segunda-feira, 21 de junho de 2021

Hall da Fama do C.R. Flamengo: BIGUÁ


BIGUÁ: Acima de Tudo Rubro-Negro

Carreira: 1941-1953 Flamengo

Biguá era considerado o melhor de sua posição em toda história do clube até o surgimento de Leandro. Marcador implacável, botava medo em qualquer ponta-esquerda que precisava enfrentá-lo. Também era chamado de "Índio". Começou nos juvenis do Atlético Paranaense e chegou ao Flamengo em 1941. Jogador franzino, através de sua valentia e grande disposição transformava-se num gigante dentro de campo. Se lhe faltava altura, sobrava-lhe uma elasticidade fora do comum, além de um perfeito senso de posicionamento e muita coragem para decidir as jogadas. Jogava marcando o ponta-esquerda adversário e gostava de apoiar o ataque, característica possibilitada pela sua grande capacidade técnica. Nos últimos anos de sua carreira chegou a jogar como ponta-direita. O Flamengo foi seu único clube como profissional, e em 1953 precisou encerrrar sua carreira devido à uma grave contusão nos ligamentos do joelho.

Pelo Flamengo fez 380 jogos e marcou 7 gols.


Abaixo,  combinação de dois textos sobre a carreira do jogador, um de autoria de André Felipe de Lima publicado no site "Museu da Pelada", e outro de Emmanuel do Valle publicado no site "Flamengo Alternativo":

Rondinelli, o que marcou, de cabeça, o gol do título estadual de 1978 sobre o Vasco, passou a ser conhecido como o "Deus da raça" do Flamengo. Mas, na década de 1940, outro defensor rubro-negro, o ex-lateral-direito Biguá, mereceu a primazia sobre o apelido. Até o surgimento de Leandro, foi ele o mais emblemático lateral-direito que passou pelas hostes da Gávea.

Baixinho (1,62 metro, dizem os registros), rápido, de pele bem morena como um índio e ostentando um ligeiro topete para o alto, o garoto Moacir Cordeiro logo recebeu o nome do pássaro como apelido quando se profissionalizou como jogador de futebol no Savóia, clube curitibano fundado por italianos e com elenco composto majoritariamente por atletas de pele muito clara.

Nascido na cidade de Iraty, sul do Paraná, em 22 de março de 1921, Biguá começou a jogar nos juvenis do Atlético Paranaense, mas dentro de pouco tempo já estava no Savóia, clube que logo seria rebatizado Água Verde, depois Pinheiros e que, em 1989, se uniria ao Colorado para fundar o Paraná Clube. Aos 20 anos, aportou no Rio de Janeiro levado por um militar da Aeronáutica para tentar a sorte no futebol carioca. Bateu primeiro à porta do America e foi prontamente rejeitado, pelo porte e pela altura. Para a sorte do Flamengo, aportou na Gávea, e teve um sucesso quase instantâneo. Estreou no time de cima em 26 de outubro de 1941, no lugar do então titular Jocelyno, na vitória por 2 a 0 diante do Madureira no alçapão de Conselheiro Galvão. A boa atuação na partida, já na reta final do Campeonato Carioca daquele ano, parecia o indício de que Biguá seria uma das grandes revelações da temporada seguinte.

Mario Filho foi um dos que reconheceram a disposição do guerreiro Biguá: "Era tido como um índio. Se não fosse o cabelo de boneca japonesa seria tomado por preto. Era baixo, atarracado, de pernas grossas, de poltrona. Mas, tocando no chão, subia feito uma bola de tênis. Quando se enfurecia parecia um daqueles indígenas dos poemas de Gonçalves Dias. Ou melhor, um apache ou sioux de fita americana, de machado em punho para escalpelar um pale face [pele branca – referência a luta dos indígenas nos Estados Unidos]". Tinha personalidade. Foi marcador implacável, mas não era técnico. Ao lado de Modesto Bria e Jayme de Almeida formou uma eficiente linha média do Flamengo dos anos de 1940. Para o extraordinário ponteiro-esquerdo Félix Loustau, de "La máquina" do River Plate nos Anos de 1940, Biguá foi o seu melhor marcador.


