Jogos Inesquecíveis: 29/05/1983 - Flamengo 3 x 0 Santos
"O time estava novamente na final, agora para duelar contra o Santos, de Pita, Paulo Isidoro e Serginho Chulapa. Na primeira partida, vitória por 2 a 1 dos santistas. A finalíssima era no Maracanã, e o Flamengo precisava vencer por dois gols de diferença. O placar foi inaugurado logo com 50 segundos de jogo, gol de Zico. Aos 39 minutos do primeiro tempo, Leandro ampliou. No segundo tempo, a vitória foi sacramentada com um gol de Adílio, aos 23 minutos. O Maracanã mais uma vez explodia de alegria e emoção. Porém, horas depois de levantada a taça, uma bomba: Zico anunciava que o Flamengo o havia vendido para a Udinese, da Itália. Encerrava-se a Era de Ouro". (A NAÇÃO, pg. 135)
Ficha Técnica:
29/05/1983 - Flamengo 3 x 0 Santos
Local: Maracanã, Rio de Janeiro (Público: 155.253 pagantes)
Gols: Zico (50''1T), Leandro (39'1T) e Adílio (44'2T)
Fla: Raul, Leandro, Marinho, Figueiredo e Júnior; Vítor, Élder, Adílio e Zico; Júlio César Barbosa (Ademar) e Baltazar (Robertinho)
Téc: Carlos Alberto Torres
Santos: Marolla, Toninho Oliveira, Joãozinho, Toninho Carlos e Gilberto Sorriso; Toninho Silva (Serginho Dourado), Paulo Isidoro e Pita; Camargo (Paulinho Batistote), Serginho Chulapa e João Paulo
Téc: Formiga
A História do Jogo
Antes da decisão, a imprensa levanou muita polêmica em torno da final: discussões sustentadas num bairrismo bipolarizado entre paulistas e cariocas. Toda a polêmica rondava a ordem dos jogos. O Santos tinha melhor campanha na soma de todas as fases, porém o critério para definir o mando na final era a soma de pontos a partir da terceira fase — aí a vantagem era rubro-negra. O regulamento da CBF era claro: "A vantagem do segundo jogo como mandante segue os seguintes critérios, nesta ordem: maior número de pontos, maior número de vitórias, maior saldo de gols e maior número de gols a partir da terceira fase". Santos e Flamengo chegavam à decisão com os mesmos 13 pontos acumulados, mas o critério de desempate favorecia a Zico e cia: o Flamengo acumulou cinco vitórias até a final, contra quatro vitórias santistas. Além do jogo de volta, seria no Maracanã uma eventual terceira partida, caso os dois times empatassem em pontos e gols nos duelos decisivos.
No primeiro jogo da final, com o Morumbi lotado, o Flamengo perdeu chance clara com Élder logo no início e acabou castigado com a abertura do placar pelos santistas, num chute forte, de fora da área, de Pita em rebote de escanteio. No segundo tempo, aos 18, uma bobeada da defesa rubro-negra, que parou para reclamar da marcação de uma falta, resultou no segundo gol do time paulista, com Serginho Chulapa aproveitando rebote de Raul. Na comemoração, o atacante foi atingido por um rojão arremessado por sua própria torcida. Enquanto Serginho era atendido fora do campo, houve um escanteio para o Flamengo. Júnior levantou na área e Mozer tocou de cabeça para trás na segunda trave, Marinho também testou e Baltazar desviou de cabeça para as redes. Um gol que manteve o Flamengo vivo no campeonato. O problema foi perder Mozer, um dos melhores em campo, que sofreu um afundamento do malar após uma cabeçada sem intenção de Paulo Isidoro no último minuto.
Após a derrota por 2 a 1 na jogo de ida, o Flamengo precisava vencer por dois gols para levar o título nos 90 minutos. Em caso de vitória por um gol de diferença, independentemente do placar, haveria uma terceira partida, de desempate. Um empate significava título do Santos. Para empurrar os rubro-negros em busca do terceiro título brasileiro, recorde de público, com nada menos do que 155.253 torcedores ao Maracanã.
Logo aos quarenta segundos de bola rolando, a massa rubro-negra é premiada com o primeiro gol, marcado por Zico. Quarenta segundos. Pouca coisa aconteceu entre a bola começar a rolar e ela ser lançada por Vítor para Júlio Cesar Barbosa, o loirinho garoto goiano dá dois cortes em Toninho Oliveira e cruza rasteiro, Baltazar é bloqueado, Júnior pega a sobra e enche o pé, Marolla espalma, e Zico, no lugar certo e na hora certa, toca para o gol vazio, mesmo caído. O Maracanã ferve, pulsa, treme! A decisão já está igual de novo.
