sábado, 10 de julho de 2021

Hall da Fama do C.R. Flamengo: PIRILO


PIRILO: o Matador Certeiro

Carreira: 1934-35 Americano (RS); 1936-39 Internacional; 1939-41 Nacional (Uruguai); 1941-1947 Flamengo; 1948-52 Botafogo

Foi o artilheiro do Flamengo nas temporadas 1941, 1942, 1943, 1944, 1945 e 1947. Igualou Nonô, que até então era o único a ter sido artilheiro do clube por 5 temporadas consecutivas. Ele em 1946 foi superado por Perácio, que fez mais gols do que ele. Mas em 47 voltou a ser o artilheiro rubro-negro na temporada, superando a marca de Nonô, que era quem mais vezes tinha sido artilheiro de temporadas com a camisa rubro-negra.

Pirilo não era tido como um grande chutador de longa distância. Mas dentro da área era infernal. Tinha técnica, força, oportunismo e raça, além de finalizar bem com os pés ou a cabeça.

Pelo Flamengo, ele fez 237 jogos e marcou 203 gols.


Abaixo, estão combinados os textos de Emmanuel do Valle no site "Flamengo Alternativo" e de José Carlos Luck publicado no site "Memórias do Esporte":

Silvio Pirilo nasceu dia 26 de julho de 1916, na cidade de Porto Alegre (RS). Era um centroavante rápido, de drible cortante e excelente visão de jogo. Juntava tudo isso, uma coragem que poucos atacantes brasileiros apresentaram, antes e depois dele. Começou sua carreira no extinto Americano do Rio Grande do Sul em 1936. Depois passou pelo Internacional em 1937. Muitos colorados não hesitam em afirmar que Pirilo foi o maior artilheiro que o Internacional já possuiu. Dono de uma técnica invejável, Pirilo marcou época em um tempo muito afastado da mídia e se tornou tão famoso que acabou sendo convocado para a Seleção Brasileira.

Foi no antigo Estádio dos Eucaliptos que o atacante escreveu seu nome na história colorada. Seus gols ajudaram o Inter a ganhar o título gaúcho de 1934. Era uma época dominada pelo temível Grêmio de Luiz Carvalho e Oswaldo Rolla, o célebre "Foguinho". Mas o talento de Silvio Pirilo ajudou o colorado a quebrar a hegemonia tricolor e conquistar seu segundo título estadual. Na equipe colorada fez muito sucesso, tanto que o Peñarol do Uruguai o contratou em 1938, numa época em que o futebol uruguaio costumava levar vários dos principais jogadores brasileiros.

Do Peñarol, retornou ao Brasil para defender o Flamengo em 1941, onde foi um dos maiores artilheiros da história do clube. Estava sendo contratado para suprir a saída de Leônidas da Silva, que trocara o clube pelo São Paulo.

"Nem Jesus Cristo, se voltasse à Terra, poderia substituir Leônidas". Foi o que disse Ary Barroso no começo daquele 1941, o último ano em que o Diamante Negro integraria o elenco do Flamengo, às voltas com uma lesão crônica no joelho direito, envolvido em frequentes trocas de acusações com o presidente do clube Gustavo de Carvalho, e obrigado ainda a cumprir pena de detenção após ser condenado pela Justiça Militar por falsificar seu certificado de reservista.

No final de abril de 1941, Pirilo desembarcava, juntamente com o zagueiro Barradas (outro reforço gaúcho vindo do futebol uruguaio, mas de menor sucesso) no aeroporto Santos Dumont, sob desconfiança da torcida e especialmente de um rubro-negro muito peculiar: Ary Barroso, a voz do futebol na Rádio Nacional, e tiete de primeira fila de Leônidas, ainda o maior ídolo do futebol brasileiro.

Depois de alguns dias perdidos na definição da contratação, afinal acertada em 20 contos de réis, Pirilo treinou pela primeira vez na Gávea com os novos companheiros no dia 29 de abril. Mesmo fora de forma, mostrou faro de artilheiro, marcando cinco gols.

A estreia do novo center-forward rubro-negro viria no dia 4 de maio, na rodada de abertura do Campeonato Carioca, diante do Madureira, na Gávea: vitória por 5 x 2, com três gols de Pirilo. Seriam cinco (e 7 x 2) não fossem dois anulados erradamente pelo árbitro Guilherme Gomes. No segundo jogo, contra o Bonsucesso no mesmo estádio, o segundo triunfo: 4 x 2, um gol de Pirilo. Mas bastou um 0 x 0 no clássico diante do América em Campos Salles na terceira rodada para o mundo cair-lhe em cima.

