terça-feira, 28 de julho de 2020

História dos Primos: o Flamengo de Pernambuco, campeão de 1915


Matéria escrita por Brenno Costa e publicada pelo GloboEsporte.com em 12/05/2020 sob o título: "Do primeiro título pernambucano ao fundo do poço com goleada de 21 a 3: a história do Flamengo-PE".

Arte produzida pelo GloboEsporte.com

Com nome inspirado no famoso time carioca, equipe do Recife fez o Santa Cruz virar tricolor e brilhou nos gramados locais até cair de rendimento no anos 1940 com série de derrotas elásticas.

Era um tempo muito diferente para o futebol. Especialmente, em Pernambuco. A modalidade ainda estava crescendo em interesse na população. Engatinhava. Nos jornais, principal fonte de informação, disputava espaço com o turfe e o remo. Nesse contexto, nasceu o Sport Club Flamengo no dia 20 de abril de 1914, inspirado pelo time carioca que havia conquistado o estadual daquele ano.


O nome era igual, mas com cores diferentes. A versão pernambucana nasceu e morreu alvi-negra. Foi em preto e branco que o time brilhou logo no ano seguinte ao da fundação, sendo o primeiro campeão do estado. Em 1916, fez o Santa Cruz virar tricolor de uma maneira bem inusitada.

Décadas depois, caiu em desgraça. A decadência absoluta veio com goleadas 16 a 0 para o Sport (1938), 14 a 0 para o Santa Cruz (1949) e, a maior de todas, 21 a 3 para o Náutico (1945). Em seguida, foi totalmente desativado. Mas, de alguma maneira, deixou seu legado.

O primeiro Campeonato Pernambucano
A edição de abertura do Campeonato Pernambucano foi disputada em 1915. Nela, participaram seis equipes: Santa Cruz, Torre, João de Barros (futuro América), Coligação Sportiva Recifense, Centro Sportivo Peres e o próprio Flamengo. Desses clubes, apenas Santa Cruz e América ainda estavam em atividade cem anos depois, no Século XXI.

A disputa daquela inédita competição seria em dois turnos. Mas, ao final do primeiro, com a liderança dividida entre Santa Cruz, Torre e Flamengo, a Liga Sportiva Pernambucana decidiu fazer um super-campeonato apenas com o trio se enfrentando para definir o campeão.

A decisão polêmica também contou com uma mudança de local dos confrontos. Da Campina do Derby, no Centro do Recife, as partidas passaram a ser disputadas no extinto Campo do British Club, zona norte da capital. A intenção foi aproveitar que o espaço tinha muros e, assim, cobrar pelos ingressos, conforme aponta o livro "85 Anos de Bola Rolando", de Givanildo Alves.

Pancadaria, título e referência ao Flamengo do Rio
Depois da primeira fase, portanto, o Flamengo tinha dois jogos até o título. No primeiro deles, uma espécie de final antecipada. Diante do Santa Cruz, time com maior torcida e apontado como favorito, a equipe alvi-negra conseguiu vencer por 6 a 2 em um espetáculo que gerou muita expectativa e confusão.

No dia 5 de dezembro, os rivais foram a campo para o segundo jogo do super-campeonato. Antes, o Santa Cruz havia batido o Torre por 5 a 0. No duelo com o Flamengo, por outro lado, era o time do Arruda que seria goleado.

O Santa Cruz até ensaiou uma vitória e abriu o placar, mas depois sofreu uma virada contundente. Com o placar em 4 a 1, o jogo começou a ficar violento. O Jornal "Pequeno" relata que a partida deixou de ser futebol para virar rugby. Com isso, são marcadas várias faltas, e os jogadores começam a ser expulsos. Mas, antes do fim da primeira etapa, o Flamengo fez 5 a 1. Na volta do intervalo, a equipe alvi-negra passa a se defender mais do que atacar. No fim, o placar fica em 6 a 2. Assim, o clube que curiosamente contava com o atacante inglês Percy Fellows em seu quadro, dava um importante passo rumo à glória.


