Toquei pela primeira vez neste tema aqui num post publicado em 19 de setembro de 2011. Passados 14 meses, senti a obrigação de voltar ao tema, afinal nestes quatorze meses não faltaram evidências, cada vez mais descaradas, desta Guerra Fria em marcha. O objetivo final é um só: tirar do Flamengo o posto de maior torcida do Brasil e passá-lo ao Corinthians.
Se alguma vez não ficou claro, é preciso enfatizar que isto está longe de ser uma luta romântica, lutada por corações apaixonados e abnegados de um esporte essencialmente pacional. Esta é uma causa político-econômica. Primeiro como bastilha política de auto-afirmação de São Paulo como força hegemônica única do Brasil do século XXI. É inegável que a bipolaridade Rio-São Paulo é capítulo de livro de história sobre o Brasil do século XX. Em segundo lugar, é uma guerra econômica, de disputa pelas fatias cada vez mais gordas que movimentam o futebol brasileiro. Destronar o Flamengo significa aumentar a capacidade de arrecadação dos cofres das agremiações paulistanas. Por último, é uma guerra de mídia: a maior emissora de televisão do Brasil continua sendo a Rede Globo, e embora a maior parte do jornalismo da emissora esteja em São Paulo, e não mais no Rio, a capital carioca segue tendo importante fatia de transmissões, empregos e formação de opinião. Basta uma rápida lida em qualquer jornal impresso ou outro veículo paulistano e lá estará o adjetivo "a emissora carioca" fazendo menção à Globo. As outras emissoras, todas paulistanas, têm um interesse explícito em destronar o Flamengo: elas não gostam e não querem ficar falando de times que não sejam de São Paulo; além de mais, custa mais caro para elas, que não têm a ramificação nacional que a Globo tem. Dito isto, vamos repassar os capítulos que relatei aqui no blog sobre esta Guerra Fria no futebol brasileiro.
O objetivo desta Guerra Fria vai sendo mostrado cada vez de forma mais descarada. Eis o principal exemplo: no dia da final da Libertadores 2012, entre Corinthians e Boca Juniors, o clube paulista e a Nike publicaram carta nos principais órgãos de imprensa de São Paulo direcionada à maior torcida do Brasil. Estavam falando do Flamengo? Falaram pelos interesses do subsolo do futebol brasileiro. Em tempos de business, marketing e planejamento estratégico como atores preponderantes do futebol, o objetivo e a meta não poderia ter sido explicitado de forma mais clara, ainda que sob uma mentira.
Como sempre, diante dos argumentos aparecerão os inquisidores, com "argumentos em riste" e contra-argumentos conspiratórios. Por isso, antes de mais nada, é bom deixar claro que aqui não há nenhum xororô nem algum muro de lamentações. Sob o vermelho e o preto nunca houve e nunca haverá espaço para coisas assim. E é isso, na pedra fundamental, o que nos dá nossa grandeza. Mas é preciso se ter na consciência que os paulistas não descansarão um só minuto enquanto não nos tirarem o posto de mais querido do Brasil, de clube de maior torcida do Brasil. São capazes de tudo, até de acabar com o futebol brasileiro, se assim preciso for.
Treinadores como Tite, Luiz Felipe Scolari e Emerson Leão são importantes oradores deste pensamento. Não esqueçamos o que Tite disse na reta final do Brasileiro de 2011: "os dois últimos Brasileiros foram sujos". Não é coincidência que o pensamento dele se referisse a anos com títulos da dupla Fla-Flu em 2009-2010. Ele camuflava aquele argumento no fato de supostas “entregas de resultado" por rivais dos times que disputavam o título com Fla e Flu. Ele só jamais mencionaria que no título do São Paulo em 2007 aconteceu a mesma coisa nas rodadas finais (adversário jogando com reservas) nem o que aconteceu no título do Corinthians em 2005. A sujeira é seletiva. Para a imprensa paulista, invasões e tentativas de agressão a jogadores "fazem parte da cultura do Corinthians", é a "Democracia da Fiel". Por acontecimentos menores na Gávea, há manifestações muito mais contundentes dizendo que o Flamengo é uma bagunça, uma várzea. Os oradores também se repetem: o "Craque Neto" do Yahoo (nome ridículo para o ídolo corinthiano Neto, que só pode ter sido craque na cabeça de algum caipira translocado) que para falar das confusões envolvendo Adriano já falou mais de uma vez que "Flamengo é clube de várzea". Um entre tantos casos em que entram em cena os oradores da mídia - Milton Neves, Neto, Marcondes Brito, Mauro Cézar Pereira, entre outros - todos fazendo o que fica fácil fazer: bater e humilhar, por um propósito final que sabemos e já falamos qual é. Nas bandas de lá, Adriano ficou um ano no Corinthians recebendo salário extratosférico e só jogou 5 vezes, nenhuma por mais de 45 minutos. Isso jamais repercutiu de forma humilhatória e vexatória como repercutiu a situação de Ronaldinho Gaúcho na Gávea. Em 2011, Ronaldinho não só foi Campeão Carioca Invicto (coisa que o Flamengo só tinha conseguido 2 vezes na história da era profissional) como eleito tanto pela CBF quanto pela Bola de Prata da Revista Placar na Seleção do Brasileiro 2011. Por muito menos, os dois anos de Ronaldo "Fenômeno Gordo" foi aclamado no Corinthians como sensacional, ainda que se resumindo a duas atuações brilhantes na reta final do título do Campeonato Paulista 2009. Mas R9 levou patrocinadores para o Timão, R10 não trouxe pro Flamengo.
