domingo, 18 de julho de 2021

A primeira aspiração de voltar à ponta do basquete nacional


O objetivo da grande equipe montada pelo basquete do Flamengo em 1984 era o de conquistar à Taça Brasil daquela temporada. O quinteto contratado a "peso de ouro" reunia aos três jogadores de perímetro que haviam sido campeões da Taça Brasil de 1981 com o Tênis Clube São José - Nilo, Carioquinha e Marcelo Vido - mais os dois jogadores de garrafão que haviam sido campeões da edição anterior, a Taça Brasil de 1983, com o Sírio - o argentino Filloy e Marquinhos Abdalla - assim como, para conseguir este objetivo, foi mantido o quinteto titular que havia sido vice-campeão carioca de 83, juntando assim no mesmo elenco os pivôs Marquinhos e Paulão, que não jogavam juntos com a mesma camiseta desde haviam surgido no Fluminense penta-campeão carioca do início dos Anos 1970. As aspirações rubro-negras eram grandes! Talvez tenha faltado, para cumprir a meta, a contratação de um treinador mais renomado do basquete paulista, ao invés disto, foi mantido no cargo Pingo, o "treinador caseiro" que vinha comandando à equipe rubro-negra nos anos anteriores.

O elenco rubro-negro naquela Taça Brasil tinha a Nilo com a camisa 4, Pedrinho com a 5, Paulão com a 6, Carioquinha com a 7, Almir com a 8, Marquinhos com a 9, Marcelo Vido com a 10, Mauro com a 11, Carlão com a 12, Bigu com a 13, Filloy com a 14 e Tocantins com a 15.

A primeira vez que um título nacional rubro-negro "bateu no aro" foi em 1977, quando o time perdeu o jogo decisivo por 66 x 62 para o Palmeiras, de Oscar, Ubiratan e Carioquinha. Depois de se sagrar Campeão Carioca de 84, título consumado em dezembro daquele ano, o elenco rubro-negro iniciou a luta pelo título nacional da temporada 1984/85 jogando a 1ª Fase no começo de março de 85 em Jundiaí, no interior de São Paulo. Após vencer ao Minas Tênis Clube e por enorme vantagem ao Economiários, de Brasília, já garantindo a classificação à 2ª fase, o time decidiu o primeiro lugar contra o forte Monte Líbano - que era o então detentor do título de Campeão Paulista - e seu quinteto contratado a peso de ouro correspondeu, com uma imponente vitória. Terminou o primeiro com 8 pontos de vantagem (55 x 47), viu os paulistas apertarem o jogo e diminuírem a vantagem ao longo do 2º tempo, mas no fim asseguraram a vitória por 89 x 85.

Na semana seguinte a equipe viajou de Jundiaí para Limeira para jogar o quadrangular semi-final que assegurava duas vagas na fase decisiva que valeria o título. Conseguiu duas vitórias tranquilas, por 86 x 69 sobre o Jóquei Clube, de Goiás, e por 104 x 79 sobre o Ginástico, de Minas Gerais, assegurando assim a sua participação na fase final, na qual aspirava ser o campeão brasileiro. A última partida nesta fase foi contra o Corinthians, do técnico Mical, que tinha um grande time, com o argentino Esteban Camissasa, o norte-americano Rocky Smith, além de Adílson Nascimento e Gílson Trindade. O alvi-negro paulista também havia superado os outros dois adversários com grande facilidade - até maior do que a rubro-negra, já que ficou com saldo de cestas +66 nos dois duelos, contra os +42 do Flamengo - e também estava assegurado na decisão. Para este confronto, o Flamengo jogou desfalcado do argentino Filloy, por causa de uma infecção na garganta. No jogo, os paulistas já se impuseram logo no primeiro tempo, no qual terminaram a frente por 45 x 40. E a diferença no segundo tempo aumentou um pouco mais, terminando com a vitória paulistana por 97 x 89. No outro grupo os quatro que disputaram eram todos paulistas - Monte Líbano, Sírio, Franca e Palmeiras - assim a luta pelo título nacional seria contra três potências do basquete de São Paulo no Ginásio do Ibirapuera, e todos clubes da capital: Monte Líbano, Corinthians e Sírio, campeão nacional no ano anterior (quando tinham aos agora rubro-negros Filloy e Marquinhos). Portanto, dos quatro participantes da Fase Final, só o Flamengo não jogava em casa.


Embora a missão fosse dificílima, era a maior chance que o Flamengo já havia tido até então de conquistar ao título máximo do basquete brasileiro. Porém, logo na sua estreia no quadrangular final, as chances de efetivamente se tornar o campeão deram sinais de naufrágio. Em 15 de março de 1985, o Monte Líbano atropelou ao time rubro-negro, vencendo-o por 107 x 83. O forte quinteto que já havia sido o campeão paulista e viria a ser o campeão brasileiro dois dias depois jogava com Maury, Cadum, Marcel, Pipoka e Israel. No outro jogo da 1ª rodada, o Corinthians superou ao Sírio por 80 x 71.