No dia 12 de dezembro, o Flamengo voltou a campo para enfrentar ao Torre. Dessa vez, a vitória se construiu sem tanta confusão, mas teve suas jogadas violentas segundo o relato do "Diário de Pernambuco". No apito final, o time aplicou 3 a 1 no rival. Conquistava, então, o primeiro título pernambucano de futebol da história. O triunfo rendeu referência ao homônimo carioca, grande fonte de inspiração.

"O Flamengo do Recife quis ser o êmulo do seu congênere do Rio, e vencendo a tática do Santa Cruz e a tenacidade do Torre, soube guardar para si os louros da vitória, e as 'loiras' medalhas", escreveu o "Diário de Pernambuco". Como prêmio, os jogadores do time levaram medalhas de ouro, que chegaram até a serem expostas ao público no mês seguinte ao da conquista.

Flamengo, Campeão Pernambucano de 1915 


A campanha do Flamengo em 1915

Primeira fase

Data: 15/08/1915
Flamengo 2 x 1 CS Peres

Data: 07/9/1915
Flamengo 3 x 0 Colligação SR

Data: 19/09/1915
Santa Cruz 0 x 0 Flamengo

Data: 24/10/1915
Flamengo 1 x 1 Torre

Data: 02/11/1915
Flamengo 0 x 0 América-PE
Supercampeonato

Data: 05/12/1915
Flamengo 6 x 2 Santa Cruz

Data: 12/12/1915
Flamengo 3 x 1 Torre


A mudança de cor do Santa Cruz
Filiado antes do rival à então Liga Sportiva Pernambucana, o Flamengo "forçou" o Santa Cruz a virar tricolor no ano seguinte ao da conquista do Estadual. Como os dois times tinham as mesmas cores, conforme consta no livro "História do Futebol em Pernambuco", de Givanildo Alves, houve um sorteio que obrigou o Santa Cruz a não mais ser alvi-negro. Desse modo, o time do Arruda passou a acrescentar o vermelho. A escolha da terceira cor tem duas versões.

Uma delas é de que Luiz Barbalho, um dos fundadores do "Mais Querido de Recife", queria que o clube tivesse cores semelhantes às da bandeira da Alemanha. A outra história é de que uma passagem do Flamengo, do Rio de Janeiro, que estava com destino a Belém do Pará, inspirou o novo tom na camisa coral.


A decepção das goleadas
Da glória na primeira década do futebol no Recife, o Flamengo passou para coadjuvante. Nos anos 1920, se limitou a quatro vices-campeonatos do Torneio Início (1920, 1924, 1926 e 1927), competição de abertura da temporada, conforme aponta levantamento do jornalista Cassio Zirpoli.

Depois, sem qualquer brilhantismo, decaiu de vez. A queda foi tão grande ao ponto de chegar ao doloroso 21 a 3 para o Náutico - até hoje, a maior goleada do Campeonato Pernambucano.

O placar foi construído no Estadual de 1945, no dia 1º de julho, no Estádio dos Aflitos. Segundo descrição do Diario de Pernambuco, o resultado foi comentado de maneira humorística até no Rio de Janeiro.

O jornal foi contundente ao dizer que equipe jogou para perder, mas sem saber o real motivo. Fato é que o jogo marcou 9 a 3 no primeiro tempo. No segundo, saltou para 21 a 3. O artilheiro desta partida foi Tará, com oito gols marcados, virando o recordista nacional à época. "Se houvesse mais tempo, iria a meio cento", escreveu o "Diário de Pernambuco", apontando que o duelo poderia ter terminado com 50 gols a favor do Náutico.


A despedida
Diante da grande decadência, o Flamengo saiu de cena em 1949, quando disputou o último Campeonato Pernambucano de sua história. Depois, encerrou as atividades. Ao todo, segundo números do pesquisador Carlos Celso Cordeiro, foram 335 jogos, com 105 vitórias, 34 empates e 196 derrotas.

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