sexta-feira, 4 de maio de 2018

Flamengo, a Maior Torcida do Brasil, & a Escancarada Manipulação de Informação da Mídia Paulista


O assunto já foi amplamente martelado aqui no blog na sessão A Maior Torcida do Brasil. Destaque às análises: A maior torcida do Brasil. Uma paixão inabalável. Uma estatística inquestionável e Flamengo e Corinthians do mesmo tamanho? Faz-me rir! Piada paulistana de Natal!: Ainda que o debate seja saudável, seu grande malefício é a inevitável queda na desgraça do bairrismo. Já há registros de “jornalistas” que destilaram um ódio estranhamente contido até o resultado da pesquisa. Clubes do Rio de Janeiro, Rede Globo, nada escapa da verborragia de torcedores míopes travestidos de profissionais – que infelizmente encontram algum eco entre os desprovidos de QI.

Destaque às palavras da análise de Vinícius Paiva, sobre um tema já amplamente iluminado aqui no blog: a manipulação da imprensa paulista visando equiparar e colocar Flamengo e Corinthians no mesmo patamar: "Quem leu a primeira matéria da Folha de São Paulo a respeito coçou a cabeça: no cabeçalho, é dito que ambos estariam empatados no limite da margem de erro, pois uma variação negativa do Flamengo contra uma positiva do Corinthians equipararia as coisas em 16%. Trata-se, no mínimo, de uma desonestidade intelectual, típica dos que precisam afagar a maioria no estado-sede. Isto porque a chance desta variação ocorrer é a mesma de o Flamengo verificar majoração positiva em dois pontos, com o Corinthians decaindo os mesmos dois. Nesta hipótese, pertenceria ao Flamengo a surra de 20% a 12%, configuração tão irreal quanto". Amansam a desonestidade frente à outra vez, pois em 2012, numa manipulação de amostragem que ficou explícita e escancarada posteriormente, o mesmo DataFolha chegou a afirmar que o empate técnico entre Flamengo e Corinthians já existiria independentemente da margem de erro. Não existe qualquer dúvida sobre a inexistência de um empate na primeira posição. Para alguns, uma verdade inconveniente.

Outra constatação nesta análise (cuja integra está no final deste texto): "Por idade, não é de hoje, o Flamengo encerra toda e qualquer controvérsia quanto à sua liderança. Na faixa mais jovem, entre 16 e 24 anos, o Mengão explode a incríveis 24%, contra 17% do Timão. Isto, ao menos por ora, é indicativo de que nossa geração não verá qualquer mudança no topo do ordenamento. O aumento entre a garotada rubro-negra é tão impactante que supera em muito faixas reconhecidamente pertencentes à “era Zico”: 20% entre 35 e 44 anos, e 18% entre 45 e 59 anos. Entre os mais velhos (acima de 60), a torcida do Corinthians surge maior que a do Fla (11% a 9%).

Vale o destaque nesta primeira análise apresentada abaixo: "Se projetarmos a evolução das torcidas pelos dados etários disponíveis na pesquisa, e considerarmos as taxas de natalidade, de fecundidade e os dados de expectativa de vida atualmente disponíveis, podemos projetar um futuro próximo (10 a 20 anos) de aumento da concentração e da diferença de porte entre os clubes, em direção a termos apenas 3 grupos de torcidas disputando os 75% de brasileiros que torcem para algum time, juntos terão cerca de 45% do total de torcedores: Flamengo, Corinthians e São Paulo".


Muito boa a análise publicada por Fernando Ferreira, fundador e sócio da Pluri Consultoria, em 14 de abril de 2018 em sua conta no Linkedin. O título da análise: "As revelações da nova PESQUISA DE TORCIDAS Datafolha". Abaixo, o texto:

A nova pesquisa de TORCIDAS Datafolha saiu com informações valiosíssimas sobre a preferência dos torcedores. É a 19ª edição de um levantamento que vem desde 1993, uma base de dados que permite uma melhor análise de um movimento que por sua natureza ocorre de forma bastante lenta, dada a fidelidade dos torcedores, que costuma durar toda uma vida. Mas a pesquisa é mais uma a confirmar a tendência que vem sendo apontada nos últimos anos, da separação das torcidas em 4 grandes grupos, e do aumento da diferença de porte entre os clubes:

