quarta-feira, 24 de junho de 2020

A Quebra de Monopólio da Rede Globo: posição jurídica do C.R. Flamengo


Declaração do Vice-Presidente Geral e Vice-Presidente Jurídico do Flamengo, Rodrigo Dunshee de Abranches, dadas à ESPN:

A gente analisou essa questão do ponto de vista jurídico. São vários argumentos. Primeiro deles é que o Flamengo não tem contrato com a Rede Globo. Segundo é que esse contrato que a Globo tem tinha uma previsão da não participação do Flamengo. Caso o Flamengo não participasse haveria uma redução, uma multa redutora do valor global dos outros clubes da ordem de 25%.

Então já está precificado e combinado em relação ao Flamengo que a Rede Globo não vai pagar nada a nenhum clube por esse clube jogar com o Flamengo. Ela reduziu o contrato em 25%. Ela já teve essa economia de 25%. E a gente entende que isso é uma coisa que reforça a nossa ótica de que o Flamengo está totalmente fora e os outros clubes também não tinham nenhum direito, em relação ao Flamengo, negociado.

Porque esse contrato da Globo com os clubes, os demais clubes, que olhei e li, ele diz que a Globo está comprando os direitos legais de transmissão desses times. E direitos legais de transmissão não necessariamente é uma coisa que fique paralisada. A lei pode mudar a forma de se apurar esses direitos. Então antigamente o direito legal de transmissão ele era pertencente aos dois clubes de uma partida. Agora ele pertence ao mandante.

Então continua válido o contrato da Globo. Só que os direitos legais de transmissão que eram duas metades agora é um inteiro do valor de um jogo. Então a Globo tem direitos legais de transmissão hoje, enquanto está vigente a Medida Provisória, referentes a todos os jogos em que os clubes com os quais ela fez contrato são mandantes.

Então não faz sentido o Flamengo que tem uma lei que permite a ele transmitir o jogo sozinho, sem precisar da anuência de ninguém, que fique preso num contrato que tem mais validade de quatro anos por conta de uma infundada alegação de direito adquirido de um contrato que eu não sou parte, que eu tenho a lei do meu lado. Se eu tenho a lei do meu lado, não sou parte desse contrato, estou exercendo um regular direito.

Exercício regular do direito é quando você tem um direito assegurado por lei, vai lá e faz esse direito. Ninguém pode reclamar de você exercer um direito que está reconhecido pela lei, entendeu? E eu não estou fazendo nenhum abuso de direito. Estou fazendo um exercício regular do direito. Esse é um fato importante que a gente estudou bastante e está muito seguro disso.

Outro fundamento que é importante que as pessoas entendam é que o maior beneficiário dessa lei, que a gente está chamando de Lei Áurea do futebol porque não é normal que uma entidade possa aprisionar clubes numa arapuca contratual. Então essa Lei Áurea do futebol ela é muito importante para quem? Para o telespectador, para o torcedor. Eles são os destinatários finais dessa medida.

O Flamengo ou outro clube qualquer que num momento qualquer tenha uma divergência comercial com uma empresa de transmissão ele vai poder passar os jogos para os seus telespectadores nem que seja de graça. Vai numa plataforma dessas e libera. Então ganha muito o telespectador de opções em último caso.

Sempre em último caso porque acho que o grande player do mercado ainda vão ser as televisões. Acho que as televisões têm um produto que é o canal de televisão, o pay-per-view, televisão por assinatura, isso ainda vai ser por um tempo muito importante. A gente está olhando que nessa questão da pandemia os estádios estão fechados. As pessoas não podem assistir aos jogos. E acho que foi uma insensibilidade grande da Globo não passar por exemplo o jogo do Bangu que o presidente Landim falou em público para televisão que estava aberto.

A lei está em vigor e pode passar o jogo do Bangu. Eu sou visitante, o Bangu é o mandante, pode passar. E a Globo não passou por quê? Porque a Globo tem os interesses comerciais dela e ela acha que vai conseguir aprisionar o Flamengo nessa arapuca. Eu acho que isso é de uma insensibilidade grande com o Flamengo e especialmente com a nação rubro-negra e os próprios torcedores dos outros times também.

Tem muita gente que assiste até para secar, você sabe (risos). Então acho que todo espectro legal está do lado do Flamengo. A gente sabe da força da Globo, que a Globo tem um exército de advogados e tal. A gente respeita, mas a gente está muito confiante que não tem direito adquirido nenhum e que os direitos adquiridos em relações de trato sucessivo, que se renovam mês a mês ou rodada de futebol a rodada de futebol, a lei se aplica imediatamente na próxima situação futura. Não se aplica ao jogo que já passou, antigo, jogo antes da pandemia. Mas aos novos jogos a lei se aplica.

Até porque especificamente o Flamengo não tem contrato com a Globo. Estou muito seguro, mas a gente sabe que vai depender se vai ter alguma medida judicial, se não vai ter, o Flamengo vai ter de se defender e tal. É isso a grosso modo.

A Rede Globo notificou o Flamengo afirmando que o clube não poderia transmitir os jogos se quiser na FlaTV ou qualquer player, como se diz, porque ela tem os direitos. O Flamengo contra-notificou a Rede Globo e explicou tudo isso que eu disse, por A mais B. A questão dos torcedores, a questão da falta de contrato, a importância para o futebol brasileiro dessa medida. E a gente disse para a Globo que a gente tem o direito, reconhecido por lei, a gente vai exercer esse direito, a gente vai passar esse jogo. E que se ela impedir será responsável por pagar uma indenização de perdas e danos ao Flamengo.

Devolvemos a ela na mesma linha, com o mesmo tom que ela disse. Não acreditamos que o Judiciário vá nos colocar dentro de uma arapuca de um contrato que nós não somos signatários.

O Flamengo se movimenta no sentido de que vai transmitir a partida contra o Boavista pela FlaTV. Nosso Vice-Presidente de Marketing, Gustavo Oliveira, está negociando a plataforma que será usada, está vendo. Mas a gente está dentro do nosso direito e vamos transmitir, sim. Ainda mais na pandemia que ninguém pode ir ao estádio.

Se o Flamengo tem razão ou não - eu acho que tem e estou muito confiante disso - mas acho que o Judiciário devia se fosse chamado a isso, se a Globo for insensível a esse ponto, o Judiciário deveria converter essa discussão em perdas e danos, entendeu? Quem estiver sem razão indeniza o outro. Agora proibir o telespectador de assistir um espetáculo, numa situação dessa de pandemia, acho um absurdo.

A Globo não vai ter prejuízo nenhum porque ela: primeiro, não pagou o Flamengo por um direito que é do Flamengo. E segundo que ela economizou 20% não tendo o Flamengo. Então a Globo só está tendo vantagem. Além disso ela tem direito de passar o jogo de visitante, que ela abriu mão. Uma decisão que acho totalmente equivocada, mas eu respeito porque é um direito dela de tomar a decisão que bem quiser em relação aos jogos em que o Flamengo é visitante.





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