O Flamengo precisa de alguém para cuidar da sua imagem com mais carinho: a imprensa carioca bate, a paulista humilha! As agitações que partem de dentro do clube reverberam fácil na imprensa carioca, que é uma imprensa babaca e sensacionalista, formada em escolas de "rebeldia sem causa", com comunismo na veia (daí vem o viés destrutivista e anti-riqueza) e que sobrevive de fuxico e fofoca. É de dentro dela que nascem os ataques à imagem do clube, com outros fins, sim, sem dúvida, mas que detonam a imagem do clube pelo Brasil.
Nesta Guerra, sem dúvida, há bairrismo também: citei aqui no blog o texto "O Rio de Janeiro continua lindo. Mas o futebol, nem tanto", escrito pelo jornalista Marcondes Brito, do Grupo Bandeirantes. Nas palavras deste senhor palpiteiro: "A provável eliminação do Flamengo na primeira fase da Libertadores da América (2012) retrata bem o momento que o futebol do Rio de Janeiro está vivendo. Os encantos da cidade, o estilo de vida despojado, as belezas naturais, tudo isso deve influenciar no comportamento de cartolas e atletas para levar uma vida, digamos, mais relaxada. Perguntem a Ronaldinho Gaúcho se ele quer sair de lá. Nunca. Anotei a seguir alguns dos principais sintomas do quadro de penúria do futebol carioca, além, é claro, do vexame do Flamengo na Libertadores". Em 2010, quando o Corinthians foi eliminado pelo Tolima, da Colômbia, na Pré-Libertadores, o palpiteiro que ganha espaço para falar besteira na mídia talvez tenha pensado o mesmo, porque escrever, não escreveu. O Corinthians é o único time brasileiro na história a ter caído antes da fase de grupos.
Vocês leram em A NAÇÃO a citação ao artigo publicado na Folha de São Paulo, em setembro de 2009, que decretava: "O futebol carioca acabou". Humberto Perón, em 8 de setembro de 2009, disse: “Não dá para esconder a decadência do futebol carioca. Atualmente, os quatro grandes times do Rio de Janeiro vivem em péssimas situações. O Flamengo, o melhor time do estado no Campeonato Brasileiro, não tem a mínima chance de conquistar o título ou uma vaga na Taça Libertadores.” Os argumentos do autor eram: um futebol praticado em ritmo cadenciado e sem força física, atrasado em relação a outros centros em termo de preparação física, com estilo preguiçoso, que treina pouco e dá regalias a jogadores. A máxima que dimensiona o tamanho da conquista rubro-negra também está no texto de Perón: “Os times cariocas continuam parados no tempo porque só ganham campeonatos jogados no mata-mata.” O campeonato nacional no formato de pontos corridos só passou a ser disputado a partir de 2003, em pleno ápice da decadência econômica e social do Rio de Janeiro. Antes, a fase final era jogada em play-offs (mata-mata). A primeira edição foi vencida pelo Cruzeiro, mas a partir de 2004 só deu título paulista. Os times de São Paulo conquistaram cinco edições consecutivas. Tendo a cidade a maior concentração de renda do país, e estando o futebol imerso numa conjuntura em que cada vez mais o poder do capital, do marketing e do financiamento empresarial dominava o cenário, não parecia haver equipe capaz de romper esta hegemonia. A sentença foi decretada pela imprensa esportiva: só seria campeão em pontos corridos quem tivesse infraestrutura e organização, por isso, títulos de times do Rio estavam fora de cogitação nesta conjuntura. E desta sentença, nasceu o mito: se sempre houvesse sido em pontos corridos, as equipes cariocas jamais teriam os títulos outrora conquistados. Este troféu (de 2009), mais do que qualquer outro na história deste arrebatador de multidões, teve uma importância diferenciada. Era questão de honra ser campeão também no formato por pontos corridos. Mais uma vez bradava-se que o sucesso estaria restrito a um grupo fechado entre aqueles com maior poder e recursos financeiros. Coube novamente à força e à bravura dos flamenguistas a derrubada desta prepotência e arrogância. Brasil afora, em silêncio, de novo ecoava o pensamento: certas coisas só o Flamengo fazia ou era capaz de fazer". (A NAÇÃO, pg. 250)
Três meses depois da publicação deste texto, o Flamengo sagrava-se Campeão Brasileiro. No ano seguinte o Rio de Janeiro era Bi-Campeão Brasileiro, depois faturava a Copa do Brasil e em 2012 colocou três de seus times entre os seis representantes na Libertadores: 50% dos representantes do país. Mas aí o Flamengo caiu na primeira fase e na maior cara de pau do mundo os discursos sonsos e sínicos renascem.