Grupo 1) Flamengo e Corinthians, representando juntos 1 em cada 3 torcedores;

Grupo 2) 15% do total: Palmeiras e São Paulo, de 6% a 8% individualmente;

Grupo 3) Cerca de 20% do total: Vasco (ex-grupo 2), Cruzeiro, Grêmio, Santos, Atlético-MG e Inter, todos com 2% a 4% individualmente;

Grupo 4) Os demais, totalizando cerca de 10% do total, incluindo Fluminense, Botafogo (ambos ex-grupo 3), Bahia, Vitória, Sport, etc, todos com 1% ou menos individualmente.

Abaixo outros pontos relevantes e curiosos:

- O percentual de Brasileiros que dizem não torcer para time nenhum foi de 22%, o menor de toda a série histórica da pesquisa;

- As torcidas com maior interesse médio pelo Futebol são do Bahia e Vasco, enquanto as de Atlético-MG e Cruzeiro são as de menor interesse;

- As torcidas com melhor nível médio de escolaridade são Fluminense, São Paulo e Grêmio. Os com pior nível são Bahia, Inter, Palmeiras e Cruzeiro;

- As torcidas com menor renda média são as de Bahia e Corinthians, enquanto Botafogo e Grêmio tem a maior renda média

- As torcidas com maior idade média são Bahia (47,2 anos), Botafogo (45,3) e Inter (44,9), enquanto as de menor idade média são as de São Paulo (35,8), Flamengo (37,6) e Corinthians (39,3);

- Se nada ocorrer de diferente na captação de novos torcedores, Botafogo, Fluminense, Santos e Bahia perderão cerca de 30% de sua torcida dentro dos próximos 20 anos;

- A torcida com mais indivíduos que preferem o PT como partido político é a do Bahia (50%), enquanto as menos Petistas são as do Santos (8%), Botafogo (12%), Fluminense e Grêmio (13% cada);

- A torcida com mais simpatizantes do PSDB são as de Santos (8%), São Paulo (7%), Flamengo e Inter (5% cada), enquanto que as de Vasco e Grêmio (1% cada), Cruzeiro, Atlético-MG e Bahia (2% cada) são as menos simpatizantes;

- O PMDB tem mais admiradores nas torcidas de Vasco (10%) e Atlético-MG (7%), e menos nas de Flamengo, São Paulo e Bahia (3% cada);

- As torcidas com maior concentração % em capitais e Regiões Metropolitanas são as de Fluminense (78%) e Botafogo (63%). As de maior presença proporcional em interior são as de Santos (72%), Atlético-MG (65%) e São Paulo (64%);

- Os times com maior percentual de presença de torcedores de sexo feminino é o Atlético-MG (57%), enquanto que Vasco (64%), São Paulo (63%) e Santos (61%) são os de maior predominância de torcedores do sexo masculino;

- O time com maior percentual de empresários entre os torcedores é o Inter (10%), enquanto a torcida do Vasco tem a menor presença de empresários, apenas 1% do total;  

- As torcidas com maior participação de funcionários públicos são Fluminense (14%), Vasco e Atlético-MG (12% cada), enquanto Santos e Inter tem a menor participação (4% cada);

- As torcidas com maior índice de desempregados são Palmeiras (16%) e Corinthians (15%), enquanto o Inter (5%) e Botafogo (6%) tem a menor taxa de desocupação;

- A maior participação de aposentados são as das torcidas do Botafogo (20%), Santos e Cruzeiro (17% cada), enquanto o São Paulo (4%) e Flamengo (7%) tem as menores participações;

- As torcidas com maior participação de Donas de Casa são as de Palmeiras (11%) e Botafogo (10%), enquanto o menor índice fica com Santos (1%), Inter e Fluminense (4% cada);

- As torcidas que dizem mais ir aos estádios são as de Bahia (44%), Fluminense (35%) e Internacional (33%), enquanto que as de Corinthians (19%), Atlético-MG (21%) e São Paulo, Palmeiras e Cruzeiro (22%) são as que menos dizem ir. Reparem que esse número é bastante divergente dos dados de presença efetiva em estádio disponíveis;

