ele trouxe o time até aqui com o saldo altamente positivo. Tenho confiança que já começamos o caminho da ladeira acima.
 
3- E nesse período de queda de rendimento da equipe, surgiu o boato que o basquete, hoje visto como um dos xodós da torcida rubro-negra, poderia ter uma readequação no seu orçamento na próxima temporada , podendo acabar seu grande investimento, como ocorreu em outras modalidades do clube como a natação e a ginástica. Hoje essa possibilidade do basquete entrar nessa mesma linha de readequação financeira do clube na próxima temporada é um fator possível? Ou em conversa com o marketing do clube já se vê a possibilidade do basquete ter ainda seu grande investimento com patrocinadores próprios?

O basquete é o segundo esporte do clube em termos de preferência da torcida. Já disse que não podemos tratar desiguais como iguais, não é inteligente transpor decisões semelhantes para esportes de apelo junto à torcida totalmente diferentes.  Faremos de tudo para prover as melhores condições para que estejamos sempre disputando a NBB com condições de vencer. Estamos trabalhando junto com o nosso marketing e com o marketing do clube para trazer patrocinadores para a temporada que vem.

4- Alguns torcedores assim que o clube acertou o patrocínio da Loterj para o basquete, lembraram que a empresa junto com a SKY fizeram parte da campanha vitória que o basquete teve na primeira edição do Novo Basquete Brasil. E citando a SKY, hoje é de ciência de todos que o seu presidente é o homem forte do marketing do Flamengo, você acha possível que a empresa possa voltar em breve a ajudar o clube nas suas modalidades olímpicas ou esse retorno da SKY poderia ser visto como “conflito de interesses” pelas correntes politicas que rodeiam o clube?

Acho legítimo, as pessoas se preocuparem com o chamado conflito de interesses, mas faço uma pergunta: Quem você prefere para dirigir o seu clube ? Pessoas que não têm absolutamente nenhum sucesso em suas vidas fora dos muros da Gávea (e, portanto, sem nenhum conflito de interesses) ou pessoas de vida profissional reconhecida, sejam em suas empresas ou em ocupações autônomas (aí trazendo o tal conflito de interesses em situações específicas)? . Parece que os sócios do Flamengo deram a sua opinião sobre esse assunto nas três eleições que tivemos no Flamengo nos últimos meses.

O combinado entre nós da diretoria é que qualquer assunto que tenha cheiro de conflito de interesses não será discutido pela pessoa em questão. Isso tem sido religiosamente cumprido. Acho uma pena algumas críticas e julgamentos, mas respeito o pensamento de cada um. O nosso sonho de trazer os rubro-negros mais competentes em suas vidas profissionais para dentro do Flamengo para nos ajudar não será interrompido. Queremos o melhor para o clube, tudo pelo Flamengo, nada do Flamengo.

5- Clubes como o Pinheiros e o Minas Tênis Clube acabam por investir pesado nos seus esportes olímpicos graças a lei de incentivo fiscal. O Flamengo vê num curto prazo sendo beneficiado por essa lei para a manutenção dos seus esportes olímpicos e o investimento no esporte de alto rendimento?

Passamos anos de trevas sem pagar impostos e fazendo apropriação indébita de recursos que não nos pertenciam. Em três meses, pagamos R$ 40 milhões em impostos e conseguimos todas as certidões negativas de débito para finalmente estar em totais condições legais para reivindicar recursos de qualquer Lei de Incentivo. Estamos trabalhando duro em seis projetos e posso garantir que logo entraremos com os seis pedidos no Ministério do Esporte em Brasília e nos órgãos competentes no RJ (Lei do ICMS).

A partir da aprovação, que pode demorar alguns meses por conta da burocracia, já buscaremos empresas para patrocinar as propostas. Faremos também uma grande campanha com pessoas físicas que estejam dispostas a trocar seus impostos de renda por participação nesses empreendimentos. Nossa previsão é que no início de 2014 já estejamos com os projetos aprovados e com os recursos começando a entrar para recomeçarmos uma bela história nos esportes olímpicos rubro-negros.

6- Voltando um pouco na história do basquete do Flamengo, em uma das ultimas competições organizadas ainda pela CBB, o clube na época não tinha condições financeiras de arcar com um plantel altamente qualificado e preferiu apostar num projeto muito bem comandado pelo técnico Emanuel Bonfim que acabou na época sendo vice campeão brasileiro tendo jogadores no elenco como Leandro Salgueiro, Duda, Charles, Maozao, entre outros.  Povoa você acredita que o basquete hoje  pelo apelo que tem junto ao torcedor teria espaço para um time nos mesmos moldes como esse ou para manter essa cultura da torcida junto ao esporte é necessário a manutenção de um grande nome do basquete como referencia em quadra como ocorreu nas ultimas temporadas, com Marcelinho e Marquinhos?

Os tempos eram outros. Gosto muito do Emanuel Bonfim, como atleta foi um dos maiores técnicos que eu tive e que já passaram pelo Flamengo. Todas as homenagens a ele, mas o tempo e o investimento necessários para se disputar um campeonato brasileiro com condições de vencer eram outros naquela época.

