quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

A montagem do elenco de 2019 do Flamengo


Matéria do site GloboEsporte.com publicada em 13/12/2019 sob o título: "Como foi formado o elenco que revolucionou o Flamengo e conquistou quase tudo em 2019", matéria de Marcelo Baltar. Na sequência, complementando, o balanço feito por Marco Bráz em entrevista ao Jornal O Globo, dada a Diogo Dantas, que foi dada em 6 de desembro e publicada no mesmo dia 13, data na qual o Flamengo embarcou para o Catar para disputar o Mundial.


Eis a íntegra do texto:

Com grana em caixa e novas receitas de vendas, clube reestruturou departamento de futebol, investiu cerca de R$ 214 milhões na montagem do time e gabaritou no mercado, com tiros certeiros!

O torcedor do Flamengo que hoje comemora uma fartura de títulos, sabe o que sofreu até chegar a esse momento. Após décadas de irresponsabilidade financeira, cofres vazios, o clube começou a arrumar a casa a partir da gestão de Eduardo Bandeira, em 2013, e colheu os frutos. Foram aproximadamente R$ 214 milhões investidos para reforçar a equipe, incluindo aquisição de direitos econômicos, luvas e intermediários. Valor recorde na história do clube.

Seria leviano, no entanto, apontar apenas o salto financeiro como segredo do sucesso do Flamengo em 2019. De fato, ter poder de investimento foi o primeiro e fundamental passo para formar um time campeão. Seria impossível unir tanta qualidade em campo sem dinheiro. Mas a política de contratações e os tiros certeiro foram essenciais.

Impulsionada pela venda de Lucas Paquetá, a gestão de Landim recebeu de Eduardo Bandeira o Flamengo com os cofres cheios e teve o mérito de praticamente gabaritar no mercado. Com uns dos maiores orçamentos para contratações da história do futebol brasileiro, oito dos nove reforços foram titulares absolutos e renderam acima da expectativa. Apenas o jovem João Lucas, contratado como aposta após bom Carioca pelo Bangu, não foi titular, quase toda reformulada.

INVESTIMENTO DE R$ 214 MILHÕES NO FUTEBOL EM 2019
- por Bruno Henrique foi pago ao Santos R$ 23 milhões, mais R$ 900 mil em luvas, R$ 2,887 milhões para intermediários, adquirindo 100% por um total de R$ 26,787 milhões
- por Arrascaeta foi pago ao Cruzeiro R$ 55,341 milhões e ao Defensor Sporting, do Uruguai, R$ 25,013 milhões, adquirindo 75% do passe a um total de R$ 80,354 milhões
- por Rodrigo Caio foi pago ao São Paulo R$ 21,2 milhões e R$ 3,359 milhões a intermediários por 45% do passe a um total de R$ 24,559 milhões
- por Gabriel Barbosa (Gabigol) foi pago R$ 3 milhões em luvas e R$ 1,057 milhões a intermediários pelo empréstimo junto à Internazionale, da Itália, num total de R$ 4,057 milhões
- por Gérson foi pago à Roma, da Itália, o valor de R$ 51,347 milhões, mais R$ 5.882 milhões a intermediários por 100% do passe, num total de R$ 57,229 milhões
- por Pablo Marí foi pago ao Manchester City, da Inglaterra, R$ 5,312 milhões, mais R$ 576 mil em luvas e R$ 2,037 milhões a intermediários por 100% do passe, num total de R$ 7,925 milhões
- por Rafinha foi pago R$ 2,4 milhões em luvas e R$ 1,48 milhões a intermediários por 100% do passe, num total de R$ 3,48 milhões
- por Filipe Luís foi pago R$ 6,384 milhões em luvas e R$ 2.450 a intermediários por 100% do passe num total de R$ 8,834 milhões
- na renovação de contrato de Diego Ribas, ainda se desembolsou, por 100% do passe, o valor de R$ 849 mil


Comitê de futebol

Nomes fortes da gestão, como o vice de futebol Marcos Braz e o vice de relações externas, Luis Eduardo Baptista (BAP), se uniram a jovens dirigentes da política rubro-negra para decidirem os rumos do futebol. E apesar das divergências, expostas na queda de braço pela permanência ou demissão de Abel Braga, o grupo se mostrou eficiente e certeiro, com praticamente 100% de aprovação nas contratações. O comitê termina o ano fortalecido.

