HISTÓRIA DO FUTEBOL DO FLAMENGO
OS ANOS DO AMADORISNO 2ª Parte (1926 a 1932)
Anos difíceis, o Flamengo quase foi ficando para trás
A campanha em 1926 foi ruim, e de certa forma pode ter sido um primeiro prenúncio de que dias piores estavam por vir após uma era de certa dominância na cidade entre 1912 e 1925.
No campeonato de 26, a largada já se mostrou muito instável. Logo na estreia, derrota para o Bangu no Estádio da Rua Paissandu. Na segunda rodada, o time se recuperou e aplicou uma impiedosa goleada de 5 a 0 no América. Dali em diante alternou bons e maus momentos. O turno ainda teve uma goleada de 5 a 0 sofrida para o São Cristóvão e uma derrota para o Botafogo, além de empates contra Vila Isabel, Vasco e Fluminense. No 2º turno, o time voltou a sofrer uma goleada para o São Cristóvão, desta vez por 5 a 1, e ainda perdeu para América e Vasco. Em meio a esta instabilidade, ainda encontrou forças para aplicar uma impiedosa goleada de 8 a 1 sobre o Botafogo. Mas no saldo geral, foi um ano ruim, terminando em 5º lugar. Em sua 15ª participação, pela primeira vez o Flamengo terminava um Campeonato Carioca sem se encontrar entre os quatro primeiros colocados.
Flamengo no Carioca de 1926
Amado, Hélcio e Penaforte; Favorino, Flávio Costa e Japonês; Aché, Allemand, Nonô, Fragoso e Moderato
Téc: Juan Carlos Bertoni e Joaquim Guimarães
Após o 5º lugar em 1926, ninguém apostava na força do Flamengo para estar entre os favoritos no Carioca de 1927. Por isso, muito há de referência àquele campeonato como tendo sido o de nascimento da mística da camisa que ganhava jogo pela força que suas cores impunham ao adversário. Nascia ali o ícone de raça e superação. Em meio a conflitos políticos na conjuntura futebolística carioca, o Flamengo quase foi impedido de disputar o campeonato daquele ano, tendo chegado a dispensar vários jogadores e desmontar ao time. Quando teve a participação confirmada, correu para remontar seu elenco, que ficou ainda mais descreditado perante todos. Perdeu Penaforte para o América e Aché para o Botafogo, e viu Nonô anunciar sua aposentadoria. Buscou o atacante Chrystolino no Bangu para recompor parte das perdas.
Mas mesmo na base da superação, o time não fez uma campanha ruim no 1º turno, pois em 9 jogos venceu 7 vezes. Mas tomou uma goleada de 9 a 2 do Botafogo, e na última rodada também perdeu para o América. Entre oscilações, voltou a vencer nas três primeiras rodadas do returno, mas empatou com o São Cristóvão e voltou a perder para o Botafogo, desta vez por 5 x 3. Mas nas rodadas finais, venceu a Bangu, Vasco e América e conseguiu, com muita raça e superação, num time que apresentava evidentes limitações técnicas, pular para a primeira posição e se sagrar campeão carioca. O grande nome da campanha foi o goleiro Amado, sobretudo por suas atuações contra o Vasco. Na reta final, o time ainda teve o reforço de Nonô, que optou por desistir da aposentadoria. O jogo da última rodada contra o América no Estádio da Rua Paissandu definiria o campeão. Nonô e Moderato balançaram as redes, o time rubro ainda diminuiu, mas o título foi sacramentado rubro-negro com o 2 x 1 no placar.
Flamengo no Carioca de 1927
Amado, Hélcio e Hermínio; Benevenuto, Flávio Costa e Seabra; Chrystolino, Vadinho, Fragoso, Frederico e Angenor (Moderato)
Téc: Juan Carlos Bertoni e Joaquim Guimarães
Foi em 1927 que o Flamengo ganhou o título de "Mais Querido do Brasil", quando venceu o concurso organizado pelo Jornal do Brasil entre outubro e dezembro daquele ano. Os leitores tinham que preencher um cupom que era diariamente distribuído nas edições do JB e enviar à sede do jornal. O Flamengo foi o mais votado. É interessante notar o momento histórico em que a votação acontece, pois até 1927, em 16 edições de Campeonato Carioca das quais participou, o clube havia ficado 11 vezes ou em 1º ou em 2º lugar (foi 6 vezes campeão) e só uma vez não havia estado entre os 4 primeiros colocados. Foi o clube da cidade com melhor desempenho nos torneios disputados entre 1912 e 1927. Mal ou bem, a arrancada forte em seus primeiros anos parece ter tido alguma influência na conquista da simpatia geral, especialmente porque não era o clube mais abastado da cidade, mas havia conseguido se impor sobre estes.
