A imprensa esportiva brasileira é sórdida e nojenta.
Não, isto não quer dizer que ela é uma exceção na mídia brasileira. Mas o objetivo aqui é falar de futebol.
É nojenta a forma como o futebol no Brasil é tratado, mais do que nunca (porque de certa forma isto sempre existiu), a mídia esportiva é controlada por um completo jogo de interesses e manipulações, hoje centrados nos detentores do maior poder econômico-aquisitivo do país: São Paulo.
A mídia é toda paulista. Por sua vez, quase todos os jornalistas falam com o sotaque paulista. E cá entre nós, a paulistada é foda! Não nos resta outra se não aturar. Mas tem limite!
O monopólio da opinião paulistana é total. A Rede Bandeirantes é a maior de todas as representações de uma embaixada do Corinthians. O Neto então, é insuportável! Em qualquer país minimante sério e respeitável, um sujeito assim não passaria da roleta de recepção de uma emissora minimamente respeitável. Mas ele é apenas uma pobre representação estapafúrdia de uma situação muito maior.
Paulistas são umbigocentristas e provincianos desde que o Brasil pode ser chamado de um país. Ainda que até hoje sem um mínimo de unidade nacional, de sentimento verdadeiramente nacionalista e com todas as particularidades que seu passado presenteou a este estranho local que co-habitamos. Não há qualquer projeto nacional ou assunto de interesse nacional relevante para a Maior Metrópole do Brasil que não tenha em Sampa o centro de tudo. O ego paulistano é tão grande, e suas raízes provincianas são tão fortes, que mesmo tendo de longe a maior força econômica do país, o paulista precisa se auto-afirmar o tempo todo! Ele faz questão de dizer "a emissora paulista", "a empresa paulista", ...
E o futebol? Bom, ele está imerso numa Guerra Fria, silenciosa. Os paulistas precisam de tudo. É inconcebível para eles qualquer coisa maior do que eles! E o Flamengo é maior do que eles! Isto os enlouquece!
Eles inventaram os pontos corridos e esperavam que o poder do dinheiro iria repartir todos os títulos do futebol brasileiro entre eles. Não existia espanholização enquanto tudo rumava para uma concentração entre Corinthians e São Paulo. Aí o Flamengo entrou na pista de dança e as garotas olharam para ele... E o maior problema do futebol brasileiro passou a ser a espanholização.
Estadual só faz sentido com o Campeonato Paulista, o resto que morra! As emissoras esportivas paulistas sempre levantaram esta bandeira. Era tanto o incomodo que tratam de amassar o nome Campeonato Carioca e transformá-lo em Estadual do Rio. Marcas concorrentes fortes deveriam ser afastadas do caminho. Os holofotes precisam ser exclusivos!
O maior projeto desta Guerra Fria é destronar o Flamengo do posto de maior torcida do Brasil. Todos os meios para se conseguir isto são justificáveis. Mas tem que fingir que é outra coisa! A guerra é fria, o discurso precisa ser meticulosamente calculado e camuflado.
O Flamengo era a maior bagunça, e como bater em bêbado sempre foi fácil, dando coragem até para os covardes, o Flamengo apanhava de todos os lados! Os ecos eram apoiados pelos rivais do rubro-negro no Rio de Janeiro. Uma bagunça! Uma várzea! Puta que pariu, é a maior vergonha do Brasil! Foram décadas de humilhação, esculhambação, achincalhamento. Tudo embasado com argumentos racionais. Afinal, era uma bagunça mesmo! O bêbado realmente tinha bebido demais. Era preciso aproveitar o momento e bater, porque uma hora a bebedeira podia passar... E passou. O Flamengo virou modelo de gestão, tornou-se campeão nacional de arrecadação. Não havia muito mais para dizer, era preciso mudar o discurso, mas sem esquecer que ainda era preciso tira-lo da pista, afastá-lo dos olhos apaixonados que viam mais beleza nele do que em qualquer outro.
Qualquer tropeço do Flamengo sempre foi vergonha, foi vexame! Era coisa de várzea! Como se no futebol nunca tivesse existido tropeços para times de menor expressão, ou, nos termos atuais, de menor investimento. Mas já disse uma vez Fernando Pessoa: "Nunca conheci quem tivesse levado porrada. Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo. E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil. Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita, indesculpavelmente sujo. Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho. Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo, que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas, que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante, que tenho sofrido enxovalhos e calado, que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda. Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel. Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes. Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar. Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado para fora da possibilidade do soco. Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas. Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo. Toda a gente que eu conheço e que fala comigo, nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho, nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes!"
E a gloriosa Ferroviária de Araraquara. O que a coitada tem a ver com tudo isto? Por que ganhou destaque neste título? Isto tudo porque no último fim de semana ela empatou em 2 x 2 com o Corinthians pelo Campeonato Paulista. E vendo um pouco de televisão neste fim de semana. Gastando um pouco da paciência que me resta para ouvir alguma das opiniões destes jornalistazinhos que invadem rotineiramente nossas casas, porque a minha paciência para ouvi-los já se esgotou há muito, e eu realmente já deixei de prestar atenção em suas vozes há bastante tempo, mas eis que os escutei, meio por acaso. E terminei este fim de semana com a verdadeira sensação de que estamos diante de uma nova máquina do futebol brasileiro, destas que marcam época, e fazem seu tempo. Porque foram muitos os elogios à gloriosa Ferroviária e seu envolvente futebol.
E eu que não tenho prestado nenhuma atenção nem tido paciência para aturar a Segunda Divisão do Campeonato Paulista nos meus canais de televisão, devo ter desapercebidamente não notado a revolução futebolística por trás daquela camisa grená de Araraquara. Não posso perder seus próximos jogos, pois certamente estou perdendo um novo gênio que deve estar surgindo no futebol brasileiro, ou um gênio da bola ou um gênio estrategista, mestre supremo dos esquemas táticos. Mantenham-me informado por favor sobre as evoluções trazidas pela Ferroviária de Araraquara!
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