"O Flamengo fazia o primeiro jogo da final em casa, no Rio de Janeiro, e depois iria disputar a finalíssima no estádio Olímpico, em Porto Alegre. Em caso de dois resultados iguais, o Grêmio ainda tinha a vantagem de ser mandante em um terceiro jogo, que também seria jogado em seu estádio.
Os gaúchos, campeões nacionais em 1981, pareciam estar muito próximos de faturar o bicampeonato. O time gremista era muito forte, com Leão no gol, o uruguaio Hugo De Leon liderando a defesa, um meio de campo forte – com Batista na contenção – e criativo – com Paulo Isidoro na armação –, e a jovem revelação Renato Gaúcho levando o ataque para frente. Uma equipe fortíssima. Um confronto acirradíssimo. No primeiro jogo, empate por 1 a 1 no Maracanã. No segundo, novo empate, agora sem gols, no Olímpico. As duas equipes foram para o terceiro jogo, também em Porto Alegre. O Flamengo mostrou a força de seu time, muito aguerrido e cheio de talentos. Vitória por 1 a 0, com um gol de Nunes logo aos dez minutos do primeiro tempo. O vermelho e o preto, mais uma vez, tingiam o troféu máximo do futebol nacional". (A NAÇÃO, pg. 133)
Nunes discutindo com o goleiro Leão
Ficha Técnica
25/04/1982 - Flamengo 1 x 0 Grêmio
Local: Estádio Olímpico, Porto Alegre (Público: 66.256 pagantes)
Gol: Nunes (10'1T)
Fla: Raul, Leandro (Antunes), Marinho, Figueiredo e Júnior; Andrade, Adílio e Zico; Tita, Nunes (Vítor) e Lico.
Téc: Paulo César Carpegiani
Grêmio: Emerson Leão, Paulo Roberto, Hugo De León, Newmar e Paulo César Magalhães; Batista, Paulo Isidoro e Vílson Taddei; Renato Gaúcho, Baltazar (Paulinho) e Tonho (Odair).
Téc: Ênio Andrade
A História do Jogo
O Flamengo entrou no Brasileiro de 82 com o status de Campeão do Mundo e time a ser batido no Brasil, aquele que comandava o país com um futebol deslumbrante e vencedor. E chegou à final para enfrentar ao Grêmio, que tinha uma equipe que se consagraria campeã mundial no ano seguinte, um time muito forte, com Leão no gol, o uruguaio Hugo De Leon liderando a defesa, um meio de campo forte – com Batista na contenção – e criativo – com Paulo Isidoro na armação –, e a jovem revelação Renato Gaúcho levando o ataque para frente. Uma equipe fortíssima. Um confronto acirradíssimo. Em campo, o Campeão do Mundo e da Libertadores de 1981 e do Brasileiro de 80 contra o Campeão Brasileiro de 81 e futuro Campeão do Mundo e da Libertadores em 1983.
Clima quente e de rivalidade acirrada. A imprensa dava o Grêmio como favorito e próximo de faturar o bicampeonato brasileiro, o que indignou os jogadores do Flamengo. Na véspera do confronto, Júnior era enfático: "Eles têm é muito papo e pouca bola.... Esse timinho deles não é de nada. Perde fácil para o São Paulo, o Guarani e o Atlético Mineiro. Se jogar dez vezes conosco, vai perder pelo menos sete. O que é que há! Meu Deus, será que eles não sabem respeitar um bom time como o Flamengo? Passaram a semana toda dizendo bobagem".
O primeiro jogo da final seria no Maracanã, no Rio de Janeiro, e depois a finalíssima no Estádio Olímpico, em Porto Alegre. Em caso de dois resultados iguais, o Grêmio ainda tinha a vantagem de ser mandante em um terceiro jogo, que também seria disputado em seu estádio. No primeiro jogo, empate por 1 a 1 no Maracanã. No segundo, novo empate, desta vez sem gols, no Olímpico. As duas equipes foram para o terceiro jogo, também em Porto Alegre. Três jogos. Três batalhas.
