segunda-feira, 2 de abril de 2018

Como o Status Quo matou a Revolução no Futebol Brasileiro


Revisite aqui no blog o texto A Revolução Morreu! Nesta 2ª feira, 2 de abril, o Blog de Cosme Rimoli, no Portal R7, da Rede Record, reviveu os capítulos do Assassinato da Primeira Liga. Sinceramente, nenhuma novidade para quem tenha acompanhado o tema com atenção no passado recente. Porém, como o Brasil é um país em que o óbvio é muitas vezes totalmente ignorado, faz um grande trabalho o jornalista Cosme Rimoli ao jogar mais uma vez os holofotes sobre o tema, já que nas terras tupiniquins, mesmo na Era da Informação, o básico tem que ser repetido diversas vezes...

Eis o texto de Cosme Rimoli - "Como Del Nero matou a Primeira Liga. E manteve os Estaduais":

Com apoio da Globo, a CBF asfixiou a Primeira Liga, a 'revolução' dos clubes, e preservou os Estaduais. Caboclo, novo presidente da CBF, respeitará o desejo de seu mentor, Marco Polo Del Nero.

Em abril, Rogério Caboclo será aclamado como novo presidente da CBF. Ele assumirá o cargo com o apoio assumido de 62 eleitores em um universo de 67. Eles são 27 presidentes das federações estaduais e os presidentes dos 40 clubes das Séries A e B.

Apenas a Federação Paulista, a Carioca, Flamengo, Corinthians e Atlético Paranaense se mostraram contra Caboclo. Protestaram pela maneira com que as regras foram mudadas. No dia 23 de março de 2017 houve um golpe. Tão vergonhoso quanto simbólico.

O presidente Marco Polo Del Nero sentia que crescia a possibilidade de alguns clubes se articularem para lançarem um candidato de oposição para a eleição da CBF. Investigado pela FIFA, ele já antecipava a possibilidade de ser afastado da entidade. Foi quando arquitetou o plano para seguir mandando no futebol brasileiro.

Como ironia, para menosprezar a covardia dos dirigentes, a CBF fez com que as equipes da Série B também pudessem votar, antes apenas os times da Série A.  E foi mais sarcástica. Anunciou que os clubes da Série A teriam votos com peso dois. E incluiu também, 'democraticamente', os da série B. Ou seja, os clubes teriam 60 votos. Atropelariam as 'pobres' federações. Afinal, 27 vale menos do que 40, em qualquer lugar do mundo. Menos no Brasil.

Porque Marco Polo em seguida avisou que os votos das Federações teriam peso 3 na eleição. Ou seja, 81 votos contra 60. Um tapa na cara dos ingênuos.

Del Nero matou as candidaturas de Andrés Sanchez, presidente do Corinthians. E também de Reinaldo Carneiro de Barros, presidente da Federação Paulista. Ele se rebelou ao saber que Caboclo sucederia seu 'grande amigo', desde os tempos do falecido presidente Eduardo José Farah, Marco Polo, na presidência da CBF.

Os acovardados e omissos dirigentes de clubes aceitaram a virada de mesa. Os políticos do Planalto Central tem a Operação Lava-Jato e a sucessão presidencial e não precisavam fazer média com o futebol, como fez Dilma Rousseff, com os benefícios populistas de R$ 16 bilhões a clubes mal administrados e muitos até que tiveram gestões corruptas.

Ou seja, Del Nero ficou à vontade. Ele sabia que, por causa de sua ligação siamesa com José Maria Marin, preso nos Estados Unidos, poderia ser afastado da CBF a qualquer momento. E o que tratou de fazer? Articular para seguir no comando. Mesmo afastado pela FIFA, os presidentes das Federações e os funcionários mais importantes da CBF, seguiam tomando as decisões mais importantes do futebol brasileiro, nos dois duplex luxuosos comprados por R$ 5,2 milhões no Rio de Janeiro.

