segunda-feira, 16 de agosto de 2021

Hall da Fama do C.R. Flamengo: RUBENS


RUBENS: o clássico Doutor Rúbis

Carreira: 1947-1950 Ypiranga (SP); 1950-1951 Portuguesa de Desportos; 1951-1956 Flamengo; 1956-1957 Santa Cruz (PE); 1957-1959 Vasco; 1960-1963 Prudentina (SP)

Rubens era um atleta que possuía uma incrível facilidade para dominar e controlar a bola, o jornalista e escritor Mário Filho chegou a dizer que "havia um elástico virtual, invisível, ligando a bola à chuteira de Rubens". Dono de um drible curto, tinha extrema facilidade de se infiltrar pela defesa adversária. Para completar sua lista de atributos, some a precisão nos seus passes e lançamentos, e um chute forte e colocado, o que lhe tornava um grande batedor de faltas. O "Dr. Rúbis" marcou uma época no meio de campo rubro-negro.

Pelo Flamengo, ele fez 171 jogos e marcou 84 gols.


Abaixo, sobre a carreira do meio-campista, a combinação de três textos distintos, publicados nos sites "Flamengo Alternativo", "Heróis do Mengão" e "Tardes de Pacaembu":

Rubens Josué da Costa, o famoso “Doutor Rubis”, nasceu na cidade de São Paulo em 24 de novembro de 1928. Ainda um guri, Rubens já demonstrava muitas qualidades jogando pelo Barreiros, uma agremiação amadora nas imediações do bairro da Barra Funda. Em 1943, com apenas 15 anos de idade, Rubens foi encaminhado ao Clube Atlético Ypiranga. Chegou ao quadro de aspirantes em 1945 e no ano de 1947 foi lançado no time principal. Meia direita habilidoso, seu futebol ganhou destaque pela habilidade na armação de jogadas, além da grande capacidade de finalização, o que o tornou um exímio cobrador de faltas.

Em 1950 foi campeão do Torneio Início do campeonato paulista pelo Ypiranga. O Torneio Início era um grande palco para os novos valores do Campeonato Paulista. Graças ao talento que já impressionava aos críticos, Rubens fez parte do selecionado de novos que enfrentou os cariocas por conta das festividades de inauguração do Estádio do Maracanã. Os paulistas venceram pela contagem de 3 x 1. No mesmo ano de 1950 foi contratado pela Portuguesa de Desportos. Com o negócio fechado, seu nome foi prontamente relacionado para uma excursão ao continente europeu.

Sem faturar o que era esperado na Europa, os dirigentes da Portuguesa decidiram negociar o passe de Rubens. Curiosamente, os times de São Paulo não manifestaram um pronto interesse pelos direitos do jogador. Na época, o Flamengo vivia uma tempestade. Depois do tricampeonato de 1942, 1943 e 1944, a rotina de conquistas secou, e o clube não conseguia ser campeão, vivendo crises atrás de crises. Além da falta de títulos, o presidente Dario de Mello Pinto vendeu Zizinho para o Bangu.

Tudo culminou na desastrosa temporada de 1950, uma das piores da história do clube, na qual, além de ter perdido Zizinho de maneira tola para o Bangu, terminara em um péssimo 7º lugar no Carioca, com 10 derrotas e apenas 7 vitórias em seus 20 jogos. Era necessário realizar mudanças profundas. Para isso, em janeiro de 1951, foi empossado como presidente do clube o médico Gilberto Cardoso. Sua primeira providência foi trazer de volta à Gávea o técnico Flávio Costa, que saíra para o Vasco em 1947 e também vinha de dirigir a Seleção Brasileira. Depois vieram os reforços. Para a defesa, chegou Pavão, da Portuguesa Santista, zagueiro sério e duro, verdadeiro xerife de área. Para o ataque, o clube foi buscar no Internacional o centroavante Adãozinho, o "Negrinho do Pastoreio", reserva da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1950. Faltava o meio-campo. E os problemas foram solucionados em setembro: o Flamengo realizava um sonho antigo e contratava o armador Rubens, que chegava ao clube num ambiente tumultuado, com torcedores revoltados pela venda de Zizinho, completamente incrédulos de que aquele jovem jogador fosse digno de ser contratado para repor a perda do grande ídolo.

Praticamente um desconhecido no futebol carioca, Rubens recebeu sobre seus ombros essa missão pesada e desafiadora: substituir a Zizinho, um dos maiores craques que o futebol brasileiro produziu ao longo de sua história!

