sexta-feira, 2 de março de 2012

Maiores Jogos da História do Flamengo: 01/06/80 - Flamengo 3 x 2 Atlético Mineiro




Jogos Inesquecíveis: 01/06/1980 - Flamengo 3 x 2 Atlético Mineiro

"Com uma bela campanha, com treze vitórias, seis empates e só a derrota para o Botafogo da Paraíba, o time se habilitou para jogar a final contra o Atlético Mineiro.

O Atlético tinha uma equipe fortíssima: João Leite, Orlando, Osmar, Luizinho e Jorge Valença; Chicão, Toninho Cerezo e Palhinha; Pedrinho, Reinaldo e Éder. Continha três jogadores que foram titulares absolutos na seleção brasileira na Copa do Mundo de 1982, o zagueiro Luizinho, o cabeça de área Cerezo e o ponta-esquerda Éder. A primeira partida da final, disputada no estádio do Mineirão, em Belo Horizonte, terminou 1 a 0 para os mineiros, que viajaram ao Rio de Janeiro, assim, jogando por um empate para levantar o título.

O time rubro-negro jogou o Campeonato Brasileiro de 1980 com: Raul, Toninho, Marinho, Rondinelli e Júnior; Andrade, Carpegiani e Zico; Tita, Nunes e Júlio César; sob o comando de Cláudio Coutinho. Mas o Flamengo lutaria pelo título no Maracanã sem dois titulares, o zagueiro Rondinelli e o meia Carpegiani. Substituíram a eles Manguito na defesa e Adílio no meio.

O rubro-negro abriu o placar na finalíssima, no dia 28 de maio de 1980, diante de 154 mil torcedores que lotavam o Maracanã, logo aos sete minutos do primeiro tempo, com gol de Nunes. Dada a saída para recomeço de jogo, o Atlético imediatamente empatou, no minuto de jogo seguinte à abertura do placar, através de Reinaldo. Antes do intervalo, Zico fez o segundo gol rubro-negro. Mas no segundo tempo, Reinaldo voltou a pôr números iguais na partida. O empate dava o título nacional ao clube mineiro. Até que, aos 37 minutos do segundo tempo, Nunes é lançado pelo lado esquerdo da área. Já quase na linha de fundo, ele consegue desvencilhar-se do marcador e, quase sem ângulo, toca a bola entre o goleiro e a trave atleticana. Gol do Flamengo! O Maracanã explode de emoção. Pela primeira vez em sua história, a Gávea comemorava o título de campeão nacional". (A NAÇÃO, pgs. 127-128)




Ficha Técnica:
01/06/1980 - Flamengo 3 x 2 Atlético Mineiro
Local: Maracanã, Rio de Janeiro (Público: 154.355 pagantes)
Gols: Nunes (7'1T), Reinaldo (8'1T), Zico (44'1T), Reinaldo (21'2T) e Nunes (37'2T)
Fla: Raul, Toninho Baiano, Marinho, Manguito e Júnior; Andrade, Carpegiani (Adílio) e Zico; Tita, Nunes e Júlio César (Carlos Alberto).
Téc: Cláudio Coutinho
Atlético: João Leite, Orlando (Silvestre), Osmar, Luizinho (Geraldo) e Jorge Valença; Chicão, Toninho Cerezo e Palhinha; Pedrinho Gaúcho, Reinaldo e Éder.
Téc: Procópio Cardoso




A História do Jogo 

O Atlético Mineiro já tinha um time bastante forte, trazendo uma mesma espinha dorsal desde que havia sido vice-campeão em 1977, perdendo o título para o São Paulo na disputa por pênaltis, e iniciava uma fase hegemônica no futebol de Minas Gerais, era naquele momento o Bi-Campeão Mineiro de 1978-79, mas que entre 1976 e 1989 o clube conquistaria o Estadual em 11 vezes nas 14 edições disputadas.

E o Atlético se reforçou para a temporada de 1980: contratou o ponta-esquerda Éder, revelado pelo América Mineiro e contratado ao Grêmio, onde ganhou projeção nacional, além de outros dois jogadores também tão conhecidos pela catimba quanto Éder. Ao Corinthians foi contratado o meia-atacante Palhinha, ídolo do rival Cruzeiro, com quem se destacou na conquista da Copa Libertadores da América de 1976. E ao São Paulo foi contatado o cabeça de área Chicão. Estes dois últimos, em especial, eram os símbolos de um time que sabia muito bem jogar um futebol de primeira linha, mas que também em muitas vezes se valia de cavar faltas, irritar adversários e pressionar árbitros. Foi assim, por exemplo, que na terceira fase o Atlético segurou um valioso empate sem gols diante do São Paulo no Morumbi e depois um outro empate sem gols diante do Vasco no Mineirão, resultado que levou aquela equipe às semi-finais.