Baltazar perdeu uma ótima chance de ampliar logo aos cinco, tocando por cima na pequena área. Em seguida, seguem-se polêmicas de arbitragem que enlouquecem os torcedores nas arquibancadas: primeiro Toninho Silva corta com o braço um cruzamento de Zico dentro da área, mas o jogo segue. Instantes depois, Pita arranca e é travado por Marinho fora da área, quase sobre a linha, os santistas pedem pênalti, e o árbitro Arnaldo César Coelho marca obstrução (uma regra que deixou de existir no regulamento do futebol alguns ano depois) assinalando tiro livre indireto dentro da área. A cobrança não deu em nada.
O Santos cresceu então no jogo e assustou em alguns lances. O Flamengo respondeu com uma cabeçada de Baltazar que tinha endereço certo, mas Marolla foi buscar, fazendo ótima defesa. Aos 40 minutos, houve uma falta lateral para o Flamengo perto da linha de fundo. Zico levantou na primeira trave e Leandro cabeceia no canto, inapelável. Ainda no 1º tempo, o time rubro-negro conquista o resultado que necessitava para levantar o título.
Ainda antes do fim do primeiro tempo, o lateral-direito quase marcou de novo, o que teria sido o terceiro gol rubro-negro, depois de desarmar o ponteiro João Paulo, cortar pelo meio e, de pé esquerdo, desferir um petardo que explodiu no travessão e quicou sobre a linha. O Flamengo ia para o intervalo como o senhor da partida.
No 2º tempo, o Santos voltou do intervalo pilhado e querendo a todo custo descontar a vantagem rubro-negra, e neste ímpeto de luta, até passou a dar entradas duras em alguns lances. Mas o Flamengo aos poucos foi retomando o domínio do jogo. Entretanto, a esperança de um gol santista que levaria a partida para a prorrogação mantinha a partida numa intensa carga emocional.
No time rubro-negro, Vítor e Adílio eram onipresentes. O volante era o motor do meio de campo rubro-negro, correndo, cobrindo, passando, lançando. Já o meia, dono da camisa 8, muitas vezes contestado durante todo o campeonato por não ter mantido uma regularidade, teve naquele dia uma das maiores atuações de sua carreira. O Flamengo chegou perto do terceiro gol, mas Júlio Cesar e, mais tarde, Adílio, pararam em Marolla.
O descarrego de toda a energia e apreensão acumuladas nos nervos de rubro-negros e santistas, com alívio de uns e agonia dos outros, metarializou-se aos 44 minutos do 2º tempo: Vítor desarmou um jogador do Santos que tentava iniciar um contra-ataque e Robertinho, que entrara no lugar de Baltazar, ganhou a disputa com Gilberto na beira do campo, dando dois cortes lindos no lateral santista e cruzando alto. Adílio, aquele que se dizia que "não sabe cabecear", testou para enfim vencer Marolla, pela terceira e última vez no jogo. O título se materializava! O Maracanã explode em festa!
Com o êxtase do gol do título, o gramado do Maracanã foi invadido por jornalistas que cobriam a partida à beira do campo, sobretudo radialistas. Descontrolados, aos jogadores do Santos não lhes ocorreu coisa melhor do que tentar estragar a festa. A confusão começou a partir do momento no qual o meia Paulo Isidoro agrediu a um fotógrafo da Revista Placar. Deste momento em diante o campo é tomado por uma batalha campal entre jornalistas e jogadores do Santos, entre os quais Marolla e Serginho figuravam entre os mais desequilibrados. Não havia mais como haver jogo de futebol. Alheios a toda a confusão, os jogadores do Flamengo saboreavam o título e a festa popular.
Nada mais importava. O Flamengo era Tri-Campeão Brasileiro, contrariando os prognósticos daquele time totalmente modificado frente ao que fora campeão brasileiro em 1982. Um Flamengo em crise, destroçado, rachado internamente, supostamente uma caricatura da grande equipe que foi nos anos anteriores, reconstruiu-se, recuperou a alegria e deu a volta por cima com mais uma taça nas mãos. Fim de um ciclo? Sim, foi! Até porque o astro maior, Zico, partiria para a Udinese dali a alguns dias. Mas, como todo bom time vencedor, o Flamengo encerrava brilhantemente a seu ciclo de ouro, com mais um título brasileiro.
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