segunda-feira, 1 de julho de 2013

Zico conta as brincadeiras com Peu

Por: Zico

Já contei aqui neste espaço histórias em que o protagonista era o folclórico atacante alagoano Peu, uma grande figura que atuou naquele time do Flamengo na década de 80. Ele era um dos principais alvos de brincadeiras e não faltam passagens engraçadas com ele. Peu tinha jeito um muito simples de levar a vida. Acreditava muito no que a gente dizia. Por isso, aquela turma descontraída do Mengão não o perdoava.

Uma das histórias mais interessantes envolvendo Peu aconteceu na viagem para Tóquio, quando conquistamos o título mais importante de nossas vidas. Partimos de Los Angeles para a capital japonesa e aquela era a viagem para o lugar mais distante que alguns dos jogadores do elenco já haviam feito. Era o caso de Peu, que entrou no avião, sentou e ficou quieto no cantinho dele. 

A viagem realmente era muito longa e cansativa. Passadas algumas horas, para descontrair o ambiente, eu e alguns outros jogadores resolvemos pregar uma peça no Peu. Fui eleito o interlocutor. Depois de tanto sofrimento até a conquista da Libertadores, o que cada um mais queria era entrar em campo e buscar aquele caneco contra o Liverpool. Então, a melhor forma de assustar o Peu era deixá-lo com a sensação de que ele não poderia participar daquele jogo. Na ocasião, Peu estava com um respeitável bigode e foi aí que o pegamos. 

Combinamos uma história e eu me aproximei do Peu. Com uma expressão preocupada, fiz a seguinte pergunta:

— Peu, você já viu algum japonês de bigode?— Ele pensou rapidamente e, como viu que minha reação era negativa, apenas balançou a cabeça concordando que não. 

E eu continuei, mantendo um ar de seriedade: 

— Pois então, Peu. Infelizmente tenho que te informar que você não vai poder entrar no Japão. Vai ser barrado no aeroporto porque lá ninguém entra de bigode. É uma lei muito rigorosa para os asiáticos.

Inicialmente ele tentou argumentar, contestar aquela informação absurda. E partiu na direção de Júnior, que estava com a cadeira reclinada e ostentava igualmente um bigode. 

— Mas o Júnior tem bigode também. Se eu não entrar ele também não entra, — disparou Peu.

A turma rapidamente se organizou em busca de uma explicação. Júnior puxou o passaporte e mostrou uma página com uma assinatura qualquer. Disse que era uma autorização especial da embaixada japonesa, já que ele passaria pouco tempo no país, apenas para disputar o título do Mundial Interclubes. 

Peu ficou convencido e encucado com aquilo. Todos passaram a pegar no pé dele e lamentar o fato de ele ter que voltar ao país sem participar do jogo. Fomos todos dormir e Peu voltou para a sua cadeira. Ficou pensativo.

Quando o avião já se aproximava do aeroporto de Tóquio, nós fomos acordando e sentimos falta do Peu. Olhei para trás e o vi abrindo a porta do banheiro do avião. Lá vinha ele com o rosto ainda molhado e sem bigode. 

— Vocês acham que eu ficar de fora dessa decisão por causa de um bigodinho! — disparou Peu.

Todos os jogadores caíram na gargalhada. Logo depois eu contei a verdade a ele. E imaginem que lá no Japão ele voltou a sofrer com outras brincadeiras. Mas isso já é uma outra história...


Fonte: Zico na Rede

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