No dia seguinte, a aguerrida equipe rubro-negra conseguiu se manter viva na competição ao bater ao Corinthians, de Rocky Smith, por apenas um ponto de vantagem, vencendo por 99 x 98. Chances matemáticas, assim, ainda haviam, mas eram virtualmente impossíveis, sobretudo dado que no outro jogo da rodada o Monte Líbano atropelou ao Sírio, vencendo por 102 x 66. O fato é que a vitória rubro-negro tirou do Corinthians a oportunidade de decidir o título contra o Monte Líbano numa finalíssima na noite seguinte pela última rodada   

A vantagem no saldo de cestas do Monte Líbano era enorme. Assim, pouca diferença fez na luta pelo título que o Flamengo tenha - com autoridade - vencido ao Sírio, de Fausto Giannechini, Paulinho Villas-Boas e Sílvio Malvesi, no jogo de abertura da rodada derradeira. Bateu-o por 92 x 86, chegando a duas vitórias. Na rodada final, se o Corinthians vencesse ao Monte Líbano, causaria um tríplice empate com duas vitórias. Já o time azul do bairro paulista Jardim Lusitânia - com sede na Avenida República do Líbano - bastava vencer para assegurar o título, e com sua vitória, o Flamengo asseguraria o vice-campeonato (se o Corinthians vencesse, terminaria em terceiro). O jogo terminou empatado no tempo normal, mas após a prorrogação o Monte Líbano venceu por 93 x 91, e foi o campeão.


No dia seguinte após o término da Taça Brasil, a edição de 20 de março de 85 do Jornal dos Sports trazia em primeira página: "Fla acaba com basquete e cria crise". E na página 2 detalhava: "O Flamengo vai desfazer sua equipe principal de basquete masculino, vice-campeã da Taça Brasil (...) Isidoro Danon, vice-presidente de esportes amadores, pediu demissão em caráter irrevogável, alegando que o vice de finanças, Joel Tepet, e o de relações externas, Michel Assef, a quem chamou de "cretinos e nojentos, que querem tomar o poder do clube", vinham fazendo uma série de ingerências no basquete. (...) O presidente George Helal disse que as propostas que o clube apresentaria aos jogadores teriam que ser revistas". Uma semana depois a decisão de acabar com a equipe foi revista, mas foi mantido o corte de investimentos: o único jogador que ainda tinha contrato a cumprir era o argentino Filloy, e foi o único dentre os que eram titulares a ter permanecido para a temporada 1985/86.


1984/85 - Vice-campeão da Taça Brasil
Time: Nilo Guimarães, Carioquinha, Marcelo Vido, Germán Filloy e Marquinhos Abdalla
Téc: Marcus Vasconcellos (Pingo)
Banco: Bigu, Pedrinho Ferrer, Almir Gerônimo, Carlão Ostermann e Paulão Abdalla


Depois de se sagrar novamente campeão carioca em 1985, com uma equipe que havia recebido aos reforços do armador Raul Togni e do ala-pivô Evandro, o time foi ainda mais reforçado para a disputa da Taça Brasil, para voltar a fazer um bom papel. O principal reforço rubro-negro foi o pivô Victor Chacón, de 2,07m, da Seleção da República Dominicana.

Tanto na 1ª Fase quanto na 2ª Fase a equipe atuou na cidade de Guaratinguetá, no interior de São Paulo, relativamente próxima à divisa com o estado do Rio. Nos dois primeiros jogos, sem dificuldades, a equipe superou com larga margem no placar às equipes do Economiários, de Brasília, e do Clube do Remo, de Belém do Pará. Já classificada, enfrentou ao fortíssimo time do Sírio na decisão do primeiro lugar do grupo, equipe onde se destacavam o ala Paulinho Villas-Boas e o pivô Rolando Ferreira, perdendo por apenas um ponto - 98 x 99 - o que deu esperanças ao torcedor de poder jogar em igualdade de condições contra as maiores forças do basquete paulista.

O grupo na fase na qual os dois primeiros colocados avançavam ao quadrangular final era bastnte difícil, no entanto, tendo pela frente às fortes equipes paulistas da Francana e do Corinthians, além do Corínthians de Santa Cruz do Sul, do Rio Grande do Sul. Na estreia, a equipe rubro-negra fea jogo duro, mas perdeu para a equipe de Franca: 78 x 81. No segundo jogo, passou sem dificuldades pelo Corinthians Gaúcho por 111 x 64. Definiu então na última rodada as suas possibilidades de estar mais uma vez presente na Fase Final, mas acabou derrotado pelo Corinthians Paulista num duelo mais uma vez muito acirrado: 71 x 74. O forte time alvi-negro, treinado por Cláudio Mortari, era formado por Eduardo Agra, Camissasa, Rocky Smith, Adílson Nascimento e Gérson Victalino.