Comitê de futebol: Marcos Braz, BAP, Dekko Roisman, Diogo Lemos e Fábio Palmer


O grupo sugere e aprova nomes, mas não está na linha de frente nas negociações. Os homens de mercado são o vice de futebol Marcos Braz (membro do comitê) e o diretor-executivo Bruno Spindel. A dupla se mostrou entrosada e convincente no mercado. Não foram poucos jogadores contratados que citaram o poder de persuasão dos dirigentes do Flamengo. Campeão da Copa do Brasil em 2013, Paulo Pelaipe foi contratado para gerenciar o futebol e é muito próximo dos dois, especialmente de Marcos Braz, que o considera seu braço direito dentro do departamento de futebol.

Com comitê e estrutura do futebol formados, não foram poucos nomes na mesa. O cardápio estava recheado. Abel Braga pediu Bruno Henrique, Dedé e Felipe Melo. Apenas o primeiro foi contratado. Luan, do Grêmio, também esteve em pauta. Cada dirigente tinha uma preferência. Rodrigo Caio e Arrascaeta foram contratos. O uruguaio foi a negociação mais cara da história do Flamengo. Gabigol foi um desejo particular de Marcos Braz, embora não fosse unanimidade dentro do clube.

Entre luvas, comissões e aquisições de direitos econômicos, foram gastos quase R$ 140 milhões no primeiro semestre. Tudo de forma parcelada e dentro do orçamento. Além de fortalecer o time, a janela caseira enfraqueceu os adversários nacionais.


Mudança de comando no meio do caminho

Apesar do alto investimento, o Flamengo não encantava. Conquistou o Carioca com facilidade, mas sofreu para avançar na fase de grupos da Libertadores e patinou no início do Brasileirão. O desempenho irregular, aliado às declarações e pensamentos desconexos entre Abel Braga e direção, levaram o clube a procurar Jorge Jesus como substituto. Abel ficou sabendo e antecipou a saída, jogando o boné no fim de maio.

- Quando soubemos que ele ia ver o jogo contra o Atlético-MG, pensei: "Poxa, será que ele quer mesmo ir para o Brasil?". Fiz contato com uma pessoa e pedi uma reunião para conhecê-lo, avisei ao Bruno (Spindel) e conversamos. Dois dias depois, tivemos a surpresa do pedido de demissão do Abel. Como estávamos na Europa, intensificamos as coisas. O Landim viajou para a final da Champions e a coisa aconteceu – recordou Marcos Braz, responsável direto pela contratação de Jesus.

Jorge Jesus desembarcou no Rio de Janeiro com sete membros da comissão, implantou uma revolução no dia a dia do clube e o resto é história. O início até teve seus percalços, como a eliminação para o Athletico-PR na Copa do Brasil e a quase queda para o Emelec nas oitavas da Libertadores. A partir de agosto, no entanto, o Rubro-Negro deslanchou e arrancou para os títulos do Campeonato Brasileiro e da Libertadores.


Mochilão pela Europa

Após o dramático empate com o Peñarol em Montevideu, que confirmou a classificação para as oitavas da Libertadores, o discurso ainda no estádio entre os dirigentes era que o Flamengo iria às compras para o segundo semestre. E de fato foi o que aconteceu. Marcos Braz e Bruno Spindel sequer retornaram com a delegação para o Rio de Janeiro. Do Uruguai embarcaram direto para Madrid, onde começaram o primeiro mochilão pela Europa.

Após uma janela caseira, o Flamengo foi ao exterior se reforçar no segundo semestre. As viagens de Marcos Braz e Bruno Spindel foram apelidadas de "mochilão", por conta de uma declaração de BAP. Portugal, Itália, Espanha, França, Alemanha, Inglaterra e até Monaco fizeram parte do roteiro.

Ao todo, foram três viagens para o continente, que renderam contratações importantes, como Rafinha, Filipe Luis, Gérson e o até então desconhecido Pablo Marí. Todos tinham propostas para seguir na Europa, mas toparam o desafio de defender o Flamengo. O clube ainda tentou a contratação de Mario Balotelli como cereja do bolo, mas o italiano optou por defender o Brescia.


