terça-feira, 1 de maio de 2012

Maiores Jogos da História do Flamengo: 02/12/87 - Flamengo 3 x 2 Atlético Mineiro




Jogos Inesquecíveis: 
02/12/1987 - Flamengo 3 x 2 Atlético Mineiro

A semi-final da Copa União de 1987 foi heróica e emocionante. O Flamengo havia se classificado em 4º lugar e encarava o time de melhor campanha, que jogava com a vantagem de dois resultados iguais. Depois de um 1 a 0 no Maracanã, uma vitória simples, no Mineirão, colocava o Galo na final. Mas o Mengo começou arrasador. Com 22 minutos, Bebeto fez 1 a 0, e com 31, Zico ampliou. O Atlético tinha um time fortíssimo e no segundo tempo reagiu, fez de pênalti aos 15 minutos, e quatro minutos depois empatou, gol do velocíssimo ponta-direita Sérgio Araújo. Daí para frente foi pura pressão sobre a área do Flamengo, a virada parecia inevitável. Até que aos 34 minutos do segundo tempo, Zico roubou uma bola na intermediária e enfiou para Renato Gaúcho penetrar livre pela intermediária adversária, driblar o goleiro João Leite e empurrar ao gol vazio, e sair comemorando com o dedo indicador na boca, pedindo silêncio ao Mineirão lotado. Mengão 3 a 2, classificado para a final.



Ficha Técnica
02/12/1987 - Flamengo 3 x 2 Atlético Mineiro
Local: Mineirão, Belo Horizonte (Público: 84.929 pagantes)
Gols: Zico (22'1T), Bebeto (31'1T), Chiquinho (15'2T), Sérgio Araújo (19'2T) e Renato Gaúcho (34'2T)
Fla: Zé Carlos, Leandro Silva, Leandro, Edinho e Leonardo; Andrade, Ailton e Zico (Henágio); Renato Gaúcho, Bebeto (Flávio) e Zinho
Téc: Carlinhos
Atlético: João Leite, Chiquinho, Batista, Luizinho e Paulo Roberto; Éder Lopes, Vander Luís e Marquinhos (João Pedro); Sérgio Araújo, Renato Paulista e Marquinho Carioca (João Luís).
Téc: Telê Santana





A História do Jogo

Segundo jogo da semi-final da Copa União, o Campeonato Brasileiro de 1987 organizado pelo "Clube dos 13". Na 1ª Fase, os quatro melhores se classificavam para fazer um mata-mata a partir da semi-final para definir o campeão. O Atlético Mineiro de Telê Santana se destacava como a grande força do campeonato, abocanhando com sobras a primeira colocação, terminando a fase invicto, e classificado por antecipação ficou esperando para o duelo que definiria um dos finalistas. A definição do adversário do Galo só saiu na última rodada, quando o Flamengo venceu ao Santa Cruz por 3 a 1 no Maracanã e garantiu a sua classificação.

Os dois adversários se enfrentariam em dois duelos, o primeiro no Maracanã e o e segundo no Mineirão. No Rio de Janeiro, numa tarde de domingo, o confronto se arrastava num empate sem gols até os trinta e três minutos do 2º tempo, quando Bebeto consumou sua fase de principal goleador da equipe. Muitos questionavam se a vantagem de um gol seria suficiente para assegurar a vaga no segundo confronto em Belo Horizonte, três dias depois. O Atlético precisava vencer de uma vitória simples, por um gol, para assegurar a vaga na final, já que tinha conquistado a vantagem de jogar por dois resultados iguais, dado que havia feito a melhor campanha. E todos davam o Galo como amplo favorito para terminar o confronto com a vaga para a finalíssima da Copa União.

Era uma noite de quarta-feira. O Flamengo entrava em campo com a vantagem do empate. Os dias anteriores ao jogo decisivo foram marcados por muita expectativa. Zico, o eterno craque, sentia dores no joelho e era dúvida. Evitar a derrota levaria o Flamengo à grande final contra Cruzeiro ou Internacional. O time rubro-negro entrou em campo desfalcado do suspenso Jorginho, que deu lugar ao jovem Leandro Silva. Era um desfalque sensível, porque a força daquele Atlético estava justamente nas pontas, pela direita com Sérgio Araújo, que no ano seguinte iria inclusive se transferir para o Flamengo, e pela esquerda com Marquinho, carrasco rubro-negro com a camisa do Vasco na final do Carioca de 1982, e campeão carioca com o próprio Flamengo no ano anterior. Ele que ao chegar a Belo Horizonte, em função da presença do meia Marquinhos, passou a ser chamado de Marquinho Carioca.