Os dois jogos daquela decisão de 1980 foram truncados, picotados e faltosos, bem diferentes dos jogos do Flamengo contra Palmeiras e Santos, por exemplo, mais soltos, de poucas faltas, prevalecendo a técnica. Além disso, para o primeiro jogo o Flamengo teve três importantes baixas: o lateral-direito Toninho (suspenso), e Zico e Júlio César (lesionados). O Galo venceu o primeiro jogo no Mineirão por 1 a 0, com o atacante Reinaldo se aproveitando de um erro de Júnior na saída de bola.

Mas para o Flamengo, o lance que marcou aquela partida aconteceu aos 26 minutos do 2º tempo, após uma bola cruzada por Toninho Cerezo para a área do Flamengo. Afastada a bola, um aglomerado se formou na trave esquerda de Raul, onde estava caído o zagueiro Rondinelli com o rosto inchado e sangrando, já rapidamente sendo atendido pelo médico rubro-negro, Dr. Giuseppe Taranto.

O Deus da Raça rubro-negro havia levado um empurrão, soco ou cotovelada de Palhinha (a agressão muda de acordo com os diferentes relatos) e se chocara de cabeça contra a trave, fraturando o maxilar e deixando o campo ainda com suspeita de concussão cerebral. Levado aos vestiários, teve de ser contido e sedado. Furioso, queria a forra contra Éder, a quem inicialmente atribuíra a agressão. O clima era muito pesado. Assim como continuou sendo durante a disputa da Taça Libertadores da América no ano seguinte.

Flamengo e Atlético Mineiro tinham chegado à decisão com campanhas muito semelhantes: ambos tinham somado 32 pontos ao longo da competição. O Atlético somava uma vitória a mais (14 contra 13) e o Flamengo, uma derrota a menos (perdera apenas uma vez, contra duas do Galo). Os dois haviam anotado 43 gols, com o Flamengo sofrendo quatro a mais (17 contra 13), o que dava aos mineiros uma ligeira vantagem no saldo de gols.

Contudo, pelo regulamento, a vantagem de decidir o título em casa e de jogar pela igualdade no placar agregado – e, portanto, por qualquer vitória no Maracanã para levantar a taça, era do Flamengo. Os critérios de desempate levavam em conta apenas os resultados obtidos da terceira fase em diante, onde a CBF entendia que começava a Fase Final. Nesta reta final, a partir da 3ª Fase, o Flamengo havia somado nove pontos, contra sete do Atlético.

Para o segundo jogo da decisão, no Maracanã, o Atlético entreva em campo completo, assim como tinha jogado na partida de ida no Mineirão. Pelo lado do Flamengo, Toninho, Zico e Júlio César voltavam ao time, mas Rondinelli estava de fora. Com Manguito no lugar de Rondinelli, e diante de exatos 154.355 pagantes – maior público da história do Campeonato Brasileiro até então, e com um novo recorde de renda do futebol brasileiro, o jogo começou quente. Logo aos dois minutos, Tita fez falta dura em Jorge Valença e já recebeu o primeiro cartão amarelo do jogo. E a primeira chance de gol foi do Galo, com Palhinha.

Porém, aos sete minutos, foi o Flamengo quem saiu na frente no placar. O zagueiro Osmar arrancou da defesa, mas esticou demais a bola ao passar do meio-campo. Andrade recolheu e entregou a Zico, que fez o passe perfeito para Nunes, exatamente no buraco que o beque atleticano deixara em sua defesa. João Leite deixou o gol desesperado, mas o camisa 9 rubro-negro tocou por baixo, com calma. Mengão 1 a 0!

Nunes toca para fazer 1 a 0

A resposta atleticana, entretanto, foi imediata. Pouco depois do reinício do jogo, Toninho Cerezo recebeu na ponta-esquerda e passou a Reinaldo no meio da área. Mesmo marcado, o centroavante conseguiu dominar, contornar Manguito e Andrade, e chutar quase da linha de fundo. A bola bateu na coxa de Marinho e tirou totalmente Raul da jogada. Era o empate relâmpago, e o jogo seguiu equilibrado, com chances de gol para ambos os lados.

