quinta-feira, 8 de julho de 2021

Hall da Fama do C.R. Flamengo: ZIZINHO


ZIZINHO: o genial "Mestre Ziza"

Carreira: 1940-1950 Flamengo; 1950-1957 Bangu; 1957-58 São Paulo; 1959-60 Uberaba (MG); 1960-62 Audax Italiano (Chile)

Todos, sem exceção, admiravam sua valentia, seu talento e sua genialidade em atacar, armar jogadas, cabecear, chutar e ver o jogo como ninguém poderia ver. Seu futebol era vistoso, bonito, vigoroso. Na Gávea ou no Maracanã, dava aula e se exibia para todos com seu jeito arisco de ser, sendo que neste último teve a atuação mais perfeita da história de um jogador com a camisa da Seleção Brasileira, na vitória por 2 x 0 contra a Iugoslávia na Copa do Mundo de 1950. Foi o maior jogador brasileiro antes de Pelé, que sempre afirmou ser fã do futebol de Thomaz Soares da Silva, o Zizinho. Craque que ditava as ações do meio de campo e que não tirava a perna nas divididas, Zizinho conseguiu espaço em um time de feras do Flamengo na década de 1940. Em campo, somava ao talento prodigioso o espírito de guerreiro feroz. Como jamais deixou de acariciar a bola e ser adulado por ela, nunca evitou uma dividida ou refugou disputas ríspidas. 

No Flamengo, ele fez 328 jogos e marcou 145 gols.


"Em 1940, surgiu no Flamengo um dos maiores craques de sua história: Zizinho. Ele estreou na última partida realizada ainda em 1939, durante uma derrota de 4 a 3 para o Independiente, da Argentina, em partida amistosa disputada em São Januário. Ele agradou de imediato, ainda jovem e franzino. Foi mantido no time no segundo jogo contra o Independiente e, depois, em três amistosos mais, todos contra o San Lorenzo, também da Argentina. O curioso é que todos os cinco primeiros jogos de Zizinho com a camisa do Flamengo, os acima citados, foram disputados no campo do Vasco da Gama, em São Januário. E, nos cinco, houve apenas uma vitória – três derrotas e um empate nos demais. Isto poderia ter sido um empecilho a que se avistasse o brilho daquele jovem. Felizmente, para o rubro-negro, e para o futebol brasileiro, não foi assim". (A NAÇÃO, pg. 57)

Abaixo, uma reunião de vários diferentes textos publicados em diversos sites sobre a carreira de Zizinho:

Thomaz Soares da Silva, o Zizinho (1921-2002) nasceu em São Gonçalo, Rio de Janeiro, no dia 14 de setembro de 1921. Começou sua carreira nas divisões de base do Byron, de Niterói. Desde pequeno Zizinho demonstrava muita aptidão para o futebol com dribles, velocidade e precisão. Mas o seu problema era o físico franzino, que o deu logo de cara uma decepção: ser reprovado num teste feito no América, seu time de infância.

Muito antes da aclamação mundial, o garoto Zizinho tinha aspirações mais modestas. Admirava dois grandes jogadores revelados pelo futebol niteroiense, o médio Oscarino e o atacante Clóvis (pai de Gérson, o "Canhotinha de Ouro"), ambos campeões cariocas com o América em 1935. Por extensão, era torcedor rubro e sonhava atuar pelo time ao lado dos ídolos. Mas ao bater à porta da Rua Campos Sales, foi dispensado sem nem treinar, sob o argumento de que era “muito mirrado” e que o clube estava "muito bem servido de meias". Ganhou uma chance no São Cristóvão, mas no treino ousou driblar Afonsinho, médio-esquerdo da seleção brasileira e inspetor de polícia, um dos jogadores mais duros de seu tempo. Levou um pontapé no joelho e deixou o campo carregado. Mas tudo mudaria para o jovem – que na época trabalhava como operário do Lloyd Brasileiro – ao ser indicado para o Flamengo pelo olheiro Ari Fogaça. Foi então que aos 18 anos o jovem tentou a sorte no Flamengo, comandado à época pelo célebre técnico Flávio Costa. Numa tarde, na Gávea, o Flamengo fazia um coletivo quando Leônidas da Silva, um dos craques do time, sofreu uma contusão. O técnico Flávio Costa olhou para o banco e chamou o garoto Zizinho. O moleque entrou, arrebentou, fez gols e no final do coletivo ouviu a frase: "corte o cabelo e volte amanhã". Zizinho voltou e foi integrado ao time principal, aonde permaneceu até 1950. Com 19 anos já era titular do Flamengo, jogando ao lado de Domingos da Guia e Leônidas da Silva.