"Onde está o homem do gol invisível?", repetiam cruelmente os torcedores, fãs de Leônidas, na saída do estádio após o jogo. Como respondeu Pirilo? Com gols. Um no Fla-Flu seguinte, logo aos dois minutos de jogo, na vitória por 3 x 1 nas Laranjeiras; dois nos 3 x 1 no Vasco; dois nos 4 x 0 no São Cristóvão. Sobre este jogo, a revista "O Globo Sportivo" registrou um comentário curioso vindo dos locutores de rádio que indica bem a fogueira na qual o gaúcho havia entrado, e a solução que encontrou para sair dela: "Ao nosso lado, os 'speakers' irradiavam o jogo fazendo comentários sobre as falhas de um e outro quadros: – Incrível, caros ouvintes – disse um – Pirilo acaba de perder mais um tento certo. Assim não é possível o Flamengo ganhar... Passam-se dois minutos e o mesmo Pirilo entra espetacularmente numa bola, enviando-a às redes, para repetir o feito minutos depois: – Caros ouvintes – volta o locutor – decididamente assim é que o Flamengo pode ganhar".

E Pirilo desandou a marcar: três nos 7 x 0 no Bangu na Rua Ferrer; o gol solitário das vitórias sobre o América e o Vasco na Gávea; três nos 4 x 1 do Fla-Flu do returno; outro no empate em 1 x 1 com o Vasco em São Januário... Foram 39 tentos em 28 jogos, recorde ainda hoje não superado, desbancando de longe os 30 marcados por Leônidas na temporada anterior, a maior quantidade até então.

O Flamengo não foi campeão. Na última partida do turno final precisava derrotar o Fluminense na Gávea, mas o máximo que conseguiu foi o empate em 2 x 2, após sair em desvantagem de dois gols. Pirilo marcou os dois da igualdade. Não foi porém por falta de gols de Pirilo em clássicos que aquele Fla deixou escapar o título. O centroavante marcou 14 vezes em 14 jogos contra Fluminense, Vasco, Botafogo e América. Contra o Bangu, sexto colocado, foram nove gols em quatro partidas.

Jogando de centroavante, foi um jogador fundamental na conquista do primeiro tri-campeonato do clube (1942, 1943 e 1944). Nessa época o Flamengo tinha um grande time. Como exemplo, podemos citar o de 1943, que era: Yustrich, Domingos da Guia e Newton; Biguá, Volante e Jayme; Valido, Zizinho, Pirilo, Perácio e Vevé. Sempre que perguntavam a Pirilo, qual foi a partida que ele jamais esqueceria, de imediato ele respondia; "Foi a decisão do campeonato carioca de 1944. Com tantos boêmios no time, o técnico Flávio Costa resolveu concentrar cinco dias antes do jogo. A final era contra o Vasco da Gama. A Gávea mais parecia um hospital. Lá estavam eu, doente sem poder andar. Valido com violenta febre e como se não bastasse, o Flamengo tinha perdido Perácio, que fora para a Segunda Guerra Mundial e o Domingos da Guia vendido ao Corinthians. Na verdade, no ataque o único que tinha condições era Zizinho. Foi o jogo mais dramático da vida de Pirilo. Foi uma explosão quando Valido subiu com Argemiro, no finalzinho do jogo, e colocou a bola no fundo das redes de Barqueta. Era o prêmio pela luta, persistência, dedicação e união daqueles jogadores que, ao terminar a partida, Valido caiu de um lado e eu para o outro. Desmaiamos e tivemos que ser carregados para o vestiário, em meio a festa e a alegria do tri campeonato".

Nos anos seguintes daquela década, o time rubro-negro foi aos poucos perdendo a consistência, vivendo de lampejos, desfalcado de jogadores importantes por lesão, enquanto outros envelheciam sem substitutos à altura. E Pirilo acompanhou este mesmo roteiro, brilhando em jogos como os 7 x 0 sobre o Fluminense, no Torneio Municipal de 1945 (marcando quatro vezes na maior goleada da história do clássico), mas sem ser o suficiente para fazer o time brigar pelo título.

Silvio Pirilo ainda hoje é o recordista de gols num campeonato carioca com a incrivel marca de 39 gols (a maior marca anterior era exatamente de Leônidas, com 30). Em outubro de 1947, tornou-se o primeiro jogador a atingir a marca de 200 gols pelo clube. No dia 28 de dezembro daquele ano, entraria em campo pela última vez como jogador rubro-negro, marcando duas vezes nos 4 x 0 sobre o Bangu, em General Severiano, encerrando sua trajetória na Gávea com 203 tentos em 237 partidas, média de expressivos 0,86 gols por jogo. Outro feito de Pirillo, este praticamente desconhecido, é o de ser o maior artilheiro do Estádio da Gávea em todos os tempos, com espantosos 71 gols. Bem à frente de Zizinho (45), Perácio (35) e Romário (31), que vêm a seguir na lista.