- A pesquisa diz que 20% dos brasileiros costuma ir aos estádios, número também é incompatível com o número de ingressos vendidos por ano. Os dados da PLURI apontam para a venda de menos de 15 milhões de ingressos em todos os campeonatos por ano, por cerca de 6 milhões de compradores, o que dá menos de 3% da população brasileira;

- Ao contrário do senso comum, quanto maior a escolaridade, maior o interesse pelo futebol;

- Ao contrário do senso comum, quanto maior a renda, maior a prática do futebol;

- 1 em cada 4 homens brasileiros joga futebol ao menos 1 vez por semana;

Se projetarmos a evolução das torcidas pelos dados etários disponíveis na pesquisa, e considerarmos as taxas de natalidade, de fecundidade e os dados de expectativa de vida atualmente disponíveis, podemos projetar um futuro próximo (10 a 20 anos) de aumento da concentração e da diferença de porte entre os clubes, em direção a termos apenas 3 grupos de torcidas disputando os 75% de brasileiros que torcem para algum time:

Grupo 1: Os líderes gigantes, que juntos terão cerca de 45% do total de torcedores: Flamengo, Corinthians e São Paulo;

Grupo 2: Os grandes, que juntos terão cerca de 20% da torcida: Palmeiras, Vasco, Cruzeiro, Grêmio, Inter e Santos;

Grupo 3: Demais clubes que somados terão 10% da torcida total, incluindo Atlético-MG, Botafogo, Fluminense, Bahia, Vitória, Sport, etc


Complementando, outro excepcional texto analítico que se debruçou sobre o mesmo tema, publicada por Vinícius Paiva em 13 de abril de 2018 no seu Blog Teoria dos Jogos sob o título: "A Pesquisa da Vez: Datafolha 2018". Abaixo, o texto:

Detalhamento da pesquisa:
Localidade: Todo o território nacional
Instituto: Datafolha
Amostra: 2.826 entrevistas, em 174 municípios, entre 29 e 30 de janeiro de 2018
Margem de erro: 2 p.p

Após um período de quase-banalização, eis que as pesquisas rarearam – o último estudo nacional do Datafolha datava de 2014, também às vésperas da Copa. Vamos, portanto, aos resultados, com importantes considerações em seguida.

Iniciemos com o velho (e de certa forma cansativo) debate: a quem pertence a maior torcida do Brasil? Olhando para os números acima, não restam dúvidas: Flamengo 18% contra Corinthians 14%. Mas quem leu a primeira matéria da Folha de São Paulo a respeito coçou a cabeça: no cabeçalho, é dito que ambos estariam empatados no limite da margem de erro, pois uma variação negativa do Flamengo contra uma positiva do Corinthians equipararia as coisas em 16%. Trata-se, no mínimo, de uma desonestidade intelectual, típica dos que precisam afagar a maioria no estado-sede. Isto porque a chance desta variação ocorrer é a mesma de o Flamengo verificar majoração positiva em dois pontos, com o Corinthians decaindo os mesmos dois. Nesta hipótese, pertenceria ao Flamengo a surra de 20% a 12%, configuração tão irreal quanto. Mas isto a Folha não diz.

Tem mais. Margens de erro não funcionam na base do “dois pontos percentuais pra todo mundo”. Fosse assim, clubes com 1% das preferências (como o Bahia) variariam entre 3% e… -1%! Ou mesmo zero, levando proeminentes torcidas regionais à condição de inexistência. Parece óbvio que estas não são opções válidas. A questão é que margens de erro são proporcionais ao “tamanho do número”, sendo assim, quanto menor o percentual, menor a margem. Só isto já é suficiente para dizer que mesmo a variação benéfica aos paulistas (eles pra cima e cariocas para baixo) não seria suficiente para atingir a condição de empate técnico. Sendo assim, é correto afirmar: Não existe qualquer dúvida sobre a inexistência de um empate na primeira posição. Para alguns, uma verdade inconveniente.