Curiosidades

Primeiro reforço da gestão de Landim, Rodrigo Caio esteve a um passo do Barcelona dias antes do acerto com o Flamengo. Ele seria emprestado por seis meses, realizou exames médicos a pedido do clube catalão, mas, ao sair da clínica, ficou sabendo que a equipe de Messi havia acertado com o colombiano Murilo. Uma semana depois o Rubro-Negro comprou 40% junto ao São Paulo.

A contratação de Gabigol não era unanimidade na Gávea. Abel Braga preferia um 9 com características de centroavante e alguns membros da diretoria tinham dúvidas quanto ao jogador. Marcos Braz bateu o pé e conduziu a negociação. Foi uma aposta pessoal do vice de futebol.

A negociação com Bruno Henrique começou antes mesmo da eleição do Flamengo, em dezembro. Devido à indecisão da diretoria do Santos, o Marcos Braz retirou oficialmente a proposta, em entrevista logo após a apresentação de Gabigol. O Peixe, no entanto, cedeu após a insistência do jogador.

A negociação com Arrascaeta foi das mais complicadas, especialmente pela postura de Itair Machado, então diretor do Cruzeiro. Para acalmar os ânimos, foi decidido que as conversas seguiriam em um lugar neutro. São Paulo foi opção, mas a negociação teve seus capítulos finais em Montevidéu, na casa de um dos empresários do jogador. Bruno Spindel representou o Flamengo no Uruguai. De uma churrascaria no Rio de Janeiro, Marcos Braz ajustou detalhes por telefone com Itair Machado. Uma das condições para o acerto foi que o Flamengo retirasse a proposta por Dedé. O que de fato aconteceu.

O primeiro encontro entre Flamengo e Rafinha aconteceu na véspera do Réveillon, em um hotel em São Paulo. Marcos Braz, Rafinha e Lincoln (ex-jogador e empresário do lateral) ficaram horas reunidos. O jogador curtiu o projeto apresentado, mas a palavra final veio somente em maio, após ele decidir que de fato não seguiria na Europa.

A ideia de defender o Flamengo surgiu como uma brincadeira, em um papo informal entre Filipe Luis, seus empresários e Sávio. O projeto foi apresentado ao Flamengo, as conversas começaram em maio, mas certamente a negociação foi das mais arrastadas. Com propostas da Europa, Filipe pediu prazo até a Copa América, depois avisou que responderia somente após a competição e ainda levou mais duas semanas para bater o martelo. A demora incomodou diretoria e torcedores, mas a espera valeu à pena.

Desejo do Flamengo desde 2018, Gérson esteve a um passo de jogar no futebol russo. A Roma já havia acertado a venda do brasileiro para o Dínamo de Moscou. A pedido do atleta e de seu pai, os italianos abriram conversa com o Flamengo, e o Rubro-Negro atravessou os russos.

Se muitas negociações se arrastaram, o acerto com Pablo Marí foi bem rápido. Após conversas com vários jogadores na Europa, como Jemerson, Zapata, Wallace, Bruno Viana, entre outros, o clube buscou a contratação do desconhecido espanhol por indicação de João de Deus, auxiliar de Jorge Jesus. O centro de inteligência de mercado fez o levantamento sobre o atleta, as conversas foram rápidas, e o Flamengo contratou Marí em poucos dias, após viagem de Bruno Spindel e Marcos Braz a Madrid.


Alívio na folha e receita com vendas

Muito se fala dos oito titulares contratados neste ano, mas para trazê-los foi necessário abrir espaço na folha salarial. O custo mensal de Geuvânio, por exemplo, beirava R$ 900 mil. Seu empréstimo chegou ao fim em dezembro passado, mas foi preciso negociar outros atletas como salários altos. Réver foi liberado sem custos para o Atlético-MG; Pará, no meio do ano, para o Santos. Henrique Dourado, Rômulo, Uribe, com o custos-benefício avaliado internamente como ruins, também saíram. As negociações abriram espaço para novas aquisições.

As vendas também renderam um bom dinheiro. O clube arrecadou R$ 140 milhões com as negociações de Cuéllar (R$ 34 milhões), Léo Duarte (R$ 41 milhões), Jean Lucas (R$ 28 milhões), Truaco (R$ 10 milhões), Henrique Dourado (R$ 22 milhões) e Uribe (R$ 6 milhões).