Rivalidade a parte, torço pelo troféu para o Fluminense em 2012. Talvez sirva para mostrar ao Flamengo o caminho que precisa trilhar. As verdadeiras intenções camufladas por trás do discurso de certos jornalistas paulistas, os meninos ricos inconformados em não ter a popularidade da turma, ficaram bastante claras num texto do mesmo Marcondes Brito: "A queda de Ricardo Teixeira tira do Rio de Janeiro o “Quartel General” do nosso futebol. Sim, a sede da CBF continua lá, na Barra da Tijuca, mas as decisões agora são tomadas em São Paulo".
Atacar o torcedor do Flamengo fora do Rio de Janeiro, de Goiânia, Brasília, de Manaus, de todo o Norte e o Nordeste, de Florianópolis, cidades onde a presença da torcida rubro-negra é altamente representativa, é outra estratégia comum para diminuir a torcida vermelha e preta e repô-la pelos interesses deles. Hélio dos Anjos, ex-terceiro goleiro do Flamengo nos anos 70, é outro orador anti-Flamengo, já deu entrevista dizendo que os goianos que vão ao estádio torcer pelo Flamengo deveriam ter vergonha.
Depois, em 2011, Hélio dos Anjos, trabalhando como treinador no Atlético Goianiense, quando questionado sobre a dificuldade que tem em se firmar em times grandes do futebol brasileiro atacou ao Flamengo (matéria em 05/out no Globoesporte.com): "não vendo minha alma (...) todo mundo viu o que foi o Flamengo de 2009, terminou em quê? Terminou nesse goleiro (Bruno) aí preso. E aquilo ali foi o fim". Essa foi a argumentação dele para argumentar que o jeito dele (supostamente franco, como ele diz) não dá certo em "determinadas estruturas".
Quem se preocupou em lhe dar resposta foi Marcos Braz, ex-diretor de futebol rubro-negro, pelo qual não nutro muita simpatia, mas que foi extremamente feliz em respondê-lo quando disse que "Esse rapaz cultiva o ódio do Flamengo há muito tempo. É algo conhecido, notório e a maior pérola foi falar que a torcida do Flamengo em Goiás deveria ter vergonha". Mas é ingenuidade achar que isto está restrito a uma pessoa. Há toda uma linha de raciocínio, alimentada pela mídia paulista, por trás destes preconceitos direcionados.
Por fim, a pressão e manipulação de informações. A Pluri Consultoria foi uma a fazer conta para dizer que a torcida do Corinthians será a maior do Brasil em 2028. Eu aposto que não será, se passar, vai levar mais tempo do que isto, tudo dependerá muito da capacidade de reação do Flamengo a este discurso. Torcer contra não adianta. O torcedor do Flamengo mais do que qualquer outro no Brasil sabe que a torcida contra do Arco-Íris só serve para insuflar ainda mais a grandeza do clube da Gávea.
Muitas da constantes análises feitas pela multinacional BDO, que aqui no Brasil é associada à RCS (antiga RCS Crowe Horwath). Eis que as iniciais “RCS” significam Raul Correia Silva, CEO da empresa e nada menos que o diretor financeiro do Corinthians. A munição é pesada e está direcionada há bastante tempo.
Eles não cansam, é forçação de barra atrás de forçação de barra no esforço paulista para colocar o Corinthians como maior do que o Flamengo. Na semana de 18 a 23 de outubro de 2012, mais um episódio relevante, e dentro das Organizações Globo. Uma chamada que ficou o dia inteiro em amplo destaque no Globoesporte.com dizia. "Perfil das torcidas no Brasil: Corinthians à frente do Fla". Todo mundo sabe que a ampla maioria só lê manchete. Dentro da matéria estava especificado: "Preliminarmente, é fundamental o leitor entender que essa pesquisa foi realizada em 13 grandes praças, sendo 12 Regiões Metropolitanas e mais o interior do Estado de São Paulo. Seus dados, portanto, são válidos para essas regiões: Grande São Paulo, Grande Rio de Janeiro, Grande Recife, Grande Porto Alegre, Grande Salvador, Grande Belo Horizonte, Grande Curitiba, Brasília, Grande Fortaleza, Grande Vitória, Grande Florianópolis, Grande Goiânia e interior do estado de São Paulo nas seguintes cidades: Campinas, Jundiaí, Piracicaba, Ribeirão Preto, São José do Rio Preto, São José dos Campos e Sorocaba. Apenas para deixar claro, mais uma vez, não é uma pesquisa de abrangência nacional". Distorção descarada da amostra em favor do Corinthians. Cinco dias depois, o blog Teoria dos Jogos, do Globoesporte.com colocou o resultado da pesquisa recém realizada (cujo resultado também saiu no Lance!). A chamada era "Flamengo em ampla vantagem sobre o Corinthians". Eis que a manchete não ficou nem uma hora disponibilizada no site e foi retirada.
A Guerra Fria come solta no futebol brasileiro!
Veja também: Isto aqui não é Corinthians. Isto aqui não é São Paulo. Isto aqui é Flamengo!
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