Depois do Flamengo, defendeu o Botafogo, com o qual foi campeão carioca de 1948, vencendo ao Vasco numa final histórica. De um lado, o Vasco de Barbosa, Danilo e Ademir Menezes, campeão sul-americano de clubes. Do outro, o Botafogo, havia 13 anos sem títulos. O vestiário destinado ao Vasco em General Severiano, sem água e com os vasos sanitários providencialmente sujos, entupidos e malcheirosos, e, ainda por cima, pintado, pela manhã, com cal virgem, para irritar os olhos dos adversários. E estes, ao passar sob a proteção de arame no acesso ao campo, ainda recebem uma chuva de pó-de-mico, atirado pelos botafoguenses.

Com tudo isso, há ainda um bom time do Botafogo, que aproveita a perplexidade que toma de assalto o rival e faz um gol com 2 minutos de bola rolando, com Paraguaio. Ainda no primeiro tempo, Braguinha aumenta. Otávio aumenta logo no início do segundo tempo. O gol contra de Ávila, para o Vasco, dois minutos depois, serve apenas para estabelecer o placar de 3 x 1. O Botafogo é, novamente, o campeão carioca, com Osvaldo Baliza, Gérson dos Santos e Nílton Santos; Rubinho, Ávila e Juvenal; Paraguaio, Geninho, Pirilo, Otávio e Braguinha. Este jogo aconteceu no dia 12 de dezembro de 1948 e foi disputado no estádio de General Severiano. Pirilo jogou ainda por mais quatro anos no Botafogo e depois encerrou sua brilhante carreira. Em toda a sua carreira futebolística, sua característica mais relevante foi a de ser um excepcional goleador.

Palavras de Nilton Santos: "Ele tinha muita habilidade, infernizava os zagueiros com deslocamentos constantes, e era, sobretudo, um homem de rara valentia. Para decidir na técnica, sabíamos que poderíamos contar com ele; na catimba, também, e na hora da briga, nem se fala".

Pela Seleção Brasileira, Pirilo a defendeu em cinco jogos em 1942 pelo Campeonato Sul-americano. Venceu 3 e perdeu 2 jogos. Marcou 6 gols com a camisa canarinho, sendo 3 contra o Chile na vitória de 6 a 1 no dia 14 de janeiro e os outros 3 foram contra o Equador, vitória por 5 a 1 no dia 1 de fevereiro. Todos os jogos foram disputados em Montevidéu.

Mas seu amor pelo futebol era tamanho, que depois de encerrada a carreira de jogador, resolveu continuar as emoções fora das quatro linhas e partiu para a profissão de treinador. Começou no próprio Botafogo, onde encerrou a carreira de jogador. Depois teve passagens por outros grandes clubes, com destaque para o Fluminense onde foi campeão do Torneio Rio-São Paulo em 1957. Foi quem convocou Pelé pela primeira vez para a Seleção Brasileira, para disputar a Copa Rocca de 1957 contra os argentinos no Maracanã. Este jogo aconteceu dia 7 de julho e o Brasil perdeu por 2 a 1, sendo o gol brasileiro marcado por Pelé. Pelo Fluminense, foram 138 jogos. No Corinthians passou em duas ocasiões, a primeira em 1959 e a última em 1974, quando levou a equipe ao vice-campeonato Paulista. No total, sentou no banco de reservas do Corinthians em 124 jogos com 67 vitórias, 26 empates e 31 derrotas. Treinou também o Palmeiras em 48 jogos entre 1963 e 1964 com 26 vitórias, 9 empates e 13 derrotas. Dirigindo o Palmeiras, conquistou o título paulista de 1963. Substituiu Geninho e assumiu num jogo frente a Portuguesa, um domingo à tarde, no Pacaembu, onde o Palmeiras goleou, 5 x 1. Com Pirilo no comando, o Palmeiras embalou e não perdeu mais no certame, conquistando o título, inclusive, por antecipação, na penúltima rodada, enfrentando o Noroeste, numa quarta feira, à noite, no Pacaembu, vencendo por 3 x 0. Deixou o cargo no ano de 1964, após derrota para o Corinthians, 1 x 0, gol de Silva cobrando penalidade máxima no primeiro tempo, em jogo válido pelo primeiro turno do Paulistão.

Silvio Pirilo faleceu dia 22 de abril de 1991, em Porto Alegre (RS). Deixou muita saudade aos desportistas brasileiros, principalmente aqueles que tiveram o privilégio de vê-lo jogar. Foi um goleador nato.


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