A bola rolou e o que eu vi naquela noite de 2 de dezembro de 1987 não foi um jogo, foi uma epifania. Zico, antes dúvida, materializou-se em certeza, carne e osso, e dirigiu mais um episódio dos grandes confrontos entre Flamengo e Atlético daquela Década de 1980. Aos vinte e dois minutos, Zico abriu para Bebeto na direita e correu para o meio da área, enquanto o jovem atacante baiano se acertava com a bola. O cruzamento chegou limpo para o camisa 10 da Gávea que soberbo, no ar, cabeceou no canto direito de João Leite: Mengão 1 a 0!

Nove minutos depois, Zico lançava Renato Gaúcho em seu habitat natural, a ponta-direita. Livre, senhor de seu domínio, ele avançou até a linha de fundo e cruzou rasteiro com mira em Bebeto. O zagueiro Batista interceptou o passe, mas a bola sobrou limpa para que Bebeto chutasse fraco, com a bola desviando no mesmo Batista e morrendo mansa no canto esquerdo: Mengão 2 a 0! Parecia um sonho para os torcedores rubro-negros, ninguém, nem o mais otimista dos rubro-negros, imaginava uma vantagem tão ampla tão rápido.

Descontrolado emocionalmente com a desvantagem no placar, o time atleticano apelou, como muitas vezes havia feito naquela década, para a violência. O cabeça de área Paulo Roberto fez falta violenta em Zico e, ainda no primeiro tempo, recebeu o cartão vermelho, deixando o Atlético com um a menos. O Galinho Zico enlouquecia o Galo. O sonho estava próximo de um despertar feliz!

O que se viu depois disso foi uma sucessão de picos de pressão alta. O Flamengo perdia gols em profusão, por individualismo ou excesso de capricho. Zé Carlos, Leandro e Edinho davam conta, e continham o ataque do Atlético, ao menos no 1º tempo. No segundo tempo, o Atlético, em cinco minutos, conseguiu o que parecia impossível. Uma pressão imensurável e o apoio da torcida conduziram o time a um pênalti convertido por Chiquinho e a uma arrancada em contra-ataque bem concluída por seu principal jogador, o ponta-direita Sérgio Araújo. Toda a alegria rubro-negra foi destroçada rapidamente, e apreensão voltou a dominar. Mais um gol e a vaga na final seria do alvi-negro mineiro. A esperança da massa atleticana recrudescia. Eram dez contra onze, e daí? O Atlético tirava forças do improvável para se fazer preponderante. A virada parecia próxima, iminente, e real.

O Atlético trocava passes no meio de campo e, aos 34 minutos, uma bola foi interceptada por Ailton, o jovem discreto e eficiente volante, então com apenas 21 anos. Seu desarme virou um passe para Renato, agora aventurando-se pelo lado esquerdo de ataque, oposto ao seu natural. Mas o caminho se apresentava ao seu feitio, livre. Havia um longo trajeto da linha divisória ao gol e a marcação se aproximava. Desgastado, era preciso recorrer à velocidade, um de seus talentos. Se o cansaço lhe diminuía a velocidade, não lhe tirava a força. É ela que torna inócuos os artifícios do zagueiro: o tranco e, como última tentativa, o carrinho por trás. Renato sobreviveu à tentativa de ser derrubado, e seguiu. Já estava na área, e tinha João Leite à sua frente. A bola era sua, soberana. Ele faz um desvio em noventa graus do goleiro e, ainda consciente de seu porte físico, fica imune à trombada. Sobra-lhe o gol, vazio, imponente, oferecido, a quem lhe dedica, com carinho, a amiga bola. Entrega feita, nem aguarda o balançar da rede. Gol! Silêncio no Mineirão, explosão de rubro-negros Brasil a fora! Mengão 3 a 2!





Renato vira em direção à torcida, abre os braços e corre para a consagração eterna. Foi o último sopro de fôlego. Na bandeira do escanteio, tropeça, cai e espera a montanha humana dos companheiros que ali representam toda a nação rubro-negra. Aquela corrida do meio ao gol, esbaforida e valente, era a própria jornada do herói. Se, minutos, segundos antes, a certeza era de que aconteceria a virada atleticana, Renato Gaúcho desafiava a lógica natural e invertia-lhe a razão. A vitória por 3 a 2, ali, faltando dez minutos para o fim, era uma tautologia. Assim como o título que pouco depois se consumaria.

Ninguém mais duvidava que o Flamengo se classificaria e conquistaria seu quarto título brasileiro. O simbolismo desse jogo foi tamanho que ele se tornou mais épico e memorável do que as próprias finais contra o Internacional. E sua força permaneceu presente para sempre no tempo. Uma vitória épica!






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