Como acabar com a desconfiança da torcida, de forma rápida e eficiente? Se você pensou em uma vitória sobre um grande rival, acertou em cheio! Sua estreia em jogos oficiais pelo clube foi justamente contra o Vasco, clube que na época o Flamengo não vencia havia 7 anos. Pareceu que o Vasco, líder do campeonato com quatro vitórias em quatro jogos, manteria a escrita ao abrir o placar logo aos dez minutos com Maneca. Foi o tempo do novo reforço rubro-negro se ambientar e começar a chamar o jogo para si. Ele não participaria do gol de empate, marcado por Adãozinho escorando cruzamento do ponteiro Esquerdinha. Mas iniciaria a jogada do da virada, feito por Índio, acertaria a trave em cobrança de falta e dominaria inteiramente o meio-campo.

Em 16 de Setembro de 1951, diante de um Maracanã lotado, Rubens foi um dos grandes responsáveis pela vitória de virada por 2 x 1. Ao fim da partida, já deixava o gramado carregado pelos torcedores. O artífice do fim do jejum era o novo ídolo da massa. "Rubens fez uma estreia auspiciosa. Jogando atrás, na armação do jogo, cumpriu aí um trabalho exato, perfeitíssimo, o que mais se torna notável quando lembramos que era esta a sua segunda oportunidade entre os companheiros. A primeira foi no treino, a segunda em pleno jogo. Grande aquisição do Flamengo", escreveu a Revista Esporte Ilustrado.

O Flamengo não conquistou o título de 1951 (ficou com o Fluminense), mas apresentou nítida evolução em relação aos anos anteriores e voltou a bater os cruzmaltinos no returno, em outra grande exibição de Rubens, autor do segundo gol, cobrando pênalti, na vitória por 2 a 0. No ano seguinte, o time subiria mais alguns degraus e ficaria em segundo, empatado em pontos com os tricolores (o Vasco voltaria a levantar o caneco). E Rubens seria lembrado pela primeira vez para a Seleção Brasileira, convocado para o Campeonato Pan-Americano, no Chile. Foi campeão naquele torneio, e continuou lembrado até 1954, quando fez parte do grupo que disputou a Copa do Mundo de 1954 na Suíça.

O jornalista David Nasser escrevia na Revista O Cruzeiro sobre o craque rubro-negro: "Frio, calculista, 100% driblador, bom passador, faz da bola um ioiô como diz o meu amigo (radialista Oduvaldo) Cozzi e dono de um canhão certeiríssimo. Atualmente o melhor cobrador de penalidades. Uma arma secreta que (o técnico) Zezé Moreira poderá usar a qualquer momento".

A vontade de muitos, porém, acabou quase frustrada. Embora chegasse a levar Rubens para o Mundial, Zezé só o utilizou uma vez e num amistoso, a goleada de 4 a 1 sobre o time colombiano do Millonarios, dos argentinos Néstor Rossi e Adolfo Pedernera, no Pacaembu. Defensor do clássico sistema WM (diferente do 4-2-4 já utilizado pelo Flamengo de Solich), Zezé preferia escalar Didi na meia-direita e o jovem Humberto Tozzi ou o vascaíno Pinga na esquerda. Além disso, como na época as substituições em jogos oficiais não eram permitidas, o meia não teve chance de entrar em campo na Suíça.

Anos mais tarde, relembrando o futebol de Rubens, Mário Filho descreveu em um texto delicioso o estilo de jogo do meia: "Gostava de dar dribles largos. Parecia que prendia a bola com um barbante amarrado à chuteira. Porque a bola, que ele atirava para a esquerda e para a direita, voltava sempre, logo, aos pés dele. Rubens não andava como qualquer mortal. Levava um pé à frente, devagar, deixava-o pousar na calçada e, depois, trazia o outro, gingando o corpo, como se dançasse. Não era um samba (...) Era um gingar de malandro. De bamba de terreiro".

Seu auge com a camisa rubro-negra foi em 1953 - em 48 jogos marcou 31 gols - quando enfim o Flamengo voltou a ser Campeão Carioca, título que lhe escapava desde 1944 – e, de quebra, iniciando outro Tri-campeonato. No início daquele ano, Flávio Costa havia sido recontratado pelo Vasco, deixando o time nas mãos do ex-jogador Jayme de Almeida interinamente. Com ele, o Flamengo conquistaria na Argentina ao Torneio Quadrangular de Buenos Aires, superando Boca Juniors, San Lorenzo e o rival Botafogo, este derrotado por 3 a 0, com dois gols de Rubens. Na volta ao Brasil, o novo treinador já tinha sido escolhido: era o paraguaio Fleitas Solich, que em janeiro levara a seleção de seu país a um surpreendente título sul-americano em Lima, no Peru, ao bater por duas vezes à Seleção Brasileira.