No Maracanã, o jogo foi nervoso e digno da finalíssima que todos esperavam. Aos 37 do segundo tempo, Tonhão abriu o placar para o Grêmio. Na casa rubro-negra, os tricolores conseguiam um resultado que os deixaria com a taça na mão. Mas quem tem Zico... o craque rubro-negro marcou aos 44: jogo empatado. Segunda partida em Porto Alegre: não houve futebol, houve um 0 x 0 que não decidiu nada e colocou tudo na última partida.
Logo no início, aos dez minutos, gol do Nunes, mais uma vez sendo "artilheiro das decisões". e daí nas palavras de Andrade: "Depois que fizemos 1 a 0, tive a certeza do título. Me plantei na cabeça da área e fiquei esperando o apito do juiz. Sabem quando eles iam fazer gol na gente? Nunca! Eita timinho sem criatividade este do Grêmio". Mas a guerrilha até o apito final não foi nada tranquila.
Depois do gol, Nunes teve mais duas boas chances, uma cara a cara com o Leão. O jogo era lá e cá, com o Grêmio ameaçando em chute de De León, com Renato sendo bloqueado na pequena área e Tonho quase marcando duas vezes, numa delas, aos tinta e cinco minutos, tendo sido derrubado quando ia chutar ao gol. Os gremistas ficaram indignados pedindo pênalti. O árbitro paulista Oscar Scolfaro que, em consequência de sua péssima forma física, estava muito longe da jogada, mandou o jogo prosseguir.
Na volta do intervalo, novamente aos dez minutos (mesmo tempo em que havia saído o gol rubro-negro no primeiro tempo), mais uma polêmica de arbitragem para indignação gremista. Como definiu o jornalista Cláudio Henrique, muitos anos depois, no título de seu artigo na Revista Placar: o Brasileiro do lance 'muito estranho'. Escanteio cobrado para a área rubro-negra, confusão na pequena área, e uma mão aparece em cima da linha para tirar a bola que ia a caminho do gol. Os gremistas queriam gol, alegando que ela já havia cruzado a linha. Ou ao menos que fosse marcada mão de Andrade. Os rubro-negros apontavam que havia sido a mão de Raul quem havia cortado a bola antes dela entrar, evitando o gol de empate. No mesmo artigo, o parecer do jornalista: "Vi e revi dezenas de vezes os VTs sem conseguir saber quem afinal deu aquele tapa na bola, quando ela já cruzava a linha do gol, empatando a final. Andrade? Raul? Só havia um jeito de descobrir: entrar no gramado e achar um lugarzinho atrás do gol. Foi tudo muito rápido".
Após a partida, o testemunho dos jogadores do Grêmio foi registrado pela mídia esportiva. Paulo Isidoro em entrevista ao jornal gaúcho Zero Hora deu sua versão: "Digo com sinceridade, se foi gol eu não vi bem, mas que o Andrade pôs a mão na bola, isto eu tenho certeza". Newmar para outro jornal de Porto Alegre, a Folha da Tarde, deu sua versão: "Cabeceei e Marinho ou o Figueiredo, não sei ao certo, deu um tapa na bola. Se o árbitro estivesse perto do lance, como deveria, teria dado o pênalti. Esse Scolfaro está fora de forma, gordo". Anos depois, em entrevista do ponta-direita Renato para o jornalista Régis Roesing na TV Globo deu sua opinião: "A bola tava entrando e o Andrade esticou o corpo junto com o braço. Eu acredito que tenha sido com o braço. Tava em cima da linha, aí podia ter sido pênalti, se tivesse colocado o braço na bola, ou de repente a bola até tivesse entrado já". Para a eternidade a choradeira tricolor foi uníssona: "juizão meteu a mão!".
Daquele momento em diante foi bem grande a pressão gremista até o apito final, mas o placar não saiu do 1 x 0. O Flamengo consolidava seu segundo título brasileiro, numa partida brigada e em nada bem jogada, com um futebol feio, em que a vitória foi conquistada na raça e na vontade, num confronto que foi uma verdadeira guerra.
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