quinta-feira, 16 de abril de 2020

FLAMENGO: Resultado Financeiro do 4° Trimestre 2019


Seguindo o histórico de análises sempre disponibilizadas aqui no blog (histórico pode ser visto na sessão Transparência Rubro-Negra): mesmo com o substantivo crescimento dos investimentos na qualidade do elenco, apesar de todas as grandes aquisições e aumentos na massa salarial do elenco do futebol, o desempenho financeiro manteve-se numa trilha altamente positiva, como veio sendo a tendência já apresentada nos exercícios anteriores. Mais do que isso: o ano de 2019, mesmo com todos os gastos, fechou mais uma vez com superávit. Mas há uma mudança estrutural que precisa ser dita, e não de forma negativa, mas até como endosso à responsabilidade em gestão e execução orçamentária da Diretoria do Flamengo: as finanças rubro-negras passaram a ser sustentadas pela venda de jogadores, ainda que a arrecadação com torcida mantenha um forte incremento, principalmente sustentada pelos sólidos números do Programa de Sócio Torcedores, mas também pelas crescentes receitas de Bilheteria com o Maracanã tendo os maiores públicos do campeonato, sustentado pela fantástica campanha do futebol rubro-negro no ano.

Analisando os números do 4º Trimestre de 2019 detalhadamente:


1) RECEITAS

A receita operacional bruta acumulada no 1º semestre havia sido de R$ 407,2 milhões, e no fechamento do ano o resultado alcançou incríveis R$ 950,4 milhões. Em 9 meses o acumulado já havia superado tanto ao total de 2018 quanto ao de 2017, que era o recorde histórico do clube. O resultado se divide em R$ 899,8 mm obtidos com o futebol e R$ 50,7 mm obtidos com o clube social e os esportes olímpicos. O bom resultado se sustentou na contabilização das vendas de jogadores para o futebol europeu acertadas no fim de 2018 somado às vendas realizadas em 2019. A arrecadação colocou ao Flamengo na disputa por estar no Top 20 de Receitas do Futebol Mundial!


Já quanto aos demais quesitos, houve notícias boas e ruins. Descontados os impostos incidentes sobre a movimentação de receita, a receita operacional líquida total acumulada em 2019 atingiu R$ 914,0 milhões, um grande aumento impressionante frente aos R$ 516,8 mm obtidos em 2018.


Na hora de detalhar a receita, é importante ressaltar que com o primeiro ano de gestão de Rodolfo Landim, que também representou o primeiro ano no qual as contas rubro-negras foram auditadas por uma das maiores empresas de auditoria do mundo, trouxeram algumas mudanças no padrão de contabilização das receitas, especialmente as relacionadas a publicidade. Dentro dos Direitos de Transmissão passou a haver o desmembramento em receitas fixas e variáveis, e pela primeira vez, frente ao crescimento de importância visto em 2019, foi publicada separadamente as receitas obtidas com Mídias Digitais.

Nas receitas de direitos de transmissão, o resultado acumulado no ano foi de R$ 329,5 milhões. As receitas obtidas diretamente com a TV só cresceram por causa das receitas variáveis, bônus pelos resultados obtidos em campo. Estas receitas representavam pouco mais de 1/3 do total de receitas do clube, provando que as finanças do Flamengo não estavam sendo sustentadas pelos recursos financeiros da TV, enquanto a grande parte dos clubes brasileiros continuavam reféns destes recursos.


Quanto às receitas com Patrocínio, também houve uma modificação na contabilização, passando-se a incluir licenciamentos e royalties dentro do resultado. No acumulado de 2019 houve uma receita de R$ 93,3 milhões. Cabe a ressalva de que, ainda por cima, o Flamengo mudou em 2019 o seu modelo de arrecadação de patrocínio master na camisa de futebol, assinando com o Banco BS2 por um valor fixo inferior ao recebido no contrato com o patrocinador anterior, mas com uma receita variável associada a uma participação nos resultados obtidos pelo banco patrocinador, estratégia que só se poderá medir se foi vantajosa ou não quando esta participação variável entrar nos cofres rubro-negros, no último trimestre do ano.