O novo treinador, que chegaria para revolucionar o futebol no clube, e Rubens travariam uma dolorosa queda de braço, mas não de início, já que a popularidade do jogador era insuperável no futebol carioca – e em todo o país.

Havia naquele tempo um programa humorístico de enorme sucesso na Rádio Nacional carioca – cujas ondas potentes alcançavam o país inteiro – chamado "Balança Mas Não Cai", criado pelo humorista Max Nunes, torcedor do América. Um dos quadros do programa trazia um torcedor rubro-negro, o Peladinho, e seu bordão "Mengo, tu é o maior!". Naturalmente, Peladinho falava em Rubens o tempo todo. Ou melhor, em "Doutor Rúbis", como o personagem chamava o meia e seu futebol refinado em sua pronúncia peculiar. E o apelido pegou. "Doutor Rúbis" seria por sua habilidade, quase professoral, além do costumeiro chute forte e colocado, principalmente nas cobranças de falta.

Em 1953, o Campeonato Carioca trouxe mudanças em seu regulamento em relação aos anos anteriores. O torneio agora seria dividido em três turnos. Nos dois primeiros, os 12 clubes se enfrentariam no sistema de pontos corridos, com seu líder, ao final das 22 rodadas, garantindo presença na decisão. O terceiro seria disputado apenas pelas seis melhores equipes, apontando o outro finalista. O Flamengo, porém, nem quis saber de final e venceu todas as fases, somando 21 vitórias (e apenas duas derrotas) em 27 jogos.

Naquele torneio, ninguém jogou mais bola do que o Doutor Rúbis, aclamado pela imprensa como o craque do torneio. E olha que a concorrência era forte. Para a mesma posição de meia-armador, por exemplo, havia o banguense Zizinho, o vascaíno Ipojucan e o tricolor Didi. Contra este, aliás, o ídolo rubro-negro viveu um duelo memorável no Fla-Flu que valeu pela decisão do primeiro e segundo turnos, no dia 6 de dezembro.

Um ponto à frente na tabela, o time das Laranjeiras jogava pelo empate, para a alegria de seu técnico Zezé Moreira, conhecido por montar fortes sistemas defensivos. E saiu na frente no primeiro tempo com gol de Marinho num contra-ataque, após um erro da defesa rubro-negra. O Flamengo ainda conseguiu o empate, que fazia jus a seu domínio das ações, ainda antes do intervalo, numa cabeçada de Índio. E logo no início da etapa final, aos dez minutos, chegaria à virada num gol de antologia de seu maestro em campo, o Doutor Rúbis.

Rubens apanhou a bola na intermediária e fez fila na defesa tricolor. Passou por Didi, Jair e Édson até disparar um petardo da entrada da área que tomou o caminho das redes sem que o goleiro Veludo pudesse esboçar reação. Mais tarde, o meia ainda sofreria pênalti claro do lateral-esquerdo Bigode, não apitado pelo árbitro Mário Vianna, mas o placar terminou mesmo em 2 a 1. Foi até pouco: "A equipe rubro-negra manteve-se 90% do jogo com o comando das ações. Deve ter ficado feliz o Fluminense, perdendo só de 2 a 1", escreveu Luiz Mendes para a Revista Esporte Ilustrado.

Já o jornal A Noite preferiu destacar o duelo do meio-campo: "E Didi, incumbido da ingrata tarefa de marcar Rubens e auxiliar o seu próprio ataque, acabou não fazendo nem uma coisa nem outra levando, inclusive, um 'baile' do meia adversário". Dali, o Fla partiria para o terceiro turno, no qual venceria todos os jogos, a começar por outro 2 a 1 no Fluminense. Em seguida, 2 a 0 no América e no Bangu. Uma goleada de 4 a 1 sobre o Vasco de Bellini, Ademir e Pinga, levou à conquista antecipada do turno – e do campeonato, sem a necessidade de finais. No último jogo, o das faixas, 1 a 0 sobre o Botafogo de Garrincha e Nilton Santos. Gol de Rubens.


Além de coroado o melhor jogador do certame, o meia terminava como o terceiro artilheiro do Fla, com 17 gols marcados em 24 jogos, boa parte deles em cobranças de falta – uma de suas especialidades – e pênalti. Além de incontáveis assistências para o ataque mais positivo do torneio, que balançou as redes nada menos que 77 vezes em 27 partidas.

