Jogos Inesquecíveis: 05/11/1989 - Flamengo 2 x 0 Vasco
"Nestas décadas (1970s e 80s), se aguçou muito a rivalidade entre Flamengo e Vasco. Depois de o Vasco roubar Bebeto do Flamengo, o troco veio com a contratação do zagueiro vascaíno Fernando, que, obviamente, não era uma contratação com o mesmo peso. Os dirigentes dos dois clubes também duelaram para contratar o zagueiro equatoriano Quiñones, destaque de sua seleção na Copa América de 1989. O zagueiro ficou com o Vasco, onde foi campeão brasileiro com o time que, quando montado, foi chamado de SeleVasco. Além de Bebeto e Quiñones, o Vasco também contratou o lateral direito, da seleção brasileira, Luís Carlos Winck, ao Internacional, e o meio-campista Marco Antônio Boiadeiro. Eles se juntaram a uma base que já era forte: tinha o goleiro Acácio (reserva na Copa do Mundo de 1990), o lateral esquerdo Mazinho (campeão da Copa do Mundo de 1994) e os jovens Bismarck, Willian e Sorato.
A rivalidade neste ano produziu um clássico inesquecível para a torcida rubro-negra, na 11ª rodada. O Vasco era o líder invicto do Brasileiro e o Flamengo vinha numa campanha extremamente irregular (duas vitórias, quatro empates e quatro derrotas). Os substitutos de Bebeto não haviam tido sucesso: o que vinha jogando de titular, Nando, estava lesionado. Anunciou-se durante a semana que o titular seria o centroavante da equipe de juniores, um garoto chamado Bujica. O apelido incomum gerou várias piadas durante a semana. Todos esperavam uma goleada do Vasco. Só que aquela tarde de domingo demonstrou claramente porque o futebol é o esporte mais popular do mundo. A prática desportiva na qual é, muitas vezes, comum que um Davi vença um Golias. O Flamengo venceu aquele jogo por 2 a 0, acabando com a invencibilidade do Vasco no campeonato, e com dois gols de Bujica!
Depois do segundo gol, o goleiro Zé Carlos foi provocar Bebeto. Os dois trocaram socos e foram expulsos. Bebeto saiu de campo chorando, passando, a partir desta tarde, a ser provocado pela torcida rubro-negra, que lhe gritava chorão. Um domingo que grandes corações rubro-negros nunca esqueceram". (A NAÇÃO, pgs. 154-155)
Ficha Técnica:
05/11/1989 - Flamengo 2 x 0 Vasco
Local: Maracanã (Público: 59.076 pagantes)
Gols: Bujica (30'1T) e (8'2T)
Fla: Zé Carlos, Josimar, Júnior, Fernando e Leonardo; Ailton, Luís Carlos (Zé Carlos Paulista), Zico e Zinho; Alcindo e Bujica (Nando).
Téc: Valdir Espinoza
Vasco: Acácio, Luís Carlos Winck, Leonardo, Quiñonez e Mazinho; Andrade, Zé do Carmo, Marco Antônio Boiadeiro (Willian) e Tita; Bismarck (Vivinho) e Bebeto.
Téc: Nelsinho Rosa
A História do Jogo
No dia 5 de novembro de 1989, Marcelo Ribeiro saiu de cena para dar a Bujica a eternidade. Naquele dia, a jovem revelação da base do Flamengo experimentou a glória de marcar os dois gols da vitória sobre o Vasco em um clássico jamais esquecido pelos rubro-negros. Os 59.076 torcedores que foram ao Maracanã, no entanto, tinham os olhos voltados para um outro atacante: Bebeto. Meses antes, o então ídolo do Flamengo pulou o muro e foi justamente para o maior rival. Na tarde marcada para o reencontro, Bujica brilhou, Bebeto foi expulso e deixou o campo chorando.
Bebeto e Flamengo estavam negociando a renovação de contrato após o fim do 1º semestre da temporada de 1989, no período em que o jogador estava servindo à Seleção Brasileira na Copa América. Havia diferença considerável entre as propostas e a estratégia do Flamengo foi endurecer e tentar vencer pelo cansaço.
A legislação da época, mais de uma década antes do fim do passe, determinava que o clube deveria fixar o valor do passe do jogador sem contrato na federação, em valor proporcional à proposta feita, idade do jogador e tempo de clube. Assim, o passe de Bebeto foi fixado em 7,5 milhões de cruzados.
