segunda-feira, 12 de julho de 2021

Hall da Fama do C.R. Flamengo: PERÁCIO


PERÁCIO: o velocista da patada fortíssima

Carreira: 1932-1936 Villa Nova (MG); 1937-1940 Botafogo; 1941 Canto do Rio (RJ); 1942-1949 Flamengo; 1950-1951 Canto do Rio (RJ)

Foi o artilheiro do Flamengo na temporada de 1946. Ele formou uma linha atacante de respeito ao lado de Valido, Zizinho, Pirilo e Vevé, que se tornaria mais tarde o primeiro quinteto ofensivo realmente famoso com a camisa rubro-negra.

Pelo Flamengo, ele fez 122 jogos e marcou 97 gols.


Abaixo, estão combinados os textos de Emmanuel do Valle no site "Flamengo Alternativo" e de Gabriel Andrezo no site "FutRio":

José Perácio Berjun nasceu em Nova Lima (MG), em 2 de novembro de 1917. Ainda garoto, se juntou ao Villa Nova, o time da cidade. Só tinha 16 anos quando ganhou a primeira chance no time principal. Na decisão do Campeonato Mineiro de 1934, entrou no intervalo e fez o gol do título sobre o Atlético Mineiro. Foi campeão de novo no ano seguinte.

Corria o primeiro semestre do ano de 1937 quando o Villa Nova andou pelo Rio de Janeiro, então capital federal, excursionando e exibindo seus craques pelos campos cariocas. Muitos deles ainda remanescentes do incrível tetra-campeonato mineiro obtido pelo clube entre 1932 e 1935. Um deles era Perácio - sem nem 20 anos de idade completos e já titular desde os 17 - chamando atenção o suficiente para merecer destaque na nota do Jornal dos Sports que registrou a iminência da vinda do alvi-rubro.

Perácio já era velho conhecido não só dos clubes cariocas como também dos paulistas, já que ambos jogavam regularmente contra o Villa Nova por essa época. O atacante esteve perto de se transferir para o Palestra Itália de São Paulo (atual Palmeiras), junto com o médio e amigo Zezé Procópio, numa movimentação conturbada que ganhou ares de escândalo por deserção. O Fluminense também sondou sua contratação. Mas naquele ano de 1937, ele acabaria seguindo para o Botafogo, para onde já tinha ido Zezé. O clube se impressionara com a atuação do jogador ao ser batido pelo Villa Nova por 3 a 2 num amistoso jogado no campo do São Cristóvão, em Figueira de Melo, no qual ele fez um gol e participou de outro. O alvi-negro carioca, então, comprou seu passe por incríveis 60 contos de réis. Nunca um clube tinha pago tanto por um jogador: Perácio era o jogador mais caro do Brasil!

Perácio não só chegou como reforço de luxo como teve a chance de atuar ao lado de feras como Martim, Canalli, Patesko e Carvalho Leite. Estreou num amistoso com o Flamengo, mas perdeu por 3 a 2. Pôs uma bola na trave e participou de um gol. Semanas depois, contra o Fluminense, veio o primeiro gol no triunfo por 2 a 1.

Era meia-esquerda, um dos cinco integrantes da linha ofensiva do velho esquema 2-3-5, ou "pirâmide". Ou ainda ponta-de-lança, de acordo com a nomenclatura instituída após a adaptação do sistema WM inglês no Brasil, a chamada "diagonal". Fosse qual fosse o nome da posição, Perácio era um portento no ataque, um verdadeiro tanque. Imparável nas arrancadas, arrastando marcadores, e culminando quase sempre com um chute fortíssimo ou uma cabeçada certeira. Chamava atenção sua força, sua coragem e o chute fortíssimo com qualquer um dos pés.