Em 1942, ajudou o Flamengo a conquistar o Campeonato Carioca, quando o rubro-negro capengou no início, mas deslanchou no segundo e terceiro turnos com vitórias espetaculares e pontuais: 4 a 3 e 8 a 5 no América, 6 a 0 e 3 a 0 no Bangu, 4 a 0 no Botafogo, 1 a 0 no Fluminense e 1 a 0 no Vasco. Domingos da Guia, Biguá, Valido, Perácio, Pirilo e Zizinho eram os grandes nomes daquele esquadrão que venceu 20 dos 27 jogos disputados, com o melhor ataque (87 gols) e a melhor defesa (29 gols). Zizinho marcou 11 gols e foi um dos destaques do Flamengo na competição.

Também em 1942 foi convocado para a Seleção Brasileira, onde permaneceu até 1957, onde marcou 30 gols em 54 jogos. Recebeu a convocação para a seleção que disputou o Campeonato Sul-Americano do Uruguai em 1942 (atual Copa América). Naquela competição, Zizinho marcou os primeiros de seus 17 gols no torneio, feito que o tornou o jogador com o maior número de gols marcados na competição, ao lado do argentino Norberto. O Brasil não foi campeão, mas a experiência internacional ajudou Zizinho a melhorar cada vez mais seu futebol.

Em 1943, Zizinho começou a jogar mais recuado num esquema que lembrava muito o 4-2-4, que iria vigorar mais nos anos 50, principalmente com a seleção brasileira campeã mundial em 1958. O craque passou a ser um autêntico meia-armador, seguramente o primeiro da história do futebol brasileiro, fazendo lançamentos precisos para os companheiros de ataque e construindo jogadas de efeito. Jogando muito, Zizinho foi outra vez essencial para mais um título estadual do Flamengo, com direito a goleadas inesquecíveis pra cima do Vasco (6 a 2), Botafogo (4 a 2) e Bangu (5 a 0), além de um 2 a 0 sobre o Fluminense, com um gol de Zizinho, que marcou sete naquele ano.


Em 1944, Zizinho participou ativamente do inédito e histórico tri-campeonato estadual do Flamengo. O time não era o mesmo dos anos anteriores e estava enfraquecido principalmente por conta da saída do mítico zagueiro Domingos da Guia e da ausência de Perácio, convocado para servir o exército brasileiro na Itália durante a Segunda Guerra Mundial. Depois de colecionar vitórias marcantes ao longo da competição, incluindo um 6 a 1 sobre o Fluminense e um 4 a 1 sobre o Botafogo, o rubro-negro foi para a partida decisiva contra o Vasco, na Gávea, precisando da vitória para ficar com o caneco. O problema era que o time de São Januário era imensamente favorito por conta de seus craques que formariam muito em breve o chamado Expresso da Vitória. Mas o Flamengo tinha Zizinho, que comandou com maestria as ações da equipe naquela tarde de 29 de outubro de 1944 diante de 20 mil pessoas. O confronto seguiu equilibrado até o final do segundo tempo quando a quatro minutos do fim, o Flamengo conseguiu o gol solitário da partida com o veterano argentino Valido, que subiu mais alto que todo mundo na área do Vasco para marcar de cabeça. Os vascaínos ficaram loucos da vida pelo fato de o argentino ter se apoiado em Argemiro para marcar o gol. Mas o chororô não adiantou. E o Flamengo foi campeão. Zizinho comentou a histórica conquista: "O choro vascaíno tornou ainda mais emocionante a conquista. Aquele título foi uma verdadeira epopeia de paixão e garra, pois o Vasco tinha o melhor time, mas nós nos superamos por puro amor à camisa", em entrevista dada à revista Placar no final dos Anos 1980.