E foi em uma das reuniões que optou pelo mais fiel no seu staff, Rogério Caboclo, para sucedê-lo. Caboclo já está pautado. Suas duas primeiras decisões estão anunciadas para os 25 presidentes da CBF que apoiam, até à morte, Del Nero.

A primeira é a sequência dos Estaduais. Não importa cada vez mais a rejeição dos torcedores, a médias vergonhosas de público. E nem as denúncias da imprensa sobre a insignificância, inutilidade dos torneios. Eles seguirão para agradar os clubes pequenos que sustentam os presidentes das Federações.

Nos próximos três anos, primeiro mandato de Caboclo, não há a menor possibilidade de alteração no calendário, até 2021. Só que a tranquilidade para as Federações chega até 2024. Como o estatudo da CBF foi mudado para dar um ar mais democrático, agora só é possível uma reeleição. O plano de Del Nero foi fazer o seu sucessor para os próximos seis anos.

Outra resolução que o Marco Polo não abre mão é a extinção da Primeira Liga. Caboclo não deve incluí-la de maneira alguma no calendário oficial da entidade. Foi dessa maneira, fácil, simplória até, que Del Nero asfixou o que seria uma 'revolução no futebol brasileiro'.

Cansados dos prejuízos e da insignificância dos Campeonatos Estaduais, Flamengo, Fluminense, Internacional, Grêmio, Atlético Mineiro, Cruzeiro, Coritiba, Atlético Paranaense, Joinville, Chapecoense, Criciúma, Avaí e Figueirense se juntaram em 2015. E decidiram criar uma liga independente da CBF. Convidaram os clubes paulistas, que acovardados não quiseram participar. A ideia era repetir o que acontece com os países europeus mais desenvolvidos. Os torneios nacionais ficam por responsabilidade dos clubes. E às Federações Nacionais, no Brasil, a CBF, ficam com as Seleções. E mais nada.

Del Nero não aceitou perder o poder. E contou com o apoio da Globo, outra grande responsável pelos Estaduais, por causa de sua grade de programação. Ela não se importa com o nível cada vez mais baixo dos jogos. O que ela deseja é ter jogos às quartas e domingos, em janeiro, fevereiro e março. É assim que vende o futebol para seus patrocinadores. Sem a emissora dona do monopólio do futebol no país, a competição foi morrendo. Dirigentes cederam à pressão da CBF e da Globo. E foram menosprezando a própria competição que criaram.

A conquista do Fluminense em 2016 não despertou atenção, não levou à nada. O torneio não agradou a ninguém. Até porque os principais clubes poupavam seus principais jogadores. Um absurdo. A competição de 2017 virou fantasma. Precisou abrir para a participação de clubes pequenos. Brasil de Pelotas, Grêmio, Internacional, Avaí, Chapecoense, Criciúma, Figueirense, Joinville, Paraná Clube, Londrina, Flamengo, Fluminense, América Mineiro, Atlético Mineiro e Cruzeiro. O humilde Londrina foi campeão. Triste retrato da competição que foi organizada para unir os maiores clubes do país. Estava evidente que o torneio estava ferido de morte. O Londrina foi campeão da Primeira Liga em 2017. A Primeira Liga foi tão sabotada que não será mais disputada em 2018. Para alegria de Del Nero.

E ele já instruiu Carlos Caboclo. Se quiser continuar com poder, a Primeira Liga deve deixar de existir. A desculpa, ele tem na ponta da língua. Não há datas para mais um torneio. Desculpa pura. Na verdade, a CBF quer é preservar os Estaduais. Mesmo com a enorme possibilidade de ser banido do futebol, Del Nero comemora. Ele continuará mandando no futebol brasileiro. Mesmo sem cargo. Como uma eminência parda. Controlando seu pupilo Caboclo. Celebrando a omissão e a covardia dos dirigentes dos clubes. Graças a elas, está garantida a permanência dos Estaduais. E o fim da Primeira Liga. Para regozijo da TV Globo...

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