Perácio, o personagem, era homem feito com ingenuidade de menino. O que trocava as palavras ("fui ao dentista para ele distrair meu dente", em vez de "extrair"). O contador de histórias fantasiosas, o simplório, o brincalhão, o naive. Eram tantos os casos que mais pareciam piadas envolvendo seu jeito de ver o mundo que Mário Filho, cronista imortal do nosso futebol, separou um capítulo inteiro de seu livro "Histórias do Flamengo" para registrar dezenas delas, intitulado "Perácio através das anedotas". O interlocutor costuma variar – às vezes Leônidas, às vezes Martim, às vezes Perrota – mas a história é a mesma, e popularíssima. Perácio dava carona a um deles em seu Packard quando parou num posto de gasolina para reabastecer. De pronto, acendeu um cigarro e jogou fora o fósforo, que caiu bem perto da mangueira de combustível. Ao ver o gesto, o outro passageiro se desesperou: "Mas como você faz uma coisa dessas, Perácio?!". Ao que o atacante respondeu: "Ué, não sabia que você era supersticioso!".

Em 1938, o craque foi chamado pelo técnico Ademar Pimenta para a Copa do Mundo. Ao lado dele, craques como Hércules, Leônidas da Silva e Niginho, além dos companheiros de Botafogo Nariz, Zezé, Martim e Patesko, a Seleção Brasileira foi se concentrar em Caxambu (MG) e, mais tarde, viajou para a França. A Copa era em mata-mata e o Brasil já tinha dito um adeus precoce quatro anos antes, na Itália, ao perder para a Espanha no primeiro jogo. Desta vez, o plantel era mais talentoso e Perácio decidiu com dois gols, um deles chutando de bem longe, na emocionante vitória por 6 a 5 sobre a Polônia, em um jogo que durou 120 minutos. Voltou contra a Tchecoslováquia, um 1 a 1 que também levou duas horas. Foi após um violento chute seu que o goleiro tcheco Planicka chocou-se com a trave e quebrou a clavícula. Sem pênaltis, um segundo jogo dois dias depois foi vencido por 2 a 1 pelo Brasil. Machucado, ele só voltou na semi-final, contra a Itália, mas a derrota acabou com o sonho do título. Restava a decisão de terceiro lugar, contra a Suécia, em que Perácio novamente brilharia, com o gol da vitória por 4 a 2. A Seleção confirmava sua melhor campanha em Mundiais e o craque, aos 20 anos, já era um dos principais jogadores do país.

Contou Mário Filho: "Na Copa de 1938, a delegação brasileira ficou hospedada num hotelzinho em Saint Germain, perto de Paris, achado pelo dirigente Irineu Chaves. Ao acordar, no dia seguinte à chegada, Perácio sentiu fome e apanhou o telefone. Do outro lado da linha, a recepção do hotel. Perácio então fez o pedido – em português, naturalmente: 'Ô, rapaz, mande cá em cima uma média com pão e manteiga'. O recepcionista, atônito, apenas dizia 'je ne comprend pas, je ne comprend pas...'. Perácio bateu o telefone, virou-se para Martim, seu companheiro de quarto, e, indignado, protestou: 'Veja só pra que tipo de hotel nos levaram! A esta hora do dia e ainda não compraram pão!'."

Quando voltou a General Severiano, seu prestígio era ainda maior, mas ainda lhe faltava um título. O Municipal bateu na trave, com o Fluminense levando a taça. No Carioca, as atuações voltaram a chamar atenção, sobretudo na vitória sobre o Fluminense em campo adversário (3 a 0) e numa impiedosa goleada sobre o Madureira, por incríveis 11 a 3, em que Perácio anotou três vezes. A taça ficou outra vez com o Fluminense.

A temporada de 1939 parecia ser de deslanche. Grandes tardes contra Vasco, América e Bangu fizeram a torcida sonhar. Mas nenhum jogo foi tão marcante quanto o de São Januário, contra o Flamengo. Os times estavam empatados na liderança do campeonato e o Fla ganhava por 2 a 0 (dois gols de Leônidas). Perácio diminuiu, numa cabeçada. Depois do intervalo, o Glorioso empatou com Álvaro e virou em nova cabeçada de Perácio. Atuação memorável e virada histórica. O título carioca parecia encaminhado para o Glorioso, mas o amargor voltou a atingir Perácio. Um empate com o Madureira e uma derrota para o Fluminense puseram tudo a perder. Na penúltima rodada, a chance resumia-se a uma vitória sobre o América, mas tudo terminou em tragédia com uma incrível derrota por 5 a 4. Flamengo campeão, o que deflagrou uma crise no Botafogo. Perácio foi especulado para deixar o Brasil e estava sob olhares da Lazio, da Itália, mas a negociação nunca se concretizou. Foi quando seu estilo extravagante começou a miná-lo dentro do clube. A falta de títulos incomodava e a pressão aumentava. Os gols foram rareando, as atuações de gala também e a forma física já não era a mesma. O preparo do menino do interior com as tentações das noites cariocas se mostrava insuficiente.