Retornou ao escrete brasileiro em 1949, para a disputa do Campeonato Sul-Americano no Brasil. Na estreia, goleada de 9 a 1 sobre o Equador. Em seguida, 10 a 1 na Bolívia. No primeiro jogo mais equilibrado, vitória por 2 a 1 sobre o Chile. Mas foi apenas um "acidente de percurso". Na sequência, os comandados de Flávio Costa bateram Colômbia (5 a 0), Peru (7 a 1) e Uruguai (5 a 1). Os dois últimos jogos foram decisivos, contra o Paraguai. Na primeira partida, derrota por 2 a 1. Na segunda, um vareio de 7 a 0 confirmou mais um título continental para o futebol brasileiro. A seleção era campeã com seis vitórias e uma derrota em sete jogos, com 39 gols marcados (cinco de Zizinho) e apenas sete sofridos. Aquele foi o primeiro título de Zizinho com a camisa do Brasil.

Com a Seleção Brasileira, ele teve importante atuação na Copa do Mundo de 1950, no Brasil, onde ajudou o time a chegar na Final. Apesar da derrota de 2 x 1 para o Uruguai. Foi durante aquela Copa que recebeu o apelido de "Mestre Ziza". Ele tinha todas as qualidades desejáveis num criador de jogadas: perfeito domínio da bola, elegância, drible curto, ótimo passe e visão de jogo, perícia na bola parada e arrancadas que só acabavam com a bola nas redes adversárias. Em seu livro de memórias "Quando a bola era redonda", o historiador Ivan Soter aproximou, ao tentar traduzi-lo por analogia aos mais jovens, o estilo do velho mestre ao de Maradona: "Eram artistas renascentistas, apegados ao detalhe, à firula. Mas quando chegada a hora seriam capazes, sozinhos, de decidir o jogo. Quase prescindiam de acompanhamento. Eles eram o time". Cobrindo a Copa do Mundo de 1950 para o periódico londrino World Sports, o lendário jornalista austríaco Willy Meisl comentou sobre Zizinho após vê-lo em ação no Maracanã, na demolidora goleada de 6 a 1 que o Brasil impôs à forte seleção da Espanha: "Não se trata apenas de um craque, de um dos maiores craques que andam espalhados nas diversas partes do mundo. Este é um gênio. Um homem que possui todas as qualidades que podem ser idealizadas para um profissional chegar o mais próximo da perfeição". Na mesma ocasião, outro jornalista europeu – o italiano Giordano Fattori, da Gazzetta dello Sport – escreveu: "No jogo Brasil x Espanha viu-se de tudo que se poderia imaginar tecnicamente em futebol. Houve ciência, arte, balé e até jogadas de circo. Mas entre todos os onze jogadores desta equipe mágica do Brasil, um estava em relevo. Era Zizinho, o mestre da esquadra. Seu futebol fazia recordar Leonardo Da Vinci pintando alguma coisa rara. Um Da Vinci criando obras-primas com os pés na imensa tela do gramado do Maracanã".

Zizinho presenciou naquele fatídico dia 16 de julho de 1950 seu auge e sua queda com a Seleção Brasileira. Vibrou com o gol de Friaça, no começo do segundo tempo, e viu, ao término da partida, o fosso do Maracanã completamente tomado por bombas, rojões e todo tipo de artifício que seria utilizado na festa do título mundial brasileiro – mas que ficou lá, jogado, inutilizado. O craque ficou extremamente abalado e, como todos os seus companheiros, seria sempre lembrado pela derrota. Mas, ao contrário de muitos dos titulares daquela final, Zizinho não caiu no ostracismo. Pelo contrário, foi eleito o melhor jogador da Copa pela imprensa internacional, para o All-Star Team do mundial e uma das maiores estrelas do esporte mundial da época. Nem esses prêmios serviram para consolar o Mestre Ziza, que passou muito tempo com os pesadelos daquela derrota rondando sua cabeça. Mestre Ziza disputou 53 partidas pela Seleção Brasileira e marcou 30 gols.