Em 1954, após o fracasso da Seleção Brasileira na Copa do Mundo, e a decepção por ter sido pouco utilizado pelo técnico canarinho, Doutor Rúbis voltou ao seu povo com o prestígio intacto. E foi outra vez o condutor do Flamengo em mais uma campanha vitoriosa, num campeonato que manteve o regulamento do ano anterior. O time começou arrasador. Na oitava rodada, no clássico diante do Vasco que marcaria a estreia de outro futuro ídolo rubro-negro, um garoto alagoano chamado Dida, o meia anotou um golaço em cobrança de falta, a bola sinuosa fazendo a curva ao redor de Barbosa e entrando no canto esquerdo, perto do ângulo do arqueiro.

A perícia na bola parada era outro ponto em comum entre Rubens e Didi, e a comparação entre os dois era frequente então. Sobre ambos, o ex-atacante Evaristo de Macedo, que jogou ao lado dos dois, comentou tempos mais tarde: "Ele era um jogador incrível, um doutor mesmo em matéria de futebol. Suas qualidades eram inúmeras. Protegia a bola como ninguém, driblava fácil, lançava bem e tinha um chute de uma precisão fora do comum. Na posição dele, na época, talvez nem o Didi fosse melhor, pois Rubens chegava mais na área para concluir. Era também um grande artilheiro. Acho que ele era até mais dinâmico que o Didi. Mas eram dois fenômenos".

A equipe de Solich só foi sofrer a primeira derrota na 17ª partida – somando aquele campeonato ao anterior, o time chegou a ficar 34 jogos seguidos sem perder – e chegou à última rodada do returno com a conquista daquela fase garantida. No terceiro turno, depois de um empate com o Fluminense na estreia (3 a 3), o time venceu todos os outros jogos – 3 a 2 no América, 2 a 0 no Botafogo, 2 a 1 no Vasco e 5 a 1 no Bangu – e levantou o bi-campeonato, novamente com apenas duas derrotas em 27 jogos, mas uma vitória a menos que no ano anterior (20 contra 21).

O título levou o compositor Wilson Batista, um dos gigantes da música brasileira daquele período, e torcedor flamenguista fanático, a escrever o famoso "Samba Rubro-Negro", no qual citava nominalmente o meia e dois outros expoentes daquela equipe e fez sucesso estrondoso no Carnaval de 1955: "Flamengo joga amanhã, eu vou pra lá / Vai haver mais um baile no Maracanã / O Mais Querido tem Rubens, Dequinha e Pavão / Eu já rezei pra São Jorge / Pro Mengo ser campeão".

A popularidade de Rubens era tamanha que, em novembro de 1955, quando a editora Bloch lançou a histórica Revista Manchete Esportiva, uma das principais publicações do país em seu tempo, o meia foi escolhido para figurar na capa da 1ª edição. Vestido de toga e capelo, como um verdadeiro acadêmico, o Doutor Rúbis matava uma bola no peito sobre a legenda: "Dr. Rubens, bacharel de letras e salames" – este último termo, uma gíria da época para dribles.

"Era realmente um autêntico ídolo. A torcida o adorava. Tinha a cara do povão. Era um homem simples, sem grande cultura, mas possuía muita vivacidade e sempre fazia observações pertinentes. Ele era um jogador muito inteligente. Sua visão de jogo era impressionante e, numa fração de segundo, resolvia uma jogada e decidia a parada", comentou o velho companheiro de clube Evaristo de Macedo. Naquele momento em que virou capa de revista. No entanto, Rubens já começava a assistir a sua carreira sair dos trilhos.

Fleitas Solich não era entusiasta do futebol cadenciado, lento e filigranado dos grandes virtuoses, então quase onipresente no Brasil. Preferia o jogo veloz, intenso, objetivo, sem firulas e sobretudo coletivo. Costumava dizer que "o meio-campo é por onde a bola passa, não onde ela fica". Gostava menos ainda de jogadores que não se esforçassem nos treinos. Mas, acima de qualquer outra coisa, tinha verdadeira ojeriza aos atletas que cultivassem hábitos considerados boêmios. Em outras palavras: detestava cigarro e bebida.

Fumante de três maços de cigarro por dia e "bom de copo", Rubens previsivelmente estaria na mira de Solich. E não só dele. Conta-se que, em 1954, durante as Eliminatórias, a Seleção Brasileira estava em Santiago e os jogadores ganharam uma tarde de folga. Perto da hora de retornarem, Zezé Moreira conversava com Luiz Mendes no hall do hotel quando percebeu, pelo reflexo em uma vidraça, que o jogador chegara carregado pelos colegas, de tanto que bebera. O meia escapou de ser cortado, mas este teria sido um dos motivos de seu pouco espaço no time.