Foi quando sofreu uma nova punição por faltar aos treinamentos. Justificou as ausências falando em compromissos militares, uma vez que servia ao Exército, mas isso foi a gota d'água. A diretoria não acreditou e o craque foi afastado. Terminou sua passagem em General Severiano com 53 gols, mas nenhum troféu. No Exército, serviu no Forte Duque de Caxias. Lá, o craque fez seus gols pelos times militares e o Flamengo se interessou por ele. O Botafogo se negou a vendê-lo por menos de 40 contos de réis, preço considerado alto demais para um jogador já em baixa e o Flamengo desistiu num primeiro momento. No entanto, o presidente alvi-negro, João Lyra Filho, decidiu rescindir o contrato de Perácio, alegando indisciplina. Foi à imprensa e relatou que o jogador colocava os comparecimentos ao quartel como pretexto para ir a cassinos e noitadas. Foi quando surgiu o Canto do Rio. O clube de Niterói tinha acabado de conseguir uma licença especial para jogar o Campeonato Carioca e estrear no profissionalismo. De olho em medalhões, o Cantusca parecia o destino ideal. Por 10 contos de réis, o adquiriram. Se parecia passo atrás, ele estava empolgado com a chance de sair da inatividade. Já na estreia contra o São Cristóvão, uma lesão no joelho se mostrou um começo duro.

Os gols foram voltando; primeiro contra o Bangu, depois contra o Madureira e, mais tarde, dois em cima do Bonsucesso. Porém, faltava o reencontro especial, diante do Botafogo. E a chance de vingança veio num domingo em que os alvi-negros eram franco-favoritos, mesmo em Caio Martins. Logo no primeiro lance, Perácio recebeu na área e emendou, mandando para as redes de Aymoré e abrindo o marcador. A vitória por 6 a 3 foi seu momento mais alto naquele ano, já que os praianos não foram à segunda fase.

No fim do ano, as negociações com o Fla tinham voltado a acontecer. Empolgado, o América se meteu na conversa e tentou atravessar a negociação, mas a preferência de Perácio sempre foi o Rubro-Negro.

O Canto do Rio não cedeu Perácio para uma excursão a São Paulo que o Fla pretendia fazer. Mas seus dirigentes e os do Rubro-Negro acertariam a transferência do jogador para a Gávea para a temporada seguinte. Só faziam questão de que o jogador só deixasse o clube após o dia 28 de dezembro, quando as duas equipes se enfrentariam pelo Torneio Extra, competição sem grandes atrativos, a qual o Fla disputava com time misto, sem vários de seus astros. Mas Perácio se despediria honrosamente do clube niteroiense ao mesmo tempo em que apresentava um belo cartão de visitas à torcida rubro-negra: o Canto do Rio venceu por 3 a 0, e ele marcou o gol que fechou a contagem. Ainda no finalzinho de 1941, ele acertou sua mudança para a Gávea. Antes mesmo de assinar, fez seu primeiro jogo num amistoso contra o Sport Recife, jogando 45 minutos.

A temporada de 1941 começara brilhante para o Flamengo, mas terminara amarga. Nos dois primeiros turnos, a equipe dirigida por Flávio Costa voou: venceu 15 de seus 18 jogos, somou 34 pontos em 38 possíveis e terminou na liderança, quatro pontos à frente do Fluminense, segundo colocado. Porém, ao fim do terceiro turno, disputado por apenas seis equipes, a vantagem na ponta já havia desaparecido. Na última rodada do quarto turno o Fluminense já chegava com vantagem de empate para o Fla-Flu da Gávea. Abriu 2 a 0, mas o Fla chegou à igualdade na raça. Porém, no jogo que ficaria conhecido como o das "bolas na Lagoa" (para fazer cera após a reação rubro-negra, os tricolores chutavam a bola para a Lagoa Rodrigo de Freitas, que então margeava o Estádio da Gávea), o título acabaria seguindo para as Laranjeiras.