O Flamengo se arrependeu amargamente da estratégia adotada, afinal logo o Vasco fez o depósito, comprou o passe e fechou com o jogador. Naquela época Eurico Miranda era diretor de seleções da CBF, o que aumentou ainda mais a raiva dos rubro-negros. Ficou a ideia de que o cartola aproveitou sua posição para influenciar na tomada de decisão do jogador. Outro vilão foi o procurador do jogador, José Moraes, cuja atuação foi vista como decisiva na decisão de desistir de esperar pelo Flamengo e fechar com quem estava disposto a pagar o preço do passe.
Alguns meses depois, pela 13ª rodada do Campeonato Brasileiro, finalmente Flamengo, Vasco e Bebeto se encontraram novamente. O público de 59.076 pagantes foi o recorde daquele campeonato. O time rubro-negro estava muito mal na tabela de classificação, enquanto o líder Vasco, que tinha em seu elenco nomes como Acácio, Luiz Carlos Winck, Marco Antônio Boiadeiro e Tita, não havia sifrido nenhuma derrota. O time cruzmaltino era considerado por todos amplamente favorito, e havia quem acreditasse em goleada vascaína.
Quando a bola finalmente rolou o que se viu foi uma bela atuação dos veteranos Zico e Júnior, os demais jogadores do Flamengo muito aplicados, a estrela do centroavante Bujica brilhando com os dois gols da vitória por 2 a 0, Bebeto perdendo a cabeça e sendo expulso após o 2º gol rubro-negro e a torcida do Flamengo em delírio cantando a música de Beth Carvalho: "vou festejar, o teu sofrer, o teu penar, você pagou com traição a quem sempre lhe deu a mão".
Valdir Espinosa organizou o Flamengo para, primeiro, não deixar a bola chegar a Bebeto. Segundo, brilhante, tirou um coelho da cartola: o Maestro Júnior jogou de zagueiro central, mas várias vezes quebrou a marcação de Andrade, Boiadeiro e Zé do Carmo, trocando de posição com Ailton e ajudando Zico (sempre desmarcado) a criar. No primeiro tempo, Bujica deixou o zegueiro equatoriano Quiñonez caído, após receber passe de Zico, e abriu o placar. Na etapa final, o atacante aproveitou um novo lançamento do Galinho e concluiu para a rede. Contrariando prognósticos de muita gente.
Nas palavras da memória daquele jovem: "Eu entrei na estreia do Bebeto no Vasco jogando contra o Flamengo. Ele foi muito profissional e a opção que ele achou a melhor para ele foi ter ido para o Vasco da Gama e isso tem de ser entendido. O Flamengo venceu aquele jogo e eu fiz os dois gols, o Bebeto ainda foi expulso junto com o Zé Carlos, goleiro do Flamengo. O Eurico Miranda (então vice-presidente de futebol do Vasco) havia falado muito antes do jogo. Alguns diretores, jogadores e a torcida estavam chamando o Júnior e o Zico de velhinhos, e os dois acabaram arrebentando naquele jogo. Eu não esqueço a hora que o Flamengo entrou em campo, a gente saiu do túnel do Maracanã, foi cumprimentar a torcida, e eu estava junto dos meus grandes ídolos de infância. Foi o último Flamengo e Vasco que Zico e Júnior jogaram juntos, e eu fiz os dois gols da vitória".
O jogo ocorreu em meio à reta final da campanha para as eleições presidenciais de 1989, as primeiras eleições diretas em quase 30 anos. A campanha teve muitos candidatos e diversos slogans marcantes. Entre eles alguns que ficaram associados ao jogo. Zico e Júnior cantarolavam no vestiário o jingle de Ulysses Guimarães, "bote fé no velhinho, que o velhinho é demais", e a torcida rubro-negra criou adesivos com o slogan do candidato Fernando Collor, então chamado de "caçador de marajás", apelidando assim ao jovem atacante rubro-negro, a homenagem a Bujica, o carrasco da Selevasco, então único time invicto no Campeonato Brasileiro daquele ano, do qual se sagrou campeão.
Bujica e Zico
eu estava na arquibancada. cantamos para o Bebeto a musica da bete carvalho: " Você pagou com traição, à quem sempre lhe deu a mão"
ResponderExcluir