O quadrangular final acabou sendo todo ele paulista, entre Monte Líbano, Sírio, Francana e Corintians. Apesar da redução de investimento na temporada 1985/86 frente à temporada anterior, 1984/85, na qual fora o vice-campeão nacional, o grupo rubro-negro ainda fez um bom papel. Em muito pelo excelente trabalho do seu treinador Emmanuel Bonfim, contratado antes do Carioca de 85 junto ao Vasco, que certamente era o melhor técnico do basquete do Rio de Janeiro nos Anos 1980.


1985/86 - 5º lugar na Taça Brasil
Time: Raul, Almir Gerônimo, Alexandre Cruxem, Germán Filloy e Victor Chacón
Téc: Emmanuel Bonfim
Banco: João Baptista, Pai Negro, Pedrinho Ferrer e Evandro


Da temporada 1985/86 para a de 1986/87, o investimento do basquete rubro-negro voltou a cair. Para manter a competitividade da equipe, a diretoria buscou importar outra grande nome da Seleção da República Dominicana: Héctor Vinicio Muñoz. E com, ele, o time teve um bom desempenho, ainda que não tenha voltado a obter a classificação para o quadrangular final.

Na 1ª Fase da Taça Brasil, disputada em novembro de 1986, o time rubro-negro jogou em casa, com todas as suas partidas tendo sido disputadas no Ginásio Hélio Maurício, na Gávea. A equipe, assim como nos anos anteriores, não teve dificuldade para superar seus adversários nas duas primeiras partidas, vencendo ao Cículo Militar, do Ceará, por 91 x 41, e ao Grêmio Náutico União, do Rio Grande do Sul, por 81 x 57. Com estas duas vitórias, assegurou sua presença na 2ª Fase. Na última partida, na decisão do vencedor do grupo, assim como na temporada anterior, voltou a ser derrotado pelo Corinthians, do técnico Cláudio Mortari, que venceu por 96 x 80. Nesta partida, pela equipe alvi-negra pontuaram entre os titulares: Eduardo Agra (15), Marcel de Souza (17), o norte-americano Rocky Smith (21), e sua dupla de pivôs estrangeiros formada pelo dominicano Evaristo Pérez (6) e pelo panamenho Mário Butler (28). Assim, com 87 de seus 96 pontos tendo sido convertidos por seu quinteto titular. Do banco, pontuaram: Miguel (2), Wálter Roese (2) e Gérson Victalino (5). Pela equipe rubro-negra, entre os jogadores brasileiros, pontuaram: João Baptista (8), Pai Negro (5), Pelé (8) e o pivô Édson Campelo (18). Logo, sem sua dupla de importados da República Dominicana, o time fez apenas 39 pontos. Só se manteve no jogo graças à dupla de dominicanos, que somaram 41 pontos - Vinício Muñoz (21) e Victor Chacón (20) - mais portanto do que todos os brasileiros rubro-negros juntos.


Na 2ª Fase, a divisão de grupos deixou a missão bastante ingrata para a equipe rubro-negra, que caiu num grupo reunindo Monte Líbano e Sírio, equipes que haviam dividido os títulos das quatro edições anteriores do torneio, três conquistados pela primeira e um pela segunda. Mas a missão no outro grupo tampouco era fácil, pois lá estavam Corinthians e Francana. O grupo foi disputado em Mogi das Cruzes, no interior de São Paulo, e antes de seu início, o técnico Emmanuel Bonfim já demonstrava realismo: "estou numa expectativa muito grande para o jogo contra o Sírio, marcado para a segunda rodada, contra quem acredito que o Flamengo decidirá a segunda vaga, já que a primeira dificilmente se poderá tirar do Monte Líbano".

A estreia rubro-negra era justamente contra este adversário mais temido, com seu poderoso quinteto titular formado por Maury, Cadum, André Stoffel, Pipoka e Israel. O time rubro-negro fez um jogo duro, mas em nunhum momento realmente ameaçou e teve chances de vencer, perdendo por 80 x 90. Na segunda partida, contra o Sírio de Paulinho Villas-Boas, Luís Felipe Azevedo e Marquinhos Abdalla, o time mais uma vez endureceu, mas não venceu, perdendo por 95 x 89. Já sem chances de ir à Fase Final, venceu ao Minas Tênis Clube na última partida por 79 x 65. O título nacional foi mais uma vez decidido com um quadrangular todo ele paulista jogado no Ginásio do Ibirapuera, entre Monte Líbano, Sírio, Francana e Corinthians, os quatro clubes que claramente dominaram o basquete brasileiro nos Anos 1980. O Monte Líbano acabou conquistando seu quarto título nacional naquela temporada, o seu terceiro consecutivo.