Mas o período de glórias seria brevemente interrompido, estavam prestes a se iniciar dias terríveis para o futebol rubro-negro. O time começou o Carioca de 1928 muito mal, sofrendo derrotas para Bangu (goleada de 4 a 0) e América logo nas duas primeiras rodadas. Depois ainda perdeu para Fluminense (goleada de 4 a 1), Vasco e América. Longe da briga pelo título, no returno o time voltou a ser derrotado por Bangu e Vasco, terminando o torneio tão só com um 4º lugar. Uma temporada na qual o time curiosamente não empatou nenhuma vez, tendo vencido 12 jogos e perdido 7 vezes.
Mas o período de glórias seria brevemente interrompido, estavam prestes a se iniciar dias terríveis para o futebol rubro-negro. O time começou o Carioca de 1928 muito mal, sofrendo derrotas para Bangu (goleada de 4 a 0) e América logo nas duas primeiras rodadas. Depois ainda perdeu para Fluminense (goleada de 4 a 1), Vasco e América. Longe da briga pelo título, no returno o time voltou a ser derrotado por Bangu e Vasco, terminando o torneio tão só com um 4º lugar. Uma temporada na qual o time curiosamente não empatou nenhuma vez, tendo vencido 12 jogos e perdido 7 vezes.
Flamengo no Carioca de 1928
Amado, Hélcio e Couto; Benevenuto, Flávio Costa e Penha (Cabral); Newton (Chrystolino), Vadinho, Fragoso (Chagas), Angenor e Moderato
Téc: Juan Carlos Bertoni e Joaquim Guimarães
E se no período de 1926 a 1928, o Flamengo já não mostrava mais a mesma força de seus primeiros anos, a coisa ficou ainda pior, tendo os anos de 1929 e 1930 sido de resultados horripilantes. O Vasco, com seu novo Estádio de São Januário, e o Fluminense, com seu tradicional Estádio das Laranjeiras, pareciam ganhar uma força econômica que o Flamengo não indicava que teria forças para acompanhar. Até o América também erguia arquibancadas aqui e ali. Parecia que o Flamengo estava ficando para trás.
A campanha em 1929 foi desastrosa. Certamente, o biênio 1929-1930 representou o pior momento da história do futebol do Clube de Regatas do Flamengo. Naquele momento, se não houvesse encontrado os caminhos certos para se reconstruir e se reencontrar, realmente o clube podia ter ficado para trás na conjuntura do futebol carioca e brasileiro.
No Campeonato Carioca de 1929, dos 20 jogos que disputou o time rubro-negro perdeu 12 vezes. Vivendo um momento de instabilidades políticas e incertezas, com um time que aparentava estar com prazo de validade vencido, parecendo acreditar além do que deveria na capacidade de seu veterano ídolo Nonô, que já havia se aposentado e depois voltado aos campos, mas sem mais a destreza de anos antes. Desnorteado, tentavam-se mudanças para tentar reencontrar a harmonia do time, mas nada parecia dar certo.
No 1º turno, derrotas em metade dos jogos disputados, caindo perante Bangu, América, Andarahy, Fluminense e Vasco. No 2º turno, a coisa piorou ainda mais, e o time saiu derrotado em 7 das 10 partidas que disputou, caindo perante São Cristóvão, Sirio e Libanês, Bangu, Botafogo (goleado por 5 x 1), América, Fluminense e Vasco. Ao fim do torneio, entre os 11 participantes, o Flamengo terminou em 10º lugar. De longe, o pior desempenho desde a fundação do Departamento de Futebol do clube em 1912.
Flamengo no Carioca de 1929
Amado (Pinheiro), Hermínio (Hélcio) e Rubens; Benevenuto, Favorino (Flávio Costa) e Penha (Moura); Newton, Fragoso, Nonô, Angenor e Moderato
Téc: Joaquim Guimarães e Raphael Candiota
Depois do catastrófico desempenho em 1929, o Flamengo foi atrás de um treinador veterano e experiente para tentar reverter o quadro, acertou com o inglês Charles Willians, técnico que curiosamente havia sido campeão carioca de 1911 com o Fluminense, tendo comandado a base de jogadores que migrou para a Praia do Flamengo e levou à fundação do futebol rubro-negro. Ele que havia conquistado o título carioca em 1924 com o Fluminense e em 1928 com o América.