Não foram poucas as vezes em que se viu Biguá terminar uma partida com a camisa rubro-negra empapada de suor, de lama ou de sangue. Era de uma dedicação admirável nos jogos. Para ele, era como se a partida da vez, diante de qualquer adversário, fosse sua última. Biguá era todo valentia, todo coração. Com esses predicados, mais que rapidamente tornou-se ídolo absoluto da torcida do Flamengo.

Como registrou, em abril de 1942, a Revista Esporte Ilustrado, uma das principais do Brasil à época, quando da estreia do Flamengo no Carioca daquele ano, em goleada de 6 a 0 sobre o Canto do Rio no estádio das Laranjeiras: "O quadro social do Fluminense torceu para o Canto do Rio, mas bateu palmas para Biguá. E se os tricolores bateram palmas ao 'bugrezinho', calculem agora, vocês, o contentamento da torcida rubro-negra ao vê-lo correr como uma flecha, ajudando o Domingos, marcando Vadinho e ainda shootando ao arco com uma força tremenda. (…) E as expressões choviam de todos os lados: 'O índio é infernal!', 'Que garoto atrevido!'... Antes que a pelota chegasse ao flanco direito do campo do Flamengo, já se gritava em côro: Biguá! Biguá! Biguá!".

Contra o vascaíno Chico, aliás, Biguá fez duelos históricos no futebol carioca, que eram acompanhados com entusiasmo até mesmo por torcedores de outros clubes. E eram sempre destaque nos jornais. "Hoje tem Chico x Biguá" era manchete recorrente em dia de Flamengo x Vasco. O ponteiro vascaíno rememorou: "Eu tinha um drible certo e muita arrancada. Era fácil meu marcador ficar caído no chão. Mas a recuperação de Biguá era tão fantástica que, quando via, ele estava de novo na minha frente. Parecia de elástico".

O grande Biguá foi titular absoluto nas equipes do Flamengo que conquistaram o primeiro tri-campeonato carioca para o clube em 1942, 1943 e 1944. Em reconhecimento às três grandes temporadas que fez com o Flamengo, Biguá chegou à Seleção Brasileira em 1945 e disputou o Campeonato Sul-Americano. O Brasil venceu todas as partidas menos uma, perdida por 3 a 1 para a Argentina, que ficou com o título. Mas Biguá teve atuação irrepreensível, anulando o lendário ponta-esquerda platino Félix Loustau, do River Plate. Um grave problema ósseo em um dos calcanhares tirou o lateral rubro-negro do Campeonato Sul-Americano do ano seguinte e, segundo os médicos, poderia encerrar sua carreira. Mas seis meses depois, lá estava o miúdo gigante da lateral de volta aos gramados, com a eficiência e a valentia de sempre.

Quem o admirava era o zagueiro Domingos da Guia, que já em final de carreira no Corinthians convidou Biguá para trocar a Gávea pelo Parque São Jorge. Biguá quase aceitou. Prevaleceu, contudo, a paixão pelo Flamengo. Nas palavras de Biguá: "E no dia em que o Corinthians jogasse contra o Flamengo, como é que eu ficaria?". Ele amava tanto ao Flamengo que, do banco de reservas, chorou ao ver os mais jovens conquistarem o campeonato estadual de 1953, que abriria o caminho para o Segundo Tri Rubro-Negro.

O jogo de despedida de Biguá, contra o Botafogo, no dia 3 de novembro de 1953, foi uma das passagens mais bonitas da história do Flamengo. Pegou uma bola e chutou para torcida guardá-la como emblema daquele dia inesquecível. A torcida o aplaudiu efusivamente.

Após uma volta olímpica no gramado do Maracanã, o craque entregou suas chuteiras ao novato meia Carlinhos, o futuro "Violino", como seria chamado ao longo da década de 1960. Após Biguá "passar" a chuteira para Carlinhos, o craque tentou chutar uma bola para a arquibancada, mas foi tão sem força que a pelota caiu na geral.

De tão emocionado, Biguá correu em direção ao primeiro túnel que viu. Era o do Botafogo. Carlito Rocha, o folclórico cartola alvinegro, apertou-o contra o peito e disse: "Pena que no futebol haja poucos iguais a você". De fato. Biguá – que faleceu em 9 de janeiro de 1989, aos 67 anos – era de um tempo que não volta mais.


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