RECEITA DE R$ 140 MILHÕES COM VENDAS
- Henrique Dourado vendido ao Henan Jianye, da China, por R$ 18 milhões
- Jean Lucas vendido ao Lyon, da França, por R$ 34,869 milhões
- Léo Duarte vendido ao Milan, da Itália, por R$ 41,893 milhões
- Trauco vendido ao Saint-Étienne, da França, por R$ 2,381 milhões
- Cuéllar vendido ao Al Hilal, da Arábia Saudita, por R$ 36,87 milhões
- Uribe vendido ao Santos por R$ 5,5 milhões


Histórico de erros e acertos

A reestruturação financeira começou em 2013, mas foi a partir de 2015 que o Flamengo ganhou fôlego para investir no futebol. Ainda sem tantos recursos, contratou 15 jogadores, três deles com carimbos de grandes reforços: Guerrero, Marcelo Cirino e Éderson. O peruano até teve bons momentos na Gávea, onde passou três anos, mas jamais foi referência e foi embora sem deixar saudade. Os outros dois, nem isso.

O segundo mandato de Eduardo Bandeira, em janeiro de 2016, começou com a promessa de investimento e títulos no futebol. Com grana em caixa, o clube passou a investir em aquisições de direitos econômicos, com números mais modestos do que os atuais.

Desde então foram muitos jogadores contratos, com erros e acertos. É inegável que antigas contratações, como Éverton Ribeiro – o maior acerto na antiga gestão -, Willian Arão, Diego Alves, Vitinho, Cuéllar e Diego foram importantes ao longo de 2019.

Entretanto, mesmo com grana no bolso, o Flamengo errou muito no mercado nos anos anteriores. Dario Conca, Mancuello, Geuvânio, Donatti, Fernando Uribe, Berrío, Alex Muralha, Marcelo Cirino, Leandro Damião, Rômulo, Éderson e até Paolo Guerrero foram nomes que desembarcaram com pompa, não foram baratos, mas nunca viraram realidade.

Em 2018, impulsionado pelas parcelas da venda de Vinicius Júnior, o clube foi forte ao mercado e desembolsou mais de R$ 100 milhões em aquisições de direitos econômicos em nomes como Vitinho, Uribe e Piris da Motta. No caso do colombiano (Uribe) apenas com pagamento de luvas e intermediários. Não houve o retorno esperado, e o Flamengo terminou a temporada sem títulos.

FLAMENGO INVESTIU MAIS DE R$ 100 MILHÕES EM 2018
- por Vitinho pagou R$ 53.932.000 por 100% do passe ao CSKA Moscou, da Rússia
- por Piris da Motta pagou R$ 25.873.000 por 100% do passe ao San Lorenzo, da Argentina
- por Henrique Dourado pagou R$ 15.785.000 por 75% do passe ao Fluminense
- por Uribe pagou R$ 2.137.000 por 100% do passe (o jogador tinha passe livre)
- por Rodinei pagou R$ 6.005.000 por 50% do passe
- por Léo Duarte pagou R$ 2.448.000 para adquirir 50% do passe ao Desportivo Brasil (jogador revelado pela base do Flamengo)


ENTREVISTA DE MARCOS BRAZ

Com receita de quase R$ 1 bilhão ao fim de 2019, o Flamengo se arma para atacar o mercado em 2020 e reforçar o atual elenco já repleto de grandes jogadores. O planejamento prevê ainda a ampliação e valorização do vínculos da maioria dos atletas titulares atualmente. E vai muito além de Jorge Jesus e Gabigol. Em entrevista exclusiva, o vice de futebol Marcos Braz detalhou como o clube pretende se reforçar em busca de conquistas do tamanho de um Brasileiro e uma Libertadores, títulos de expressão que voltaram a fazer parte da sala de troféus.

O GLOBO: Como manter o time com esse alto padrão?
Marcos Braz: A história pessoal dos jogadores fala por si. Rafinha está aí, é ele por si só. Vale para o Filipe Luis, Diego Ribas. Eles terão compromisso com eles mesmos, sempre tiveram com a vitória. Não precisam de dirigente, de nada. Vão se reencontrando. Sabem que terão um Estadual pela proa, e segue o jogo. A mágica do jogador em campo é essa, eles sabem aflorar isso mais que ninguém.