Independente de nome de atleta, o Flamengo sempre que entra em uma competição de ponta deve ter um time com totais condições de disputar os primeiros lugares. A torcida exige isso. O basquete é o segundo esporte na preferência do torcedor e temos a obrigação de buscar financiamento para formar equipes fortes que, sobretudo, honrem e orgulhem o nosso manto sagrado. Portanto, acho difícil a repetição daquele modelo nos dias de hoje, em se tratando de Flamengo.

7- E falando em Marquinhos, na apresentação do time dessa temporada, a gestão anterior anunciou que o ala tinha firmado contrato de duas temporadas com o clube. A gestão atual pretende manter esse vinculo já firmado com o ala ou pretende discutir um novo contrato com ele, nos novos moldes financeiros do clube, no final da temporada?

O contrato do Marquinhos é de dois anos e pretendemos que ele siga feliz no Flamengo, repetindo as grandes atuações dessa temporada.
 
8- Falando da campanha do time de basquete do Flamengo novamente no NBB, os torcedores que acompanham os jogos no Tijuca acabaram reclamando do aumento no valor dos ingressos durante o returno da competição. Como você avalia esses torcedores que reclamaram desse aumento? A tendência é que tenhamos alguma promoção pra trazer novamente a torcida, o sexto jogador, em peso nos playoffs da competição?

Sou muito pragmático em relação a preços de ingressos. É uma questão de oferta e demanda. Naquele momento, tinha jogos em que centenas de pessoas não conseguiam entrar no ginásio. Como não temos um ginásio maior, a única forma de regular a situação era via preço de ingresso. Mas essa situação necessariamente não é perene em todos os jogos.

Evidentemente, queremos a torcida do nosso lado. Tanto que fizemos uma grande promoção para o jogo do Palmeiras. Isso deve se repetir para os jogos contra o Tijuca e Suzano. Para os playoffs, apesar de todas as dificuldades colocadas, estamos buscando o Maracanãzinho, onde certamente o tamanho do espaço permite que cobremos preços mais acessíveis.

Agora, cabe lembrar que estamos falando do primeiro colocado da NBB, um time caro. A torcida deve fazer a sua parte não somente incentivando, mas ajudando o clube a manter esse elenco (que recebemos com apenas um patrocínio pequeno, da BMG, que acabou em Fevereiro; em apenas dois meses conseguimos um patrocínio da Loterj).

9- Voltando a falar do passado recente do esporte olímpico do Flamengo, o vôlei no inicio dos anos 2000 acabou se sagrando campeão da Superliga feminina numa final histórica contra o Vasco em pleno Maracanãzinho. Povoa qual seria o seu projeto para o vôlei do clube? Seria possível alguma parceria com alguma equipe já existente no Estado como a Unilever ou RJX?

O vôlei é o segundo esporte em termos de popularidade no Brasil. É de interesse do Flamengo discutir potenciais parcerias para a disputa da Superliga, mas há dois empecilhos importantes no curto prazo: O primeiro é que hoje, para se formar um time de alto nível, o custo é muito elevado, o que torna as discussões mais complexas com os potenciais parceiros; e, segundo, a temporada está acabando, o que faz com que o curto tempo vire um inimigo, pelo menos para a próxima temporada. Mas estamos buscando alternativas.
 
10- E recentemente entrevistamos o Alexandre Wrobel e ele abordou o projeto da Arena MC Fla. Essa é uma das principais metas da gestão do esporte olímpico no próximo triênio? E qual avaliação você faz tanto do ginásio Hélio Mauricio e do Tijuca Tênis Clube que hoje recebe os jogos de basquete do clube?

Esse é um velho sonho nosso – ter nossa própria arena – que está próximo. Precisamos ter todas as aprovações legais (inclusive da Prefeitura) e o projeto pronto e discutido internamente para levarmos à aprovação do Conselho Deliberativo. O assunto está caminhando rapidamente e esperamos até o final desse semestre já termos uma situação mais clara do processo.
O Hélio Maurício é um ginásio pequeno, mas que pode ser ampliado, por conta de um espaço ocioso existente. A quadra é excelente e não fica a dever a nenhuma do Brasil.

O Tijuca é um ginásio que tem atendido o Flamengo e o esporte do Rio, tão carente de praças de jogos, com muita dignidade. Só temos a agradecer, mas se Deus quiser teremos até o final da nossa gestão uma arena moderna de 4 mil pessoas, com a modernidade de um ginásio de NBA em plena Gávea.

11- Pra finalizar a entrevista, gostariamos de saber qual é sua meta para esse triênio no esporte olímpico do clube? Qual legado você quer deixar para quem é sócio e acompanha e prestigia essas modalidades? O esporte olímpico completamente autossustentável é o seu principal desafio?

Meu sonho é chegar ao final de 2015 com o orçamento dos esportes olímpicos 100% sustentável, com a estrutura da Gávea totalmente reformada e com todas as modalidades esportivas, com projetos próprios desde a escolinha até a ponta, crescendo e formando atletas. Enfim, abrir o caminho para tornar o Flamengo a maior potência olímpica do Brasil.

Não troco isso por títulos importantes no curto prazo e nem por uma presença maciça de atletas rubro-negros na Olimpíada do Rio. Se puderem acontecer, ótimo. Mas garanto que o primeiro parágrafo, se realizado, garantirá a formação de cidadãos e grandes atletas, o que será a base para grandes conquistas no futuro e presença garantida nas futuras Olimpíadas. Orgulho total para o sócio e o torcedor rubro-negro.

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