Outra história envolvendo Rubens era a de que, durante uma excursão do clube a Curitiba, Solich teria flagrado o jogador fumando e bebendo em um bar com torcedores, e mandando-o de volta ao Rio de Janeiro imediatamente. Foi a gota d'água. Na mesma época, o meia começou a sofrer de inchaço no joelho esquerdo, chegando a operar o menisco. Foi a ocasião que o treinador queria para sacá-lo do time e lançar os garotos da base que pediam passagem, como Paulinho e Duca. Na longa campanha do Tri, entre agosto de 1955 e abril de 1956, Rubens fez apenas seis jogos.

Foram constantes os desentendimentos com o técnico paraguaio Fleitas Solich. Chegou um momento no qual Solich fechou ainda mais o cerco e proibiu deliberadamente o jogador de fumar nas dependências do clube. Rubens, que até então sempre foi um cara pacato, não suportou calado essa terrível marcação. Então, sem ambiente, o "Doutor Rubis" foi parar no futebol pernambucano por empréstimo. Jogando pelo Santa Cruz, o meio campista sentiu o agravamento da antiga contusão no joelho direito. Seu aproveitamento foi comprometido e os exames médicos comprovaram o que já era esperado. Sem alternativas, Rubens foi submetido aos procedimentos cirúrgicos no Hospital da Beneficência Espanhola.

Em todo o primeiro semestre de 1957 só fez uma partida, pelo Santa Cruz. Marginalizado, comprou seu próprio passe e aceitou um convite para jogar no Vasco no segundo semestre. Por apenas 200 mil cruzeiros, o Vasco da Gama arriscou no talento do "Doutor Rubis". Depois de uma junta médica atestar sua condição de jogo, Rubens assinou contrato e foi apresentado aos torcedores em São Januário. O clima não era muito receptivo em razão dos boatos de que o "clube da Colina" tinha comprado um refugo do Flamengo, um jogador "bichado" e que não renderia mais nada.

Com tratamento especial para reforçar os músculos e readquirir condições de jogo, Rubens voltou aos gramados na temporada de 1958. Naquele ano foi Campeão do Torneio Rio-São Paulo e titular em boa parte na campanha vitoriosa do Campeonato Carioca de 1958, Rubens estava de alma lavada! Dois títulos em um ano de Vasco. O jogador provou aos céticos que o "bichado" ainda tinha futebol de sobra para colocar faixas de campeão no peito.

Rubens, jogador de estilo ao mesmo tempo cerebral e malicioso, elegante e abusado, de drible curto e chute potente atingiu o patamar de verdadeiro fenômeno das massas, mas que em pleno auge foi tendo seu prestígio minado por problemas disciplinares e uma relação desmedida com o álcool.

Em São Januário, ele ficou até o fim do ano seguinte, quando foi dispensado. Não repetiu em 1959 o bom futebol que jogou em 1958. Aos 31 anos de idade, voltou ao seu estado de São Paulo, assinando com a Prudentina, onde penduraria as chuteiras em 1963. Mais tarde, chegaria a trabalhar como auxiliar-técnico do amigo Marinho Rodrigues, ex-companheiro de Flamengo, no Atlético Junior de Barranquilla, antes de largar de vez o futebol.

Rubens Josué da Costa faleceu de câncer de pulmão em 31 de maio de 1987, na cidade do Rio de Janeiro aos 59 anos de idade. A rotina de fumante, que lhe roubara o prestígio no Flamengo e a idolatria da massa rubro-negra, terminaria por lhe tirar também a vida.

O historiador e pesquisador Ivan Soter também o descreveu em seu livro "Quando a bola era redonda": "Sim, a bola já foi protagonista. Quando ela ficava com Rubens, o doutor Rúbis, ficava feliz. Rubens tinha um elástico mágico que a prendia a seus pés. Os adversários, hipnotizados, olhavam a bola nos pés de Rubens. Parados. Rubens se mexia, todos se mexiam para o lado que Rubens tinha se mexido. Ele só esperava que alguém ousasse roubá-la. Até que um sujeito do outro time, mais desavisado, avançasse desequilibrando a natureza morta pintada no gramado. Era a hora do drible. Só então a bola saía do lugar. Para continuar nos pés de Rubens".


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