O GLOBO: Como avalia as lideranças do elenco?
Marcos Braz: Quando eu falo do Rafinha, é pelo histórico dele. Ganhou uma Champions, um caminhão de campeonatos alemães. Mas você tem o Éverton Ribeiro, que ganhou três brasileiros, não é brincadeira. Campeonato complexo. Como não vai respeitar ele? E ele precisa de quem para ganhar o quarto? Ninguém. Rafinha e Filipe tiveram as histórias deles lá, vieram para o Flamengo, e não precisam de ninguém para aflorar esse DNA vitorioso. Mérito nosso foi identificar isso. Essa relação com o clube. E aí entrou o vice-presidente. O Gérson desde o primeiro momento deixou claro que queria vir. Era Flamengo. Sempre quis demais. E foi muito correto. Chegou lá, não pipocou não.

O GLOBO: Qual foi a maior e a melhor contratação este ano?
Marcos Braz: Não vou responder. Você não vai me deixar em saia justa. Para mim os oito foram importantes. Até o menino do Bangu (João Lucas).

O GLOBO: Que jogadores têm conversa para ampliar o contrato?
Marcos Braz: Os jogadores que querem ficar no Flamengo e que o Flamengo tem interesse, a gente não perde. Vamos conseguir manter. Você tem o sentimento do jogador quando tem um título expressivo, e acha que tem que ter um reconhecimento melhor, isso é normal. Processo natural o empresário vir, pedir para melhorar um pouco, pedir premiação para um título maior (Jogadores como Éverton Ribeiro, Arão e Diego Alves já estão na fila para renovar).

O GLOBO: No caso dos atletas, o interesse é esportivo ou financeiro?
Marcos Braz: O Flamengo está nesse nível. Eles têm o interesse esportivo. Quem não quer ser reconhecido e estar nesse elenco do Flamengo?

O GLOBO: A Liga dos Campeões é um interesse esportivo para o treinador e o jogador, o que compensaria isso?
Marcos Braz: Quantos times proporcionariam a possibilidade maior que 60% de ganhar a Champions? Quatro, cinco? Vamos aguardar a propostas desses cinco para esses jogadores e ver.

O GLOBO: Para apenas disputar a competição não seria tão atraente na sua visão?
Marcos Braz: Acho que não. Para o nível desses jogadores que estão aí, eles querem ganhar. Não é com qualquer time e estrutura que se ganha a Champions. Tem clube com poderio financeiro e estrutura e não ganha mesmo assim. Tem ciclos que é foda. Tranquilidade e calma não tem nada a ver com a inércia.

O GLOBO: Como foi trazer o Arrascaeta, o mais caro reforço do clube?
Marcos Braz: Jogador caro é o que não ganha porra nenhuma quando vem. Quando vem e contribui como ele contribuiu, já fica uma interpretação diferente do que é caro e barato. Arrascaeta é caro ou é barato? Só ver como ele ajudou. Ele ajudou o suficiente.

O GLOBO: Flamengo investiu nele e teve retorno, mas investiu menos ainda no Bruno Henrique. Ele quase não veio. Em que momento achou que valia forçar?
Marcos Braz: A gente tinha um questionamento de como traria esse jogador. O presidente do Santos recuou, voltou, acelerou. A gente fez uma estratégia, mudou. Mas ele sempre esteve nos planos. Era um jogador que tinha feito um 2017 melhor que 2018, por causa da lesão. Era um jogador que estava comendo a bola.

O GLOBO: Não tem medo de perder ele agora?
Marcos Braz: Não tenho medo de perder. Com essa exposição, campeão da Libertadores e do Brasileiro, que vai disputar um Mundial, agora é ter tranquilidade.

O GLOBO: A expressão “gelo no sangue" surgiu da onde?
Marcos Braz: Foi uma brincadeira. Tirei da minha cabeça.

O GLOBO: Virou lema?
Marcos Braz: Não, a gente estava contratando o Arrascaeta. O Bruno foi para um lado, eu fui para outro. A gente se falava no telefone. Eu falava com o Cruzeiro. Quando parava lá, o Bruno acelerava. Isso durou alguns dias. Aí escrevi, gelo no sangue. Isso tem até um maluco que tatuou.

