A situação à qual o time do Flamengo chegou ao fim da 23ª rodada do Brasileiro era previsível. Faltou investimento adequado no elenco (mesmo num ano de contenção de despesas, podia ter havido um pouco mais de gasto). Com 27 pontos, o Flamengo terminava a rodada na 16ª colocação, a primeira acima do corte de rebaixamento. Três pontos a frente de Vasco e Criciúma, os dois primeiros dentro da zona.
As deficiências sentidas já estavam mais do que mapeadas: na hora que Leonardo Moura se machucasse, e uma hora isto aconteceria invariavelmente com o veterano lateral num torneio de 38 rodadas, não havia substituto. E a criação do meio-campo? Nula. O ataque não é corretamente municiado - e já não tem muita qualidade - e os gols não saem, e vitórias se tornam empates e de dois pontos a menos em dois pontos a menos, tem-se algumas posições abaixo na tabela.
Todo este risco estava mapeado, e na hora que o risco de naufrágio se anunciasse de forma mais explícita, todas as metralhadoras se voltariam contra todo o trabalho feito no ano. Era mais do que previsível. Há meses atrás já se via "todo o projeto seriamente ameaçado".
Mas ainda faltava que o risco não calculável se manifestasse. Quando a diretoria escolheu Mano Menezes como treinador, buscava além do curiculum bem sucedido das passagens por Grêmio, Corinthians e Seleção Brasileira, alguém com índole e princípios, que mostrasse comprometimento para um trabalho de longo prazo. Eis que a pessoa de confiança escolhida mostrou-se não confiável. Em 19 de setembro, o Flamengo vencia o Atlético Paranaense por 2 x 0 aos 8 minutos do 1º tempo no Maracanã. Acabou perdendo o jogo por 4 x 2. Para estarrecimento geral, ao fim da partida Mano Menezes reuniu jogadores e o diretor de futebol, Paulo Pelaipe, no vestiário e anunciou sua demissão, minutos depois comunicada à imprensa. O Flamengo estava a uma semana do início do duelo contra o Botafogo pelas quartas de final da Copa do Brasil, o duelo mais importante do ano. Um péssimo momento para tomar uma rasteira de seu treinador, que decidiu pisar no projeto de longo prazo com o qual se comprometera em troca de um novo clube para 2014 (ainda não anunciado, mas certamente já acertado).
Este risco não-calculável acabou colocando a faca no pescoço da "Gestão Azul" e catalisou todos os erros acumulados no ano.
A escolha pela demissão de Dorival Júnior no começo do ano. O erro em ter apostado em Jorginho para a sequência do trabalho. Agora o imprevisto com Mano Menezes. O time já acumulava o 4º treinador no ano. Inquestionavelmente, a gestão do futebol rubro-negro não conseguiu implementar as idéias prometidas neste quesito. Falha grave!
Com tudo isto, passou a se deparar com um dilema: voltar a apostar num treinador renomado ou bancar uma solução caseira?
Por uma questão de credibilidade, o escolhido deveria ser uma aposta para permanecer no cargo invariavelmente até o fim de 2014. Se a aposta caseira, o auxiliar Jayme de Almeida, não emplacar uma sequência de bons resultados, a diretoria conseguirá resistir à pressão por um nome mais renomado? Entre os nomes renomados, o único consenso que restava era Abel Braga, mas seu padrão salarial estava acima do teto estipulado. Nenhum outro nome ventilado aguentaria até o fim de 2014: Andrade, Joel Santana, Celso Roth ou Caio Júnior.
A faca estava no pescoço. Todo o projeto estava serissimamente em risco. O futuro do Flamengo estava seriamente em risco, porque se não conseguisse equacionar as dívidas desta vez, seria um mergulho de cabeça num precipício.
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