Porém, a iniciativa não foi suficiente para reverter a situação, e mais uma vez a campanha flamenguista foi desastrosa, pois dos 20 jogos que disputou pelo Carioca de 1930, o Flamengo perdeu 14 vezes, terminando o torneio tão só com um 8º lugar. Este time ainda sofreu uma goleada que pode ser considerada a pior derrota da história do futebol rubro-negro (certamente a pior até então), quando na 3ª rodada do turno perdeu de 6 a 1 para o Sirio e Libanês, clube do bairro de Botafogo, em partida disputada no Estádio da Rua Figueira de Melo, pertencente ao São Cristóvão. Além desta derrota, o time, no 1º turno, ainda perdeu para São Cristóvão, Bangu, Botafogo, América, Fluminense e Vasco (perdeu 7 dos 10 jogos do turno). O ritmo de derrotas no returno não mudou, pois também foram 7 em 10 partidas, tendo perdido para São Cristóvão, Bangu, Botafogo, Andarahy, Fluminense, Vasco e América (goleada de 4 x 1).
Dá para considerar, sem exageros, que foi o pior time da história do futebol do Flamengo. Ainda que seja difícil decidir qual foi pior, o time de 1929 ou de 1930. Embora aquele do ano anterior tenha terminado numa posição pior, o de 30 perdeu ainda mais e sofreu uma goleada mais vexatória.
Flamengo no Carioca de 1930
Floriano, Hélcio e Hermínio; Benevenuto, Rubens e Pedro Fortes; Newton, Vicentino, Darci, Angenor e Rochinha
Téc: Charles Willians
Apesar da má campanha no Carioca de 1930, o Flamengo optou pela continuidade do treinador inglês Charles Willians para a disputa do campeonato do ano seguinte. Os resultados nas três primeiras rodadas já mostraram que não havia indícios de mudança e melhora. Na estreia, tomou uma goleada de 5 x 1 do Botafogo. Na 2ª rodada perdeu para o Bangu. E na 3ª rodada levou uma humilhante goleada de 7 a 0 do Vasco. Ainda tomou mais duas goleadas, ambas por 4 x 1, para América e São Cristóvão. E perdeu para Bonsucesso e Fluminense. Das 10 partias disputadas no 1º Turno, perdeu 7 delas. Com uma campanha assustadoramente horripilante, pela primeira vez em sua história o Flamengo mudou de treinador no meio do campeonato. Saiu Charles Willians e voltou Joaquim Guimarães para comandar o time.
A mudança de treinador surtiu efeito, e o desempenho melhorou no 2º turno. Ainda assim, o time sofreu uma constrangedora goleada de 6 a 2 para o Bonsucesso. Mas venceu 6 dos 10 jogos, contrastando com a péssima campanha na primeira metade do torneio. A recuperação levou o time a terminar em 6º lugar.
O ano de 1931 também marcou a perda precoce do primeiro ídolo do Flamengo. Morreu aos 32 anos, por tuberculose, Nonô, o center-forward (como era chamada o centroavante naqueles tempos) que foi o primeiro jogador a superar a marca de 100 gols marcados com a camisa rubro-negra. Ele veio a falecer tão só 14 meses após sua última partida usando a camisa vermelha e preta, consumido pela epidemia que naquela década viria a vitimar outros jogadores do clube. De 1921 a 1930, Nonô jogou 141 partidas e balançou as redes 123 vezes, sendo o maior artilheiro da Era de Amadorismo do Flamengo.
Flamengo no Carioca de 1931
Ismael, Segreto e Alberto (Hélcio); Penha, Almeida e Luciano; Adelino Baianinho, Rolinha, Darci, Eloy (Marcondes) e Cássio
Téc: Charles Willians, depois Joaquim Guimarães
Para o campeonato seguinte, o clube mudou quase o time inteiro e apostou num novo treinador, buscava se reestruturar. No começo do Carioca de 32, porém, parecia que nenhuma mudança havia surtido efeito, pois nas 7 primeiras rodadas o time perdeu 4 jogos, para São Cristóvão, Botafogo, Bangu e América. Daí em diante, no entanto, a engrenagem se encaixou e o time não perdeu mais até o fim do campeonato. Parece ter ganhado confiança quando goleou ao Fluminense por 4 a 0 na 9ª rodada.