Finda esta questão, é bom recordar que foi o Datafolha quem ocultou, por semanas a fio, a pesquisa elaborada por eles mesmos em 2014. Ocultação denunciada pelo Blog Teoria dos Jogos em uma das colunas de maior repercussão na sua história. Curiosamente, apenas um dia depois, o instituto revelou a pesquisa que havia retido.

Além do entrevero envolvendo margens de erro, existe outro bem problemático em tudo o que o Datafolha faz: o arredondamento. Foi ele que, seis anos atrás, colocou torcidas em convulsão por conta da equiparação do Fluminense à Portuguesa, atribuindo a ambos 1% das preferências nacionais. Pressionado pela opinião pública, o instituto se viu obrigado a divulgar os números exatos, que revelaram um Fluminense com 1,46%, contra 0,51% da Lusa. Se é quase irresponsável divulgar que uma torcida três vezes maior seja igual à outra, beira a inconsciência acreditar que a torcida tricolor possa mesmo ser três vezes superior à da Lusinha – e não dez, quinze ou até vinte vezes. Esta sempre foi uma das grandes críticas ao instituto: o enfoque excessivo de sua amostragem no estado de São Paulo.

Pois bem, se agora a Lusa nem aparece, outro empate pode ser atribuído à questão do arredondamento: aquele entre Bahia e Vitória, no mesmo 1% das preferências. Inúmeras pesquisas atribuem à massa tricolor algo entre 50% a mais e o dobro dos rubro-negros da Boa Terra. É quase certo que numa nova divulgação de números exatos, o mesmo fosse identificado. Fica a questão: se todos os institutos divulgam pesquisas com uma casa decimal, por que o Datafolha insiste em não fazê-lo? Não custaria absolutamente nada além de duas digitações, a da vírgula e a do décimo.

Mas ainda existe um último questionamento. Nesta pesquisa, o Sport sequer aparece na lista dos votados – ou seja, o Leão pernambucano foi acomodado dentro de nada desprezíveis 8% de “outros”. Só que numa pesquisa fidedigna, seria imperativo que os pernambucanos aparecessem (bem) à frente do Vitória, pois algumas outras já o colocaram mesmo adiante do Bahia. Se torcidas tão importantes estão dentro do “outros”, e se este agregado atingiu índice tão proeminente (equiparado ao tamanho do São Paulo, terceira maior torcida do país), por que não abri-lo? Novamente: o que custa revelar os percentuais de todos os que bateram 1% – mesmo os que o fazem com base no famigerado arredondamento? A mesma reivindicação se aplica aos importantes Atlético-PR e Coritiba, agregados dentro de um catadão que não lhes é de direito.

Debatidas as derrapagens, vamos aos números dos que ainda não citamos. O São Paulo surge com 8%, o Palmeiras com 6%, Vasco e Cruzeiro, 4%, Grêmio, Santos e Internacional, 3%, Atlético-MG com 2%, Botafogo e Fluminense, 1%. De todos, apenas o Cruzeiro variou positivamente, um ponto percentual acima da pesquisa de 2014. Vasco, Botafogo e Fluminense variaram um para baixo.

Em tese, estaríamos diante de acomodações naturais e dentro da margem de erro, pouco ou nada sugerindo crescimento ou diminuição de torcidas. Somado ao controverso arredondamento, pode-se muito bem explicar o surpreendente empate envolvendo cruzmaltinos e celestes (exemplo: 4,4% para o Vasco e 3,6% para o Cruzeiro se tornaria um 4% a 4%).O fato de o ordenamento colocar o Gigante da Colina à frente da Raposa comprova seu patamar superior. Mas é sempre bom ficar atento ao decréscimo há muito identificado no seio da torcida vascaína. Analogamente, o Bahia aparece à frente de Bota e Flu, comprovante de que os baianos há algum tempo acionaram a seta e ultrapassaram dois dos quatro cariocas.

