sexta-feira, 5 de junho de 2020

Ernst & Young aposta que 8 clubes dominarão o futebol da América do Sul



Matéria publicada no jornal O Globo, em 4 de junho de 2020, sob o título: "Finanças temperam a rivalidade entre Brasil e Argentina". Eis a integra do texto:

No Monumental de Lima, três minutos e dois gols mudaram o destino de, no mínimo, R$ 27 milhões. Não tivesse o Flamengo vencido o River Plate na final da Libertadores em 2019, o cenário financeiro entre os grandes de Brasil e Argentina seria um pouco diferente. Foi a decolagem rubro-negra.

O embate esportivo recente é exemplo de como os principais clubes brasileiros e os dois gigantes vizinhos também concorrem em termos econômicos, segundo estudo da consultoria EY. Isso reforça a tendência de dominação dos países na competição continental.

Na comparação Brasil x Argentina, só Fla e Palmeiras arrecadaram mais que o Boca Juniors em 2019. O último balanço de um dos semifinalistas da Libertadores aponta R$ 540 milhões em receitas. Algo superior, por exemplo, a Grêmio, Internacional e aos paulistas Corinthians e São Paulo.

"Estamos indicando que os oito clubes tendem a dominar o cenário sul-americano de futebol. Cada vez mais vai se olhar a rivalidade para o continente e menos para os estados. É para onde o ponteiro econômico está apontando " avalia Alexandre Rangel, um dos sócios da área de Esporte da EY.

Os 8 clubes que dominarão a América do Sul: Flamengo, Corinthians, São Paulo, Palmeiras, Grêmio, Internacional, River Plate e Boca Juniors

Financeiramente, o Boca está melhor que o River. O atual vice da Libertadores levou R$ 23 milhões na final única. O River registra a 11ª maior arrecadação no cruzamento com os brasileiros em 2019 (R$ 331 milhões). Mas como prova a final de Lima, eles continuam como rivais de respeito.

O Flamengo não só ficou com maior fatia daquele prêmio da Conmebol (R$ 50 milhões) pela vitória na decisão, como ainda faturou R$ 16,8 milhões após ser vice do Mundial de Clubes. Isso foi fundamental para arrecadar R$ 950 milhões em 2019.

Brasil e Argentina são os únicos países representados nas finais das três últimas edições da Libertadores. Isso coincide com o aumento de participantes feito pela Conmebol. A consequência financeira é inevitável. O prêmio máximo para o campeão de 2020 chegará a US$ 22,5 milhões (R$ 114 milhões, na cotação atual). Só pela final, o vencedor leva US$ 15 milhões (R$ 76 milhões).

O item do balanço financeiro que sofre impacto direto é o que concentra receitas de direitos de transmissão e premiações. Os brasileiros levam vantagem por fazerem parte de um mercado mais rentável. Mesmo com as boas campanhas dos argentinos na Libertadores, a receita de Boca e River no quesito foi praticamente igual a do São Paulo, eliminado pelo Talleres ainda na segunda fase preliminar.

A maior fatia das receitas do Boca (35%) se concentrou nas transferências de jogadores. O percentual é similar ao do Fla (32%), embora o rubro-negro leve a melhor em números absolutos: R$ 300 milhões contra R$ 190 milhões.

O Boca registra ótimo desempenho com matchday (dia de jogo), até por ter um dos estádios mais icônicos do planeta: La Bombonera. A arrecadação nesse item, de novo, só foi menor que a do Flamengo. Efeito Maracanã.

"Os clubes com melhores resultados em matchday são os que dominam o estádio e o programa de sócios. O Grêmio, por exemplo, perde porque não tem a bilheteria da Arena " explica Rangel.

O Boca ainda deixa como exemplo para os clubes brasileiros a fuga do endividamento: eram só R$ 53 milhões ao fim do ano. Ter dívidas não é, necessariamente, algo ruim. Mas a ausência delas dá tranquilidade para investimentos pesados no presente. Isso pode fazer diferença na retomada pós-pandemia.


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