O time foi ganhando posições na tabela de classificação, mas não foi suficiente para alcançar ao Botafogo, que acabou campeão com 5 pontos de vantagem. O time rubro-negro terminou com o vice-campeonato, mostrando alguma recuperação frente às catastróficas campanhas que havia feito nos anos anteriores.
Aquele foi o último ano de utilização do Estádio da Rua Paissandu. A família Guinle, dona do terreno, tinha outros planos para aquela área. O Flamengo estava oficialmente desalojado.
Flamengo no Carioca de 1932
Fernandinho, Moisés e Bibi; Luciano, Flávio Costa (Almeida) e Rubens; Vicentino, Adelino Baianinho, Darci, Nélson e Cássio
Téc: Milton Caldas
Se nas primeiras edições de Campeonato Carioca que disputou, entre 1912 e 1925, o Flamengo nunca deixou de estar entre os 4 primeiros colocados, tendo inclusive em 10 destas 14 sido ou campeão (5 vezes) ou vice (outras 5 vezes), o desempenho nas últimas 7 edições da Era de Amadorismo, entre 1926 e 1932, foi muito ruim... horroroso. Em especial no período de 1926 a 1931, pois nestes 6 anos houve só 1 título, na única oportunidade na qual terminou entre os três primeiros colocados. Um 4º, um 5º, um 6º, um 8º e um 10º foram suas colocações. Os piores resultados em toda a história do futebol rubro-negro. E logo num momento chave na história do futebol, que estava prestes, no Brasil, a fazer a transição do amadorismo para o profissionalismo, que deixaria alguns clubes para trás. No futebol paulista, por exemplo, nenhum clube que dominava o cenário na Era Amadora sobreviveu na Era Profissional. Aqueles que não se adaptassem à nova ordem, ficariam para trás. E com o péssimo desempenho entre 1926 e 1931, o Flamengo realmente quase ficou para trás. Era preciso reconstruir as bases do clube, e felizmente na política interna houve quem conseguisse perceber isso para revolucionar o futebol rubro-negro da forma que aquele momento da história pedia que fosse feito.
Nos Anos 1920, era comum ver nos jornais a referência ao clube da Praia do Flamengo como os "vanguardistas". Afinal, o clube montado por jovens, meio que numa garagem, havia crescido, enfrentado de igual para o igual o clube da aristocracia (Fluminense) e o clube dos colonizadores portugueses (Vasco da Gama), e com isso conquistado a simpatia popular. A juventude que o ergueu carregava o espírito de vanguarda e sintonia com "o novo" típico do espírito jovem. Mais do que nunca, pra não ficar para trás na história, era preciso aflorar de novo aquele vanguardismo e aquela ousadia dos "jovens flamengos", outra expressão que por vez aparecia nos folhetins da época.
Em 1933 o futebol carioca rachou e se formaram dois grupos políticos, o dos defensores do profissionalismo, com o jogador de futebol passando a ser remunerado pela prática esportiva, e o dos que defendiam a manutenção do amadorismo. Inicialmente o Flamengo manteve-se ao lado dos que defendiam o amadorismo, tendo chegado a iniciar o campeonato da Associação Metropolitana de Esportes Athleticos (AMEA), no qual disputou três rodadas, quando então decidiu mudar de lado, associando-se à Liga Carioca, que havia organizado o primeiro campeonato profissional. O último jogo da Era de Amadorismo foi curiosamente uma vitória por 16 x 2 sobre o River, clube do bairro da Piedade, no subúrbio carioca. Foi o mesmo placar da primeira partida disputada pelo clube, em 1912, naquela oportunidade tendo a vitória sido sobre o Mangueira, que geograficamente estava muito próximo à Piedade. Acabava ali, na 3ª rodada do Carioca da AMEA os Anos de Amadorismo do Flamengo. Quinze dias depois o Flamengo fazia sua estreia no campeonato da nova liga, que além do rubro-negro tinha Fluminense, Vasco, América, Bangu e Bonsucesso. Dentre os mais tradicionais, só o Botafogo não havia aderido à nova liga. Nos três anos seguintes haveriam dois Campeonatos Cariocas sendo disputados em paralelo.
Mas não foi só a adesão ao profissionalismo. O Flamengo seguia ameaçado de ficar para trás frente aos principais rivais. Eram necessárias outras mudanças para reverter aquele atraso. E em 1933 chegou à Presidência do clube a liderança certa para comandar este reerguimento: José Bastos Padilha. Estava prestes a surgir um novo clube.
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