Zico sofria marcação implacável e dura por parte dos atleticanos. Aos 17, Chicão fez uma alavanca que poderia até ter quebrado a perna do camisa 10 rubro-negro, mas nem cartão o atleticano recebeu. A falta foi marcada e dali a cinco ou seis passos, o meia foi aterrado novamente, desta vez por Cerezo, que recebeu o cartão amarelo. Aos 20, Chicão novamente levantou Zico e desta vez também recebeu o cartão amarelo.

O Atlético fechava a frente da área com Chicão e Cerezo, e o Flamengo buscava os ataques quase sempre pelo lado esquerdo, com Júnior e Júlio César. Num cruzamento do ponta-esquerda, João Leite saiu em falso e não achou nada, mas Jorge Valença tranquilizou para os mineiros. Empurrado pela torcida, cantando a plenos pulmões, o time rubro-negro sufocava ao Atlético.


O Galo, catimbeiro, seguia pressionando a arbitragem. Aos 30, Luisinho reclamou de uma falta de Tita e José de Assis Aragão apitou, mas o zagueiro atleticano continuou chiando a tal ponto que o árbitro acabou marcando uma infração técnica do defensor atleticano. Aos 36, foi a vez de Nunes levar o amarelo ao acertar o zagueiro Luisinho. Embora o Flamengo já tivesse mais volume de jogo, as chances se sucediam de um lado e de outro.

Até que o desempate saiu, aos 41 minutos. Luisinho fez falta em Tita na ponta-direita, perto da bandeirinha de escanteio. Toninho levantou na área, João Leite espalmou e Orlando despachou. Mas a bola sobrou para Júnior, que tentou um primeiro chute, bloqueado por Palhinha. A sobra voltou para Júnior, que bateu de novo para o gol com o pé direito. No meio do caminho, a bola encontrou Zico, que aparou e, mesmo quase caindo, conseguiu tocar para as redes. O êxtase voltava ao Maracanã! Mengão 2 a 1!


Na saída de bola, o Atlético ainda tentou um novo empate relâmpago com Palhinha. Atenta desta vez, a defesa rubro-negra rechaçou. E no apito final do primeiro tempo, Chicão pegou a bola e a arremessou contra Júnior, iniciando ali um bate-boca com o lateral-esquerdo rubro-negro enquanto os times deixavam o campo de jogo.

No intervalo, nos vestiários, o técnico Cláudio Coutinho recebeu um bilhete e o entregou a Adílio, pedindo para que o meia lesse. Mesmo em voz baixa, podia ser ouvido pelos demais jogadores. Dizia a mensagem: "Companheiros, estou bem, torcendo de fora. Vamos pra cabeça. Assinado: Rondinelli". Era a senha para que o time Flamengo reforçasse o compromisso de entregar tudo em campo.

O entrevero entre Júnior e Chicão continuou na volta do intervalo. O lateral-esquerdo cometeu falta no volante já no campo de ataque e, após ser provocado, tentou acertar um tapa na cabeça do atleticano, que não acertou. O árbitro deu cartão amarelo ao rubro-negro, o segundo do time naquele jogo. Pouco depois, o Flamengo teve uma grande chance de ampliar o placar: Tita abriu o jogo para Júlio César na esquerda e o ponta cruzou de primeira para Nunes, que chegou atrasado por milímetros. Logo depois, aos oito minutos, Zico recebeu de Tita e entrou driblando em velocidade pela defesa do Atlético, parado apenas com falta por Luisinho, quase na risca da grande área. Na cobrança, a bola acertou a barreira.

O Atlético, que já havia trocado o lateral Orlando por Silvestre no intervalo, teve de gastar sua segunda alteração aos dez minutos da etapa final, quando Luisinho saiu lesionado para dar lugar ao lateral Geraldo (Silvestre passou para a zaga). Logo depois, numa bola esticada pela direita do ataque atleticano, que Marinho protegeu para a saída de Raul, Reinaldo sentiu um estiramento no músculo posterior da perna coxa direita. A torcida rubro-negra gritava "bichado", e o jogo parecia se colocar à feição do Flamengo.

Na ponta-esquerda, Júlio César era duramente marcado por Geraldo, o lateral atleticano chegou a atingir ao rubro-negro com um carrinho por trás sem, no entanto, ter levado sequer o cartão amarelo. Logo depois, Nunes perdeu chance incrível, chutando mal após um passe de Júnior.