1986/87 - 5º lugar na Taça Brasil
Time: João Baptista, Pai Negro, Vinício Muñoz, Victor Chacón e Édson Campelo
Téc: Emmanuel Bonfim
Banco: Pedrinho Ferrer, Pelé e Marcão

Campanha: 91 x 41 Círculo Militar (CE) / 81 x 57 Grêmio Náutico União (RS) / 80 x 96 Corinthians (SP) / 80 x 90 Monte Líbano (SP) / 85 x 89 Sírio (SP) / 79 x 65 Minas Tênis Clube (MG)


Em 10 de junho de 1987 o Ginásio Hélio Maurício, Gávea, lotou na apresentação no grande reforço contratado pelo Flamengo, o norte-americano Rocky Smith, que chegava ao clube após várias temporadas vestindo a camisa do Corinthians, e era o jogador que então detinha o maior salário no basquete brasileiro. Entretanto, o principal reforço para a temporada 1987/88 se machucou no último jogo da final do Carioca de 87, no qual o time rubro-negro perdeu o título para o Vasco e não pôde jogar a Taça Brasil, disputada em janeiro de 1988.

Depois da 1ª Fase, na qual não teve mais uma vez qualquer dificuldade para se classificar e avançar, após uma discussão entre Pedrinho e o técnico Emmanuel Bonfim durante um treino, foi decidida pela saída do jogador, que encerrava assim um ciclo de 20 anos vestindo a camisa rubro-negra, ininterruptamente desde fins dos Anos 1960, quando despontou com a equipe campeão da Taça Gerval Boscoli de 1969.

Na 1ª Fase, disputada no Ginásio Hélio Maurício, na Gávea. Na primeira partida, o time não teve dificuldades para vencer ao Paysandu, de Belém do Pará. Na partida seguinte, venceu ao Fluminense por 99 x 79, e na última rodada perdeu para o Monte Líbano por inapeláveis 104 x 60, avançando à fase seguinte.

Na 2ª Fase, disputada novamente no Rio de Janeiro, desta vez no Ginásio do Tijuca Tênis Clube, uma vez que o Monte Líbano estava novamente no grupo rubro-negro, a segunda vaga para o quadrangular final seria disputada entre os rivais Flamengo e Vasco, dado que o quarto participante, a também carioca AABB da Tijuca, deveria ser presa fácil para os demais. Logo no primeiro jogo, como era esperada, uma nova derrota rubro-negra para os paulistas: 47 x 64. Na segunda partida, fazendo valer seu favoritismo, o Flamengo venceu à AABB Tijuca por 88 x 68. Decidiu a classificação então contra o rival Vasco, onde jogavam os dominicanos Vinício Muñoz e Evaristo Pérez, e que tinham sido seus algozes na final do Estadual. Pelo apelo à presença de torcida, a partida foi disputada no Maracanãzinho. Os vascaínos voltaram a conseguir a vitória, desta vez por 62 x 57, com o time rubro-negro, assim, não obtendo a sua classificação para o quadrangular final, disputado entre Monte Líbano, Sírio, Rio Claro e Vasco. Se Rocky Smith não tivesse se lesionado e ficado de fora da Taça Brasil, talvez o Flamengo tivesse tido melhor sorte na competição.
 

1987/88 - 6º lugar na Taça Brasil
Time: João Baptista, Boletinha, Alexandre Cruxem, Victor Chacón e Édson Campelo
Téc: Emmanuel Bonfim
Banco: Alberto, Pedrinho Ferrer, Lelo e Gema

Campanha: 97 x 79 Paysandu (PA) / 99 x 79 Fluminense (RJ) / 60 x 104 Monte Líbano (SP) / 47 x 64 Monte Líbano (SP) / 88 x 68 AABB Tijuca (RJ) / 57 x 62 Vasco (RJ)


O Flamengo não desistiria de engrandecer seu projeto de basquete, e para a temporada 1988/89 voltou a montar um "Super Time" contratando boa parte dos jogadores do tetra-campeão nacional Monte Líbano, que, por razões financeiras, repentinamente desfez seus investimentos no basquete, apesar do sucesso de seu projeto. Mas apesar do ousado investimento, aquele viria a ser um time que não ganhou nada, ainda que tenha ficado próximo de mais uma conquista nacional, terminando à Taça Brasil seguinte em 3º lugar.



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