Detalhando as receitas obtidas diretamente com sua Torcida, quebrando entre o arrecadado com Bilheteria e o diretamente obtido com o Programa de Sócio-Torcedor, ambas subiram bastante espetacularmente frente a 2018, com um desempenho fantástico! No saldo das duas, um expressivo aumento: é a torcida rubro-negra quem está tendo um importante papel para pagar a conta e financiar sua felicidade!

A receita com torcida subiu de R$ 92,8 mm em 2018 para R$ 175,4 mm em 2019, superando em muito o recorde histórico, que havia sido conseguido em 2017, ano no qual o clube havia arrecadado R$ 105,3 mm com sua torcida. Embalado pela fantástica campanha no Campeonato Brasileiro e na Libertadores em 2019 o clube atingiu um patamar que até poucos anos antes era inimaginável!


A Bilheteria fechou 2019 com resultado acumulado de R$ 93,3 milhões. No início do 2018, o resultado havia sido baixo pelos dois jogos com portões fechados nas duas primeiras partidas da Copa Libertadores (um prejuízo causado por sua própria torcida nos incidentes externos ao Maracanã ocorridos antes e depois da Final da Copa-Sul-Americana 2017). Mas outros fatores inflaram a comparação de resultado de 2019 frente ao ano anterior: a presença na Final do Campeonato Carioca, que não aconteceu em 2018, a campanha que o manteve em 1º lugar na maior parte do Campeonato Brasileiro, e a chegada à Final da Libertadores da América. Assim, fica endossada a conclusão importantíssima de que para as finanças, é fundamental fazer grandes campanhas.


Com o Sócio-Torcedor, a receita manteve seu comportamento cada vez mais ascendente, tendo fechado 2019 em R$ 61,7 milhões. Este resultado tem sido significativamente crescente ano após ano!



2) RESULTADO FINANCEIRO

O resultado operacional do exercício foi bem melhor do que o acumulado em 2018, mas ficou em muito sustentado pela contabilização das vendas de jogadores. O resultado acumulado fechou em R$ 95,4 milhões. É um resultado excepcional, mas que pelo fator descrito deve ser visto com alguma ressalva. E vale notar que o resultado do 4º trimestre, apesar da reta final do Brasileiro e da final da Libertadores apresentou um déficit de R$ 7 milhões no trimestre.


Descontando-se as despesas financeiras, chegou-se a um resultado líquido também muito positivo e superior ao do ano anterior. O superávit acumulado foi de R$ 62,9 milhões. Excepcional, mas, de novo: sob as mesmas ressalvas.



3) DÍVIDAS

A dívida bruta fechou 2019 em R$ 505,4 milhões. Bem acima dos R$ 469,5 milhões que havia fechado em 2018. Um movimento de aumento que tem acontecido trimestre a trimestre há algum tempo e precisa continuar sendo monitorado bem de perto. Após os grandes investimentos feitos nas aquisições de Giorgian De Arrascaeta, Bruno Henrique, Rodrigo Caio e Gérson, este aumento já era mais que esperado. Daqui para frente, é necessária muita atenção para não haver um novo descontrole na gestão do nível de endividamento do clube. A Diretoria do Flamengo já indicou que planeja esta elevação de dívida em 2019, para voltar a trabalhar por sua redução a partir de 2020. Resta saber se esta promessa será mantida. Retirados os adiantamentos de contrato, a dívida líquida do Flamengo fechou o ano de 2019 em R$ 382,7 milhões.


A razão Dívida / Receita Anual fechou o ano em 0,42 vez. Muito bom, mas sob a mesma ressalva já feita para o resultado da receita, que, inflado, jogou o resultado para baixo. Porém, é inquestionável que o Flamengo mantém sua saúde financeira mesmo após os pesadíssimos investimentos na aquisição de jogadores de futebol que o clube realizou.


O nível de empréstimos tomados junto a bancos privados terminou 2019 em R$ 52,6 milhões, dos quais R$ 29,0 milhões com vencimento superior a 12 meses, e R$ 23,6 milhões com vencimento inferior a 1 ano. A título de comparação de longo prazo: em dezembro de 2012, o Flamengo devia R$ 85,2 milhões aos bancos, sendo R$ 54,5 milhões com vencimento inferior a um ano. É uma situação financeira muito mais confortável! Mas o Flamengo precisa acabar com a dependência de aquisição de empréstimos para manter seu capital de giro.



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