O GLOBO: Você passou a usar isso nas negociações?
Marcos Braz: Não, só brinquei.

O GLOBO: Te traduz essa expressão?
Marcos Braz: Traduz. Gabriel, por exemplo. Artilheiro, conexão com as crianças, tem que ter tranquilidade para traduzir o interesse do jogador o que é possível de maneira orçamentária do Flamengo.

O GLOBO: O Flamengo investiu este ano alto, algumas coisas parceladas para os próximos anos. Mas a receita cresceu. Vai aumentar o investimento?
Marcos Braz: Do mesmo jeito que a gente dividiu pagamentos para frente, a gente honra pagamentos anteriores. Por exemplo, o Vitinho, paga ainda em 2020. Isso é planejamento e é feito com transparência. Em relação ao assédio aos jogadores do Flamengo, nada mais natural em função dos resultados esportivos, ter uma lupa em cima desses jogadores que tiveram excelente performance. Tem jogadores que com certeza tem condições de estarem em outros clubes grandes na Europa. Do mesmo jeito que o Flamengo vai para cima de outros clubes, outros poderiam vir também. Flamengo tem contratos longos com alguns jogadores, não necessariamente só vão sair pela multa rescisória, que é pra possibilitar que o clube esteja na mesa de negociação quando for abordado sobre uma venda.

O GLOBO: Admite que o Flamengo pode perder jogador?
Marcos Braz: Não tem nenhuma proposta hoje. Tendo, a gente analisa.

O GLOBO: E vai qualificar até que ponto? Quantas peças?
Marcos Braz: Como eu vou falar de contratação de A e de B, se ainda tem competição importante? Não está dentro do tempo. Tem que tratar isso com tranquilidade. E tenho certeza que se tem jogador que está com proposta, não vai apresentar agora. Porque sabe que não é o tempo adequado. Tem o Mundial.

O GLOBO: E precisa vender jogador?
Marcos Braz: Não. Mas o Flamengo pode vender. Sempre se precisa de um complemento de venda para cumprir o orçamento. Não necessariamente jogador da base.

O GLOBO: Para o Reinier também não chegou nada?
Marcos Braz: Não chegou nada. Se chegar proposta vai ser analisada. Ele tem quatro anos de contrato para cumprir. Deve estar muito satisfeito. Se tiver uma situação melhor para ele, boa para o Flamengo, vamos ver como fazer. Tem 17 anos. Mas não tinha a menor condição mais de jogar na base. As pessoas tem que encarar essas situações com mais naturalidade. Não é nenhum desleixo com a CBF. Não queremos atrito. Ele só não tinha a menor condição de disputar um campeonato de sub-17, mesmo Mundial. Ele é um jogador que é profissional agora. Acho que o Flamengo estava certo.

O GLOBO: O Flamengo comprou jogador, como Gérson, Arrascaeta, trouxe outros em fim de contrato, tal qual Rafinha e Filipe Luis...
Marcos Braz: Mas mesmo que estivessem em fim de contrato, se quisessem ficar na Europa teriam time para jogar. Flamengo teve mérito de apresentar projeto esportivo, e deu certo. Não é porque está acabando contrato lá que não tem mercado lá. Rafinha e Filipe tinham muito.

O GLOBO: Mas o modelo ideal é diversificar nas contratações?
Marcos Braz: Não tem que ser preconceituoso. Tem que analisar o que precisa, o que vai contribuir para dar musculatura no elenco. E vai trazer o jogador possível da maneira possível. A gente não teve esse preconceito.

O GLOBO: A gente vai ver o Flamengo tirando mais jogadores de outros clubes brasileiros?
Marcos Braz: Flamengo não vai para cima de ninguém. Não fomos para cima de time brasileiro.

O GLOBO: Bruno Henrique do Santos, Arrascaeta do Cruzeiro, Rodrigo Caio do São Paulo...
Marcos Braz: São Paulo queria vender (Rodrigo Caio). Flamengo acreditou, teve condição de comprar. Não fomos agressivo para tomar. Só teve um, que foi a chegada do Arrascaeta. Representou a chegada da diretoria. Foi isso. Esse símbolo. Mas não tem a ver com querer enfraquecer. O jogador também queria vir.

O GLOBO: Não acha que o Flamengo vai olhar mais para dentro?
Marcos Braz: Vai olhar também.





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