Vamos às tabulações por sexo, idade, escolaridade e renda:

A sensação de grandes torcidas às ruas tem relação inequívoca com o tamanho das mesmas entre homens. Não, não de trata-se de sexismo, mas de engajamento comprovado em números. Tanto que apenas 12% dos brasileiros afirmam não torcer por nenhum time, contra relevantes 32% delas. Esta e outras razões (como a violência) constituem o porquê de estádios serem ambientes tão majoritariamente masculinos. Sob esta ótica, a maioria rubro-negra é ainda mais proeminente: 19%, contra 15% do Corinthians e 10% do São Paulo. E o Vasco descola do Cruzeiro, marcando 6% contra 4%.

Em direção oposta, a melhor configuração de torcidas possível é aquela em que a diferença entre homens e mulheres não é tão grande, afinal, elas também fazem número. E muito mais, compõem uma enorme massa potencial de consumo em franco crescimento. Neste sentido, ponto negativo para São Paulo e Vasco, que possuem torcida feminina equivalente à metade da masculina. Uma louvável exceção: apenas o Galo mineiro surgiu com atleticanas em quantidade superior à de atleticanos. Caso raro.

A análise por faixa etária empata com a das rendas como recortes mais importantes nas pesquisas. Isto porque uma aponta o tamanho futuro das massas, enquanto outro indica quem consome ou tem potencial de consumir – mesmo em torcidas menores do que outras. Vamos à avaliação do primeiro grupo.

Por idade, não é de hoje, o Flamengo encerra toda e qualquer controvérsia quanto à sua liderança. Na faixa mais jovem, entre 16 e 24 anos, o Mengão explode a incríveis 24%, contra 17% do Timão. Isto, ao menos por ora, é indicativo de que nossa geração não verá qualquer mudança no topo do ordenamento. O aumento entre a garotada rubro-negra é tão impactante que supera em muito faixas reconhecidamente pertencentes à “era Zico”: 20% entre 35 e 44 anos, e 18% entre 45 e 59 anos.

Mas percebam outra estatística interessante: entre os mais velhos (acima de 60), a torcida do Corinthians surge maior que a do Fla (11% a 9%). Em tese, indicativo de que um dia corintianos foram maioria, correto? Errado. Ao menos em se tratando das pesquisas do passado e de antigos relatos em jornais e revistas, que desde sempre atribuíram aos cariocas a condição de Mais Querido. Uma explicação recai sobre o “desalento” que acomete às faixas etárias mais avançadas. Notem que, entre jovens, quem não tem time soma apenas 13%, catapultados a 31% entre os mais velhos. É como se mais flamenguistas do que corintianos tivessem “desistido” em meio à longa jornada. Se olharmos para os últimos 20 anos, notaremos claramente que vem sendo mais fácil e prazeroso (em termos de títulos) integrar os quadros da Fiel…

Mais um que cresce entre os jovens é o São Paulo: marca 8% no geral e 11% em meio àqueles entre 16 e 24. Isto nos leva à impressionante tendência de que, no futuro, Flamengo, Corinthians e São Paulo somem 52% da torcida brasileira – número hoje estacionado nos 40%. Os demais clubes se encontram em tendência de estabilidade, mas outros como Palmeiras e Vasco sugerem propensão à queda (decerto, os três últimos anos do Palmeiras ainda não foram captados). Importante também mirar os números do Santos, que marca 4% entre os mais velhos (“era Pelé”) e despenca para 1% entre a segunda faixa mais avançada, que já pouco assistiu aos desfiles do Rei. Após isso, santistas voltam a subir lenta porém consistentemente, até atingir 3% entre os jovens. Santas gerações de Robinho, Diego, Neymar e Ganso. Olhem para o Botafogo e percebam que uma única geração mágica no passado remoto deixou de fazer verão: 3% entre os mais velhos, 1% nas demais faixas etárias.

Já que falamos da sua importância, abordemos os parâmetros de renda antes da escolaridade. O mais questionável, sem sombra de dúvidas, é o Flamengo tão superior ao Corinthians entre os mais ricos – aqueles com renda média superior aos 10 salários mínimos (R$ 10 mil). Os 19% a 11% a favor do Rubro-Negro não estão em linha com outras pesquisas que já demonstraram equilíbrio ou mesmo o Corinthians à frente. A explicação recai sobre a margem de erro do recorte (apenas 97 entrevistados), já que, em proporção, são poucos os brasileiros com renda mais alta. Portanto, a amostragem relativamente pequena, com menos de 3 mil entrevistas, acaba se saindo a vilã.