A queda de rendimento do time rubro-negro na reta final do torneio era explicada em grande parte pelos problemas na meia-esquerda. O baiano Nandinho, dono da posição, não convencia. Flávio Costa chegou a deslocar o médio Jayme de Almeida e o ponta-esquerda Vevé para a função, mas nenhum dos dois se sentiu à vontade. Num último recurso, o clube trouxe da Argentina o meia Emilio Reuben, ex-Vélez Sarsfield, Independiente e Lanus. Mas ele não teve tempo de se adaptar ao estilo de jogo, e o jeito foi lamentar a perda de um título que pareceu iminente. Para tentar mais uma vez solucionar o problema é que os dirigentes apostaram suas fichas em Perácio.

Flávio Costa, ao ver o jogador chegar à Gávea com alguns quilos a mais, prontamente o colocou para perder peso. Perácio treinava todos os dias usando duas camisas de lã. Também havia deixado de lado definitivamente a vida boêmia pela qual se notabilizou ao lado dos colegas de Botafogo. Seu passa-tempo agora era pescar na Lagoa, ali na rampa do Flamengo, em frente ao Estádio da Gávea. Almoçava numa pensão vizinha e frequentava apenas as redondezas, recolhendo-se cedo para ser o primeiro a aparecer nos treinos.

Apresentado como uma das principais armas rubro-negras, Perácio não decepcionou. Formou uma linha atacante de respeito ao lado de Valido, Zizinho, Pirilo e Vevé, que tornaria-se mais tarde o primeiro quinteto ofensivo realmente famoso do Flamengo. Demorou um pouco até que ele voltasse à velha forma e o técnico Flavio Costa precisou de desdobrar para mantê-lo no clube. Quando isso aconteceu, porém, ninguém mais segurou o Mengão. Perácio teve sua primeira grande atuação num Fla-Flu. Pirilo tinha se machucado e ele, que não jogava havia dois meses por causa de uma lesão, foi o escolhido de Flavio Costa para a posição.

O alvo a ser perseguido era o Botafogo, novo líder. E Perácio continuou contribuindo enormemente. Depois de ficar de fora da estreia no terceiro turno, contra o Canto do Rio, ele voltaria justamente no confronto direto entre os ponteiros, agora em sua verdadeira posição. E com uma atuação extraordinária, marcou dois gols ainda no primeiro tempo, com Pirillo e Jaime completando a goleada categórica por 4 a 0, placar tão desconcertante que irritou o ídolo alvinegro Heleno de Freitas, expulso perto do fim do jogo, com a contagem já definida. O Fla agora empatava na liderança. A briga estava em aberto.

A vitória sensacional sobre o Botafogo na Gávea naquela tarde de 23 de agosto deixou muitos torcedores eufóricos, inclusive alguns sócios rubro-negros. Homens endinheirados, eles fizeram questão de mostrar sua alegria com o resultado abrindo a carteira para homenagear Perácio, o artífice da goleada. Depois do jogo, o atacante mineiro entrou no vestiário com uma nota de 500 mil-réis pendurada uma orelha e outra de 200 mil-réis na outra, bem enroladinhas. E comentou, entre gargalhadas, com os companheiros de time: "Olhem os brincos que me deram!".

Na partida seguinte, contra o Vasco em São Januário, o Flamengo perdia por 1 a 0 até dez minutos do fim. Foi resgatado por Perácio, autor do gol de empate que incendiou o time: aos 42, o Fla viraria o placar com gol de Pirilo, seguindo na briga pelo título. O atacante mineiro ainda marcaria nos três jogos seguintes, três vitórias: um contra o Madureira (4 a 1), outro sobre o America (incríveis 8 a 5) e dois contra o Bonsucesso (7 a 0). Até que uma crise de apendicite o tirou do campeonato. Nandinho voltou ao onze titular nas rodadas finais, e os rubro-negros se sagraram campeões ao empatarem com o Fluminense nas Laranjeiras em 1 a 1 – uma espécie de troco da decisão do ano anterior. O Flamengo era campeão carioca e Perácio finalmente levantava uma taça no Rio.