Pouco antes da Copa do Mundo de 1950, Zizinho chegou ao Bangu após o Presidente do Flamengo, Dario de Melo Pinto, dizer ao então patrono do alvi-rubro, Guilherme da Silveira, que nenhum dos seus jogadores era inegociável. Silveira Filho perguntou, então, quanto o mandatário rubro-negro queria por Zizinho. Melo Pinto disse a quantia, Silveira Filho pagou os 800 mil cruzeiros (fortuna astronômica na época) e Zizinho se tornou jogador do Bangu já em 1950. No primeiro confronto contra o Flamengo, os rubro-negros sequer se acharam em campo, sofrendo uma goleada por 6 x 0, e é claro, Zizinho fez um dos gols.

No livro "Nação Rubro-Negra" de Edilberto Coutinho, Zizinho desabafou: "Difícil dizer o que me magoou mais, se a perda da Copa de 50 ou a minha saída do Flamengo... acho que foi a saída do Flamengo, a maneira como os homens que dirigiam o Flamengo fizeram a transação me machucou muito... nunca aceitei".


Em 1952, ele foi o artilheiro do time. Foi duas vezes vice-campeão carioca pelo Bangu, como jogador em 1951 e como técnico em 1965. Ele fez 122 gols com a camisa banguense, tendo ficado no clube até 1957. Depois voltou ao clube em 1961 como técnico. Zizinho é considerado o maior entre todos aqueles que passaram pelo alvi-rubro da Zona Oeste.

Em 1957, Zizinho aceitou o desafio de jogar no São Paulo. Já veterano e com 35 anos, Ziza era visto com desconfiança pela imprensa paulista, mas mostrou que ainda tinha lenha para queimar. O craque conduziu o tricolor de Poy, Mauro Ramos, Gino Orlando e Canhoteiro ao título do Campeonato Paulista daquele ano com uma vitória decisiva por 3 a 1 sobre o Corinthians de Gilmar e Cláudio no Pacaembu. Zizinho disputou 67 jogos pelo São Paulo e marcou 27 gols. Aquele seria o último título de Zizinho em sua carreira.

Foi pelo São Paulo que Zizinho enfrentou, sem saber, um fã: Pelé, então com 17 anos, que viu seu grande ídolo naquele ano de 1957 em uma goleada de 6 a 2 do tricolor pra cima do Santos. Naquele jogo histórico, acontecia a troca de majestade no futebol brasileiro: saía Ziza, melhor brasileiro dos Anos 1940 e 1950, e entrava Pelé, melhor dos Anos 1960, 1970 e da eternidade.

Vale lembrar a frase do professor Flávio Costa: "Zizinho pode não ter sido melhor que Pelé; mas pior, não foi". Ou do próprio Pelé, que o venera como ídolo e exemplo, seguindo as palavras do pai Dondinho, e lhe ofereceu no dia 14 de setembro de 1999, quando Zizinho completou 78 anos, uma placa de prata na qual estava gravado: "Ao meu maior ídolo, com a amizade e admiração do Pelé".

Com 39 anos de idade, há três anos sem jogar, foi chamado pra jogar no Audax Italiano, do Chile, atendendo ao pedido de fazer um jogo exibição acabou atuando por toda a temporada encerrando a carreira em 1962 aos 40 anos e ainda deixando 16 gols nas redes adversárias, foi chamado pelos companheiros de equipe de "professor" ou "doutor".

Thomaz Soares da Silva faleceu em Niterói no dia 8 de fevereiro de 2002. Assim noticiou a Folha de São Paulo: "Um dos melhores atletas da história do futebol brasileiro, Zizinho morreu às 23h05 de anteontem, aos 80 anos de idade, vítima de um infarto, em Niterói".



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