Mas se é isto que os números apontam, é o que temos: um enorme potencial de renda, ainda que adormecido, em meio aos rubro-negros. Faz sentido que haja cada vez mais flamenguistas endinheirados: em 2017, o Sudeste foi a única região do país que verificou queda na renda média da população. O Brasil que mais cresce, há anos, é o Brasil que enverga preto e vermelho, pois 80% da Nação se encontra espalhada entre as regiões Norte, Nordeste e Centro Oeste (alguma coisa no Sul, veremos adiante). E por que tanto potencial estaria adormecido? Bom… desde o início do ano, o Nação Rubro Negra, projeto de sócio-torcedor do clube, já perdeu inimagináveis 44 mil associados (em defesa da torcida, existem explicações racionais). Fora relatos variados sobre a dificuldade de se fomentar propensão ao consumo entre os verdadeiramente ricos na torcida.

Em termos proporcionais, o crescimento mais acentuado entre ricos pertence ao São Paulo. O Tricolor do Morumbi sobe de 7% em meio aos mais pobres para incríveis 13% acima de 10 salários, expressivo aumento de 86%. Suficiente, inclusive, para colocá-los à frente dos arquirrivais corintianos sob esta ótica. O Palmeiras vem a reboque, saindo de 5% para 9% entre os abastados (80% de aumento). Mais que eles, só o Grêmio, que vai de 2% até 5% (150% a mais), embora números pequenos tenham maior tendência de apresentarem variações fora da curva. O Cruzeiro é outro que sobe (de maneira menos acentuada) e atinge 5%. O que faz com que tanto a maior torcida mineira quanto a gaúcha superem um Vasco estacionado nos 4%. Inter e Botafogo vão bem neste quesito, enquanto o Fluminense se mantém estável – não condizendo com o enorme potencial de renda dos tricolores no Rio. Neste último caso, o impacto negativo viria dos torcedores do Fluzão país afora.

No que tange aos mais pobres, destaque para o Bahia, que parte de 2% na faixa mais humilde até o completo desaparecimento acima dos cinco salários. O Flamengo torna latente sua vocação popular, acachapando 20% contra 13% do Corinthians. Eis um recorte com confiabilidade bastante alta: entrevistaram nada menos que 1.333 pessoas, 47% da amostra.

Por escolaridade, quem mais cresce à medida com que aumentam os anos de estudo é novamente o São Paulo, saindo de 7% entre os menos letrados para 11% mediante os mais. Na média, a variação de todos os clubes é menos expressiva do que nas análises de idade e renda. Os 18% fixos apresentados pelo Flamengo entre pessoas com ensino fundamental, médio e superior indicam que o contínuo aumento do número de estudantes nas faculdades vem tornando mais equânime esta estatística. De todo modo, outras torcidas crescem com os anos de estudo, como a do Grêmio.

O estudo apresenta ainda a configuração de torcidas divididas entre populações economicamente ativas ou não, o que julgamos se tratar de um dado menos relevante.

Aqui, relevância absoluta: torcidas dissecadas de acordo com as regiões do país. Apesar do oba-oba como se fora novidade (sempre eles…), Corinthians maior do que Flamengo no Sudeste é mais velho do que andar para frente – basta olhar para a populações de seus estados de origem. Na região mais rica do país, corintianos marcam 19%, flamenguistas 14%, são-paulinos 10%, palmeirenses e cruzeirenses, 8%. Depois temos Atlético-MG (5%), Vasco e Santos (4%, ambos), Botafogo e Fluminense (2% cada). Nos dedicamos de maneira abrangente ao Sudeste por se tratar da única região em que aglutinação dos “outros” faz pouquíssima diferença, insignificantes 2%. Nas demais, conforme veremos, o vergonhoso “catadão dos excluídos” impacta sobre os números finais, o que decerto modificaria o ordenamento.