Aos 16 minutos, porém, a defesa rubro-negra cometeu um erro fatal. Manguito saiu da área para dar combate a Palhinha e deixou Marinho sozinho. A bola chegou a Éder, que cruzou alto. Marinho não alcançou, e Reinaldo, que se infiltrou nas costas da zaga, apareceu desmarcado para finalizar de primeira. A bola entrou chorando no gol de Raul. O empate atleticano, que parecia improvável, foi obtido por um jogador que fazia número em campo para não deixar seu time com um a menos.

O Flamengo mexeu no time: saiu Carpegiani e entrou Adílio. O Atlético ganhou confiança. Mas um impedimento mal marcado de Reinaldo na ponta-direita degringolaria numa enorme confusão. O atacante atleticano parou na frente da bola para impedir a cobrança e a chutou, levando o árbitro a expulsar ao camisa 9 do Galo. O técnico Procópio Cardoso e todo o banco atleticano invadiram o campo, paralisando o jogo por mais de seis minutos. O treinador mineiro também acabaria sendo expulso.

Segundo a crônica da Revista Placar: "Reinaldo xingou a mãe do juiz, e José de Assis Aragão revidou: 'Quebro a cara desse moleque. Tá expulso!'". O fato é que a longa pausa esfriou o jogo até quase os 30 minutos do segundo tempo, beneficiando ao Atlético, que seria campeão com aquele empate. O Flamengo buscava forças para reagir. Adílio havia entrado bem no lugar de Carpegiani, e Júlio César crescia no jogo, impondo muita velocidade pelo lado esquerdo de ataque. O ponta incomodava a defesa adversária com seus dribles rápidos.

Aos 36, Osmar sairia jogando outra vez até o meio-campo, e sua tentativa de lançar Pedrinho foi interceptada por Júnior, que entregou a bola para Andrade. O camisa 8 então lançou a bola para Nunes, novamente no espaço deixado pelo beque atleticano. O atacante rubro-negro disparou em velocidade e tentou alçar a bola para a área, mas ela bateu no peito de Silvestre e voltou para ele. Na risca lateral da área, o centroavante parou na frente do marcador. Instintivamente, Nunes deu o drible para dentro, arrancou pela linha de fundo e, quando o arqueiro atleticano caiu para fechar o canto, o centroavante bateu a meia altura, colocando a bola entre o arqueiro e a trave. Um gol de raça, de ousadia, de inspiração! Um dos mais memoráveis das histórias do Maracanã e do Campeonato Brasileiro. Explodiu de vez a torcida rubro-negra, que até então sempre apoiava e empurrava o time, mas que estava um tanto aflita. E, então, ficou aliviada.


Aos 39 minutos, para reforçar a marcação, Júlio César deixaria o campo dando lugar ao lateral Carlos Alberto, que entraria no meio-campo para conter Toninho Cerezo. Agora era o Flamengo que se fechava e explorava os contra-ataques puxados por Zico. O Atlético já se deixava vencer pelos nervos: Osmar foi driblado por Andrade e cometeu falta. Quando o camisa 8 se levantava, de passagem, o zagueiro atleticano acertou um soco em seu rosto. Nem cartão recebeu.


Depois, Tita sofreu falta perto do bico da área pelo lado direito, Chicão pegou a bola e jogou no árbitro. O Flamengo pedia desesperadamente o fim do jogo, mas o árbitro esticava para repor o tempo perdido com a paralisação após a expulsão de Reinaldo. Já eram 48 minutos do 2º tempo quando Tita recebeu um passe na meia esquerda e levou um pontapé de um descontrolado Chicão, enfim expulso imediatamente. Logo depois seria a vez de Palhinha, que encostou no árbitro e disse-lhe alguma coisa, os dois discutiram e o meia-atacante atleticano também recebeu o cartão vermelho.


O Flamengo rodava a bola de pé em pé aguardando o apito final, mas ainda levaria um susto: Carlos Alberto recuou para Manguito, que perdeu a bola para Pedrinho, o ponta arrancou num último gás e passou até mesmo pelo goleiro Raul, que já deixava a área. Quando Pedrinho preparou a perna para armar o chute, Andrade apareceu na hora exata para bloqueá-lo. E, para o alívio dos rubro-negros, aquele seria o último lance da partida, encerrada aos 51 minutos de jogo. A multidão, que já aguardava o fim do jogo à beira do campo, rapidamente invadiu o gramado. Mengão 3 a 2! Enfim, o Flamengo era Campeão Brasileiro de Futebol.







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