Se já tinha sido fundamental em 1942, a performance de 1943 foi luxuosa. Pau a pau com o Fluminense na liderança, Perácio foi o dono dos dois últimos jogos do campeonato, marcando dois gols num 6 a 2 sobre o Vasco e três nos 5 a 0 sobre o Bangu. Dois pontos de vantagem cruciais e Fla bi-campeão. A contribuição de Perácio no tri-campeonato poderia ter sido ainda maior, já que ele só marcou três gols e atuou pouco. Isto porque, em setembro, veio o chamado da Força Expedicionária Brasileira (FEB) para a Segunda Guerra Mundial. E o Perácio do Flamengo virou o Soldado Perácio, que defendia a pátria nas trincheiras italianas.

O Flamengo faturaria o tri numa emocionante vitória sobre o Vasco, na última partida. O menino de Nova Lima agora era um pracinha que atravessou o Atlântico e servia seu país. Agora, as batalhas eram outras. Na Itália, Perácio foi de tudo um pouco. Motorista do Marechal Cordeiro de Farias, conviveu com as tropas em Monte Castelo, no conflito decisivo que derrotou os alemães. Ao lado dele, estavam outros jogadores como Geninho, do Botafogo, e Bidon, do Madureira. Juntos, eles disputaram um torneio entre soldados aliados, reforçando as tropas norte-americanas e inglesas e saindo como campeões.

Só com a rendição alemã, em maio de 1945, é que Perácio "respirou", não sem antes rodar por outros países com a seleção militar. Regressou de vez ao Rio em agosto, com direito a desfile na Avenida Rio Branco e recepção de herói. No primeiro jogo pós-retorno, marcou o seu em Conselheiro Galvão, numa vitória sobre o Bangu, sendo ainda expulso. Os anos posteriores foram, para Perácio, de mais destaque individual do que coletivo. O Flamengo foi eclipsado pelo "Expresso da Vitória" vascaíno, que levantou quatro Cariocas nos seis anos seguintes. Fluminense e Botafogo também foram campeões, mas o Fla não teve esse prazer.

O faro de gol seguiu intacto. Perácio foi o artilheiro do Flamengo no Carioca de 1946, com 19 gols. Mas seria aquele seu último grande ano. Com a contratação de Jair Rosa Pinto, passou a ser menos utilizado e, após o campeonato de 1947, ele rescindiu com o Fla. Certa vez, Perácio disse: "A cancha é o circo mais ingrato da terra". Aos 30 anos, ele estava sem clube e era vítima da própria verdade. Foi para São Paulo para trabalhar como chofer de táxi. Voltaria a jogar pelo Fla só quatro anos depois, em um amistoso contra a seleção capixaba, fechando de vez sua história no Mais Querido.

Recebeu então um convite para voltar ao Canto do Rio. Já aos 34 anos de idade, jogou só o segundo turno do Carioca, marcando três gols. Um deles foi em cima do Fluminense, sobre o grande goleiro Castilho. A despedida foi amarga, com uma derrota por 11 a 3 para o Bangu. Definitivamente aposentado, foi técnico de um time amador de São Paulo e voltou para o Rio, onde fixou residência. Viveu seus últimos anos como militar reformado. Morreu em 10 de março de 1977, aos 59 anos, depois de ficar internado por alguns dias no Hospital dos Servidores. Tinha câncer no pulmão e não resistiu. Foi sepultado no cemitério São João Batista.

Perácio não viveu muito, teve um final triste dentro e fora de campo, mas seu sorriso e o jeito brincalhão eram as principais armas para vencer a desconfiança e a tristeza. O mineiro de jeito extrovertido, do chute forte e adepto dos carrões não chegou tão longe quando poderia, mas foi um dos grandes de seu tempo, uma altura romântica do futebol e que deixou saudade nos torcedores que o viveram. Tanta saudade quanto o futebol raçudo e valente do eterno Perácio.


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