No Sul, os adeptos que realmente se fazem notar são do Grêmio (20%), Internacional (18%), Corinthians (12%) e Flamengo (8%). Atlético-PR, Coritiba, Paraná, Figueirense, Avaí, Chapecoense, Criciúma e Joinville se aglutinam na infâmia dos 10%.

No Nordeste, o Fla inicia seu processo de extrapolação de limites, marcando 23% contra 9% do Corinthians. O Vasco vai bem, ultrapassa São Paulo e Palmeiras e atinge 6% das preferências, mesmo índice do Bahia. Enquanto o Vitória sua para atingir 3%, fazendo recordar o absurdo relatado antes. Aqui, o baixo clero mais parece alto, pois atinge 14% dos habitantes. Certamente um Sport gigantesco, mas não somente ele: Santa Cruz, Ceará, Fortaleza, Náutico e tantos outros que fica difícil citar a todos.

No Centro-Oeste, o Flamengo é tão soberano quanto no Nordeste, inclusive mantendo o índice. Mas o Corinthians cresce bastante, a ponto de atingir 15% da amostragem. Isto porque o Mato Grosso do Sul é um estado de maioria corintiana, ao passo que Mato Grosso se divide entre Flamengo e Corinthians. Goiás e Distrito Federal se incumbem de fazer a balança pender para lados cariocas. Pela mesma razão, São Paulo (9%), Palmeiras (6%) e Santos (4%) são tão maiores que o Vasco (2%). Dada a fraqueza dos clubes locais, o catadão soma 7%, decerto composto por clubes de fora da região.

Já o Norte ultrapassa a barreira do inimaginável, com o Flamengo abarcando 37% de toda a região. Trata-se de um número superior ao que demonstra a maioria, senão todas as pesquisas já publicadas. Por conta dos também absurdos 19% de “outros”, sobra pouco para Corinthians (8%), Vasco (7%) e São Paulo (6%) dividirem. Mas… 19% de outros? Sim, amigo. Deixaram de fora nada menos que dois fenômenos paraenses: Remo e Paysandu, cada um com torcida superior a um milhão de pessoas. Numa região com cerca de 16 milhões de habitantes, escorrem pelo ralo cerca de 13% só com a dupla Re-Pa.

Dois comparativos interessantes: com o Mapa das Torcidas do Facebook, detalhado até o mínimo denominador pelo Blog Teoria dos Jogos, e com os dados por região da pesquisa Datafolha 2014. No primeiro caso, diferenças por vezes substanciais de acordo com a região. Outras vezes, semelhanças um tanto surpreendentes. O que não muda é o ordenamento das torcidas, basicamente igual.

Já o segundo comparativo nos apresenta um Corinthians com importante variação positiva no Sul (de 6% em 2014 para incríveis 12% agora) e caindo no Norte (de 11% até 8%). O Flamengo sobe forte no Norte (de 32% para 37%) e mais delicadamente no Sul (de 6% para 8%), com queda equivalente no Centro-Oeste (de 25% até 23%). O Palmeiras sobe dois pontos percentuais no Sul e cai três no Norte. O Santos cai três no Sul e sobe dois no Centro Oeste. O Vasco cai dois no Centro-Oeste, o Grêmio cai dois no Sul e o Bahia sobe dois no Nordeste. Todas as demais variações são unitárias, por isso menos representativas.

Nossa última estatística recai sobre o perfil das torcidas segundo a natureza e o porte dos municípios. Contraditórias entre si, bagunçam o imaginário rubro-negro, povoado pela “maioria à medida com que se interioriza”. Segundo o Datafolha, a diferença entre Flamengo e Corinthians se reduz no interior, e não o contrário. Seriam 18% a 15% a favor do Rubro-Negro país adentro, em face de imponentes 20% a 13% nas capitais (com boa diminuição da margem ao contemplarem demais cidades das regiões metropolitanas). Lembrando que os interiores compuseram ampla maioria da amostra, conforme demonstra a tabela. Mas quando nos debruçamos sobre o porte do município, o vetor é oposto: 19% a 13% pró-Fla nas menores cidades (até 50 mil habitantes), 17% a 16% nas maiores (acima de 500 mil). Fica o dito pelo não-dito.







Nenhum comentário:

Postar um comentário